Padre Zezinho: ‘A Igreja está querendo que os jovens falem’

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27 de setembro de 2017

Junto aos jovens há mais de 50 anos, o Padre Zezinho, SCJ, cantor e compositor reconhecido por várias gerações de católicos, foi convidado pela Secretaria-Geral do Sínodo dos Bispos para participar do seminário “a condição juvenil no mundo”, entre 11 e 15 de setembro, no Vaticano. Trata-se da preparação para a XV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos. O tema escolhido pelo Papa Francisco para o próximo sínodo, que será em outubro de 2018, é “o jovem, a fé e o discernimento vocacional”.

Ele conversou com O SÃO PAULO, nos bastidores do último dia de encontros, sobre os resultados do encontro e sobre as particularidades da juventude católica brasileira. Para ele, no momento atual, “os jovens sentem que têm toda a liberdade de falar” e não só devem aprender, mas também ensinar. “Vamos criar jovens pensadores, em tudo o que é diocese. O Papa está querendo que os jovens repensem a Igreja conosco”, disse.

Padre Zezinho falou, ainda, sobre como a tecnologia muda a comunicação com os jovens. 

Aos 76 anos, depois de superar um AVC e um câncer disse que está bem de saúde. “Me deixam descansar bem e estou medicado”, afirmou.

 

O SÃO PAULO - Há quantos anos o senhor trabalha com os jovens?

Há 50 anos. Aliás, mais, porque comecei antes. Trabalho com jovens há 54 anos, antes de ser padre já.

 

Nunca houve um Sínodo dos Bispos sobre os jovens. Como o senhor vê essa iniciativa?

A Igreja está querendo que os jovens falem. E com liberdade. É pedido do Papa. Está levando isso tão a sério que está pedindo a nós, formadores de jovens, a motivar o jovem a falar. E nós devemos falar menos. Eles, mais. Além disso, está fazendo a preparação do sínodo em duas etapas. Primeiro, agora em setembro, com os formadores. Depois, em março, vai ter um novo encontro, só que desta vez com mais jovens. Só depois de tudo o que eles e os especialistas falarem, vão falar com os bispos. Isso é novo, pois antigamente se falava sobre o jovem. Agora, o jovem fala. E fala sobre nós, sobre a Igreja, sobre os bispos. 

 

Isso é uma ideia do Papa Francisco?

O Papa está querendo isso: falem de nós. Como podemos ser para vocês? O que está faltando? Os jovens sentem que têm toda a liberdade de falar. Não serão cerceados. Ninguém vai dizer: você não devia ter dito isso. O que disserem vai ser ouvido. Isso é muito bom. Uma perspectiva de jovens da Igreja, jovens para a Igreja, e jovens com a Igreja. Nunca foi feito dessa forma, com essa perspectiva.

 

É uma mudança no método, certo?

Antigamente, na pedagogia, tínhamos que pensar no que ensinar para os jovens. Agora, os jovens mesmos têm de ensinar. E eles sabem coisas que nós não sabemos, porque eles estão em ambientes onde nós não estamos. Há uma cultura jovem importante. Antigamente, Platão, Aristóteles e todos os grandes pensadores falavam sobre o jovem, mas não deixavam o jovem falar. Não havia jovens escritores, cantores, que atingissem a humanidade. Tampouco havia os veículos. Para escrever um livro, estar no teatro, ele tinha de ser alguém famoso. Tinha de ter vivido. Era impossível esperar dos jovens. Podia, talvez, ser maestro e grande compositor, mas acho que só no campo da música, porque era um talento, como [Wolfgang Amadeus] Mozart. Mas o que o jovem tinha a dizer como pessoa não contava.

 

Na sua opinião, quando é que isso mudou?

Só nos anos 1960, com as guitarras, microfones, televisão e multidão. Nem o Frank Sinatra tinha essa força, porque era um indivíduo cercado de orquestra. De repente, apareceram os jovens com duas guitarras e algum instrumento, e não precisava mais do que isso. Eles iam falando e gritando. E virou um fenômeno de massa. Em pouco tempo, tinham milhões de jovens querendo ouvir outros jovens, não mais os adultos. Começaram a falar a si mesmos. Depois começaram a falar para nós, às vezes até agredindo, mas dizendo muita verdade. O Bob Dylan, por exemplo, se pegar o livro dele, é um filósofo. Muitos jovens começaram a dizer: não temos só canção, temos ideias e podemos ajudar o mundo com nossa opinião. Foi uma revolução melhor que a política.

 

O que pode sair de concreto em um Sínodo dos Bispos sobre os jovens?

Vamos criar jovens pensadores, em tudo o que é diocese. O Papa está querendo que os jovens repensem a Igreja conosco, e não “vamos pensar uma Igreja para os jovens”. Na verdade, o Papa Paulo VI queria algo do tipo. Foi líder dos jovens, e na política, quando era bispo e cardeal.

 

A diferença é que agora, com a tecnologia, é possível falar para o mundo inteiro…

Desde que chegou o celular na mão, ele se tornou um dos maiores instrumentos que a Igreja não tinha. Os jovens usam isso quase 15 horas por dia. Os bispos e os padres estão usando um pouco menos. Mas estão percebendo que precisam ler o que os jovens estão falando. Estamos lendo o que eles estão dizendo. E eles estão lendo o que nós falamos [na internet] mais do que livros. Agora, a conversa é aqui [no celular]. Eu chego até 4 ou 6 milhões de likes em alguns casos. Ou, no mínimo 80 mil, depende do assunto. Se é assunto quente, aí os jovens falam, respondem. Deixo entrar na minha página gente que não é nem católica. Pode falar. Mas se me ofender muito, vou conversar com ele e dizer “É a terceira vez, você não quer dialogar. Vou bloquear você”. Mas discordar é bom para nós.

 

O confronto de ideias faz pensar, certo?

Recebo coisas lindas de jovens ateus, pessoas políticas, alguns mais conservadores, que descobriram que eu deixo falar e respeito. Eles todos podem falar, mas ofender, não. Mas [o celular] é um instrumento de diálogo espetacular e a Igreja sabe disso. Ela está incentivando isso nas universidades. O jovem pode falar para 100 mil, 200 mil pessoas. Cada mensagem que ele manda para mim, ele é lido por milhares de outros. O mesmo para o Padre Fábio de Melo, por exemplo. É um instrumento espetacular de pedagogia. Só no Brasil deve haver mais de 300 organismos católicos, sites grandes, páginas para isso. 

 

O que o senhor destaca deste seminário em preparação para o Sínodo?

Um senso de eclesialidade que os jovens têm. Eles não são só católicos. São abertos para o mundo inteiro. Havia uma menina da Síria, muito preparada, falava em 4 línguas, muito consciente do que ela quer. Foi expulsa do seu país porque era católica. Por 5 anos ela não pôde estudar nada, porque estava ameaçada. Há 5 milhões de jovens que não estão podendo estudar na Síria, por causa da guerra. Atrasaram em pelo menos 6 anos os estudos. E disse uma frase espetacular: “Quando eu saí da Síria, eu sabia que tinha uma casa, pois onde há um templo católico, é a minha casa.” Muito forte. Isso é eclesialidade, em uma moça de 25 anos.

 

Qual é uma particularidade dos jovens do Brasil, que podemos transmitir a toda a Igreja?

O Brasil aprendeu a usar a pastoral de massa, coisa que aqui na Europa eles têm menos. Nós enchemos estádios a qualquer momento, com a pastoral da juventude. Aprendemos a conversar com jovens em multidão e em pequeno grupo. Há um espaço na Igreja para o jovem de mentalidade política, pois nós não expulsamos ninguém. Há espaço para o padre de esquerda e o outro mais conservador. Os dois podem falar. Isso é bom, porque o jovem ouve e escolhe. Não existe uma única direção. É como um parlamento. É um bom conceito. Aqui na Europa, o discurso é sempre acadêmico. Mas no Brasil é mais tête à tête, olho no olho. Na Europa, há uma tendência a ser hierárquico. É bom que uns aprendam com os outros. Estamos tentando formar os jovens para a democracia e os radicais vão ter de baixar a bola.

 

Como foram escolhidas as pessoas para vir a este seminário?

A organização nos convidou, pessoas que há muito tempo trabalham com jovens. Eu, por causa dos meus 50 anos de livros e canções. Eles me pediram “venha ao menos desta vez”. Não precisa vir de novo em março. Eu disse que tenho problema de saúde e perguntei: “Posso não falar nada?” E o cardeal [Lorenzo Baldisseri] falou que poderia, mas queria que eu visse isso. Então, eu vim para fazer falar, pois o sínodo é para os jovens. Para a próxima vez, vou indicar outros, principalmente leigos do Brasil, que estão em falta aqui.

 

Padre Zezinho, como está a sua saúde?

Recuperei-me bem do câncer. A diabetes está bem controlada. Não tenho tido problema nenhum, graças a Deus. Deixam-me descansar bem e estou medicado. Não está muito puxado. O médico falou: “Pode voltar a fazer tudo o que você fazia, mas mantenha a boa alimentação”. E tem dado certo.
 

Leia a noticia mostra seminário no Vaticano inaugura preparativos para próxima assembleia sobre a condição dos jovens.

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A familiaridade com Jesus nos liberta

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26 de setembro de 2017

O Papa Francisco celebrou na manhã de terça-feira, 26, a missa na capela da Casa Santa Marta. Em sua homilia, falou do conceito de família, inspirando-se no Evangelho de Lucas proposto pela liturgia do dia.

Para Jesus, família são os que ouvem a Palavra de Deus e a colocam em prática. No Evangelho, é o Senhor que chama “mãe”, “irmãos” e “família” os que o circundavam e o ouviam na pregação. E isso, observou o Papa, "faz pensar no conceito de familiaridade com Deus e com Jesus”, que é algo a mais em relação ao ser “discípulos” ou “amigos”; “não é uma atitude formal nem educada e muito menos diplomática”, afirmou o Papa.

E então "o que significa esta palavra que os padres espirituais na Igreja tanto usaram e nos ensinaram?".

Antes de tudo, explicou Francisco, significa "entrar na casa de Jesus: entrar naquela atmosfera, viver aquela atmosfera, que está na casa de Jesus. Viver ali, contemplar, ser livres, ali. Porque os filhos são os livres, os que moram na casa do Senhor são os livres, os que têm familiaridade com Ele com os livres. Os outros, usando uma palavra da Bíblia, são os ‘filhos da escrava’, digamos assim, são cristãos, mas não ousam se aproximar, não ousam ter esta familiaridade com o Senhor, e sempre há uma distância que os separa do Senhor". 

Mas familiaridade com Jesus, como nos ensinam os grandes Santos, acrescentou o Papa, significa também “estar com Ele, olhá-Lo, ouvir a sua Palavra, tentar praticá-la, falar com Ele" .

E a palavra é oração, destacou Francisco: "aquela oração que se faz inclusive na rua: 'Mas, Senhor o que acha?' Esta é a familiaridade, não? Sempre. Os santos tinham isso. Santa Teresa, é bonito, porque diz que via o Senhor em todos os lugares, era familiar com o Senhor por todos os lados, mesmo entre as panelas na cozinha, era assim".

Por fim, familiaridade é "permanecer" na presença de Jesus como Ele mesmo nos aconselha na Última Ceia ou como nos recorda o início do Evangelho, destacou Francisco, quando João indica: "este é o cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo. E André e João foram atrás de Jesus" e, como está escrito, “permaneceram, ficaram com Ele todo o dia”.

Esta é, portanto, reiterou o Papa, a atitude de familiaridade, não aquela dos cristãos que, porém, mantêm distância de Jesus. E então Francisco pede a cada um: "vamos dar um passo nesta atitude de familiaridade com o Senhor. Aquele cristão, com problemas, que vai no ônibus, no metrô e interiormente fala com o Senhor ou pelo menos sabe que o Senhor o vê, lhe está próximo: esta é a familiaridade, é proximidade, é sentir-se da família de Jesus. Peçamos esta graça para todos nós, entender o que significa familiaridade com o Senhor. Que o Senhor nos conceda esta graça".

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Consolo não é diversão, mas paz do Senhor

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25 de setembro de 2017

O Papa começou a semana celebrando a missa na capela da Casa Santa Marta (25/09). Em sua homilia, Francisco comentou a Primeira Leitura, que narra o momento no qual o povo de Israel é libertado do exílio: “o Senhor – destacou o Pontífice – visitou o seu povo e o conduziu de volta a Jerusalém”. A palavra “visita”, explicou, é “importante” na história da salvação, porque “toda libertação, toda ação de redenção de Deus é uma visita”.

Quando o Senhor nos visita nos dá a alegria, isto é, nos leva a um estado de consolação. Este dar alegria… Sim, semearam nas lágrimas, mas agora o Senhor nos consola e nos dá esta consolação espiritual. E a consolação acontece não só naquele tempo, é um estado na vida espiritual de todo cristão. Toda a Bíblia nos ensina isso”.

O Papa exortou a “esperar”, portanto, a visita de Deus “a cada um de nós”. Existem “momentos mais fracos” e “momentos mais fortes”, mas o Senhor “nos faz sentir a sua presença” sempre, com a consolação espiritual, enchendo-nos “de alegria”. 

Neste sentido, esperar este evento com a virtude “mais humilde de todas”: a esperança, que “é sempre pequena”, mas “tantas vezes é forte quando está escondida como as brasas sob as cinzas”.

Assim, o cristão vive “em tensão” pelo encontro com Deus, pela consolação “que dá este encontro com o Senhor”.

Se um cristão não está em tensão por tal encontro é – acrescenta o Papa – um cristão “fechado”, “meio que no depósito da vida”, sem saber “o que fazer”.

O convite, então, é para “reconhecer” a consolação, “porque existem falsos profetas que parecem nos consolar, mas pelo contrário, nos enganam”. Esta não é “uma alegria que se pode comparar”:

A consolação do Senhor toca dentro e te move, faz aumentar em ti a caridade, a fé, a esperança e também te leva a chorar pelos [teus] próprios pecados. E também quando olhamos para Jesus e para a Paixão de Jesus, chorar com Jesus. E também te eleva a alma para as coisas do Céu, para as coisas de Deus e também, acalma a alma na paz do Senhor. Esta é a verdadeira consolação. Não é um divertimento – o divertimento não é uma coisa má quando é bom, somos humanos, devemos tê-lo -, mas a consolação te envolve e justamente a presença de Deus se sente e se reconhece: este é o Senhor”.

O Papa recorda de agradecer - com a oração - o Senhor “que passa” para nos visitar, para nos ajudar a “a ir para frente, para esperar, para carregar a Cruz”. Enfim, pede para conservar a consolação recebida:

“É verdade, a consolação é forte e não se conserva assim forte - é um momento - mas deixa seus traços. E conservar esses traços, e conservar com a memória; conservar como o povo conservou esta libertação. Retornamos a Jerusalém porque Ele nos libertou de lá. Esperar a consolação, reconhecer a consolação e conservar a consolação. E quando esse momento forte passa o que permanece? A paz. E a paz é o último nível da consolação”.

(BF-JE-SP)

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Alerta para intolerância e xenofobia na Europa

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22 de setembro de 2017

O Papa Francisco concluiu sua série de audiências esta sexta-feira, 22, recebendo os responsáveis nacionais pelas migrações, que participam do encontro promovido pelo Conselho das Conferências Episcopais da Europa.

A audiência foi a ocasião para o Pontífice reafirmar a missão da Igreja diante dos fluxos migratórios maciços: amar Jesus Cristo particularmente nos mais pobres e abandonados, e entre eles certamente estão os migrantes e refugiados.

“Não escondo a minha preocupação diante dos sinais de intolerância, discriminação e xenofobia que se verificam em várias regiões da Europa. Com frequência, esses sinais são motivados pela desconfiança e pelo temor em relação ao outro, ao diferente, ao estrangeiro. Preocupa-me ainda mais a triste constatação de que as nossas comunidades católicas na Europa não estão isentas dessas reações de defesa e rejeição, justificadas por um ‘dever moral’ de preservar a identidade cultural e religiosa originária.”

O Papa recordou que a Igreja se propagou em todos os continentes graças à “migração” de missionários, e que hoje percebe uma “profunda dificuldade” das Igrejas na Europa diante da chegada dos migrantes. Para Francisco, essa dificuldade espelha os limites dos processos de unificação europeia e da aplicação concreta da universalidade dos direitos humanos.

Do ponto de vista estritamente eclesiológico, a chegada de inúmeros irmãos oferece às Igrejas locais uma oportunidade a mais de realizar plenamente a própria catolicidade e uma nova fronteira missionária.

Além disso, o encontro com migrantes e refugiados de outras confissões e religiões é um “terreno fecundo para o desenvolvimento de um diálogo ecumênico e inter-religioso sincero e enriquecedor”.

Por fim, o Papa citou a sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado do próximo ano, na qual indica a resposta pastoral aos desafios migratórios em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar.  Na mesma Mensagem, também se enfatiza a importância dos Pactos Globais, que as nações do mundo se empenharam em redigir até o final de 2018, nos quais a Santa Sé está preparando uma contribuição especial. Francisco concluiu com uma exortação:

“Que a voz da Igreja seja sempre tempestiva e profética e, sobretudo, seja precedida por um trabalho coerente e inspirado nos princípios da doutrina cristã.”

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Reconhecer-se pecador é a porta para encontrar Jesus

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21 de setembro de 2017

“A porta para encontrar Jesus é reconhecer-se pecador”, afirmou o Papa Francisco na Missa celebrada na manhã desta quinta-feira, na Capela da Casa Santa Marta.

Sua homilia repassa a conversão de São Mateus - festejado hoje pela Igreja - episódio retratado pelo pintor italiano Caravaggio em uma tela muito cara à Francisco.

Três as etapas do acontecido: encontro, festa e escândalo. Jesus havia curado um paralítico e encontra Mateus, sentado no banco dos impostos. Fazia o povo de Israel pagar os impostos para depois dá-los aos romanos e por isto era desprezado, considerado um traidor da pátria.

Jesus olhou para ele e disse: “Segue-me”. Ele levantou-se e o seguiu, como narra o Evangelho do dia.

De um lado, o olhar de São Mateus, um olhar desconfiado, olhava “de lado”. “Com um olho, Deus” e “com o outro o dinheiro”, “agarrado ao dinheiro como pintou Caravaggio”, e também com um olhar impertinente. De outro, o olhar misericordioso de Jesus que – disse o Papa – olhou para ele com tanto amor”.

A resistência daquele homem que queria o dinheiro “cai”: levantou-se e o seguiu. “É a luta entre a misericórdia e o pecado”, sintetiza o Papa.

O amor de Jesus pode entrar no coração daquele homem porque “sabia ser pecador”, sabia “não ser bem quisto por ninguém”, era desprezado.

E justamente “a consciência de pecador abriu a porta para a misericórdia de Jesus”. Assim, “deixou tudo e foi”. Este é o encontro entre o pecador e Jesus:

“É a primeira condição para ser salvo: sentir-se em perigo; a primeira condição para ser curado: sentir-se doente. E sentir-se pecador, é a primeira condição para receber este olhar de misericórdia. Mas pensemos no olhar de Jesus, tão bonito, tão bom, tão misericordioso. E também nós, quando rezamos, sentimos este olhar sobre nós; é o olhar de amor, o olhar da misericórdia, o olhar que nos salva. Não ter medo”.

Como Zaqueu, também Mateus, sentindo-se feliz, convidou depois Jesus para come em sua casa. A segunda etapa é justamente “a festa”.

Mateus convidou todos os amigos, “aqueles do mesmo sindicato”, pecadores e publicanos. Certamente à mesa, faziam perguntas ao Senhor e ele respondia.

Isto – observa o Papa – faz pensar naquilo que disse Jesus no capítulo 15 de Lucas: “Haverá mais festa no Céu por um pecador que se converta do que por cem justos que permanecem justos”.

Trata-se da festa do encontro do Pai, a festa da misericórdia”. Jesus, de fato, trata a todos com misericórdia sem limite, afirma Francisco.

Então, o terceiro momento, o do “escândalo”. Os fariseus vendo que publicanos e pecadores sentaram-se à mesa com Jesus, perguntavam  aos seus discípulos: “Por que vosso mestre come com os cobradores de impostos e pecadores?”.

“Um escândalo sempre começa com esta frase: “Por que?””, explica o Papa. “Quando vocês ouvem esta frase, cheira” – sublinha – e “por trás vem o escândalo”.

Tratava-se, em substância, da “impureza de não seguir a lei”. Conheciam muito bem “a Doutrina”, sabiam como seguir “pelo caminho do Reino de Deus”, conheciam “melhor do que ninguém como se devia fazer”, mas “haviam esquecido o primeiro mandamento do amor”.

E assim, “fecharam-se na gaiola dos sacrifícios, quem sabe pensando: “Mas, façamos uma sacrifício a Deus”, façamos tudo o que se deve fazer, “assim, nos salvamos”. Em síntese, acreditavam que a salvação viesse deles próprios, sentiam-se seguros.

“Não! Deus nos salva, nos salva Jesus Cristo”, enfatizou o Papa:

“Aquele “por que” que tantas vezes ouvimos entre os fiéis católicos quando viam obras de misericórdia. “Por que?”  E Jesus é claro, é muito claro: “Ir e aprender”. E os mandou aprender, não? “Ide e aprendei o que quer dizer misericórdia - (aquilo que) eu quero – e não sacrifícios, porque eu não vim, de fato, para chamar os justos, mas os pecadores”. Se tu queres ser chamado por Jesus, reconhece-te pecador”.

Francisco exorta, portanto, a reconhecer-se pecadores, não de forma abstrata, mas “com pecados concretos”:  “todos nós os temos, tantos”, afirma.

“Deixemo-nos olhar por Jesus com aquele olhar misericordioso cheio de amor”, prossegue.

E detendo-se ainda no escândalo, ressalta que existem tantos:

“Existem tantos, tantos. E sempre, também na Igreja hoje. Dizem: “Não, não se pode, é tudo claro, é tudo, não, não... eles são pecadores, devemos afastá-los”. Também tantos Santos são perseguidos ou se levanta suspeitas sobre eles. Pensemos em Santa Joana d’Arc, mandada para a fogueira, porque pensavam que fosse uma bruxa, pensem no Beato Rosmini. “Misericórdia eu quero, e não sacrifícios”. E a porta para encontrar Jesus é reconhecer-se como somos, a verdade. Pecadores. E ele vem, e nos encontramos. É tão bonito encontrar Jesus!”

(JE)

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Aproximar-se de quem sofre para restituir dignidade

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19 de setembro de 2017

“Compaixão”, “aproximar-se” e “restituir”. Na Missa matutina na Casa Santa Marta, 19, o Papa Francisco pediu ao Senhor que nos dê a “graça” de sentir compaixão “diante de tanta gente que sofre”, de nos aproximar e levar essas pessoas “pela mão” até a “dignidade que Deus deu para elas”.

Inspirando-se no Evangelho do dia de Lucas, dedicado à narração da ressurreição do filho da viúva de Naim por obra de Jesus, o Pontífice explicou que no Antigo Testamento os “mais pobres dos escravos” eram justamente as viúvas, os órfãos, os estrangeiros e os forasteiros. E o convite é para cuidar deles, de modo que se insiram “na sociedade”. Jesus, que tem a capacidade de “olhar o detalhe”, porque “olha com o coração”, tem compaixão:

“A compaixão é um sentimento envolvente, é um sentimento do coração, das vísceras, envolve tudo. Não é o mesmo que a “pena” ou … “que dó, pobre gente!”: não, não é a mesma coisa. A compaixão envolve.  É “padecer com”. Isso é a compaixão. O Senhor se envolve com uma viúva e com um órfão.... Mas diga, há uma multidão aqui, por que não fala para a multidão? Deixe … a vida é assim … são tragédias que acontecem, acontecem.... Não. Para Ele, era mais importante aquela viúva e aquele órfão morto do que a multidão para a qual Ele estava falando e que o seguia. Por que? Porque o seu coração, as suas vísceras se envolveram. O Senhor, com a sua compaixão, se envolveu neste caso. Teve compaixão”.

A compaixão, portanto, impulsiona “a aproximar-se”, observou o Papa: podem-se ver muitas coisas, mas não se aproximar delas:

“Aproximar-se e tocar a realidade. Não olhá-la de longe. Teve compaixão – primeira palavra – se aproximou – segunda palavra. Depois fez o milagre e Jesus não disse: ‘Até logo, eu continuo o caminho’: não. Pegou o rapaz e o que fez? ‘O devolveu para sua mãe’: devolver, a terceira palavra. Jesus faz milagres para restituir, para colocar as pessoas no próprio lugar. E foi o que fez com a redenção. Teve compaixão – Deus teve compaixão – se aproximou de nós no seu Filho, e restituiu a todos nós a dignidade de filhos de Deus. Ele recriou todos nós”.

A exortação é a “fazer o mesmo”, seguir o exemplo de Cristo, aproximar-se dos necessitados, não ajudá-los “de longe, porque há aqueles que estão sujos”, não tomam banho”, “têm mau cheiro”.

“Muitas vezes vemos os jornais ou a primeira página dos jornais, as tragédias... mas olhe, as crianças naquele país não têm o que comer; naquele país, as crianças são soldados; naquele país as mulheres são escravizadas; naquele país ... oh, que calamidade! Pobre gente ... Viro a página e passo ao romance, para a telenovela que vem depois. E isso não é cristão. E a pergunta que eu faria agora, olhando para todos, também para mim: “Eu sou capaz de ter compaixão? De rezar? Quando eu vejo essas coisas, que me trazem a casa, através da mídia ... as vísceras se movem? O coração sofre com essas pessoas, ou sinto pena, digo “pobre gente”, e assim ... “. E se você não pode ter compaixão, peça a graça: ‘Senhor, dá-me a graça da compaixão’”!

Com a “oração de intercessão”, com o nosso “trabalho” de cristãos - devemos ser capazes de ajudar as pessoas que sofrem, para que “retornem à sociedade”, à “vida familiar”, de trabalho; em síntese: à “vida cotidiana”.

(BF-SP)
 

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Rezar pelos governantes não obstante os seus erros

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18 de setembro de 2017

O Papa Francisco celebrou a missa na Capela da Casa Santa Marta, nesta segunda-feira (18/09), e em sua homilia pediu aos cristãos para rezarem pelos seus governantes, não obstante as coisas más que fazem. 

O Pontífice pediu também aos governantes para rezar, caso contrário, correm o risco de fecharem-se no próprio grupo. O governante que tem a consciência de ser subalterno ao povo e a Deus, reza. 

A reflexão de Francisco parte da Primeira Leitura de hoje e do Evangelho. Na primeira leitura, São Paulo aconselha a Timóteo a rezar pelos governantes. No Evangelho, há um governante que reza: é o oficial romano que tinha um empregado que estava doente. Amava o povo, não obstante fosse estrangeiro, e amava o empregado, pois, de fato, se preocupava.

“Este homem sentiu a necessidade de rezar”, disse o Papa. Não somente porque amava, mas também porque “tinha a consciência de não ser o patrão de tudo, de não ser a última instância”. Sabia que acima dele, há outro que comanda. Havia subalternos, soldados, mas ele também estava na condição de subordinado. E isso o levou a rezar. O governante que tem essa consciência, reza: 

“Se não reza, fecha-se na própria “autorreferencialidade” ou na de seu partido, naquele círculo do qual não se sai. É um homem fechado em si mesmo. Porém, quando vê os problemas verdadeiros, tem a consciência de ser subalterno, que existe outro que tem mais poder que ele. Quem tem mais poder do que o governante? O povo, que lhe deu o poder, e Deus, do qual vem o poder através do povo. Quando um governante tem a consciência de ser subordinado, reza.”

O Papa Francisco ressaltou a importância da oração do governante, “porque é a oração para o bem comum do povo que lhe foi confiado”.

Recordou, a esse propósito, a conversa com um governante que todos os dias passava duas horas em silêncio diante de Deus, não obstante tivesse muitos afazeres. É preciso pedir a Deus a graça de governar bem como Salomão que não pediu a Deus ouro ou riquezas, mas sabedoria para governar.

Os governantes, diz Francisco, devem pedir ao Senhor essa sabedoria. “É tão importante que os governantes rezem” - reitera - pedindo ao Senhor que não cancele a “consciência de ser subalterno” a Deus e do povo: “que a minha força esteja ali e não no pequeno grupo ou em mim”.

E a quem poderia se opor dizendo ser agnóstico ou ateu, o Papa diz: “Se você não pode rezar, confronte-se”, “com a sua consciência”, com “os sábios do seu povo”, mas “não fique sozinho com o pequeno grupo do seu partido”, ressalta. “Isto - reitera - é ser auto-referencial”.

Na primeira leitura, Paulo convida a rezar pelos reis, “para que - afirma - possamos levar uma vida calma, pacífica, digna e dedicada a Deus”. Francisco observa que, no entanto, quando um governante faz algo que não gostamos, ele é criticado ou, de outra forma, louvado. É deixado sozinho com o seu partido, com o Parlamento”:

“’Não, eu o votei – eu o votei' - 'Eu não o votei, problema seu’. Não, não podemos deixar os governantes sozinhos: devemos acompanhá-los com a oração. Os cristãos devem rezar pelos governantes. “Mas, Padre, como vou rezar por ele que faz tantas coisas ruins?”. Ele precisa mais do que nunca da oração. Reze, faça penitência pelo governante. A oração de intercessão – isso é tão bonito que Paulo diz - é para todos os reis, para todos aqueles que estão no poder. Por quê? “Porque podemos levar uma vida calma e tranquila”. Quando o governante é livre e pode governar em paz, todo o povo irá se beneficiar disso”.

E o Papa conclui pedindo que se faça um exame de consciência sobre a oração pelos governantes:

“Peço-lhes um favor: cada um de vocês pegue hoje cinco minutos, não mais. Se você é um governante, se pergunte: “Eu rezo por aquele que me deu o poder através do povo?” Se não é um governante, “rezo pelos governantes? Sim, por esse e por aquele sim, porque gosto deles; por aqueles outros, não”. Esses têm mais necessidade do que os outros! “Rezo por todos os governantes?” E se você perceber, quando faz exame de consciência para se confessar, que não reza pelos governantes, leve isso à confissão. Porque não rezar pelos governantes é um pecado”. (MJ-SP)

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Congresso da Pastoral Familiar recebeu mensagem do Papa Francisco

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12 de setembro de 2017

Na abertura do XV Congresso Nacional da Pastoral Familiar, que aconteceu de 8 a 10 de setembro, em Cuiabá (MT), após discursos dos bispos e casais coordenadores do regional Oeste 2 e nacional, o assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Jorge Alves Filho, surpreendeu os presentes com uma carta enviada pelo papa Francisco para o encontro.

O papa Francisco exortou os participantes a abrirem-se “às luzes e moções do Espírito Santo, lembrando que ‘cada família, mesmo na sua fragilidade, pode tornar-se uma luz na escuridão do mundo’ (Amoris laetitia, 66), deixando-se transfigurar sempre mais pela luz do Senhor Ressuscitado, através de um contínuo e perseverante caminho de conversão que permita viver uma verdadeira comunhão de amor”. Leia a carta na íntegra.

CNPF/Luiz Lopes | Bênção apostólica do papa Francisco para o Congresso

Para o pontífice, é desse modo que as famílias, com o testemunho da palavra, “falam de Jesus aos outros, transmitem a fé, despertam o desejo de Deus e mostram a beleza do Evangelho e do estilo de vida que se propõe. Assim os esposos cristãos pintam o cinzento espaço público, colorindo-o de fraternidade, sensibilidade social, defesas das pessoas frágeis, fé luminosa, esperança ativa. A sua fecundidade alarga-se, traduzindo-se em mil e uma maneiras de tornar o amor de Deus presente na sociedade” (Amoris laetitia, 184). O Congresso também recebeu uma bênção apostólica do papa Francisco.

O Congresso Nacional da Pastoral Familiar reuniu mais de mil agentes de todos os regionais da CNBB. O tema que animou o encontro foi “Família, uma luz para a vida em sociedade”.

Também foi recebida pelo congresso uma carta do secretário do Dicastério para o Leigos, a Família e a Vida do Vaticano, o padre brasileiro Alexandre Awi Mello. O presbítero iniciou há uma semana as atividades no organismo da Santa Sé criado em agosto do ano passado e manifestou alegria pelas temáticas em pauta no evento em Cuiabá (MT): “Temas como os idosos, a adoção, a dimensão missionária da família, e a parceria entre a Pastoral Familiar e os Tribunais Eclesiásticos são de grande interesse também deste dicastério”.

Compromisso

 

CNPF/Luiz Lopes | Casal coordenador nacional da Pastoral Familiar

Para o casal coordenador nacional da Pastoral Familiar, Khátia e Luiz Stolf, que atua no regional Sul 4 da CNBB, a urgência para o trabalho de evangelização com as famílias é sair do comodismo e “ir para o meio da sociedade que a cada dia se afasta mais dos valores morais e éticos, e também dos valores religiosos”. Um compromisso que pode ser assumido após o evento aponta que a missão que se coloca sobre cada agente é retornar para suas comunidades como anunciadores da Boa Nova, “não só para as comunidades, também, mas principalmente para a sociedade, sendo assim a igreja em saída que o Papa Francisco insiste tanto”.

Próxima edição
Ao final do encontro, foi anunciado o regional que irá sediar a próxima edição, que será realizada em 2020. O escolhido foi o Sul 4, com a cidade de Florianópolis (SC) como anfitriã. O anúncio foi feito pelo bispo de Sinop (MT) e referencial da Pastoral Familiar do regional Oeste 2 da CNBB, dom Canísio Klaus.

Coleta nacional
Atendendo ao convite para colaborar com a coleta “Juntos com a CNBB pela Evangelização”, o arcebispo de Cuiabá, dom Milton dos Santos, que presidiu a missa de encerramento, convidou os congressistas a manifestarem a comunhão eclesial na participação generosa na coleta nacional para a reforma da sede da CNBB, em Brasília (DF). Os casais da Pastoral Familiar dos 18 regionais da Conferência corresponderam com a doação de mais de quatro mil reais para a campanha.

 

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Mensageiro de paz e reconciliação

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12 de setembro de 2017

Durante os cinco dias da Visita Apostólica do Papa Francisco a Colômbia, se realizou 29 atividades que congregarom quase sete milhões de pessoas. Estas atividades foram missas campais, encontros com autoridades civis e religiosas, encontros com representantes dos jovens, vítimas e “vitimários” do conflito armado na Colômbia, indígenas, afro-colombianos, religiosos e suas famílias.

Visitando às quatro cidades, Bogotá, Villavicencio, Medellín y Cartagena, o Sumo Pontífice demonstrou muita proximidade com as pessoas, cativando por sua simplicidade e pelas “quebra de protocolo” para estar mais próximos das pessoas, especialmente das crianças, enfermos e anciãos. Se sente o Papa como uma pessoas coerente nas palavras, gestos e testemunhos que oferece às pessoas quanto à vivência da fé e do compromisso social de trabalhar por um país mais fraterno que luta contra as desigualdades sociais, a pobreza e a violência em todas suas dimensões. Mesmo que o Papa Francisco retornou ontem para Roma, o povo colombiano segue dizendo: “Obrigado Papa Francisco, por ser mensageiro de paz y reconciliação”.

 

Balanço geral

O vice-presidente da República, Óscar Naranjo, fez um balanço geral dos cinco dias da visita do Papa Francisco a Colômbia:  foram 29 atividades que congregarom mais de 6.800.000 colombianos e estrangeiros. Colaboraram diretamente 19.660 voluntários, 9.740 pessoas da logística, 561 bombeiros, 7.880 socorristas e 36.600 policiais e militares. Recordou que os delitos de alto impacto reduziram em mais de 70% e as lesões corporais baixaram 84%. Em território colombiano, o Papa Francisco viajou 1.331km por via aérea e 135km por via terrestre, sendo 11 recorridos em Papamóvel. Também disse que em todas as cidades tiveram enormes ingressos gerados pelos peregrinos.

A nível comunicativo, estiveram credenciados mais de 30.000 jornalistas. Foram milhões de postagens sobre sua visita a Colômbia; ocupou o primeiro lugar no twitter a nível mundial, por exemplo. Praticamente todos os meios de comunicação colombianos fizeram a cobertura da Visita do Papa, alguns durante as 24 horas, outros durante e nos intervalos dos eventos. Segundo estimativa, 80% da população colombiana (sejam católicos, de outras crenças, agnósticos, ateus) acompanhou a visita pessoalmente ou pelos meios de comunicação.

 

Dia-a-dia da visita do Papa a Colômbia

Na quarta-feira, 6 de setembro, o Papa pisou em terras colombianas às 16h30. Depois de receber as honras de chefe de Estado, sua primeira aparição pública no papamóvel do aeroporto à Nunciatura Apostólica, onde pernoitou todos os dias. Na porta da Nunciatura se foi recebido com muita alegria pelas crianças e jovens recuperados de situações de vulneração como a prostituição, graças ao projeto IDIPRON.

Na quinta-feira o Papa visitou Bogotá, capital e metrópole com oito milhões de habitantes, onde teve encontros com membros do Governo, da Conferência Episcopal Colombiana (CEC) e do Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM), bem como um encontro para uma multidão de jovens que acompanhavam alegres sua mensagem e o aclamavam diversas vezes dizendo: “Esta é a juventude do Papa”. O Papa fez uma oração silenciosa e fervorosa aos pés do quadro de Nossa Senhora de Chiquinquirá, padroeira da Colômbia, que viajou quase 200km desde o Santuário até a Catedral Primada da Colômbia. À tarde celebrou sua primeira missa campal no parque Simón Bolívar para mais de um milhão e seiscentos mil fiéis. A temática deste dia girou em torno à vida e a paz. Na porta da Nunciatura se encontrou com um grupo de pessoas enfermas y com deficiências.

Certamente o dia mais esperado pelos colombianos foi sexta-feira. Neste dia o Papa visitou a cidade de Villavicencio, porta de entrada da Amazónia e da planície colombiana, onde tratou, com palavras e gestos, o tema da reconciliação em três âmbitos: com Deus, entre as pessoas e com a natureza. Esta é uma das zonas que mais sofrem com o conflito armado e com o desmatamento. Celebrou uma missa campal, onde beatificou dois mártires colombianos: o bispo Jesus Emilio Jaramillo e o sacerdote Pedro María Ramírez, vítimas do conflito armado. Depois terá um grande encontro de oração pela reconciliação nacional (junto a 6.000 vítimas e “vitimários” do conflito); neste encontro duas vítimas e dois “vitimários” partilharam seu testemunho de perdão e reconciliação. Na «Cruz da Reconciliação», fez uma breve oração e plantou uma “árvore da paz”, como recordação de que todos devemos plantar algo para que haja uma verdadeira paz na Colômbia e no mundo. Esta noite se encontrou na Nunciatura com outras vítimas do conflito.

No sábado, 9 de setembro, o Papa esteve em Medellín, capital religiosa da Colômbia, onde tratou dos temas vocação e serviço cristão. Mesmo com o atraso pelo mau tempo, cumpriu sua agenda na cidade com exatidão. Celebrou outra santa missa campal para mais de um milhão de pessoas. Visitou o “Lar Infantil São José” (obra social que acolhe crianças e adolescentes abandonadas, toxicodependentes e vítimas de exploração sexual e violência intrafamiliar) e depois teve um encontro mais de 22 mil sacerdotes, religiosos, religiosas, seminaristas e suas famílias de origem. Na porta da Nunciatura se encontrou com vários recém-casados, casais que celebram suas bodas e com sacerdotes, religiosos, religiosas e seminaristas.

No seu último dia de visita, domingo, o Papa saiu da Nunciatura até o aeroporto no “papamóvel” para despedir-se dos bogotanos; foi saudado por mais de 700 mil pessoas. Na cidade de Cartagena das Índias, no caribe colombiano, onde a presença afrodescendente supera 74% da população. Tratou especificamente dos temas de luta contra a pobreza, a violência, a escravidão e ao tráfico de pessoas e drogas. Fez um emotivo recorrido pelas ruas do bairro periférico de San Francisco. Visitou e abençoou dois projetos sociais arquidiocesanos: o Talitha Qum (que atende crianças e adolescentes com alto risco de vulneração) e pôs a primeira pedra das casas para acolher os sem-teto. Também visitou a casa da Sra. Lorenza Pérez, uma líder comunitária que dá exemplo de solidariedade, preparando e alimentando diariamente a cem pessoas. Pouco antes do meio dia rezou o tradicional “Ângelus” desde a praça San Pedro Claver e visitou casa Santuário de San Pedro Claver, padroeiro dos direitos humanos. À tarde abençoou, na baía de Cartagena, a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes e celebrou no porto sua última missa campal, que reuniu quase um milhão de pessoas. Do aeroporto internacional de Cartagena regressou para Roma, depois da despedida por parte do Governo colombiano.

Em sua viagem de regresso a Roma, como já é costume, o Papa Francisco fez um breve resumo dos temas e das imagens que marcaram sua visita na Colômbia, e respondeu a pergunta dos jornalistas que o acompanharam na sua 20ª Visita Apostólica desde que iniciou seu pontificado em 2013.

Pe. Julio Caldeira, imc, diretor da Revista Dimensión Misionera (Colômbia).

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Terminou no domingo, 10 de setembro, a 20 ª Viagem Apostólica Internacional do Papa Francisco à Colômbia

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11 de setembro de 2017

O Papa Francisco foi conquistado pelo sorriso dos colombianos na visita ao país, afirmou na sexta-feira, 8 de setembro,o Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Greg Burke. O jornalista estadunidense adiantou à mídia local que o Papa está “muito contente” com o andamento da viagem, que termina domingo, 10 de setembro. Depois de visitar Medellín sábado, 9 de setembro, o Pontífice encerrou a visita em Cartagena.

Para Burke, o importante da viagem até então são a “alegria e a esperança” de Francisco, como demonstrado na primeira noite na Colômbia, quando pediu aos jovens que o aguardavam na Nunciatura que “não se deixassem roubar as esperanças”. Burke afirmou ainda que o encontro em Villavivencio dedicado à reconciliação entre as vítimas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e ex-guerrilheiros, foi uma “lição de como pedir e oferecer perdão”.

Encontros da Nunciatura são destaque
Outro evento destacado, a seu ver, foi a noite de quinta-feira, 7 de setembro, quando um grupo de meninas com síndrome de Down falou sobre a vulnerabilidade. Para ele, a mensagem foi uma “lição de pura teologia de que todos somos vulneráveis”.
O porta-voz ainda garantiu que apesar da longa viagem, Francisco está muito bem e suportou com boa disposição o calor em Villavivencio. Uma prova disso, disse, foi o período dedicado depois do almoço para tirar fotos com seminaristas e outros fiéis sob o sol.
Em declaração exclusiva à Rádio Vaticano, Greg Burke se concentrou nos temas do perdão e da misericórdia, centrais na sexta-feira, em Villavicencio.
“Desde o início de seu Pontificado, o Papa fala do perdão e da misericórdia. Nós o vemos sempre diante de Deus, pedindo perdão. Não existe um dia mais importante do que outro, mas claramente este dia teve algo de especial”.
(CM)

(Texto da Rádio Vaticano)

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