NACIONAL

Quarentena

A Eucaristia sustenta a vida da Igreja durante a pandemia

Por Fernando Geronazzo
07 de mai de 2020

Mesmo na quarentena, sacerdotes oferecem continuamente o sacrifício da missa em favor de todos aqueles que estão isolados em suas casas

Na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, Padre Ademar Pereira preside missa com fotografias de paroquianos afixadas nos bancos da igreja (Foto: Luciney Martins)

Desde o agravamento da pandemia de COVID-19, os fiéis católicos brasileiros, assim como os de muitas partes do mundo, enfrentam o desafio de não poderem participar presencialmente das missas e comungarem sacramentalmente a Eucaristia.

Essa limitação se une a tantas outras enfrentadas pela população em todos os níveis, com um único objetivo: conter o rápido avanço do novo coronavírus e, consequentemente, salvar vidas.

Algumas pessoas devem se perguntar, porém, como a Igreja pode sobreviver sem a Eucaristia. É preciso ter claro, contudo, que a quarentena não suspendeu a celebração do sacramento central da vida cristã. O que há é a suspensão temporária da participação do povo nas missas.

EM FAVOR DO POVO

Diariamente, os sacerdotes de diversos cantos do mundo oferecem o santo sacrifício da missa em favor de todo o povo de Deus, a começar pelo Papa Francisco, que todas as manhãs preside a Eucaristia na Capela da Casa Santa Marta, transmitida para todo o mundo pela internet. E pela fé, cada cristão é alcançado pela eficácia salvífica desse sacramento.

Essa não é a primeira vez na história que o povo fica privado dos sacramentos. Em situações de grandes guerras e conflitos armados que impossibilitavam a circulação de pessoas nas ruas, os fiéis foram dispensados das obrigações sacramentais. No entanto, como acontece agora, os padres continuavam a celebrar as missas em favor desse povo e pediam a Deus que a ordem e a paz fossem restabelecidas.

“É bonito ver o amor por Jesus e, consequentemente, o amor pelos sacramentos. É necessário, porém, fazer uma distinção quando lidamos com a não participação sacramental. Trata-se do motivo pelo qual esta não participação acontece. A diferença está entre querer e poder participar”, ressaltou Dom Joel Portella Amado, Secretário- Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em entrevista ao O SÃO PAULO (leia a íntegra aqui).

RESPONSABILIDADE

“Não são os bispos que estão privando a recepção dos sacramentos. Os bispos estão seguindo as orientações de saúde pública. Sofrem com isso. Tenho acompanhado o testemunho de vários bispos, angustiados por não poderem dar ao seu povo o atendimento deseja- do. É o que se pode fazer, no entanto, em um momento em que não existem remédio, vacinas e condições de tratamento (leitos, respiradores etc.)”, enfatizou o Secretário-Geral.

Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia e Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação, reforçou que a suspensão das missas públicas é um ato de responsabilidade da Igreja diante da emergência sanitária e de cuidado com a vida dos fiéis.

“O mundo vive uma situação de pandemia, e é preciso compreender que a Igreja não está isolada deste mundo. Neste momento, não podemos ter aglomerações e, por isso, não podemos realizar as nossas celebrações, que, geralmente, acontecem com a participação de muitas pessoas”, explicou, recordando as palavras da Constituição Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, que diz que “a Igreja partilha das do- res e das angústias, das alegrias e das esperanças do mundo”.

O Vigário Episcopal reiterou que as pessoas não estão privadas da comunhão com Cristo. “Estão privadas da comunhão sacramental, que é muito importante, mas que no momento não é possível devido a esta grave situação”.

CUIDAR DA VIDA

Dom Devair lembrou ainda que, neste ano, a Campanha da Fraternidade teve como tema a proteção da vida. Nessa perspectiva, “o distanciamento e a ausência das celebrações públicas têm o sentido de cuidar da vida das pessoas agora, para que depois possamos nova- mente nos encontrar e, assim, voltar a celebrar nas comunidades”, sublinhou.

A preocupação com a proteção da vida também foi destacada por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa. “O isolamento social é uma medida importante, no critério de prudência para cuidar da vida de todos. Não somos melhores que os outros, não somos melhores que os demais segmentos da sociedade, nem temos uma proteção especial, o vírus ataca a todos. Com isso, estamos fazendo o que Jesus fez e nos recomenda que façamos também: ‘Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância’”, disse.

IGREJA VIVA

Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, ressaltou que a Igreja nunca fecha, o que está fechado é apenas o local de culto. “Todos nós somos Igreja e, portanto, a Igreja não pode fechar nunca, porque onde há um cristão que reza, que tem fé em Deus, que tem consciência de ser filho de Deus, de ser discípulo missionário no seu coração, a Igreja está viva. Só que nós não estamos reunidos, mas estamos unidos como sempre estivemos na comunhão dos santos, que é uma realidade muito viva”, afirmou.

“Ninguém nos tirou a missa, ela está acontecendo”, completou Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, comentando que tem acompanhado pelas mídias digitais inúmeras lives das celebrações que mostram uma Igreja viva e uma multidão de sacerdotes celebrando ininterruptamente pelo seu povo, confirmando a promessa de Jesus: ‘Eu estou convosco até o fim dos tempos’”.

VIVER A FÉ

Dom Joel Portella destacou que um dos aspectos que mais o fascinam é a possibilidade de viver a fé em qualquer situação. “Tenho pensado muito nos cristãos perseguidos, impedidos por longos anos de portar consigo até mesmo um pequeno sinal de fé. Lembro dos padres e bispos que, na prisão, não podem celebrar a Eucaristia. Nem por isso deixaram de viver a fé. Ao contrário, santificam-se porque se agarram ao que lhes é possível fazer”, afirmou.

Já Dom Devair propôs uma reflexão sobre o que significa temer e não tentar a Deus, colocando a vida em risco. “Tenho visto algumas pessoas que, acre- ditando que, por serem protegidas por Deus, podem fazer qualquer coisa. Nós, de fato, estamos nas mãos de Deus e tudo gira em torno da sua vontade, mas não podemos arriscar as coisas como se Deus fosse fazer uma mágica. Temer a Deus também significa que nós devemos fazer a nossa parte, ou seja, cuidar de nós mesmos e uns dos outros.”

(Colaboraram: Flavio Rogério Lopes e Jenniffer Silva)

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