Francisco: aprender a ir além, olhar a pessoa e as intenções de seu coração

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16 de outubro de 2019

O Papa Francisco prosseguiu o ciclo de catequeses sobre os Atos dos Apóstolos, na Audiência Geral, desta quarta-feira (16/10), que teve como tema “Deus não faz diferença entre as pessoas. Pedro e a efusão do Espírito Santo sobre os pagãos”.

“A viagem do Evangelho no mundo, que São Lucas narra nos Atos dos Apóstolos, é acompanhada pela suprema criatividade de Deus que se manifesta de forma surpreendente”, frisou o Papa, destacando que o Senhor “deseja que os seus filhos superem toda particularidade para se abrirem à universalidade da salvação. Este é o objetivo, pois Deus quer que todos sejam salvos”.

 

Sair de si e se abrir aos outros

Aqueles que renasceram da água e do Espírito são chamados a “saírem de si mesmos e se abrirem aos outros, a viverem a proximidade, o estilo do viver juntos que transforma toda relação interpessoal em experiência de fraternidade”, disse ainda Francisco.

Pedro é testemunha desse processo de “fraternização que o Espírito quer desencadear na história. Pedro, protagonista nos Atos dos Apóstolos junto com Paulo, “vive um evento que dá uma virada decisiva na sua existência. Enquanto reza, tem uma visão que é como uma provocação” divina que desperta nele uma mudança de mentalidade.

“Ele vê uma toalha grande que desce do alto com vários animais: quadrúpedes, répteis e pássaros, e ouve uma voz que o convida a comer aquelas carnes. Como um bom judeu, Pedro reage, dizendo que nunca comeu nada de impuro, conforme pedido pela Lei do Senhor. Então a voz rebate com força: «Não chame de impuro o que Deus purificou».

“ Com esse fato, o Senhor quer que Pedro não avalie mais os eventos e as pessoas de acordo com as categorias de puro e impuro, mas que aprenda a ir além, a olhar a pessoa e as intenções de seu coração. ”

"O que torna o homem impuro, de fato, não vem de fora, mas de dentro, do coração. Jesus disse isso claramente.”

Segundo o Papa, depois dessa visão, Deus envia Pedro à casa de um estrangeiro incircunciso, Cornélio, “centurião da coorte chamada itálica, religioso e temente a Deus”, que dá muitas esmolas ao povo e orava sempre a Deus, mas não era judeu. Naquela casa de pagãos, Pedro prega Cristo crucificado e ressuscitado e o perdão dos pecados a quem Nele crê. Enquanto Pedro fala, o Espírito Santo desce sobre Cornélio e seus familiares. Pedro os batiza em nome de Jesus Cristo.

 

Um evangelizador não pode ser um empecilho 

“Esse fato extraordinário fica conhecido em Jerusalém, onde os irmãos, escandalizados pelo comportamento de Pedro, o repreendem severamente. Pedro fez algo que estava além do costume, além da lei! Por isso, eles o censuram”, sublinhou Francisco.

"Depois do encontro com Cornélio, Pedro está mais livre de si mesmo e mais em comunhão com Deus e com os outros, porque viu a vontade de Deus na ação do Espírito Santo. Ele entendeu que a eleição de Israel não é a recompensa pelo mérito, mas sinal do chamado gratuito para ser mediação da bênção divina entre os povos pagãos.”

O Papa convidou os fiéis a aprenderem do "príncipe dos Apóstolos que um evangelizador não pode ser um empecilho para a obra criativa de Deus que quer que todos se salvem, mas alguém que favoreça o encontro dos corações com o Senhor".

A seguir, Francisco perguntou: “Como nos comportamos com os nossos irmãos, sobretudo com aqueles que não são cristãos. Somos um empecilho para o encontro com Deus? Somos um obstáculo para o seu encontro com o Pai ou o facilitamos?”

“Peçamos a graça de nos deixar surpreender pelas surpresas de Deus, de não impedir a sua criatividade, mas de reconhecer e favorecer os caminhos sempre novos pelos quais Cristo Ressuscitado derrama o seu Espírito no mundo e atrai os corações”, concluiu o Pontífice.

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Vice-presidente faz visita diplomática ao Vaticano

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15 de outubro de 2019

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, foi ao Vaticano no fim de semana liderando a delegação brasileira que participou da canonização de Irmã Dulce no domingo (13). Na ocasião, ele teve a oportunidade de cumprimentar o Papa Francisco.

Em entrevista ao site Vatican News, Mourão afirmou que foi representar “milhões de católicos que compõem a nossa população”.

Na manhã de segunda-feira (13), o vice-presidente teve um encontro diplomático com o cardeal secretário de Estado do Vaticano, Dom Pietro Parolin, e com o secretário de relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher. O conteúdo da conversa não foi divulgado mas, segundo ao Vaticano, a reunião foi apenas uma visita de cortesia.

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Preocupação com Equador e Síria

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15 de outubro de 2019

Após a oração do Ângelus do último domingo (13), o Papa Francisco manifestou especial preocupação com a atual situação da Síria e do Equador.

Violência na Síria

No norte da Síria, uma operação militar da Turquia avançou em territórios curdos. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), uma organização que acompanha os conflitos no país, informou que houve um bombardeio contra um comboio de carros, matando 14 pessoas. Em diferentes ataques, 26 civis morreram na região apenas no domingo.

“Meu pensamento vai, mais uma vez, ao Oriente Médio. Em particular, à amada e martirizada Síria, de onde chegam novamente notícias dramáticas sobre o destino das populações do nordeste do país, obrigadas a abandonar as próprias casas por causa das ações militares”, disse o Papa.

“Entre essas populações há também muitas famílias cristãs. A todos os atores envolvidos e também à comunidade internacional, por favor, renovo o apelo de se empenharem com sinceridade, honestidade e transparência na estrada do diálogo para encontrar soluções eficazes.”

Instabilidade no Equador

Quanto ao Equador, um decreto do governo que elevou os preços dos combustíveis produziu uma onda de protestos. O presidente Lenín Moreno havia retirado subsídios para combustíveis – a ideia era tirar benefícios para os mais ricos – mas os valores aumentaram em mais de 120%.

Mas, diante dos protestos, inclusive de lideranças indígenas, foi obrigado a recuar no domingo (13). Os protestos deixaram mais de 1,3 mil feridos e mais de 1,1 mil presos.

Sobre essa situação, disse o Papa: “Junto a todos os membros do Sínodo dos Bispos para a região pan-amazônica, especialmente aqueles provenientes do Equador, sigo com preocupação o que está acontecendo nas últimas semanas naquele país”. Ele confiou o país à oração e à intercessão dos novos santos canonizados no domingo, entre eles Ir. Dulce.

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Ir ao encontro dos outros em vez de atacá-los

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15 de outubro de 2019

Em sua tradicional audiência das quartas-feiras, o Papa Francisco afirmou que os cristãos devem ir ao encontro dos outros, pessoas que são diferentes, em vez de atacá-los. Recordando a história de São Paulo antes de sua conversão, quando ainda se chamava Saulo, ele disse na manhã do dia 9 de outubro: “A condição de raiva e conflitual de Saulo convida cada um a se perguntar ‘como vivo a minha vida de fé’?”

Saulo era intransigente e perseguia os cristãos. Manifestava intolerância contra aqueles que pensavam diferente dele, “absolutizava a própria identidade política ou religiosa e reduzia o outro a potencial inimigo a combater”. Em outras palavras, era um “ideólogo”, aponta Francisco, e não uma pessoa religiosa. A religião foi instrumentalizada pela ideologia.

Como vivo a minha fé?

Por isso, devemos nos perguntar: “Vou ao encontro dos outros ou sou contra os outros? Pertenço à Igreja universal – bons, maus, todos – ou tenho uma ideologia seletiva? Adoro a Deus ou adoro fórmulas dogmáticas? Como é a minha vida religiosa? A fé em Deus que professo me torna amigável ou hostil em relação a quem é diferente de mim?”

Quem permitiu a transformação de Saulo foi o próprio Jesus Cristo. Sua voz mandou que ele se levantasse, no episódio da conversão, quando Saulo ficou cego e caiu em uma estrada. Mas foi o Cristo Ressuscitado que permitiu sua passagem “da morta à vida”, e se tornasse Paulo, um dos apóstolos mais importantes e grande anunciador do Evangelho.

“Peçamos ao Pai que faça experimentar também em nós, como em Saulo, o impacto do seu amor que só pode fazer de um coração de pedra um coração de carne, capaz de acolher em si os mesmos sentimentos de Cristo Jesus”, refletiu o Papa Francisco.

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Papa Francisco: atacar um membro da Igreja é atacar o próprio Cristo

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09 de outubro de 2019

O Santo Padre encontrou-se na manhã desta quarta-feira (09/10) na Praça São Pedro, no Vaticano, com milhares de fiéis e peregrinos, provenientes da Itália e de diversos países, inclusive do Brasil, para a habitual Audiência Geral.

Em sua catequese semanal, o Papa refletiu sobre o Apóstolo São Paulo, que se converteu de perseguidor a evangelizador. Este foi o instrumento que o Senhor escolheu.

Partindo deste trecho dos Atos dos Apóstolos, o Papa citou o episódio de apedrejamento de Santo Estevão, comparando-o a um jovem chamado Saulo, uma figura que, ao lado de Pedro, é a mais presente e incisiva nos Atos dos Apóstolos.

Saulo, disse Francisco, é descrito, no início, como alguém que aprovou a morte de Santo Estevão e queria "destruir a Igreja". Mas, depois, se tornou o instrumento escolhido por Deus para proclamar o Evangelho às nações.

Com a autorização do Sumo Sacerdote, Saulo começou a perseguir e a prender os cristãos, pensando que estava servindo a Lei do Senhor. E aqui o Papa recordou os perseguidos pelas ditaduras no mundo, e explicou:

O jovem Saulo é apresentado como uma pessoa intransigente, isto é, alguém intolerante com os que pensavam diferente dele, absolutiza a própria identidade política ou religiosa e reduz o outro a um inimigo potencial a ser combatido. Um ideólogo. Em Saulo, a religião é transformada em ideologia: ideologia religiosa, ideologia social, ideologia política”.

Somente depois de ter sido transformado por Cristo, então ensinará que a verdadeira batalhar não é contra homens de carne e sangue, mas contras os dominadores deste mundo tenebroso e contra os espíritos do mal que inspira as suas ações.

Aqui, Francisco convidou cada um a interrogar-se sobre como vive a própria fé: "Vou de encontro ao outro ou sou contra os outros?  Pertenço à Igreja universal (bons e maus, todos) ou tenho uma ideologia seletiva? Adoro a Deus ou adoro as formulações dogmáticas? Como é a minha vida religiosa? A fé em Deus que professo me torna mais amigável ou hostil em relação a quem é diferente de mim?"

Mas enquanto Saulo tem a intenção de acabar com a comunidade cristã, o Senhor o segue para tocar seu coração e convertê-lo a ele. "É o método do Senhor: toca o coração", recordou o Pontífice. O Ressuscitado, então, apareceu-lhe no caminho para Damasco, evento narrado três vezes no Livro dos Atos dos Apóstolos.

Pelo binômio "luz" e "voz", típico das teofanias - explica Francisco - o Ressuscitado aparece a Saulo e lhe pede contas de sua fúria fratricida: "Saulo, Saulo, por que me persegues?":

"Aqui, o Ressuscitado manifesta seu ser 'um só' com os que nele creem: atacar um membro da Igreja é atacar o próprio Cristo! Também esses que são ideólogos, porque querem a "pureza" - entre aspas - da Igreja, atacam Cristo."

Levantando-se, Saulo não viu mais nada, pois tinha ficado cego; aquele homem forte, autoritário e independente tornou-se fraco, carente e dependente dos outros porque não enxergava. Aquele encontro com Cristo o ofuscou! E Francisco ponderou:

Daquele encontro ‘corpo a corpo’ entre Saulo e o Senhor Jesus Ressuscitado, tem início uma transformação que mostra a ‘Páscoa pessoal’ de Saulo, a sua passagem da morte para a vida: aquilo que antes era glória torna-se "lixo" a ser lançado fora, para adquirir o verdadeiro ganho que é Cristo e a vida nele".

Paulo recebe o Batismo, marcando para ele, assim como pra cada um de nós, o início de uma vida nova, e é acompanhado por um novo olhar em relação a Deus, sobre si mesmo e sobre os outros, que de inimigos tornam-se agora irmãos em Cristo. 

O Papa concluiu a sua catequese pedindo ao Pai para que "faça experimentar também a nós o impacto de seu amor, que somente pode fazer de um coração de pedra um coração de carne, capaz de acolher em si, os mesmos sentimentos de Cristo."

Ao término da sua catequese semanal, o Santo Padre passou a saudar os grupos de peregrinos em diversas línguas, inclusive aos fiéis de língua portuguesa, concedendo a todos a sua Bênção Apostólica.

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Papa: coragem e prudência devem orientar os trabalhos do Sínodo

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08 de outubro de 2019

O primeiro dia de trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônica, nesta segunda-feira, 7, contou com a presença do Papa Francisco, que em sua saudação inicial, destacou que o Espírito Santo é o protagonista do Sínodo.

O Pontífice pediu coragem para falar com liberdade e prudência para não se criar a impressão de que exista um “Sínodo dentro, que segue um caminho da Igreja Mãe, de cuidado dos processos”, e um “Sínodo fora”, que, por uma informação dada com rapidez e imprudência, “move os jornalistas a equívocos”.  

O Santo Padre também ressaltou que é preciso rezar muito, além de refletir, dialogar, escutar com humildade e discernimento.

INTERESSE DE TODA A IGREJA

Ao abrir a 1ª Congregação Geral da Assembleia, o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, ressaltou a orientação desse caminho sinodal convocado pelo Papa é “identificar novos caminhos para a evangelização daquela parte do Povo de Deus, especialmente os indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta Amazônica, pulmão de suma importância para o nosso planeta”.

Nesse sentido, o Dom Lorenzo afirmou que, mesmo se referindo a uma área geográfica específica, este Sínodo interessa à Igreja universal. “Por este motivo, a participação foi ampliada a Bispos provenientes de outras Igrejas particulares e organismos eclesiais regionais e continentais. Em outras palavras, é toda a Igreja universal que quer dirigir o olhar à Igreja na Amazônia e assumir no coração os seus desafios, as suas preocupações e os seus problemas, porque no fundo todos nós devemos nos sentir parte desta aldeia global na qual vive e palpita a única Igreja de Jesus Cristo”, disse. 

NOVOS CAMINHOS PARA EVANGELIZAÇÃO

O Relator-Geral do Sínodo, Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), fez um pronunciamento no qual destacou que o tema da assembleia ressoa grandes linhas pastorais características do Papa Francisco.

Ressaltando o conceito de “Igreja em saída” propagado pelo Santo Padre, Dom Cláudio afirmou que a Igreja não pode “ficar sentada em casa, cuidando de si mesma, cercada de muros de proteção”, muito menos, olhando para trás com certa nostalgia de tempos passados”. “Ela precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade”, sublinhou.

DESAFIOS MISSIONÁRIOS

Dom Cláudio recordou, ainda, que, na história da evangelização da Amazônia, a Igreja sempre contou com missionários, de ordens e congregações religiosas e padres diocesanos. “Ao lado dos missionários, houve também sempre numerosas lideranças leigas e indígenas que deram testemunho heroico”, reiterou.

“Por outro lado, a história da Igreja na Pan-amazônia mostra que sempre houve grande carência de recursos materiais e de missionários para um desenvolvimento pleno das comunidades, destacando-se a ausência quase total da Eucaristia e de outros sacramentos essenciais para a vivência cristã cotidiana”, acrescentou o Relator-Geral, ressaltando a carência de sacerdotes a serviço das comunidades locais. 

MINISTÉRIOS

Nesse sentido, Dom Cláudio lembrou que, durante a fase preparatória de escuta às comunidades locais, missionários e comunidades indígenas pediram que, “reafirmando o grande valor do carisma do celibato na Igreja, contudo, diante da gritante necessidade da imensa maioria das comunidades católicas na Amazônia, ali se abra caminho para ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades”.

Ao mesmo tempo, ouviu-se nas consultas contidas no Instrumento de Trabalho do Sínodo, que, diante do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia, busque-se caminhos para o reconhecimento desse serviço e se procure consolidá-lo com “um ministério adequado” para essas mulheres, sem, no entanto, afirmar que se trate de um ministério ordenado.

ALTERNATIVAS

A respeito do tema dos ministérios, o Prefeito do Dicastério da Comunicação e presidente da Comissão para Informação deste Sínodo, Paolo Ruffini, explicou, durante a Conferência de imprensa desta segunda-feira, que essa “não é a única possibilidade”, ou seja, que não significa que essa seja a resposta a ser dada para o desafio da carência sacramental. No entanto, ele afirmou que seria errôneo da parte dos padres sinodais não considerar nas reflexões da assembleia um pedido proveniente da comunidade católica da Amazônia.

De igual modo, a Sala de Imprensa da Santa Sé esclareceu que o tema da falta de sacramentos nas comunidades amazônicas foi tratado durante a Assembleia, reconhecendo que se trata de uma nessesidade legítima, mas que não pode ser condicionada ao fato de repensar substancialmente a natureza do sacerdócio e sua relação com o celibato, previsto para a Igreja de rito latino. “Em vez disso, sugeriu-se uma pastoral vocacional entre os jovens indígenas, a fim de favorecer a evangelização até mesmo das regiões mais remotas da Amazônia, de modo que não sejam criados ‘católicos de primeira classe’ que possam se aproximar facilmente da Eucaristia, e ‘católicos de segunda classe’, destinados a permanecer sem o Pão da vida, por até dois anos consecutivos”, informou o comunicado.  

INSTRUMENTUM LABORIS

Sobre o Instrumento de Trabalho, o Cardeal Baldisseri lembrou que esse se constituirá “o ponto de referência e a base necessária da reflexão e do debate sinodal e não um texto para fazer emendas”.

Isso também foi ressaltado pelo próprio Papa Francisco, que o definiu como um texto “mártir, destinado a ser destruído”, pois é o ponto de partida para os trabalhos da Assembleia. 

PARTICIPANTES

O Sínodo conta com a participação de 185 padres sinodais, seis delegados fraternos, 12 enviados especiais, 25 especialistas, 55 auditores (homens e mulheres), entre os quais especialistas e agentes pastorais provenientes de todo o território pan-amazônico. “Entre eles, destaca-se a presença de 16 representantes de diversas etnias indígenas e povos originários que trazem a voz, o testemunho vivo das tradições, da cultura e da fé das suas populações”, frisou o Secretário-Geral. 

METODOLOGIA

A assembleia sinodal se realizará por meio das congregações gerais, dos círculos menores – que terão início em 10 de outubro, dos pronunciamentos dos participantes, da troca de opiniões “no espírito da comunhão fraterna”, até a elaboração do projeto do documento final que será apresentado à assembleia em 21 de outubro. No dia 26 será feita a votação do documento e a conclusão dos trabalhos. Esse Documento Final será entregue ao Papa que, posteriormente, poderá redigir uma exortação pós-sinodal, com suas decisões feitas a partir da escuta daquilo que foi refletido no Sínodo.

(Com informações de Vatican News - Fotos: Vatican Media)

 

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07 de outubro de 2019

Os trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia começaram na manhã desta segunda-feira, 7, com um momento de oração diante do túmulo de São Pedro, na Basílica Vaticana, com a presença do Papa Francisco, seguido de uma procissão dos participantes do sínodo até a sala sinodal.

Na saudação inicial da Assembleia, o Santo Padre destacou que o Sínodo para a Amazônica tem quatro dimensões: pastoral, cultural, social e ecológica.

“A primeira [dimensão] é essencial porque abarca tudo e vemos a realidade da Amazônia com olhos dos discípulos, porque não existem hermenêuticas neutras, ascéticas, sempre estão condicionadas a uma opção prévia, e a nossa opção prévia é a dos discípulos. Mas também com olhos missionários, porque o amor que o Espírito Santo colocou em nós nos impulsiona ao anúncio de Jesus Cristo”, disse o Papa.

PERIGO DAS IDEOLOGIAS

O Pontífice advertiu para o que chamou de “colonizações ideológicas” que destroem ou reduzem os costumes e identidades dos povos originários.  “As ideologias são uma arma perigosa”, afirmou, porque levam a visões redutivas, a entender sem admirar, sem assumir, sem compreender.

Contra o risco de medidas pragmáticas, o Papa propõe a contemplação dos povos, a capacidade de admiração e um pensamento paradigmático. “Se alguém veio com intenções pragmáticas, converte-se para atitudes paradigmáticas, que nasce da realidade dos povos”, destacou.

ESPÍRITO SANTO

O Sando Padre reiterou que não se reuniram em sínodo para “para inventar programas de desenvolvimento social ou custódia de culturas, do tipo museu, ou de ações pastorais com o mesmo estilo não contemplativo com o qual se estão levando adiante as ações de sentido oposto: desmatamento, uniformização, exploração”. “Viemos para contemplar, compreender, servir os povos e fazemos percorrendo um caminho sinodal, não numa mesa-redonda, em conferências ou em discursos, mas em sínodo. Porque um Sínodo não é um parlamento, um locutório, é um caminhar juntos sob a inspiração do Espírito Santo e o Espírito Santo é o protagonista do Sínodo”, afirmou.

INSTRUMENTO DE TRABALHO

Sobre o Instrumento de Trabalho do Sínodo, documento feito pelo conselho pré-sinodal, fruto das consultas às comunidades amazônicas, o Papa o definiu como um texto “mártir”, destinado a ser destruído, pois é o ponto de partida para os trabalhos da Assembleia. “Vamos caminhar sob a guia do Espírito Santo, deixar que Ele se expresse nesta assembleia, entre nós, conosco, através de nós e se expresse apesar da nossa resistência”, destacou.

Para assegurar que a presença do Espírito Santo seja fecunda, Francisco indicou antes de tudo a oração: “Rezemos muito”. “É preciso também refletir, dialogar, escutar com humildade, sabendo que eu não sei tudo e falar com coragem, com paresia, “mesmo que tenha que passar vergonha”, discernir e tudo isso dentro, custodiando a fraternidade que deve existir aqui dentro”, enfatizou.

ORAÇÃO

Para favorecer a atitude de reflexão, oração, discernimento, depois das intervenções haverá um espaço de quatro minutos de silêncio. “Pois estar no Sínodo é entrar num processo, não é ocupar um espaço na sala, e os processos eclesiais têm necessidade de ser custodiados, cuidados com delicadeza, com o calor da Mãe Igreja”, reiterou o Papa.

O Pontífice, então, indicou prudência ao falar com os jornalistas, para não se criar a impressão de que exista um “Sínodo dentro, que segue um caminho da Igreja Mãe, de cuidado dos processos”, e um “Sínodo fora que, por uma informação dada com rapidez, dada com imprudência,  que move os jornalistas a equívocos”.  “Uma informação imprudente leva a equívocos”, alertou.

Por fim, Francisco agradeceu a todos pelo trabalho. “Obrigado por rezar uns pelos outros e ânimo”.

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Papa Francisco abre Sínodo para a Amazônia

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06 de outubro de 2019

O Papa Francisco presidiu a missa de abertura da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Região Pan-Amazônica na manhã deste domingo, 6, na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Entre os concelebrantes estavam os 185 padres sinodais, 58 do Brasil. Também estavam na Eucaristia os 13 novos cardeais, criados no Consistório presidido pelo Pontífice no sábado, 5. Na assembleia,  havia, ainda, representantes de comunidades indígenas.

O evento eclesial que se realizará até o dia 27 deste mês, tem como tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

CAMINHAR JUNTOS

Na homilia, dirigindo-se aos padres sinodais, bispos provenientes não só da região Pan-Amazônica, mas também de outras regiões, o Papa partiu da leitura da a Segunda Carta de São Paulo a Timóteo para ressaltar que o apóstolo Paulo, o maior missionário da história da Igreja os ajudará a “fazer Sínodo”, a “caminhar juntos”.

O Santo Padre chamou a atenção para o dom que cada um recebeu para serem dons na vida dos outros. “Um dom não se compra, não se troca nem se vende: recebe-se e dá-se de prenda. Se nos apropriarmos dele, se nos colocarmos a nós no centro e não deixarmos no centro o dom, passamos de pastores a funcionários: fazemos do dom uma função, e desaparece a gratuidade; assim acabamos por nos servir a nós mesmos, servindo-nos da Igreja”, afirmou.

REACENDER O DOM DA MISSÃO

Francisco ainda ressaltou que para serem fiéis à missão, São Paulo recorda a necessidade de se reacender o dom recebido. “O dom que recebemos é um fogo, é amor ardente a Deus e aos irmãos. O fogo não se alimenta sozinho; morre se não for mantido vivo, apaga-se se a cinza o cobrir”, disse.

“Se tudo continua igual, se os nossos dias são pautados pelo ‘sempre se fez assim’, então o dom desaparece, sufocado pelas cinzas dos medos e pela preocupação de defender o status quo. Mas ‘a Igreja não pode de modo algum limitar-se a uma pastoral de “manutenção” para aqueles que já conhecem o Evangelho de Cristo’, acrescentou o Papa, afirmação do Papa Emérito Bento XVI, de que “o ardor missionário é um sinal claro da maturidade de uma comunidade eclesial”.

O Pontífice convidou os participantes do Sínodo a pedirem a graça de serem “fiéis à novidade do Espírito”. “Ele, que faz novas todas as coisas, nos dê a sua prudência audaciosa; inspire o nosso Sínodo a renovar os caminhos para a Igreja na Amazônia, para que não se apague o fogo da missão”, reiterou.

FOGO DO EVANGELHO

O Santo Padre enfatizou que o fogo de Deus, como no episódio da sarça ardente, arde mas não consome. “Quando sem amor nem respeito se devoram povos e culturas, não é o fogo de Deus, mas do mundo. Contudo quantas vezes o dom de Deus foi, não oferecido, mas imposto! Quantas vezes houve colonização em vez de evangelização! Deus nos preserve da ganância dos novos colonialismos”, alertou.

“O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é o do Evangelho. O fogo de Deus é calor que atrai e congrega em unidade. Alimenta-se com a partilha, não com os lucros”, completou Francisco.

OLHAR PARA O CRUCIFICADO

Por fim, o Papa convidou todos a olharem para Jesus crucificado e para seu coração aberto. Muitos irmãos e irmãs na Amazônia carregam cruzes pesadas e aguardam pela consolação libertadora do Evangelho, pela carícia de amor da Igreja. Por eles, com eles, caminhemos juntos”.

 

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Papa abre Mês Missionário Extraordinário

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02 de outubro de 2019

Uma celebração do ofício das vésperas na Basílica de São Pedro, no Vaticano, na tarde desta terça-feira, 1º, marcou a abertura do Mês Missionário Extraordinário convocado pelo Papa Francisco.

“Este Mês Missionário Extraordinário quer nos dar uma sacudida que nos provoca a ser ativos no bem. Não notários da fé e guardiões da graça, mas missionários. Mas como fazer para se tornar missionário? Vivendo como testemunha: testemunhando com a vida que se conhece Jesus”, disse o Pontífice, na homilia.

O Santo Padre ressaltou que a fé não é propaganda nem proselitismo, mas um respeitoso dom de vida. Nesse sentido, ele convidou todos a fazerem uma reflexão sobre o valor do testemunho na evangelização. “Neste mês, perguntemo-nos: Como é o meu testemunho? Quem está com Jesus sabe que possui aquilo que se doa; e o segredo para possuir a vida é doá-la”, disse.

Francisco afirmou, ainda, que Deus ama uma Igreja que vive em saída. “Se não vive em saída, não é Igreja. Uma Igreja em saída, missionária é uma Igreja que não perde tempo a lamentar-se pelas coisas que não funcionam, pelos fiéis que diminuem, pelos valores de outrora que já não existem”.

O Papa também destacou que no mês de outubro é celebrada a memória de Santa Teresinha do Menino Jesus e São Francisco Xavier, padroeiros das missões, além da Venerável Paulina Jaricot, “uma operária que apoia as missões com o seu trabalho diário: com as ofertas que retirava do salário, deu início às Pontifícias Obras Missionárias”. Ele lembrou, ainda, o mês do Rosário. “Quanto nós rezamos pela difusão do Evangelho, para nos convertermos da omissão à missão?”, indagou.

Ao recordar o exemplo desses missionários, Francisco salientou que ninguém está excluído da missão da Igreja. “Sim, neste mês, o Senhor chama você também. Chama você, pai e mãe de família; você, jovem que sonha com grandes coisas; você que trabalha numa fábrica, numa loja, num banco, num restaurante; você que está sem emprego; você que está numa cama de hospital”, ressaltou o Pontífice.

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Papa institui Domingo da Palavra de Deus

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30 de setembro de 2019

O Vaticano divulgou nesta segunda-feira, 30, a Carta Apostólica sob forma de Motu Proprio Aperuit illis do Papa Francisco com a qual se institui o Domingo da Palavra de Deus.

Com esse documento, o Santo Padre estabelece que “o III Domingo do Tempo Comum seja dedicado à celebração, reflexão e divulgação da Palavra de Deus”. O Motu Proprio foi publicado no dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de São Jerônimo, conhecido tradutor da Bíblia em latim que afirmava: “A ignorância das Escrituras é a ignorância de Cristo”.

Francisco explica que com essa decisão quis responder aos muitos pedidos dos fiéis para que na Igreja se celebrasse o Domingo da Palavra de Deus. A carta começa com a seguinte passagem do Evangelho de Lucas (Lc 24,45): “Encontrando-se os discípulos reunidos, Jesus aparece-lhes, parte o pão com eles e abre-lhes o entendimento à compreensão das Sagradas Escrituras. Revela àqueles homens, temerosos e desiludidos, o sentido do mistério pascal, ou seja, que Ele, segundo os desígnios eternos do Pai, devia sofrer a paixão e ressuscitar dos mortos para oferecer a conversão e o perdão dos pecados; e promete o Espírito Santo que lhes dará a força para serem testemunhas deste mistério de salvação.”

PATRIMÔNIO

O Papa recorda o Concílio Vaticano II que “deu um grande impulso à redescoberta da Palavra de Deus com a Constituição Dogmática Dei Verbum”, e Bento XVI que convocou o Sínodo, em 2008, sobre o tema “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja” e escreveu a Exortação Apostólica Verbum Domini, que “constitui um ensinamento imprescindível para as nossas comunidades”. Nesse documento, observa, “aprofunda-se o caráter performativo da Palavra de Deus, sobretudo quando o seu caráter sacramental emerge na ação litúrgica”.

“O Domingo da Palavra de Deus”, sublinha o Pontífice, “situa-se num período do ano que convida a reforçar os laços com os judeus e a rezar pela unidade dos cristãos”: “Não é uma mera coincidência temporal: celebrar o Domingo da Palavra de Deus expressa um valor ecumênico, porque as Sagradas Escrituras indicam para aqueles que se colocam à escuta o caminho a ser percorrido para alcançar uma unidade autêntica e sólida”.

Francisco exorta a viver esse domingo “como um dia solene. Entretanto será importante que, na celebração eucarística, se possa entronizar o texto sagrado, de modo a tornar evidente aos olhos da assembleia o valor normativo que possui a Palavra de Deus (...). Neste Domingo, os Bispos poderão celebrar o rito do Leitorado ou confiar um ministério semelhante, a fim de chamar a atenção para a importância da proclamação da Palavra de Deus na liturgia. De fato, é fundamental que se faça todo o esforço possível no sentido de preparar alguns fiéis para serem verdadeiros anunciadores da Palavra com uma preparação adequada (...). Os párocos poderão encontrar formas de entregar a Bíblia, ou um dos seus livros, a toda a assembleia, de modo a fazer emergir a importância de continuar na vida diária a leitura, o aprofundamento e a oração com a Sagrada Escritura, com particular referência à lectio divina.

“A Bíblia”, escreve o Papa, “não pode ser patrimônio só de alguns e, menos ainda, uma coletânea de livros para poucos privilegiados (...). Muitas vezes, surgem tendências que procuram monopolizar o texto sagrado, desterrando-o para alguns círculos ou grupos escolhidos. Não pode ser assim. A Bíblia é o livro do povo do Senhor que, escutando-a, passa da dispersão e divisão à unidade. A Palavra de Deus une os fiéis e faz deles um só povo”.

Também nessa ocasião, o Papa reitera a importância da preparação da homilia: “Os Pastores têm a grande responsabilidade de explicar e fazer compreender a todos a Sagrada Escritura (...) com uma linguagem simples e adaptada a quem escuta (...). Para muitos dos nossos fiéis, esta é a única ocasião que têm para captar a beleza da Palavra de Deus e a ver referida à sua vida diária (...).

Não se pode improvisar o comentário às leituras sagradas. Sobretudo a nós, pregadores, pede-se o esforço de não nos alongarmos desmesuradamente com homilias enfatuadas ou sobre assuntos não atinentes. Se nos detivermos a meditar e rezar sobre o texto sagrado, então seremos capazes de falar com o coração para chegar ao coração das pessoas que escutam”.

SAGRADA ESCRITURA E EUCARISTIA

Recordando o episódio dos discípulos de Emaús, o Papa recorda também “como seja indivisível a relação entre a Sagrada Escritura e a Eucaristia”. Cita a Constituição Apostólica Dei Verbum que ilustra “a finalidade salvífica, a dimensão espiritual e o princípio da encarnação para a Sagrada Escritura”. “A Bíblia não é uma coletânea de livros de história nem de crônicas, mas está orientada completamente para a salvação integral da pessoa. A inegável radicação histórica dos livros contidos no texto sagrado não deve fazer esquecer esta finalidade primordial: a nossa salvação. Tudo está orientado para esta finalidade inscrita na própria natureza da Bíblia, composta como história de salvação na qual Deus fala e age para ir ao encontro de todos os homens e salvá-los do mal e da morte”.

“Para alcançar esta finalidade salvífica, a Sagrada Escritura, sob a ação do Espírito Santo, transforma em Palavra de Deus a palavra dos homens escrita à maneira humana. O papel do Espírito Santo na Sagrada Escritura é fundamental. Sem a sua ação, estaria sempre iminente o risco de ficarmos fechados apenas no texto escrito, facilitando uma interpretação fundamentalista, da qual é necessário manter-se longe para não trair o caráter inspirado, dinâmico e espiritual que o texto possui. Como recorda o Apóstolo, «a letra mata, enquanto o Espírito dá a vida».”

O Papa recorda a afirmação importante dos Padres conciliares “segundo a qual a Sagrada Escritura deve ser ‘lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita’. Com Jesus Cristo, a revelação de Deus alcança a sua realização e plenitude; e, todavia, o Espírito Santo continua a sua ação. De facto, seria redutivo limitar a ação do Espírito Santo apenas à natureza divinamente inspirada da Sagrada Escritura e aos seus diversos autores. Por isso, é necessário ter confiança na ação do Espírito Santo que continua a realizar uma sua peculiar forma de inspiração, quando a Igreja ensina a Sagrada Escritura, quando o Magistério a interpreta de forma autêntica e quando cada fiel faz dela a sua norma espiritual.”

SAGRADA ESCRITURA E TRADIÇÃO

Falando sobre a encarnação do Verbo de Deus que “dá forma e sentido à relação entre a Palavra de Deus e a linguagem humana, com as suas condições históricas e culturais”, o Papa ressalta que “muitas vezes corre-se o risco de separar Sagrada Escritura e Tradição, sem compreender que elas, juntas, constituem a única fonte da Revelação (...). A fé bíblica funda-se sobre a Palavra viva, não sobre um livro. Quando a Sagrada Escritura é lida com o mesmo Espírito com que foi escrita, permanece sempre nova”. Assim, “quem se alimenta dia a dia da Palavra de Deus torna-se, como Jesus, contemporâneo das pessoas que encontra; não se sente tentado a cair em nostalgias estéreis do passado, nem em utopias desencarnadas relativas ao futuro”.

“Por isso, é necessário que nunca nos abeiremos da Palavra de Deus por mero hábito, mas nos alimentemos dela para descobrir e viver em profundidade a nossa relação com Deus e com os irmãos. A Palavra de Deus apela constantemente para o amor misericordioso do Pai, que pede a seus filhos para viverem na caridade. A Palavra de Deus é capaz de abrir os nossos olhos, permitindo-nos sair do individualismo que leva à asfixia e à esterilidade enquanto abre a estrada da partilha e da solidariedade.

A carta se conclui com uma referência a Maria que nos acompanha “no caminho do acolhimento da Palavra de Deus”. “A bem-aventurança de Maria antecede todas as bem-aventuranças pronunciadas por Jesus para os pobres, os aflitos, os mansos, os pacificadores e os que são perseguidos, porque é condição necessária para qualquer outra bem-aventurança.”

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