Papa Francisco: a fraternidade permanece frente à promessa não cumprida

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15 de janeiro de 2019

O Papa inicia a Carta falando sobre a comunidade humana e sobre sua criação a partir do sonho de Deus, sublinhando que “no mistério da geração a grande família da humanidade pode reencontrar a si mesma”.

Paixão de Deus pela criatura humana

O Pontífice evidencia também que “devemos restituir importância a esta paixão de Deus pela criatura humana e o seu mundo”, criatura que foi feita por Deus à sua “imagem” – “homem e mulher” criatura espiritual e sensível, consciente e livre. “A relação entre o homem e a mulher é o ponto eminente no qual toda a criação torna-se interlocutora de Deus e testemunha do seu amor”, acrescentou o Papa. Por isso, escreve ainda, no nosso tempo a Igreja é chamada a relançar com força o humanismo da vida que irrompe desta paixão de Deus pela criatura humana.

Bem-estar individual e coletivo

Outro ponto citado pelo Pontífice refere-se à degradação do ser humano e o paradoxo com o progresso. O Papa explica:

“ A distância entre a obsessão pelo próprio bem-estar e a felicidade compartilhada de toda humanidade parece ampliar-se cada vez mais: chegando-se a pensar que entre o indivíduo e a comunidade humana esteja em curso um verdadeiro cisma ”

Francisco acrescenta depois que se “trata de uma verdadeira cultura – ou melhor anti-cultura – da indiferença pela comunidade: hostil aos homens e às mulheres e aliada à prepotência do dinheiro”.

O Papa se pergunta ainda: como pôde acontecer este paradoxo? No momento que o mundo tem maiores disponibilidades de riquezas econômicas e tecnológicas aparecem nossas divisões mais agressivas e vive-se uma degradação espiritual, – poderíamos dizer niilismo – no qual o mundo é submetido a esse paradoxo.

Uma escuta responsável

“O povo cristão ouvindo o grito de sofrimento dos povos, deve reagir aos espíritos negativos que fomentam divisões, indiferenças e hostilidade” exorta o Papa depois de apresentar o quadro atual da condição humana. Após destacou a necessidade de se inspirar no ato do amor de Deus, Francisco escreve: “A Igreja deve ser a primeira a reencontrar a beleza desta inspiração e fazer a sua parte, com renovado entusiasmo”.

Construir uma fraternidade universal

O Santo Padre sugere que

“ É tempo de relançar uma nova visão para o humanismo fraterno e solidário das pessoas e dos povos colocando em primeiro lugar a criatura humana ”

“Para esta missão há como sinais de encorajamento a ação de Deus nos nossos dias”, continua o Pontífice. Os sinais “devem ser reconhecidos evitando que o horizonte seja obscurado pelos aspectos negativos”.

O futuro da Academia

Falando sobre o futuro da Academia Pontifícia afirmou que, “antes de tudo devemos conhecer a língua e as histórias dos homens e das mulheres do nosso tempo, colocando o anúncio do Evangelho na experiência concreta” – “para colher o sentido da vida humana, a experiência à qual devemos nos referir é a que se pode reconhecer na dinâmica da geração”. O Papa sublinha ainda: “Viver significa necessariamente ser filhos, acolhidos e cuidados, mesmo se algumas vezes de modo inadequado”.

O Pontífice exortou então o trabalho da Pontifícia Academia: “Não tenham medo de elaborar argumentações e linguagens que sejam utilizadas em um diálogo intercultural e interreligioso, assim como interdisciplinar”.

Fraternidade

Francisco conclui reiterando a necessidade de “reconhecer que a fraternidade permanece sendo a promessa não cumprida da modernidade”. “A força da fraternidade, que a adoração de Deus em espírito e verdade gera entre os homens, é a nova fronteira do cristianismo”.

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"Seguir o exemplo do Bom Samaritano para socorrer os doentes"

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10 de janeiro de 2019

“A Igreja lembra que o caminho mais credível de evangelização são gestos de dom gratuito como os do Bom Samaritano. O cuidado dos doentes precisa de profissionalismo e ternura, de gestos gratuitos, imediatos e simples, como uma carícia, com os quais fazemos o outro sentir que nos é querido”. Essas são as palavras iniciais do Papa Francisco na Mensagem para o XXVII Dia Mundial do Doente, que será celebrado de modo solene em Calcutá, na Índia, no dia 11 de fevereiro.

Como a Índia foi o país escolhido para a celebração, o Papa fez questão de lembrar na mensagem a figura da Santa Madre Teresa de Calcutá, “um modelo de caridade que tornou visível o amor de Deus pelos pobres e os doentes. A Santa Madre Teresa ajuda-nos a compreender que o único critério de ação deve ser o amor gratuito para com todos, sem distinção de língua, cultura, etnia ou religião. O seu exemplo continua a guiar-nos na abertura de horizontes de alegria e esperança para a humanidade necessitada de compreensão e ternura, especialmente para as pessoas que sofrem”.

Guiado pelo exemplo de Madre Teresa, Francisco falou sobre a importância do voluntariado para socorrer os enfermos e necessitados. “A gratuidade humana é o fermento da ação dos voluntários, que têm tanta importância no setor socio-sanitário e que vivem de modo eloquente a espiritualidade do Bom Samaritano. Agradeço e encorajo todas as associações de voluntariado que se ocupam do transporte e assistência dos doentes, aquelas que providenciam as doações de sangue, tecidos e órgãos”.

O Papa também pede atenção às instituições de saúde católicas sobre a missão desse tipo de entidade, que corre o risco de se desvirtuar por causa de ganhos financeiros. “As instituições sanitárias católicas não deveriam cair no estilo empresarial, mas salvaguardar mais o cuidado da pessoa que o lucro. Sabemos que a saúde é relacional, depende da interação com os outros e precisa de confiança, amizade e solidariedade; é um bem que só se pode gozar «plenamente», se for partilhado. A alegria do dom gratuito é o indicador de saúde do cristão”.

 

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Papa Francisco: para amar a Deus, é preciso amar o irmão

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10 de janeiro de 2019

Para amar a Deus concretamente, é preciso amar os irmãos, isto é, rezar por eles, simpáticos e antipáticos, inclusive pelo inimigo. Na homilia desta manhã (10/01) na capela da Casa Santa Marta, o Papa fez um forte apelo ao amor. Quem nos dá a força para amar assim é a fé, que vence o espírito do mundo.

O espírito do mundo é mentiroso

A reflexão de Francisco se inspirou na Primeira Carta de São João apóstolo (1Jo 4,19 - 5,4) proposta pela Liturgia do dia. O apóstolo João, de fato, fala de “mundanidade”. Quando diz: “Quem foi gerado por Deus é capaz de vencer o mundo” está falando da “luta de todos dias” contra o espírito do mundo, que é “mentiroso”, é um “espírito de aparências, sem consistência”, enquanto “o Espírito de Deus é verdadeiro”.

“O espírito do mundo é o espírito da vaidade, das coisas que não têm força, que não têm fundamento e que acabarão”, destacou Francisco. Como os doces de Carnaval, os crêpes – chamados em dialeto de “mentiras” – não são consistentes, mas “cheios de ar”, isto é, do espírito do mundo.

O espírito do mundo divide sempre

O apóstolo nos oferece o caminho da concretude do espírito de Deus: dizer e fazer são a mesma coisa. “Se você tem o Espírito de Deus” – recordou o Papa –, fará coisas boas. E o apóstolo João diz uma coisa “cotidiana”: “Quem não ama o seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. “Se você não é capaz de amar algo que vê, como conseguirá amar algo que não vê? Isso é a fantasia”, destacou o Papa, exortando a amar “o que se vê, se pode tocar, que é real. E não as fantasias, que não se veem”.

Se você não é capaz de amar a Deus no concreto, não é verdade que você ama a Deus. E o espírito do mundo é um espírito de divisão e quando se infiltra na família, na comunidade, na sociedade sempre cria divisões: sempre. E as divisões crescem e vêm o ódio e a guerra … João vai além e diz: “Se alguém diz ‘Amo a Deus', mas entretanto odeia o seu irmão, é um mentiroso”, isto é, é filho do espírito do mundo, que é pura mentira, pura aparência. E isso é algo sobre o qual nos fará bem refletir: eu amo a Deus? Mas vamos fazer uma comparação e ver como você ama o seu irmão: vamos ver como você o ama.

O Papa então indicou três sinais que indicam que não amo o irmão. Antes de tudo, Francisco exortou a rezar pelo próximo, também por aquela pessoa que é antipática e sei que não me quer bem, também por aquela que me odeia, pelo inimigo, como disse Jesus. Se não rezo, “é um sinal que você não ama”:

O primeiro sinal, pergunta que todos devemos fazer: eu rezo pelas pessoas? Por todas, concretas, as que são simpáticas e antipáticas, por aquelas amigas e não são amigas. Primeiro. Segundo sinal: quando eu sinto dentro de mim sentimentos de ciúme, de inveja e quero desejar o mal ou não... é um sinal que não ama. Pare ali. Não deixar crescer esses sentimentos: são perigosos. Não deixá-los crescer. E depois o sinal mais cotidiano de que eu não amo o próximo e, portanto, não posso dizer que amo a Deus, é a fofoca. Vamos colocar no coração e na cabeça: se eu faço fofocas, não amo a Deus porque com as fofocas estou destruindo aquela pessoa. As fofocas são como balas de mel, que são saborosas, uma chama a outra e depois o estômago se consuma, com tantas balas... Porque é bom, é “doce” fofocar, parece uma coisa bela, mas destrói. E este é um sinal de que você não ama.

A necessidade da fé

Se uma pessoa deixa de fofocar na sua vida, “eu diria que é muito próxima a Deus”, porque – explicou Francisco – não fofocar “protege o próximo, protege Deus no próximo”.

E o espírito do mundo se vence com este espírito de fé: acreditar que Deus está no meu irmão, na minha irmã. A vitória que venceu o mundo é a nossa fé. Somente com tanta fé é possível percorrer esta estrada, não com pensamentos humanos de bom senso … não, não: não são necessários. Ajudam, mas não servem nesta luta. Somente a fé nos dará a força para não fofocar, para rezar por todos, inclusive pelos inimigos e de não deixar crescer os sentimentos de ciúme e de inveja. O Senhor, com este trecho da Primeira Carta de São João apóstolo, nos pede concretude no amor. Amar a Deus: mas se você não ama seu irmão, não pode amar a Deus. E se você diz amar o seu irmão, mas na verdade não o ama, o odeia, você é um mentiroso.

 

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Papa pede oração a jovens da JMJ do Panamá, inspirados em Maria

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08 de janeiro de 2019

O Papa Francisco, no primeiro vídeo do ano com a intenção de oração para este mês de janeiro, divulgado nesta terça-feira (8), motiva para a evangelização dos jovens em véspera de Jornada Mundial de Juventude: 

“ Aproveitem a JMJ no Panamá para contemplar Cristo com Maria. Cada um em seu idioma, rezemos o Terço pela paz. ”

A Jornada, que acontece de 22 a 27 de janeiro, assim como Maria, são fontes de inspiração “para comunicar ao mundo a alegria do Evangelho”, disse Francisco. “O Vídeo do Papa” deste mês, produzido em espanhol por iniciativa da Rede Mundial de Oração do Papa e em colaboração com a JMJ, entra em consonância com milhares de jovens de todo o mundo que estão se deslocando para o Panamá ao incentivar que sejam fiéis ao chamado de Jesus, superando todo tipo de diferença cultural, econômica ou social.

Oração especial aos jovens da América Latina

O Papa Francisco, além de convidar cada um a rezar no seu próprio idioma “o Terço pela paz”, pede para rezar por essa juventude, “especialmente os (jovens) da América Latina”, para que tenham “forças para sonhar e trabalhar pela paz”.

Oração precisa de regularidade diária

O diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, Padre Frédéric Fornos, foi recebido pelo Papa Francisco em 3 de janeiro para tratar sobre a escolha das intenções de oração para 2010, já que os vídeos de divulgação deste ano já estão prontos. No início de fevereiro, o jornal L’Osservatore Romano vai publicar oficialmente as intenções do Santo Padre para 2020.

Mas é necessário ter tempo para rezar? Como é possível encontrá-lo em meio a dias muitas vezes frenéticos? De acordo com o sacerdote jesuíta, mais do que tempo, é preciso de regularidade: tirar um momento, sempre o mesmo, todos os dias, ainda que seja apenas 5/10 minutos para parar, ficar em silêncio e em contato com o Senhor:

“Penso que sempre temos tempo para fazer muitas outras coisas. É uma questão de decisões. Sempre temos tempo para ler um livro, um jornal ou assistir a um filme. Tempo sempre existe. Muitas vezes não devemos pensar que a oração precisa de muito tempo. O importante é dedicar um momento todos os dias: como a gota de água que cai sobre a pedra que caindo, caindo, sempre de forma regular, acaba transformando a própria pedra. Assim acontece com a oração: quando é feita todos os dias, mesmo que somente por cinco ou dez minutos, mas verdadeiros e próximos ao coração do Senhor, então isso nos ajuda a transformar nosso coração de pedra em um coração de carne. Por isso lançamos - especialmente para os jovens - a plataforma de oração do Papa, que se chama 'Click to pray'. Aqui há três momentos de oração a cada dia, a partir de 1 minuto, mas são 60 segundos de silêncio para ouvir a Palavra e ficar próximos ao coração do Senhor. Isso já pode ser o início de nossa transformação.”

Rede Mundial de Oração do Papa

A Rede Mundial de Oração do Papa, fundada em 1844 e com reforma do Papa em 2014, é um serviço pontifício, que tem como missão orar e viver os desafios da humanidade que preocupam o Santo Padre, expressados em intenções mensais. Está presente em 98 países ao integrar mais de 35 milhões de pessoas, incluindo seu grupo de jovens, o Movimento Eucarístico Jovem.

 

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Papa Francisco: a cultura da indiferença é o oposto do amor de Deus

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08 de janeiro de 2019

Deus “dá o primeiro passo” e ama “a humanidade que não sabe amar”, porque ele tem compaixão e misericórdia, enquanto nós mesmo sendo bons, muitas vezes não entendemos as necessidades dos outros e permanecemos indiferentes, “talvez porque o amor de Deus” não entrou em nossos corações.

Foi o que disse o Papa Francisco na homilia da missa celebrada na manhã desta terça-feira (08/01), capela da Casa Santa Marta, oferecida ao eterno descanso do arcebispo Giorgio Zur, núncio apostólico emérito na Áustria, que viveu ali naquela casa e faleceu “ontem à meia-noite”, disse o Papa. O pontífice se inspirou na liturgia de hoje, desde a exortação ao amor, da Primeira Carta de São João Apóstolo, ao Evangelho de Marcos, sobre a multiplicação dos pães.

 

Deus deu o primeiro passo e nos amou primeiro

“Amemo-nos uns aos outros, porque o amor” vem de Deus, recordou o Papa, citando as palavras de São João na Primeira Leitura. O apóstolo explica “como o amor de Deus se manifestou em nós”: “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que tenhamos a vida através dele”.

“Este é o mistério do amor”, esclareceu Francisco, “Deus nos amou por primeiro. Ele deu o primeiro passo”. Um passo “em direção à humanidade que não sabe amar”, que “precisa do carinho de Deus para amar”, do testemunho de Deus. “Este primeiro passo que Deus fez é o seu Filho: ele o enviou para nos salvar e dar sentido à vida, para nos renovar, para nos recriar”.

 

Jesus teve compaixão da multidão

A seguir, Pontífice falou da passagem do Evangelho de Marcos sobre a multiplicação dos pães e dos peixes. “Por que Deus fez isso?”, perguntou. Por “compaixão”. A compaixão da grande multidão de pessoas que vê descendo do barco, às margens do Lago de Tiberíades, porque estavam sozinhas, sublinhou o Papa Francisco: “Eram como ovelhas que não têm pastor”.

O coração de Deus, o coração de Jesus se comove, e vê, vê aquelas pessoas, e não pode ficar indiferente. O amor é inquieto. O amor não tolera a indiferença. O amor tem compaixão. Mas compaixão significa colocar o coração em risco; significa misericórdia. Jogar o próprio coração para os outros: isso é amor. O amor é colocar o coração em risco para os outros.

 

Os discípulos: que se arranjem para encontrar comida

Depois, o Papa descreveu a cena de Jesus que ensina “muitas coisas” ao povo e os discípulos acabam ficando entediados, “porque Jesus sempre dizia as mesmas coisas”. E enquanto Jesus ensina “com amor e compaixão”, talvez comecem a “falar entre eles”. No final, eles olham para o relógio: “Mas é tarde ...”.

Francisco ainda citou o evangelista Marcos: “Mas Mestre, o lugar é deserto e agora é tarde. Mandem eles embora, de modo que, indo para os povoados vizinhos, possam comprar comida”. Praticamente dizem “para eles se virar” e que comprem o pão deles. “Mas temos certeza”, comentou o Pontífice, “de que sabiam que tinham pão para eles, e queriam proteger isso. É a indiferença”:

Aos discípulos não interessava as pessoas: interessava Jesus, porque o queriam bem. Não eram maus: eram indiferentes. Eles não sabiam o que era amar. Eles não sabiam o que era compaixão. Eles não sabiam o que era indiferença. Eles tiveram que pecar, trair o Mestre, abandonar o Mestre, para entender o cerne da compaixão e da misericórdia. E Jesus, a resposta é pungente: "Dai-lhes vós mesmos de comer". Tomem conta deles. Esta é a luta entre a compaixão de Jesus e a indiferença, a indiferença que se repete na história sempre, sempre ... Tantas pessoas que são boas, mas não compreendem as necessidades dos outros, não são capazes de compaixão. São boas pessoas, talvez porque não entrou o amor de Deus em seus corações ou não o deixaram entrar.

 

A fotografia das pessoas que desviam o olhar do sem-teto

E aqui o Papa Francisco descreve uma fotografia que está nas paredes da Esmolaria Apostólica: "um clique espontâneo que fez um bravo jovem romano que a ofereceu à Esmolaria". O fez Daniele Garofani, hoje fotógrafo do "L'Osservatore Romano", retornando de um serviço de distribuição de refeições para os sem-teto junto com o cardeal Krajewski.
É uma noite de inverno, “se percebia pela maneira de vestir das pessoas" - explica o Papa - que saíam "de um restaurante". "Pessoas bem cobertas" e satisfeitas: "haviam comido, estavam entre amigos".

E lá – prossegue Francisco na descrição da foto - "havia um homem sem-teto no chão, que faz assim ..." (e imita o gesto da mão estendida para pedir esmola). O fotógrafo, acrescenta ainda o Papa, "foi capaz de tirar a fotografia no momento em que as pessoas desviam o olhar, para que os olhos não se cruzem". Isto, comentou Francisco, "é a cultura da indiferença. Isto é o que os apóstolos fizeram". "Deixe-os, que vão para o campo, no escuro, com fome. Que eles se arranjem: é problema deles". "Temos o que comer: cinco pães e dois peixes para nós".

 

O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença

"O amor de Deus sempre vai primeiro - explica o Papa - é amor de compaixão, de misericórdia". É verdade que o oposto do amor é o ódio, mas em tantas pessoas não existe um "ódio consciente":

O oposto mais cotidiano ao amor de Deus, à compaixão de Deus, é a indiferença: a indiferença. "Eu estou satisfeito, não me falta nada. Tenho tudo, assegurei esta vida, e também a eterna, porque vou à Missa todos os domingos, sou um bom cristão". "Mas, saindo do restaurante, eu olho para outra parte". Pensemos: este Deus que dá o primeiro passo, que tem compaixão, que tem misericórdia, e tantas vezes nós, o nosso comportamento é a indiferença. Rezemos ao Senhor para que cure a humanidade, começando por nós: que o meu coração seja curado dessa doença que é a cultura da indiferença.

 

Felicitação a Kiko Argüello pelo zelo apostólico

No final da celebração, Francisco envia uma cordial saudação a Kiko Argüello, iniciador do Caminho Neocatecumenal, pelo seu octogésimo aniversário, e agradece a ele" pelo zelo apostólico com que trabalha na Igreja".

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Papa aos bispos dos EUA sobre crise de abuso: oração e discernimento

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04 de janeiro de 2019

O Papa Francisco enviou uma carta aos Bispos da Conferência Episcopal dos Estados Unidos reunidos desde a última quarta-feira (02/01) no seminário de Mundelein, na Arquidiocese de Chicago, para um retiro espiritual. Será uma semana de oração como pediu o Papa Francisco no convite dirigido a toda a Conferência episcopal do país, no contexto do escândalo dos abusos que atingiu a Igreja nos EUA.

Na sua carta o Santo Padre escreve que no último dia 13 de setembro, durante o encontro que teve com a Presidência da Conferência Episcopal, propôs “que fizéssemos juntos os Exercícios Espirituais: um tempo de retiro, oração e discernimento como elo necessário e fundamental no caminho para enfrentar e responder evangelicamente à crise de credibilidade que vocês atravessam como Igreja. Vemos isso no Evangelho, o Senhor nos momentos importantes de sua missão se retirava e passava a noite inteira em oração e convidava seus discípulos a fazer o mesmo”. “Sabemos – continua o Papa - que a importância dos eventos não resiste a qualquer resposta ou atitude; pelo contrário, exige de nós pastores a capacidade e sobretudo a sabedoria de gerar uma palavra, fruto de escuta sincera, orante e comunitária da Palavra de Deus e da dor do nosso povo. Uma palavra gerada na oração do pastor que, como Moisés, luta e intercede pelo seu povo”.

No encontro, - escreve o Papa Francisco – “expressei ao cardeal DiNardo e aos bispos presentes o meu desejo de acompanhá-los pessoalmente por alguns dias, nestes Exercícios Espirituais, o que foi acolhido com alegria e esperança. Como sucessor de Pedro, gostaria de unir-me a vocês e com vocês implorar ao Senhor que envie o seu Espírito capaz de "renovar todas as coisas" e mostrar os caminhos de vida que, como Igreja, somos chamados a seguir para o bem de todas as pessoas que nos foram confiadas. Apesar dos esforços realizados, devido a problemas logísticos, não poderei acompanhá-los pessoalmente. Esta carta – sublinha o Santo Padre - quer compensar, de alguma forma, a viagem não realizada. Também me alegra que vocês tenham aceitado a oferta que seja o pregador da Casa Pontifícia a guiar os Exercícios Espirituais com sua sábia experiência espiritual.

Com estas linhas, desejo estar mais perto de vocês e como irmão refletir e compartilhar alguns aspectos que considero importantes, e também estimulá-los na oração e nos passos que vocês dão na luta contra a "cultura do abuso" e na maneira de enfrentar a crise de credibilidade.

“Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servo de todos” (Mc 10, 43-44). Estas palavras, com as quais Jesus encerra a discussão e ressalta a indignação que nasce entre os discípulos quando ouvem Tiago e João pedir para sentarem-se à direita e à esquerda do Mestre, servirão como guia nesta reflexão que desejo realizar com vocês.

Francisco evidencia na sua carta que o Evangelho não tem medo de revelar e destacar certas tensões, contradições e reações que existem na vida da primeira comunidade de discípulos; pelo contrário, parece fazê-lo ex-professo: busca pelos primeiros lugares, ciúmes, invejas, arranjamentos e acomodações. Assim também como todas as intrigas e complôs que, às vezes secretamente e outras publicamente, se organizavam em torno da mensagem e da pessoa de Jesus pelas autoridades políticas, religiosas e dos mercadores da época. Conflitos que aumentavam à medida que se aproximava a Hora de Jesus no seu dom de si mesmo na cruz, quando o príncipe deste mundo, o pecado e a corrupção pareciam ter a última palavra contaminando tudo de amargura, desconfiança e murmúrio.

Como profetizou o idoso Simeão,  - continua o Papa Francisco na sua carta - os momentos difíceis e cruciais têm a capacidade colocar à luz os pensamentos íntimos, as tensões e as contradições que habitam pessoal e comunitariamente nos discípulos. Ninguém pode ser considerado isento disso; somos convidados como comunidade a vigiar para que, nesses momentos, nossas decisões, opções, ações e intenções não sejam viciadas (ou menos viciadas possível) por estes conflitos e tensões internas, e sejam, acima de tudo, uma resposta ao Senhor que é vida para o mundo. Nos momentos de maior turbamento, é importante prestar atenção e discernir para ter um coração livre de compromissos e de aparentes certezas para ouvir o que mais agrada ao Senhor na missão que nos foi confiada. Muitas ações podem ser úteis, boas e necessárias e até podem parecer corretas, mas nem todas têm "sabor" de Evangelho. Se vocês permitem dizer de modo coloquial: é preciso fazer atenção para que "o remédio não se torne pior do que a doença". E isso requer de nós sabedoria, oração, muita escuta e comunhão fraterna.

Na continuação da carta o Papa Francisco destaca os dois pontos: 1 “Entre vós não deve ser assim”. 2 “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servo de todos”.

O Papa destaca que nos últimos tempos, a Igreja nos Estados Unidos foi abalada por muitos escândalos que afetam sua credibilidade no sentido mais profundo. Tempos tempestuosos na vida de tantas vítimas que sofreram em sua carne o abuso de poder, de consciência e sexual por parte de ministros ordenados, consagrados, consagradas e fiéis leigos; tempos tempestuosos e de cruz para essas famílias e todo o povo de Deus.

A credibilidade da Igreja tem sido fortemente questionada e debilitada por esses pecados e crimes, mas especialmente pelo desejo de dissimulá-los e escondê-los, o que gerou um maior sentimento de insegurança, de desconfiança e de falta de proteção nos fiéis. A atitude de ocultação, como sabemos, longe de ajudar a resolver os conflitos, permitiu-lhes perpetuar-se e ferir mais profundamente o entrelaçamento de relações que hoje somos chamados a curar e recompor.

Estamos conscientes – continua Francisco - de que os pecados e os crimes cometidos e todas as suas repercussões em nível eclesial, social e cultural criaram uma marca e uma ferida profunda no coração do povo fiel. Encheram-no de perplexidade, desconcerto e confusão; e isso serve muitas vezes como uma desculpa para continuamente desacreditar e questionar a vida doada de tantos cristãos que "mostram o imenso amor pela humanidade inspirada no Deus feito homem" (Evangelii gaudium, n ° 76). Sempre que a palavra do Evangelho atrapalha ou se torna desconfortável, não são poucas as vozes que pretendem silenciá-la, sinalizando o pecado e as incongruências dos membros da Igreja e, mais ainda, de seus pastores.

A luta contra a cultura do abuso,  - escreve ainda o Santo Padre - a ferida na credibilidade, bem como o desconcerto, a confusão e descrédito na missão exigem, e exigem de nós, uma nova e decisiva atitude para resolver o conflito. "Vocês sabem que aqueles que se consideram governantes - nos diria Jesus - dominam as nações como se fossem os patrões, e os poderosos fazem sentir sua própria autoridade. Isso não deve acontecer entre vocês". A ferida na credibilidade requer uma abordagem particular, porque não se resolve por decretos voluntários ou simplesmente estabelecendo novas comissões ou melhorando os organogramas de trabalho como se fôssemos chefes de uma agência de recursos humanos. Uma similar visão acaba reduzindo a missão do pastor da Igreja a uma mera tarefa administrativa/organizacional no "empreendimento da evangelização. “Sejamos claros, muitas dessas coisas são necessárias, mas insuficientes, porque não conseguem assumir e enfrentar a realidade em sua complexidade e correm o risco de acabar reduzindo tudo as problemas organizacionais”.

A ferida na credibilidade toca em nível neurológico os nossos modos de se relacionar, escreve o Pontífice. “Podemos constatar que existe um tecido vital que foi danificado e, como artesãos, somos chamados a reconstruir. Isso implica a capacidade - ou não - de termos como comunidade de construir vínculos e espaços saudáveis e maduros, capazes de respeitar a integridade e a intimidade de cada pessoa. Implica a capacidade de convocar para despertar e infundir confiança na construção de um projeto comum, amplo, humilde, seguro, sóbrio e transparente. E isso requer não apenas uma nova organização, mas também a conversão de nossa mente (metanoia), de nossa maneira de rezar, de administrar poder e o dinheiro, de viver a autoridade e também de como nos relacionamos uns com os outros e com o mundo”.

Uma nova época eclesial precisa basicamente de pastores mestres de discernimento na passagem de Deus para a história de seu povo e não de simples administradores, pois as ideias se debatem, mas as situações vitais são discernidas. Portanto, em meio à desolação e à confusão que as nossas comunidades vivem, nosso dever é - em primeiro lugar - encontrar um espírito comum capaz de nos ajudar no discernimento, não para obter a tranquilidade fruto de um equilíbrio humano ou de um voto democrático que faça "vencer" uns sobre os outros, isso não!

Mas um modo colegialmente paternal de assumir a situação atual que proteja - acima de tudo - do desespero e da orfandade espiritual o povo que nos foi confiado. Isso nos permitirá mergulhar melhor na realidade, tentando entendê-la e ouvi-la de dentro, sem permanecer prisioneiros.

Sabemos – sublinha o Papa - que os momentos de dificuldade e de provação geralmente ameaçam a nossa comunhão fraterna, mas também sabemos que podem ser transformados em momentos de graça que fortalecem nossa dedicação a Cristo e a tornam crível. Essa atitude nos pede a decisão de abandonar como modus operandi o descrédito e a deslegitimação, a vitimização e a reprovação no modo de se relacionar e, ao contrário, dar espaço à brisa suave que só o Evangelho pode nos oferecer.

Não nos esqueçamos que "a falta de um reconhecimento sincero, sofrido e orante de nossos limites é o que impede à graça de agir melhor em nós, pois não se deixa espaço para provocar esse possível bem que se integra em um caminho sincero e real de crescimento".

Todos os esforços- enfatiza o Papa Francisco - que faremos para romper o círculo vicioso de repreensão, deslegitimação e descrédito, evitando o murmúrio e a calúnia, em vista de um caminho de aceitação orante e vergonhosa dos nossos limites e pecados e estimulando o diálogo, o confronto e o discernimento, tudo isso nos permitirá encontrar caminhos evangélicos que despertem e promovam a reconciliação e a credibilidade que nosso povo e a missão exigem de nós. Faremos isso se conseguirmos deixar de projetar nos outros nossas confusões e insatisfações, que são obstáculos à unidade e se nos atrevermos a nos ajoelhar diante do Senhor, deixando-nos interrogar pelas suas feridas, através das quais poderemos ver as feridas do mundo.

2. “Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o servo de todos”.

Francisco destaca na sua longa carta que “o Povo fiel de Deus e a missão da Igreja já sofreram e sofrem muito, por causa dos abusos de poder, consciência, sexuais e da má administração, para acrescentar-lhes o sofrimento de encontrar um episcopado desunido, concentrado em desprestigiar-se mais do que em encontrar formas de reconciliação. Essa realidade nos impele a olhar para o essencial, a nos despojar de tudo que não ajuda a tornar o Evangelho de Jesus Cristo transparente”.

Hoje nos é pedido uma nova presença no mundo conforme à Cruz de Cristo, que se cristalize no serviço aos homens e mulheres do nosso tempo. Lembro-me das palavras de São Paulo VI no início de seu pontificado: "Devemos nos tornar irmãos de homens no ato mesmo que queremos ser seus pastores e pais e mestres. O clima de diálogo é a amizade. Ou melhor, o serviço. Tudo isso devemos recordar, estudar e praticar de acordo com o exemplo e preceito que Cristo nos deixou”.

Esta atitude não reivindica para si os primeiros lugares nem mesmo o sucesso e aplauso para nossos atos, mas pede, a nós pastores, a opção fundamental de querer ser semente que germinará quando e onde o Senhor quiser.

Trata-se de uma opção que nos salva de cair na armadilha de medir o valor de nossos esforços com os critérios de funcionalidade e eficiência que governam o mundo dos negócios; antes, o caminho é abrir-nos à eficácia e ao poder transformador do Reino de Deus que, como um grão de mostarda - a menor e mais insignificante de todas as sementes - é capaz de se transformar em um arbusto que serve para proteger. Não podemos nos permitir, no meio da tempestade, perder a fé na força silenciosa, diária e operante do Espírito Santo nos corações dos homens e da história.

Credibilidade nasce da confiança, e a confiança vem do serviço sincero e cotidiano, humilde e gratuito para todos, mas especialmente para os prediletos do Senhor. Um serviço que não pretende ser de marketing ou estratégico para recuperar o lugar perdido ou o vão reconhecimento no tecido social, mas - como eu quis salientar na última Exortação Apostólica Gaudete et exsultate - porque pertence "à própria substância do Evangelho de Jesus".

Que altíssima tarefa temos em nossas mãos, irmãos; não podemos calá-la e anestesiá-la por causa de nossas limitações e defeitos! Lembro-me das sábias palavras de Madre Teresa de Calcutá, que podemos repetir pessoalmente e em comunidade: "Sim, tenho muitas fraquezas humanas, muitas misérias humanas. [...] Mas Ele se abaixa e faz uso de nós, de você e de mim, para ser seu amor e sua compaixão no mundo, apesar de nossos pecados, apesar de nossas misérias e nossas falhas. Ele depende de nós para amar o mundo e mostrar o quanto ele o ama. Se nos ocupamos muito de nós mesmos, não haverá tempo para os outros"(Madre Teresa de Calcutá).

Caros irmãos, o Senhor sabia muito bem que, na hora da cruz, a falta de unidade, a divisão e a dispersão, bem como as estratégias para se livrar daquela hora, teriam sido as maiores tentações que seus discípulos teriam vivido; atitudes desfigurariam e dificultado a missão. Por isso Ele mesmo pediu ao Pai que cuidasse deles para que naqueles momentos eles fossem uma só coisa e ninguém se perdesse. Confiantes e imersos na oração de Jesus ao Pai, queremos aprender com Ele e, com determinada deliberação, começar este tempo de oração, silêncio e reflexão, de diálogo e de comunhão, de escuta e discernimento, para deixar que Ele forje o coração à sua imagem e ajude a descobrir sua vontade.

Neste caminho não prosseguimos sozinhos, Maria acompanhou e apoiou desde o início a comunidade dos discípulos; com sua presença materna, ajudou a garantir que a comunidade não se "perdesse" ao longo dos caminhos dos fechamentos individualistas e a pretensão de salvar-se si mesma. Ela protegeu a comunidade dos discípulos da orfandade espiritual que leva à auto-referencialidade e com sua fé permitiu que ela perseverasse no incompreensível, esperando que chegasse a luz de Deus. Pedimos a ela que nos mantenha unidos e perseverantes, como no dia de Pentecostes, para que o Espírito seja derramado em nossos corações e nos ajude em todos os momentos e lugares a dar testemunho de sua ressurreição.

 

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Papa aprova nova resposta sobre casos de histerectomia

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03 de janeiro de 2019

O Papa Francisco, em audiência concedida ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Luis Francisco Ladaria Ferrer, aprovou e ordenou a publicação de resposta a uma dúvida sobre a licitude da histerectomia em casos específicos. A nota, divulgada nesta quinta-feira (3), é datada de 10 de dezembro de 2018.

A dúvida faz referência a casos extremos sobre a retirada do útero recentemente submetidos à Congregação para a Doutrina da Fé e que constituem uma situação diferente da questão pela qual foi dada resposta negativa em 31 de julho de 1993. De fato, naquela oportunidade, foram publicadas as Respostas às dúvidas propostas sobre o ‘isolamento uterino’.

Segundo a nota divulgada agora, a publicação da década de 90 permanece válida ao considerar “moralmente lícita a retirada do útero (histerectomia) quando o mesmo constitui um grave perigo atual para a vida ou a saúde da mãe” e ilícita “enquanto modalidade de esterilização direta a retirada do útero e a laqueadura das trompas (isolamento uterino), quando feitas com o propósito de tornar impossível uma eventual gravidez que pode comportar algum risco para a mãe”.  

Novos casos de histerectomia submetidos à Santa Sé

A nota da Congregação explica que, nos últimos anos, “alguns casos bem circunstanciados referentes à histerectomia foram submetidos à Santa Sé” sobre situações em que a procriação não é possível. A nova dúvida com a sua resposta, então, completam aquelas já publicadas no ano de 1993.

Dúvida: É lícito retirar o útero (histerectomia) quando o mesmo encontra-se irreversivelmente em um estado tal de não poder ser mais idonêo à procriação, tendo os médicos especialistas chegado à certeza de que uma eventual gravidez levará a um aborto espontâneo antes da viabilidade fetal?

Resposta: Sim, porque não se trata de esterilização.

Casos de histerectomia moralmente lícitos

O diferencial da atual questão “é a certeza alcançada pelos médicos especialistas” de que, em caso de gravidez, ela seria interrompida espontaneamente antes que o feto chegasse ao estado de viabilidade. Do ponto de vista moral, enfatiza a nota, “deve-se exigir que seja alcançado o grau máximo de certeza possível pela medicina” nessa questão. A nota esclarece ainda que “não se trata de dificuldade ou de riscos de maior ou menor importância, mas da impossibilidade de procriar de um casal”.

Além disso, “a resposta à dúvida não diz que a decisão de praticar a histerectomia é sempre a melhor”, mas que é moralmente lícita apenas sob as condições mencionadas sem, portanto, “excluir outras opções (por exemplo, recorrer a períodos inférteis ou  à abstinência total)”. Cabe aos cônjuges, acrescenta a nota, em diálogo com os médicos e com o diretor espiritual, “escolher o caminho a seguir, aplicando ao próprio caso e às circunstâncias os critérios graduais normais da intervenção médica”.

A esterilização ilícita que rejeita a prole

No caso contemplado na publicação da nova resposta, os órgãos reprodutivos “não são capazes de realizar sua função procriadora natural”, o que significa que dar à luz a um feto vivo não é biologicamente possível. Portanto, “se está diante não somente de um funcionamento imperfeito ou arriscado dos órgãos reprodutivos, mas de uma situação na qual o propósito natural de dar à luz a uma prole viva não é possível”. Diferente do objeto próprio da esterilização que “é o impedimento da função dos órgãos reprodutivos, enquanto a malícia da esterilização consiste na rejeição da prole: é um ato contra o bonum prolis”, esclarece a nota.

A intervenção médica, na atual questão, “não pode ser julgada como antiprocriativa”. A nota sublinha, assim, que “retirar um sistema reprodutivo incapaz de levar adiante uma gravidez não pode ser qualificado como esterilização direta, que é e permanece intrinsecamente ilícita como fim e meio”.

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Papa Francisco: é um escândalo ir à igreja e odiar os outros

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02 de janeiro de 2019

Na primeira Audiência Geral do ano de 2019, o Papa deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o Pai Nosso, iniciado em 5 de dezembro, inspirando-se  nesta quarta-feira na passagem de Mateus 6, 5-6.

O Evangelho de Mateus – explicou Francisco aos 7 mil presentes na Sala Paulo VI – coloca o texto do “Pai Nosso” em um ponto estratégico, no centro do Sermão da Montanha (Mt 6, 9-13). Reunidos em volta de Jesus no alto da colina, uma “assembleia heterogênea” formada pelos discípulos mais íntimos e por uma grande multidão de rostos anônimos é a primeira a receber a entrega do Pai Nosso.

 

O Evangelho é revolucionário

Neste “longo ensinamento” chamado “Sermão da Montanha”, de fato, Jesus condensa os aspectos fundamentais de sua mensagem:

Jesus coroa de felicidade uma série de categorias de pessoas que em seu tempo - mas também no nosso! – não eram muito consideradas. Bem-aventurados os pobres, os mansos, os misericordiosos, os humildes de coração ... Esta é a revolução do Evangelho. Onde está o Evangelho há uma revolução. O Evangelho não deixa quieto, nos impulsiona, é revolucionário".

"Todas as pessoas capazes de amar, os pacíficos que até então ficaram à margem da história, são, ao contrário, construtores do Reino de Deus”. É como se Jesus  - explica o Papa - estivesse dizendo: “em frente, vocês que trazem no coração o mistério de um Deus que revelou sua onipotência no amor e no perdão!”

Desta porta de entrada, que inverte os valores da história, brota a novidade do Evangelho:

A lei não deve ser abolida, mas precisa de uma nova interpretação, que a leve de volta ao seu significado original. Se uma pessoa tem um bom coração, predisposto a amar, então compreende que cada palavra de Deus deve ser encarnada até suas últimas consequências. O amor não tem limites: pode-se amar o próprio cônjuge, o próprio amigo e até mesmo o próprio inimigo com uma perspectiva completamente nova”.

Este é “o grande segredo que está na base de todo o Sermão da Montanha: sejam filhos de vosso Pai que está nos céus”, disse o Pontífice, chamando a atenção para o fato de que em um primeiro momento, estes capítulos do Evangelho de Mateus podem parecer um discurso moral, evocar uma ética tão exigente a ponto de parecer impraticável. Mas pelo contrário, “descobrimos que são sobretudo um discurso teológico:

“O cristão não é alguém que se esforça para ser melhor do  que os outros: ele sabe que é pecador como todos. O cristão é simplesmente o homem que para diante da nova Sarça Ardente, da revelação de um Deus que não traz o enigma de um nome impronunciável, mas que pede a seus filhos que o invoquem com o nome de "Pai", para deixar-se  renovar por seu poder e de  refletir um raio de sua bondade por este mundo tão sedento de bem, tão à espera de boas notícias”.

 

Coerência cristã

E Jesus – explica o Papa – introduz o ensinamento da oração do “Pai Nosso” distanciando dois grupos de seu tempo, começando pelos hipócritas”, que rezam nas praças  e sinagogas para serem vistos. “Há pessoas – disse o Francisco - que são capazes de tecer orações ateias, sem Deus: fazem isso para serem admiradas pelos homens”, completando:

“E quantas vezes nós vemos o escândalo daquelas pessoas que vão à igreja, estão lá todo o dia, ou vão todos os dias, e depois vivem odiando os outros e falando mal das pessoas. Isto é um escândalo. Melhor não ir à igreja. Viva assim como ateu. Mas se você vai à igreja, viva como filho, como irmão e dá um verdadeiro testemunho. Não um contratestemunho”.

A oração cristã, pelo contrário, não tem outro testemunho crível  senão a própria consciência, onde se entrelaça intensamente um diálogo contínuo com o Pai.

 

Rezar com o coração

Jesus então, continuou Francisco – “toma distância das orações dos pagãos” - que acreditavam ser ouvidos pela força das palavras. O Papa recorda a cena do Monte Carmelo, onde diferentemente dos sacerdotes de Baal que gritavam, dançavam, pediam tantas coisas, é ao Profeta Elias, que fica calado, que o Senhor se revela:

Os pagãos pensam que falando, falando falando, se reza. Também eu penso aos tantos cristãos que acreditam que rezar – desculpem-me – é falar a Deus como um papagaio. Não! Rezar se faz do coração, de dentro”.

O Pai Nosso – reitera o Santo Padre - “poderia ser também uma oração silenciosa: basta no fundo colocar-se sob o olhar de Deus, recordar-se de seu amor de Pai, e isto é suficiente para serem ouvidos”.

 

Deus não precisa de sacrifícios para conquistar seu favor

“Que bonito pensar que o nosso Deus não precisa de sacrifícios para conquistar o seu favor! Ele não precisa de nada, nosso Deus: na oração pede somente que tenhamos aberto um canal de comunicação com ele, para nos descobrirmos sempre seus amados filhos”, disse o Papa ao concluir.

Após o resumo da catequese nas diversas línguas, houve a apresentação de um grupo cubano de dança e malabarismo.

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Mensagem do Papa para o Dia Mundial da Paz

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01 de janeiro de 2019

"Paz para esta casa!" Com estes votos o Papa Francisco inicia o novo ano e abre a sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz, divulgada nesta terça-feira, 18, em vista da recorrência do próximo 1º de janeiro. São as palavras com as quais Jesus envia os apóstolos em missão e a casa da qual fala, é "toda família, comunidade, todo país, todo continente" e é também "a nossa casa comum", da qual Deus nos confia os cuidados.

O desafio da boa política

O coração da mensagem, datada de 8 de dezembro de 2018, é a estreita relação entre a paz e a política da qual Francisco descreve potencialidades e vícios na perspectiva presente e futura, colocando ambas em um  "desafio" diário, em um "grande projeto" fundado "na responsabilidade recíproca e na interdependência dos seres humanos".

A paz, como uma "flor frágil que tenta florescer no meio das pedras de violência" - escreve o Papa, citando o poeta Charles Peguy – se choca com "abusos" e "injustiças", "marginalização e destruição" que a política provoca, quando "não é vivida como um serviço à comunidade".

A boa política, por outro lado, é um "veículo fundamental para construir cidadania e obras" e, se "implementada no respeito fundamental da vida, liberdade e dignidade", pode se tornar uma "forma eminente de caridade".

Caridade e virtude por uma política a serviço da paz e dos direitos

E se a ação do homem é sustentada e inspirada pela caridade, recorda Francisco citando Caritas in Veritate de Bento XVI - "contribui para a edificação daquela cidade universal de Deus para a qual avança a história da família humana".

É um programa em que os políticos de todas as afiliações podem encontrar-se, contanto que operem para o bem da família humana, praticando virtudes que “sujeitam-se ao bom agir político”: justiça, equidade, respeito, sinceridade, honestidade, lealdade.

O bom político é - conforme descrito pelas bem-aventuranças do cardeal vietnamita François Xavier Nguyễn Vãn Thuận que o Papa retoma - quem tem a consciência de seu papel, quem é coerente, credível, capaz de ouvir, corajoso e comprometido com a unidade e a mudança radical. Disto a certeza expressa na Mensagem de que "a boa política está a serviço da paz".

Virtudes e vícios da política

Mas a política não é feita apenas de virtudes e de respeito pelos direitos humanos fundamentais. Francisco dedica um parágrafo de sua Mensagem aos "vícios" que "enfraquecem o ideal de uma autêntica democracia". São aquele que ele define "inépcia pessoal", "distorções no meio ambiente e nas instituições", sobretudo a corrupção e, em seguida, o não respeito das regras, a justificação do poder com a força, a xenofobia, o racismo: eles "tiram credibilidade aos sistemas", são “a vergonha da vida pública e colocam em perigo a paz social".

Política, jovens e confiança no outro

Mas há também outro aspecto vicioso da política que o Papa destaca e que tem a ver com o futuro e os jovens. Quando o exercício do poder político - escreve ele - visa apenas "salvaguardar os interesses de certos indivíduos", o futuro "fica comprometido e os jovens podem ser tentados pela desconfiança, por ser verem condenados a permanecer à margem".

Quando, por outro lado, a política é concretamente traduzida em encorajar jovens talentos e vocações que requerem a sua realização, a paz propaga-se nas consciências e “torna-se uma confiança dinâmica". Uma política está, portanto, a serviço da paz - afirma Francisco. - se reconhece os carismas de cada pessoa entendida como "uma promessa que pode liberar novas energias".

Necessidade de artesãos da paz

Mas o clima de confiança, é a consideração do Pontífice, não é "sempre fácil", em particular "nestes tempos". A esse respeito, Francisco recorda o "medo do outro" generalizado, os "fechamentos", "os nacionalismos" que marcam a política de hoje,  colocando em discussão a fraternidade de que nosso mundo globalizado tanto necessita. Disto a referência a "artesãos da paz" e autênticos "mensageiros" de Deus que animam nossas sociedades.

A este desejo se soma também, por parte do Papa, um apelo - cem anos após o fim da Primeira Guerra Mundial - de cessar com a "proliferação descontrolada de armas" e com a "escalada em termos de intimidação".

Recordam-nos a paz – diz o Pontífice-  especialmente as muitas crianças vítimas da guerra . “A paz não pode jamais reduzir-se ao mero equilíbrio das forças e do medo. Manter o outro sob ameaça significa reduzi-lo ao estado de objeto e negar a sua dignidade. 

A política da paz inspirada no Magnificat

O afresco que emerge da Mensagem do Papa conclui-se no último parágrafo com ênfase na relação entre direitos e deveres, para reiterar que - como nos recorda o septuagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos - o "grande projeto político da paz" baseia-se na "responsabilidade recíproca e na interdependência dos seres humanos".

Isso nos desafia no compromisso diário e nos pede uma "conversão de coração e da alma". Para aqueles que querem se comprometer na "política da paz", o Papa sugere por fim o espírito do Magnificat que Maria canta em nome de todos os homens:  A «misericórdia [do Todo-Poderoso] estende-se de geração em geração sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes (...), lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência, para sempre» (Lc 1, 50-55).

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‘Maria é remédio para a solidão e a desagregação’

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01 de janeiro de 2019

O Papa Francisco presidiu missa, na terça-feira, dia 1º, Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, na Basílica de São Pedro.

O Pontífice iniciou sua homilia partindo do capítulo 2, versículo 18 do Evangelho de Lucas: “Todos os que ouviam os pastores, ficaram maravilhados com aquilo que contavam”

“Maravilhar-nos: a isto somos chamados hoje, na conclusão da Oitava de Natal, com o olhar ainda fixo no Menino que nasceu para nós, pobre de tudo e rico de amor. Maravilha: é a atitude que devemos ter no começo do ano, porque a vida é um dom que nos possibilita começar sempre de novo.”

Segundo o Papa, “hoje é também o dia para nos maravilharmos diante da Mãe de Deus: Deus é um bebê nos braços duma mulher, que alimenta o seu Criador. A imagem que temos à nossa frente mostra a Mãe e o Menino tão unidos que parecem um só”.

Mãe que gera a maravilha da fé

“Tal é o mistério de hoje, que suscita uma maravilha infinita: Deus ligou-Se à humanidade para sempre. Deus e o homem sempre juntos: eis a boa notícia no início do ano. Deus não é um senhor distante que habita solitário nos céus, mas o Amor encarnado, nascido como nós duma mãe para ser irmão de cada um. Está nos joelhos de sua mãe, que é também nossa mãe, e de lá derrama uma nova ternura sobre a humanidade. Nós compreendemos melhor o amor divino, que é paterno e materno, como o duma mãe que não cessa de crer nos filhos e nunca os abandona. O Deus-conosco nos ama independentemente dos nossos erros, dos nossos pecados, do modo como fazemos caminhar o mundo. Deus crê na humanidade, da qual sobressai, primeira e incomparável, a sua Mãe.”

“No início do ano, pedimos-Lhe a graça de nos maravilharmos perante o Deus das surpresas”, disse ainda Francisco. “Renovamos a maravilha das origens, quando nasceu em nós a fé. A Mãe de Deus nos ajuda: a Theotokos, que gerou o Senhor, gera-nos para o Senhor. É mãe e gera sempre de novo, nos filhos, a maravilha da fé. A vida, sem nos maravilharmos, torna-se cinzenta, rotineira; e de igual modo a fé. Também a Igreja precisa de renovar a sua maravilha por ser casa do Deus vivo, Esposa do Senhor, Mãe que gera filhos; caso contrário, corre o risco de assemelhar-se a um lindo museu do passado. Mas, Nossa Senhora introduz na Igreja a atmosfera de casa, duma casa habitada pelo Deus da novidade. Acolhamos maravilhados o mistério da Mãe de Deus, como os habitantes de Éfeso no tempo do Concílio lá realizado! Como eles, aclamemos a ‘Santa Mãe de Deus’! Deixemo-nos olhar, deixemo-nos abraçar, deixemo-nos tomar pela mão… por Ela.”

Deixemo-nos olhar

“Deixemo-nos olhar”, frisou ainda o Papa, “sobretudo nos momentos de necessidade, quando nos encontramos presos nos nós mais intrincados da vida, justamente olhamos para Nossa Senhora. Mas é lindo, primeiramente, deixar-se olhar por Nossa Senhora. Quando nos olha, Ela não vê pecadores, mas filhos. Diz-se que os olhos são o espelho da alma; os olhos da Cheia de Graça espelham a beleza de Deus, refletem sobre nós o paraíso. Jesus disse que os olhos são ‘a lâmpada do corpo’ (Mt 6, 22): os olhos de Nossa Senhora sabem iluminar toda a escuridão, reacendem por todo o lado a esperança. O seu olhar, voltado para nós, diz: ‘Queridos filhos, coragem! Estou aqui Eu, a sua mãe’.”

Segundo o Pontífice, “este olhar materno, que infunde confiança, ajuda a crescer na fé. A fé é um vínculo com Deus que envolve a pessoa inteira, mas, para ser guardado, precisa da Mãe de Deus. O seu olhar materno ajuda a vermo-nos como filhos amados no povo fiel de Deus e a amarmo-nos entre nós, independentemente dos limites e opções de cada um.”

“Nossa Senhora nos enraíza na Igreja, onde a unidade conta mais que a diversidade, e nos exorta a cuidarmos uns dos outros. O olhar de Maria lembra que, para a fé, é essencial a ternura, que impede a apatia. Quando há lugar na fé para a Mãe de Deus, nunca se perde o centro: o Senhor. Com efeito, Maria nunca aponta para Si mesma, mas para Jesus e os irmãos, porque Maria é mãe.”

“Olhar da Mãe, olhar das mães. Um mundo que olha para o futuro, privado de olhar materno, é míope. Aumentará talvez os lucros, mas jamais será capaz de ver, nos homens, filhos. Haverá ganhos, mas não serão para todos. Habitaremos na mesma casa, mas não como irmãos. A família humana fundamenta-se nas mães. Um mundo, onde a ternura materna acaba desclassificada a mero sentimento, poderá ser rico de coisas, mas não de amanhã. Mãe de Deus, ensina-nos o seu olhar sobre a vida e volte o seu olhar para nós, para as nossas misérias.” E ainda disse o Papa: “Esses vossos olhos misericordiosos a nós volvei”, citando um trecho da oração da Salve Rainha.

Deixemo-nos abraçar

“Deixemo-nos abraçar”, sublinhou ainda Francisco. “Depois do olhar, entra em cena o coração, no qual Maria, diz o Evangelho de hoje, ‘conservava todas estas coisas, meditando-as’ (Lc 2, 19). Por outras palavras, Nossa Senhora tinha tudo no coração, abraçava tudo, eventos favoráveis e contrários. E tudo meditava, isto é, levava a Deus. Eis o seu segredo. Da mesma forma, tem no coração a vida de cada um de nós: deseja abraçar todas as nossas situações e apresentá-las a Deus.”

“Na vida fragmentada de hoje, onde nos arriscamos a perder o fio à meada, é essencial o abraço da Mãe. Há tanta dispersão e solidão por aí! O mundo está todo conectado, mas parece cada vez mais desunido. Precisamos nos confiar à Mãe. Na Sagrada Escritura, Ela abraça muitas situações concretas e está presente onde há necessidade: vai encontrar a prima Isabel, socorre os esposos de Caná, encoraja os discípulos no Cenáculo... Maria é remédio para a solidão e a desagregação. É a Mãe da consolação, a Mãe que “consola”: está com quem se sente só. Ela sabe que, para consolar, não bastam as palavras; é necessária a presença. E Maria está presente como mãe. Permitamos-lhe que abrace a nossa vida. Na Salve Rainha, chamamos Maria de ‘vida nossa’: parece exagerado, porque a vida é Cristo (cf. Jo 14, 6), mas Maria está tão unida a Ele e tão perto de nós que não há nada melhor do que colocar a vida em suas mãos e reconhecê-la “vida, doçura e esperança nossa”.

Deixemo-nos tomar pela mão

Por fim, “deixemo-nos tomar pela mão”, disse o Papa. “As mães tomam pela mão os filhos e os introduz amorosamente na vida. Mas hoje, quantos filhos, seguindo por conta própria, perdem a direção, creem-se fortes e extraviam-se, livres e tornam-se escravos! Quantos, esquecidos do carinho materno, vivem zangados e indiferentes a tudo! Quantos, infelizmente, reagem a tudo e a todos com veneno e maldade! Mostrar-se maus, às vezes, até parece um sinal de fortaleza; mas é só fraqueza! Precisamos aprender com as mães que o heroísmo está em doar-se, a fortaleza em ter piedade, e a sabedoria na mansidão.”

“Deus não prescindiu da Mãe: por esta razão nós precisamos dela”. Ele nos doou a sua Mãe “e não num momento qualquer, mas quando estava pregado na cruz: ‘Eis a tua mãe’ (Jo 19, 27), disse Ele ao discípulo, a cada discípulo. Nossa Senhora não é opcional: deve ser acolhida na vida. É a Rainha da paz, que vence o mal e guia pelos caminhos do bem, que devolve a unidade entre os filhos, que educa para a compaixão.”

Francisco concluiu, pedindo a Maria para que nos tome pela mão, nos ajude a superar “as curvas mais fechadas da história”, a “descobrir os laços que nos unem”, a nos reunir “sob o seu manto,  na ternura do amor verdadeiro, onde se reconstitui a família humana”.

 

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