Na luta pelo pão de cada dia

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10 de mai de 2020

Pessoas que trabalham por conta própria tendo um CNPJ ou que realizam atividades informais representam 16% do total da população brasileira, conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

São ao menos 38 milhões de brasileiros – cerca de 41% das pessoas com alguma ocupação profissional no País – que dependem apenas dos próprios esforços para obter renda e que tendem a ser os mais prejudicados financeiramente diante da atual pandemia do novo coronavírus e as restrições de mobilidade e de atividades comerciais e de prestação de serviço.

A lista de ocupações é extensa e entre estas estão as diaristas, que representam 45% do total de empregadas domésticas no País, segundo informações da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad).

Rosa, 57, é uma delas. Antes do começo da pandemia, ela conta que tinha serviços por fazer todos os dias, às vezes até aos domingos. “Caiu em 80% a quantidade de diárias. Estou tentando 'me virar', já entrei com o pedido pra receber o auxílio emergencial do governo, mas ainda está em análise. Andei conversando com algumas colegas, e elas falaram que está difícil mesmo conseguir algo”, contou a diarista ao O SÃO PAULO.

Rosa, que prefere não ter seu sobrenome identificado, é diabética e usa medicamentos para combater um desgaste ósseo. “Não sei o que vou fazer para comprar meu remédio este mês. Custa R$ 200,00. Estou até diminuindo a dose para controlar e conseguir tomar pelo menos um pouquinho por dia”, confidenciou.

Dispensa por patroas de longa data

Há quatro anos, Rosa está cadastrada em um aplicativo que oferece os serviços de diaristas e tem percebido a diminuição na quantidade de chamadas.

“Essa semana, eu fiz duas diárias. Na semana passada, foram três. No aplicativo, o maior valor que pagam é R$ 120,00. Recentemente, fiz uma no valor de R$ 60,00 e outra de R$ 80,00. Em casa, somos em quatro pessoas. Minha renda caiu muito. Antes dessa pandemia, eu chegava a tirar entre R$ 500,00 e R$ 600,00 por semana”, detalhou.

A perda de renda tem sido uma realidade vivida por outras pessoas em São Paulo. No dia 5, foi divulgada uma pesquisa feita pelo Ibope Inteligência, a pedido da Rede Nossa São Paulo, indicando que 64% dos moradores da cidade já perderam renda desde o início da pandemia.

Esse cenário trouxe outro impacto para Rosa: a perda de clientes fixas. “Trabalhava para uma senhora de 75 anos, ela já cancelou meus serviços. Uma outra idosa fez a mesma coisa e também uma mulher para quem eu trabalhava como diarista há 20 anos. Essas particulares foram as primeiras a cancelar”, lamentou.

Uma pesquisa do Instituto Locomotiva, divulgada em abril, indicou que desde o início da pandemia, 39% dos que contratavam diaristas dispensaram seus serviços e deixaram de fazer o pagamento das diárias.

À procura de alternativas

Com a redução na entrada de receitas, muitos trabalhadores informais tentam complementar renda oferecendo outros serviços na informalidade, como a venda de bolos, salgados e máscaras ou a revenda de roupas e perfumes, por exemplo. Partir para esses novos negócios, porém, requer cautela e o mínimo planejamento, conforme observa Fábio Gerlach, gerente regional em São Paulo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

“É preciso fazer o simples primeiro, aquilo que se domina, para depois pensar em coisas mais elaboradas, que podem render mais, porém, demandarão um investimento maior. Ao fazer algo mais elaborado, assume-se um risco maior e talvez a pessoa não tenha fôlego financeiro para manter isso”, alertou. “É preciso pensar, também, nos canais de escoamento: o primeiro é a entrega, mas ao pensar na entrega pontual há as limitações dos riscos que a própria pandemia coloca; e existe a oportunidade de fazer parceria com algum estabelecimento que continua aberto”, complementou Gerlach.

O gerente do Sebrae-SP lembra que desde o começo da pandemia, aproximadamente 5% dos estabelecimentos de Micro Empreeendedores Individuais (MEIs), micro empresas e empresas de pequeno porte encerram atividades, quase 60% interromperam o funcionamento temporariamente, 30% mudaram a forma de fazer negócio e 5% permaneceram como antes.

“Todo mundo foi impactado de alguma forma. Quem está no mercado tem buscado alcançar novos clientes, o que não é fácil agora. Nem sempre eles estão nas ruas, disponíveis, e nisso tem crescido as operações on-line. Muitos também estão tentando sobreviver equacionando seus custos operacionais”, afirmou Gerlach, alertando para as dificuldades de se obter crédito neste momento: “Muitos não estão conseguindo, seja por restrições, seja pelas filas. As instituições financeiras não têm conseguido dar vazão a tudo que está acontecendo e o crédito não chega a quem têm buscado”.

Quando as vendas e os serviços param

Após anos trabalhando no ramo de confeitaria, Angela Ferreira, 51, moradora da cidade de Santo André (SP), passou a revender roupas. O negócio evoluiu bem até dezembro do ano passado, com a conquista de novos clientes e investimentos para aquisição de estoques. Em janeiro deste ano, porém, a retração nas vendas começou e só tem se intensificado.

“As pessoas tem medo de vim ver as roupas, eu não consigo comprar novas, o preço das confecções para a entrega em casa aumentou muito e eu não posso sair para comprar e renovar o estoque. As pessoas não estão pensando em roupas. Elas estão preocupadas em conseguir comida”, afirmou.

Angela (foto) diz que tem tentado se adaptar à realidade de vendas pela internet – algo que ela não fazia antes – e que está usando as reservas financeiras do negócio para manter os gastos domésticos. “O que eu tinha de reservas para comprar roupas, eu acabei usando para comprar coisas para colocar dentro de casa. Era uma reserva que hoje não tenho mais. Mudamos até de plano de saúde. Fomos para um em que pagamos metade do valor de antes”, detalhou.

“Estou tentando vender, colocando imagens no Facebook, no Instagram, ligo para as amigas, mando fotos dos produtos, insisto, mas está difícil. Não acho que a situação se normalize antes de dezembro”, opinou.

Quem também está pouco otimista é José Edvaldo dos Santos, 70, que trabalha como instalador de gesso residencial. “Depois dessa crise, acho que todo mundo vai ficar receoso com quem entra em casa, a situação tende a complicar. As pessoas estão se reservando. Eu parei alguns serviços pela metade. Há 20 dias, deixei de trabalhar para não me expor tanto aos riscos da doença”, afirmou à reportagem o aposentado morador da Brasilândia, um dos distritos que lidera o número de mortos por COVID-19 na cidade de São Paulo.

Segundo Fábio Gerlach, os negócios relacionados a alimentação e os profissionais que já realizavam comércio on-line estão conseguindo resistir melhor a este momento de instabilidade da economia, assim como aqueles que têm oferecido produtos como máscaras e demais itens de proteção individual.

Por outro lado, quem atua com serviços a pessoas ou depende de público está sentido os maiores impactos. “Os bares noturnos, por exemplo, foram muito impactados, porque geralmente não têm uma operação para fazer entrega delivery. Também aqueles que fazem serviços pessoais, de atendimento direto foram afetados, como os dentistas e cabelereiros, devido ao fechamento de seus estabelecimentos”, detalhou.

Versatilidade e retoques

Desde o começo da pandemia, a manicure e cabeleira Thalita Cruzeiro, 30, percebeu uma redução de 30% em sua renda. Em razão da obrigatoriedade do fechamento dos comércios em São Paulo, seu salão de beleza está de portas fechadas, mas ela segue atendendo as clientes, muitas delas idosas, com hora marcada, em intervalos mais espaçados para poder higienizar o ambiente e os materiais de trabalho. “Eu tenho avisado sobre essas mudanças para as clientes para que se sintam mais seguras. Todas têm vindo de máscara para que elas e eu estejamos protegidas”, detalhou.

Thalita (foto) também passou a atender em domicílio. “Eu não fazia isso antes da quarentena. Sigo atendendo até de domingo e segunda-feira, nos dias que as clientes querem”.

Há um ano, a manicure concluiu um curso de micropigmentadora de sobrancelha, um procedimento estético mais rentável que os outros que ela trabalha. “Ter feito esse curso no ano passado está fazendo toda a diferença agora, além de outro curso sobre alongamento de gel de unha. Estou conseguindo uma renda a mais graças a isso”.

Mãe solteira, Thalita recebe o auxílio emergencial do Governo Federal no valor de R$ 1.200,00 e a renda familiar é completada pela aposentadoria de sua mãe. Receosa sobre o futuro, a manicure tem preferido saldar todas as suas contas e adiou investimentos que faria no próprio negócio.

“Este ano pretendia trocar os móveis do salão, mas não vai ser possível. Tenho medo do pós-pandemia, pois muitas clientes estão perdendo o emprego e as que ainda estão empregadas estão com medo de ser dispensadas. Isso vai impactar no meu trabalho, pois não é um serviço essencial para as pessoas. Tenho clientes de muitos anos, mas se elas não tiverem dinheiro, sei que não virão mais”, analisou.

 

PRECIOSAS DICAS

Para iniciar um novo empreendimento agora:

* Transmita aos clientes a certeza que seu processo de produção é feito com higiene e que há todo o cuidado para que o produto esteja livre do novo coronavírus.

* Tenha bem definido para quem você vai ofertar este produto (público alvo) e pense em qual pode ser seu diferencial.

* Dialogue com quem já está neste negócio ou que tenha expertise para auxiliá-lo, como o Sebrae

Para quem enfrenta dificuldades para se manter:

* Converse outros empreendedores, mesmo que sejam de outro segmento.

* Se for um empreendedor formal, converse com a sua associação de classe ou o Sebrae para a procura de alternativas.

* Analise os recursos que precisará para se manter neste período de incertezas.

* Renegocie contratos e faça acordos com credores.

(Com informações de Fábio Gerlach, gerente regional em Sebrae-SP).

 

 

 

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Rodízio de veículos vai ser retomado na capital ainda mais restritivo

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07 de mai de 2020

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, anunciou na quinta-feira, 7, a volta e a ampliação do rodízio de veículos na capital paulista.

A medida que proíbe os automóveis de transitarem pela cidade em determinados dias da semana a partir do número das placas havia sido suspensa no início da quarentena na cidade. Normalmente, a restrição valia para um dia da semana para cada veículo.

No rodízio apresentado hoje, como medida de combate à disseminação do coronavírus, os veículos cuja placa tenha número final par poderão circular apenas nos dias pares do mês. Da mesma forma, os veículos que tenham placas terminadas em numero ímpar terão autorização para circular nos dias ímpares. A restrição vale também para os finais de semana e durante todo o dia, não apenas nos horários de pico, como no sistema anterior.

A mudança entra em vigor na próxima segunda-feira, dia 11. Motos estão liberadas do rodízio. As restrições também valem para carros que operam pelso sistemas de aplicativo de transporte.

Pressão no sistema de saúde

Bruno Covas justificou a medida devido ao número crescente de mortes e novos casos de covid-19 que vem sendo registrados nos últimos dias. “Não dá para a gente deixar de tomar medidas como essa em um momento que a taxa de ocupação de leitos de UTI [unidades de tratamento intensivo] passa de 80%”, ressaltou.

De acordo com o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, em algumas unidades a ocupação dos leitos de UTI passa de 90%, como no hospital da Bela Vista (região central) e de Itaquera (zona leste). A cidade tem, segundo o último balanço da prefeitura, 1.928 mortes confirmadas por coronavírus e 2.372 óbitos suspeitos, em um total de 4,3 mil possíveis vítimas da doença.

Medidas alternativas

O prefeito disse que a intenção inicial ao suspender o rodízio era reduzir as aglomerações de pessoas no transporte público. Porém, a avaliação, agora, é que a medida teve o efeito indesejado de incentivar as pessoas a saírem de casa nos veículos particulares. “A liberação do rodízio tem servido como um estimulante para as pessoas saírem de casa”, enfatizou.

Nesta semana, a prefeitura havia tentado colocar bloqueios em avenidas importantes da cidade como forma de reduzir a circulação. No entanto, a ação não aumentou a adesão à quarentena, além de fazer o Ministério Público de São Paulo abrir uma investigação sobre denúncias de que a restrição teria afetado o trânsito de ambulâncias.

Segundo o prefeito, o Executivo municipal vem buscando medidas alternativas ao confinamento extremo, quando as pessoas são impedidas de sair de casa sem justificativa, chamado de lockdown. “Essa é uma medida necessária para que a gente evite decretar lockdown na cidade de São Paulo, evite impedir a circulação de pessoas na cidade de São Paulo”, enfatizou

Isenções

Os profissionais de saúde poderão fazer um cadastro para não serem submetidos ao rodízio. A medida também não afeta veículos que já não eram submetidos ao rodízio convencional, como viaturas de polícia e ambulâncias.

A frota de ônibus será reforçada com mil veículos para absorver o aumento de demanda sobre o transporte público.

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A Eucaristia sustenta a vida da Igreja durante a pandemia

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07 de mai de 2020

Desde o agravamento da pandemia de COVID-19, os fiéis católicos brasileiros, assim como os de muitas partes do mundo, enfrentam o desafio de não poderem participar presencialmente das missas e comungarem sacramentalmente a Eucaristia.

Essa limitação se une a tantas outras enfrentadas pela população em todos os níveis, com um único objetivo: conter o rápido avanço do novo coronavírus e, consequentemente, salvar vidas.

Algumas pessoas devem se perguntar, porém, como a Igreja pode sobreviver sem a Eucaristia. É preciso ter claro, contudo, que a quarentena não suspendeu a celebração do sacramento central da vida cristã. O que há é a suspensão temporária da participação do povo nas missas.

EM FAVOR DO POVO

Diariamente, os sacerdotes de diversos cantos do mundo oferecem o santo sacrifício da missa em favor de todo o povo de Deus, a começar pelo Papa Francisco, que todas as manhãs preside a Eucaristia na Capela da Casa Santa Marta, transmitida para todo o mundo pela internet. E pela fé, cada cristão é alcançado pela eficácia salvífica desse sacramento.

Essa não é a primeira vez na história que o povo fica privado dos sacramentos. Em situações de grandes guerras e conflitos armados que impossibilitavam a circulação de pessoas nas ruas, os fiéis foram dispensados das obrigações sacramentais. No entanto, como acontece agora, os padres continuavam a celebrar as missas em favor desse povo e pediam a Deus que a ordem e a paz fossem restabelecidas.

“É bonito ver o amor por Jesus e, consequentemente, o amor pelos sacramentos. É necessário, porém, fazer uma distinção quando lidamos com a não participação sacramental. Trata-se do motivo pelo qual esta não participação acontece. A diferença está entre querer e poder participar”, ressaltou Dom Joel Portella Amado, Secretário- Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em entrevista ao O SÃO PAULO (leia a íntegra aqui).

RESPONSABILIDADE

“Não são os bispos que estão privando a recepção dos sacramentos. Os bispos estão seguindo as orientações de saúde pública. Sofrem com isso. Tenho acompanhado o testemunho de vários bispos, angustiados por não poderem dar ao seu povo o atendimento deseja- do. É o que se pode fazer, no entanto, em um momento em que não existem remédio, vacinas e condições de tratamento (leitos, respiradores etc.)”, enfatizou o Secretário-Geral.

Dom Devair Araújo da Fonseca, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia e Vigário Episcopal para a Pastoral da Comunicação, reforçou que a suspensão das missas públicas é um ato de responsabilidade da Igreja diante da emergência sanitária e de cuidado com a vida dos fiéis.

“O mundo vive uma situação de pandemia, e é preciso compreender que a Igreja não está isolada deste mundo. Neste momento, não podemos ter aglomerações e, por isso, não podemos realizar as nossas celebrações, que, geralmente, acontecem com a participação de muitas pessoas”, explicou, recordando as palavras da Constituição Gaudium et spes, do Concílio Vaticano II, que diz que “a Igreja partilha das do- res e das angústias, das alegrias e das esperanças do mundo”.

O Vigário Episcopal reiterou que as pessoas não estão privadas da comunhão com Cristo. “Estão privadas da comunhão sacramental, que é muito importante, mas que no momento não é possível devido a esta grave situação”.

CUIDAR DA VIDA

Dom Devair lembrou ainda que, neste ano, a Campanha da Fraternidade teve como tema a proteção da vida. Nessa perspectiva, “o distanciamento e a ausência das celebrações públicas têm o sentido de cuidar da vida das pessoas agora, para que depois possamos nova- mente nos encontrar e, assim, voltar a celebrar nas comunidades”, sublinhou.

A preocupação com a proteção da vida também foi destacada por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa. “O isolamento social é uma medida importante, no critério de prudência para cuidar da vida de todos. Não somos melhores que os outros, não somos melhores que os demais segmentos da sociedade, nem temos uma proteção especial, o vírus ataca a todos. Com isso, estamos fazendo o que Jesus fez e nos recomenda que façamos também: ‘Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância’”, disse.

IGREJA VIVA

Dom Carlos Lema Garcia, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga e Vigário Episcopal para a Educação e a Universidade, ressaltou que a Igreja nunca fecha, o que está fechado é apenas o local de culto. “Todos nós somos Igreja e, portanto, a Igreja não pode fechar nunca, porque onde há um cristão que reza, que tem fé em Deus, que tem consciência de ser filho de Deus, de ser discípulo missionário no seu coração, a Igreja está viva. Só que nós não estamos reunidos, mas estamos unidos como sempre estivemos na comunhão dos santos, que é uma realidade muito viva”, afirmou.

“Ninguém nos tirou a missa, ela está acontecendo”, completou Dom Jorge Pierozan, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Santana, comentando que tem acompanhado pelas mídias digitais inúmeras lives das celebrações que mostram uma Igreja viva e uma multidão de sacerdotes celebrando ininterruptamente pelo seu povo, confirmando a promessa de Jesus: ‘Eu estou convosco até o fim dos tempos’”.

VIVER A FÉ

Dom Joel Portella destacou que um dos aspectos que mais o fascinam é a possibilidade de viver a fé em qualquer situação. “Tenho pensado muito nos cristãos perseguidos, impedidos por longos anos de portar consigo até mesmo um pequeno sinal de fé. Lembro dos padres e bispos que, na prisão, não podem celebrar a Eucaristia. Nem por isso deixaram de viver a fé. Ao contrário, santificam-se porque se agarram ao que lhes é possível fazer”, afirmou.

Já Dom Devair propôs uma reflexão sobre o que significa temer e não tentar a Deus, colocando a vida em risco. “Tenho visto algumas pessoas que, acre- ditando que, por serem protegidas por Deus, podem fazer qualquer coisa. Nós, de fato, estamos nas mãos de Deus e tudo gira em torno da sua vontade, mas não podemos arriscar as coisas como se Deus fosse fazer uma mágica. Temer a Deus também significa que nós devemos fazer a nossa parte, ou seja, cuidar de nós mesmos e uns dos outros.”

(Colaboraram: Flavio Rogério Lopes e Jenniffer Silva)

LEIA TAMBÉM: 

Secretário-geral da CNBB reitera que os bispos não estão privando os fiéis dos sacramentos

 

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Museu do Futebol tem ação de diálogo com idosos durante a pandemia

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06 de mai de 2020

Fechado para visitação pública desde 17 de março, o Museu do Futebol, localizado no estádio do Pacaembu, tem intensificado suas ações pelas redes sociais e escalou o time de colaboradores do núcleo educativo para “uma tabelinha” com os idosos que estão em isolamento social em razão da pandemia do novo coronavírus.

Desde o mês passado, os membros do núcleo educativo do Museu têm feito vídeo-chamada ou ligações por telefone para conversar com os idosos, vivam eles com suas famílias, sozinhos ou em instituições de abrigo. Apenas nos 15 primeiros dias da iniciativa, aconteceram aproximadamente 50 diálogos.

A iniciativa é parte do projeto Revivendo Memórias, que já é realizado pelo Museu em parceria com a Faculdade de Medicina da USP, originalmente voltado ao atendimento de pessoas com a doença de Alzheimer. Diante da pandemia do novo coronavírus e das recomendações de isolamento social, a ação foi ampliada para todos os idosos.

“Muitos dos idosos às vezes muitos moram sozinhos. Com a ajuda da Faculdade de Medicina da USP, estendemos este programa para um atendimento remoto, feito por telefone ou por videoconferência. Por vídeo é mais bacana, porque conseguimos ajuntar várias pessoas: o idoso, algum familiar dele, o pessoal da faculdade e ao menos um educador do Museu, mais a coordenadora do educativo”, detalha Daniela Alfonsi, diretora de conteúdo do Museu do Futebol, em entrevista ao O SÃO PAULO.

Daniela comenta que os rumos da prosa vão além do futebol. “Tem se falado também muito de música, temos descoberto até compositores, é um bate-papo muito agradável”, garante.

Como participar

As sessões do projeto Revivendo Memórias #EmCasa acontecem de terça a sexta-feira, em dois horários: das 10h às 11h e das 15 às 16h.

Às terças e quintas-feiras, os atendimentos são individuais; às quartas e sextas-feiras, são atendidas casas de repouso e entidades sociais que atuam com outros grupos fragilizados, como pessoas com deficiência e em situação de vulnerabilidade.

Os interessados em participar devem fazer o agendamento pelo e-mail agendamento@museudofutebol.org.br. O solicitante pode ser o próprio idoso ou seu cuidador. É preciso indicar o dia e horário de preferência e qual o meio de comunicação que deseja fazer a conversa (telefone, Skype, Hangout ou outra ferramenta).

No caso de entidades, devem ser informados também o perfil do público atendido e quantas pessoas participarão da atividade.

O Museu entra em contato para fazer as confirmações. Se não for possível enviar e-mail, os agendamentos também podem ser feitos pelo telefone (11) 99113-0226, de segunda a sexta-feira, das 9h às 12h.

A iniciativa faz parte da campanha #culturaemcasa, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, a quem pertence o Museu do Futebol.

Para as crianças

O Museu também pensou nas crianças neste tempo de isolamento social. Foi lançado o site educar.museudofutebol.org.br com muitas atividades recreativas para se fazer em casa, como paper toys de craques do futebol, testes de conhecimentos em cruzadinhas futebolísticas, jogo dos 7 erros sobre as regras do futebol e desenhos para colorir.

Cinema na rede

Em parceria com o CineFOOT, o Museu do Futebol também tem realizado sessões em streaming todos os sábados, às 21h, pelo Facebook e o YouTube. Após a exibição, os filmes não ficam mais disponíveis para acesso.

“Temos escolhido filmes sobre torcidas físicas ou clubes. Com isso, alcançamos torcedores diferentes a cada semana. Temos percebido que a exibição pela internet atrai um público que não necessariamente conhece o Museu em São Paulo. Quando exibimos o filme sobre o Bahia, por exemplo, o pico de pessoas assistindo foi lá no estado da Bahia”, detalha Daniela Alfonsi.

Além disso, no canal do YouTube podem ser encontrados vídeos dos eventos que já foram realizados no Museu, como debates e palestras, além de alguns documentários. O mais recente envolve entrevistas com os jogadores da seleção brasileira na Copa de 1970.

Exposições on-line

O Museu também disponibiliza 15 exposições on-line sobre a história do futebol. A mais atual é sobre os 80 anos do estádio do Pacaembu, completados em 27 de abril.

“É uma exposição com fotos e vídeos, e nos concentramos em mostrar um material que já há na sala do Museu e que conta como foi a construção do estádio, qual foi o interesse dos paulistanos em construir um estádio desse tamanho. Também falamos sobre a arquitetura do estádio, que é única. O Pacaembu tem o diferencial de ter uma arquibancada encostada no morro, no fundo de vale, não é como outros estádios em que parece um disco voador que pousa no terreno, como o Maracanã, e o Mineirão”, detalhou.

Também são encontradas exposições sobre o começo do futebol em São Paulo e a evolução das chuteiras. Essa iniciativa teve início em 2013, em parceria com o Google Cultural Institute, na plataforma Google Arts and Culture, que disponibiliza acervos de mais de 1.200 museus e coleções pelo mundo.

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Pandemia gera impactos aos ciclistas entregadores de aplicativo

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23 de abril de 2020

Diariamente, Alexandre (nome fictício) pedala por 18km entre o bairro de Aricanduva, na zona Leste, e o centro da cidade, esperando que um dos aplicativos de entrega com os quais trabalha - Rappi, Uber Eats e iFood – toque para algum pedido. Isso, porém, raramente tem acontecido ao longo do trajeto percorrido em aproximadamente 70 minutos.

“As pessoas estão com receio de fazer pedidos por causa do novo coronavírus. Os chamados diminuíram e os valores cobrados para os clientes subiram. Pagando mais caro do que antes, elas desistem de pedir”, diz Alexandre ao O SÃO PAULO.

O ciclista recordou que na semana passada atendeu uma encomenda de supermercado e ganhou pelos 5km rodados e os 15kg carregados o valor de R$ 6,50. “Foi bem menos do que recebia antes. As empresas simplesmente reduziram os valores e não avisaram nada”, conta.

Percepção parecida tem o entregador William (nome fictício). Morador do Grajaú, na zona Sul de São Paulo, ele faz entregas com bicicletas em dias alternados nos bairros do Itaim Bibi, Moema, Vila Olímpia, Vila Nova Conceição e Brooklin.

“A quantidade de pedidos diminuiu, pois vários restaurantes fecharam, e as pessoas também passaram a cozinhar em casa. Além disso, os aplicativos adotaram um sistema no qual quem tem mais pontuação fica na frente para receber pedidos. Antes não era assim. Hoje, se você está do lado de um cara que tem pontuação alta, chega pedido pra ele entregar, mas não chega pra você”, relata William, que trabalha com os aplicativos Rappi e Uber Eats.

William também comenta sobre a redução dos valores pagos. “Antes, por exemplo, numa entrega de 3km, eu recebia R$ 7,00. Hoje, tenho feito por R$ 3,80, isso contando o percurso do restaurante até a casa do cliente, pois não é considerado o trajeto de onde você está no momento em que recebe o pedido até o local que você vai retirá-lo”, detalha.

Peso no orçamento

Alexandre conta que desde o início das medidas de isolamento social tem lucrado menos com as entregas: “Antes, somente em um aplicativo, o iFood, eu tirava por semana, trabalhando todo dia, entre R$ 600 e R$ 700. Hoje, seu eu conseguir R$ 120, R$ 200 é sorte”.

Recentemente, ele e outros quatro funcionários do comércio onde também atua como autônomo no centro de São Paulo foram dispensados, com a promessa de retomar os postos de trabalhos quando houver o fim do isolamento social. “Agora, só conto com esse pouco que estou ganhando nos aplicativos. Tento economizar o máximo possível para pagar as contas. Eu estou pedindo a ajuda de Deus, pois não sei mais o que fazer”, revela.

William, embora siga em outro emprego fixo, diz que a baixa nos pedidos pelo aplicativo afetaram sua renda em cerca de 60%. “Num dia de entrega, eu conseguia lucrar quase R$ 150. Hoje, pra fazer R$ 50 é um sacrifício. Antes, eram de 15 a 20 entregas. Ontem, por exemplo, só fiz três. Caiu drasticamente”, contou. “Não consegui pagar minha conta de luz nos últimos meses, também estou com contas de água em atraso, é uma situação complicada”, relata.

É possível ser proteger do novo coronavírus?

De acordo com os entregadores ouvidos pela reportagem, as três principais empresas de delivery tem adotado políticas diferentes para que os entregadores possam se proteger do novo coronavírus e evitar o contágio dos clientes.

Alexandre conta a que o iFood fornece álcool em gel para os entregadores. “Eu pego e coloco em um recipiente de spray pequeno. Toda a vez que chego no cliente, abro as duas partes da bag [mochila], tiro o spray, passo o álcool em gel na minha mão, pego o pedido e entrego pra ele”, explica.

De acordo com os dois entregadores, Rappi e Uber não fazem essa entrega direta do item de higiene. “É a gente que tem que conseguir. A Uber, no entanto, deixa você comprar o álcool em gel até o valor de R$ 20 e depois reembolsa. Já a Rappi somente fala sobre métodos de higiene, mas nada de oferecer pra gente um frasco de álcool ou valores”, assegura William. Ela relata que consome, em média, um frasco de álcool em gel por semana.

A polêmica entrega no chão

E um dos protocolos da Rappi em tempos de pandemia do novo coronavírus tem gerado polêmica: a chamada “Entrega sem contato”.

“A orientação é que você pegue a comida na bag, coloque a entrega no chão, na porta do cliente, e espere que ele chegue para depois você ir embora. Não tem cabimento, isso! Desde quando o chão é mais limpo que a gente?”, critica Alexandre.

“Claro que eu nunca segui isso! Colocar a comida no chão? Isso é falta de higiene! E se alguém espirrou ali? Como vou deixar a entrega no chão? Jamais! Eu tenho um frasco de álcool em gel. Passo na minha mão, ofereço para passar na mão do cliente e ai, sim, entrego o produto pra ele, isso quando faço a entrega direta”, conta William. 

Questionada pela reportagem, a Rappi, por meio de sua assessoria de imprensa, explicou que a medida “tem como objetivo preservar a segurança do entregador e do cliente e está de acordo com as recomendações das organizações competentes. O Ministério da Saúde, por exemplo, recomenda manter uma distância de 2 metros de outras pessoas para que você não seja atingido por possíveis gotículas que saem da boca das pessoas enquanto elas falam, por exemplo”.

A opção de “Entrega sem contato” também é encontrada nos dois outros aplicativos. No Uber Eats, o cliente tem opção de enviar uma instrução ao entregador pedindo que deixe a encomenda na porta. No iFood, o entregador é avisado quando chega no local de entrega se essa opção sem contato é um desejo do cliente.

O QUE DIZEM AS EMPRESAS?

Queda na quantidade de pedidos

Rappi: Assegurou que tem havido “um aumento significativo no número de pedidos em algumas verticais, o que acreditamos ser uma resposta dos usuários preocupados com o tema incerto e medidas de quarentena sendo tomadas em diferentes cidades”, e que “as categorias que registraram um maior aumento foram farmácias, restaurantes e supermercados”.

iFood: Embora não tenha respondido à pergunta diretamente, afirma em seu site que “ainda é prematuro dimensionar o impacto do COVID-19 no mercado de food delivery brasileiro”

Uber Eats: Respondeu que por ser uma empresa de capital aberto, não pode “comentar dados especulativos”.

Redução nos valores pagos aos entregadores

Rappi: Informou que continua “aplicando os mesmos critérios no valor do frete, que varia de acordo com o clima, dia da semana, horário, zona da entrega, distância percorrida e complexidade do pedido. Além disso, a Rappi possibilita que os clientes deem gorjeta aos entregadores por meio do aplicativo”.

iFood: Não respondeu ao questionamento de modo específico, mas informou que “após o pedido ser entregue e finalizado, os usuários da plataforma podem oferecer gorjetas que são integralmente repassadas aos entregadores”.

Uber Eats: Assegurou que “não houve redução no valor pago por entrega/viagem”.

Materiais de higienização e protocolo de entregas

Rappi: Entre os protocolos que foram adotados estão a compra de álcool em gel e máscaras para entregadores parceiros; a adoção da prática “Entrega sem contato”; e o incentivo ao pagamento via app, para evitar o contato com cédulas de dinheiro.

iFood: Informou que distribui álcool em gel aos entregadores. Desde 6 de abril, a distribuição tem sido feita em 18 cidades, incluindo São Paulo. “Os kits de álcool em gel e material informativo serão entregues por meio de vans itinerantes em diversos pontos das cidades. O entregador receberá um chamado para ir até a van como se fosse coletar um pedido. Esta combinação de veículos espalhados pelas cidades e os chamados individuais evitará aglomerações e grandes deslocamentos dos entregadores”

Uber Eats: Não respondeu diretamente aos questionamentos, mas informou que “nos últimos dias, os parceiros foram informados que, além do álcool em gel, poderão solicitar reembolso para outros itens de proteção individual, como máscaras e luvas”.

Auxílio a quem está infectado ou tem maior risco para a COVID-19

Rappi: “Criamos um fundo que apoiará financeiramente os entregadores parceiros com sintomas ou confirmação da COVID-19 pelo período de 14 dias em que precisarão cumprir a quarentena. No Brasil, o fundo está sendo gerido pela Cruz Vermelha Brasileira”. Além disso, no próprio aplicativo, o entregador pode notificar a Rappi “caso apresente sintomas compatíveis com COVID-19 ou confirme o diagnóstico, para que deixe de prestar serviços no aplicativo e seja imediatamente orientado”.

iFood: Afirmou ter criado dois fundos solidários para os entregadores, um no valor de R$ 1 milhão para dar suporte àqueles que necessitem permanecer em quarentena. “O entregador receberá do fundo um valor baseado na média dos seus repasses nos últimos 30 dias, proporcional aos 14 dias de quarentena... Após abrir um chamado para reportar um diagnóstico positivo para COVID-19, o entregador terá a sua conta automaticamente inativada por 14 dias e terá até 30 dias para enviar todas as evidências necessárias para receber o valor do Fundo”. O outro fundo solidário, também no valor de R$ 1 milhão, é voltado a entregadores com mais de 65 anos ou em condições de risco, como doenças pulmonares, doenças cardíacas, imunossupressão (incluindo HIV), obesidade mórbida, diabetes descompensada, insuficiência renal crônica e cirrose.

Uber Eats: A empresa informou que vai “ampliar a cobertura da política de assistência financeira, incluindo o acesso de quem pertence a grupos de risco”. Além disso, “qualquer motorista ou entregador parceiro diagnosticado com o COVID‑19 ou que tiver isolamento solicitado por suspeita ou risco de contágio de coronavírus receberá assistência financeira por até 14 dias”.

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Isolamento social em São Paulo é de 59%, aponta SIMI-SP

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20 de abril de 2020

O Sistema de Monitoramento Inteligente (SIMI-SP) do Governo de São Paulo mostra que o percentual de isolamento social no Estado foi de 59% neste domingo (19).

A central de inteligência analisa os dados de telefonia móvel para indicar tendências de deslocamento e apontar a eficácia das medidas de isolamento social. Com isso, é possível apontar em quais regiões a adesão à quarentena é maior e em quais as campanhas de conscientização precisam ser intensificadas, inclusive com apoio das prefeituras.

No momento, há acesso a dados referentes a 104 cidades maiores de 70 mil habitantes, que podem ser consultados e estão também disponibilizados em gráficos no site https://www.saopaulo.sp.gov.br/coronavirus/isolamento. O sistema é atualizado diariamente para incluir informações de municípios.

O SIMI-SP é viabilizado por meio de acordo com as operadoras de telefonia Vivo, Claro, Oi e TIM para que o Estado possa consultar informações agregadas sobre deslocamento nos 645 municípios paulistas.

As informações são aglutinadas e anonimizadas sem desrespeitar a privacidade de cada usuário. Os dados de georreferenciamento servem para aprimorar as medidas de isolamento social para enfrentamento ao coronavírus.

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A sabedoria não está isolada

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16 de abril de 2020

Entre todas as informações sobre a Covid-19, talvez a mais conhecida seja sobre o grupo de risco, no qual estão pessoas com doenças crônicas e as acima dos 60 anos. Desses, alguns já se aposentaram e outros continuam trabalhando ou realizando trabalhos de forma remota.

O SÃO PAULO conversou com idosos que, de diferentes lugares e realidades, contaram suas experiências durante o isolamento social, o que têm feito para ocupar o tempo e como têm vivido a dimensão da fé, participando das celebrações pela televisão ou pela internet e intensificando momentos de diálogo e oração em família.

QUEM SÃO ELES

Jorge Lima Lorente é radialista e escritor. Ele mora em Santo André (SP). Viúvo, tem dois filhos e quatro netos e está vivendo o isolamento social sozinho, numa casa com quintal e dois cães.

Maria Celeste Delgado Lessa, 76, mora em Recife (PE). É casada há 58 anos e teve quatro filhos, um deles, porém, faleceu de câncer. Está vivendo o isolamento em seu apartamento, na capital pernambucana.

José Antonio Novaes, 69, tem dois filhos e mora no Rio de Janeiro (RJ). Ele é professor de Matemática e está vivendo o isolamento social em seu apartamento, no bairro de Botafogo, com a esposa e a sogra.

Irene Perotto, 86, é religiosa da Congregação das Irmãs Paulinas há 63 anos. Ela nasceu em Barra do Ouro (RS) e mora em São Paulo (SP) junto a outras irmãs de sua comunidade religiosa.

Nelson da Silva Teixeira, 69, mora em São Paulo (SP), é casado e tem quatro filhos e uma neta. Está em isolamento com a esposa, uma das filhas e uma sobrinha em sua casa, no Jaçanã.  

Leonardo Venturini, 60, é casado há 32 anos. Tem duas filhas e mora em Jaguariúna (SP), onde está em isolamento com sua esposa e uma das filhas numa casa com quintal e muitas plantas.

Walter Mascarenhas Neves, 67, mora em São Paulo (SP), é viúvo e tem 3 filhos. Está em isolamento em sua chácara, em Indaiatuba (SP) junto com um das filhas e sua família e outro filho. Walter é engenheiro, mas após a morte da esposa se dedica quase exclusivamente ao trabalho pastoral e voluntário que realiza no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, no Arsenal da Esperança e com oficinas de artesanato para idosos. É coordenador de um grupo diário de meditação cristã na paróquia em que participa, no bairro de Perdizes.

Como você tem vivido o isolamento?

Jorge Lima Lorente -  Tenho levado muito a sério o isolamento, não saio nem mesmo na calçada de casa e, na minha rua, que é sem saída, todos os moradores tem ficado em casa, com poucas exceções. Não tive tempo de me sentir chateado ou deprimido, um segundo sequer. Escrevo mensalmente para a Revista “O Mílite” e comentários sobre os Evangelhos dominicais para a internet. Isso tudo absorve meu tempo na sua totalidade. Estou trabalhando em casa. Meu escritório transformou-se em um estúdio de rádio e eu estou transmitindo meus programas, diário e dominical, de minha casa, via Skype. Confesso que estou aprendendo e aplicando coisas novas todos os dias.

Maria Celeste Delgado Lessa – Aqui em Recife, mais especificamente no meu bairro, algumas pessoas tem respeitado o isolamento, outras não. Eu tento ficar em casa, mas, às vezes, preciso sair, pois sou eu quem resolvo as coisas da casa. Pela manhã, após o café, faço caminhadas no corredor do edifício em que moro, além de subir e descer as escadas, pois moro no terceiro andar e fazer alguns exercícios dentro do apartamento. Depois, dedico um tempo para limpar a casa e fazer o almoço. À tarde, descanso, leio e cuido das plantas.

José Antonio Novaes – Por aqui, as pessoas não têm respeitado o isolamento, há muitas aglomerações, principalmente nas estações de transportes públicos. Estou há quatro semanas em casa e saí quatro vezes. Uma em que fomos nos vacinar, duas idas à farmácia e uma para as compras no mercado. Passo o tempo cozinhando, lendo, gravando vídeos para o canal “Matemática de outro jeito” que mantenho no You Tube, jogando e dançando com a Alice, minha esposa. Ah, e cuidando da sogra.

Irmã Irene Perotto - Sinto que as pessoas estão respeitando sim as normas de isolamento. Na minha comunidade também estamos, procuramos nos distanciar e manter o equilíbrio, que é muito importante neste momento.

Nelson da Silva Teixeira - Eu moro na periferia da cidade de São Paulo, no Jaçanã. Daqui de casa vejo algumas pessoas indo à UBS e consigo ver o ônibus com pouca gente. Nestes 26 dias de isolamento, só saí uma única vez para tomar a vacina há menos de 500 metros de casa. Eu gosto de sair para visitar pessoas e participar de atividades pastorais e voluntárias. Atualmente, trabalho remotamente como executivo de um partido político e atendo os 645 municípios do Estado de São Paulo, conversando e orientando as pessoas em suas comunidades.

Leonardo Venturini - Aqui na cidade, respeitando a ordem do Governo Estadual, está tudo fechado e temos apenas quatro casos confirmados [até dia 11 de abril]. Todos os dias de manhã, eu abro a porta da minha casa e agradeço a Deus caminhando pelo quintal! Tenho ocupado o tempo cuidando das plantas, cortando grama, colhendo as verduras. Às vezes toco violão, leio mensagens no Whatsapp, cozinho, cochilo à tarde. Mas, confesso que é muito difícil ficar em casa.

Walter Mascarenhas Neves - Por morar em um condomínio fechado, aqui na chácara, todos estão respeitando o isolamento. Estou numa casa grande, com terreno grande e isso facilita muito. Somente meu filho recebe o que vem de fora e higieniza tudo antes de manipularmos. Temos comprado tudo por telefone ou pela internet.

 

Você considera o isolamento uma privação? É muito difícil para você ficar em casa?

Jorge Lima Lorente – Sim. Gosto muito de sair. Faço palestras, gosto de visitar parentes e amigos. Nos encontramos pelo menos uma vez por semana. Porém, gosto muito também de ficar em casa escrevendo, lendo ou cozinhando alguma receita que encontro na internet, que tem sido – além do trabalho - um dos meus modos de passar o tempo.

José Antonio Novaes - Sempre gostei de sair, praticar esportes, passear, de eventos culturais e de trabalho. Tem sido difícil sim.

Irmã Irene Perotto - Acredito que esta é uma experiência única, independente de todas as outras experiências já vividas. É uma privação muito grande para todas as pessoas e, por isso, parece que o peso é ainda maior. Temos que pensar muito sobre isso e quais serão nossas atitudes depois que tudo passar.

Nelson da Silva Teixeira – Ficar em casa tem sido uma experiência muito salutar para nossa vida em plenitude. Um tempo para refletir sobre como estava a nossa vida, sobre o tempo que temos para cada coisa, sobre a importância do tempo.

Leonardo Venturini - Eu não gosto de ficar em casa. Acordava todos os dias às 5h e fazia minha caminhada, antes do isolamento. Gosto de conversar com as pessoas na rua e cumprimentar conhecidos, está sendo difícil sim. Mas, por outro lado, estou ficando mais tempo com minha esposa e minha filha, que mora fora da cidade. O que eu gosto mesmo é de receber pessoas em casa e estou sentindo muita falta disso.

Walter Mascarenhas Neves - Tem sido difícil ficar em casa, pois gosto de sair. Porém, sinto-me muito privilegiado por ter espaço, quintal, natureza e por estar com minha família. Para ocupar o tempo eu cozinho, cuido das plantas, limpo a casa e ajudo a cuidar do meu neto.

Você tem o hábito de rezar em casa? Os momentos de oração se intensificaram durante o isolamento?

Jorge Lima Lorente - Tenho sim o hábito de rezar em casa, tenho um pequeno altar, acompanho os momentos de oração pelos meios de comunicação, porém, sem companhia (a não ser a de Jesus e Maria), pois moro sozinho.

Maria Celeste Delgado Lessa - Tenho um altar no meu quarto e acompanho sempre as missas pela televisão ou pelo rádio, sobretudo com os padres Marcelo Rossi, João Carlos e Reginaldo Manzotti. Tenho muita fé em Deus que logo vai passar e sofro pelas famílias que perderam seus entes queridos.

José Antonio Novaes - Eu rezo sim, mas não acompanhando rádio ou tv. Quando criança, rezávamos o Terço em casa e eu continuei a rezá-lo, mas no metrô, trem, ônibus ou dirigindo e a Alice rezava em casa. Agora, estamos rezando juntos à noite.

Irmã Irene Perotto – Nós rezamos sempre, seja individualmente, seja em comunidade, além, é claro, das missas diárias. Antes da epidemia, porém, eu participava da missa na televisão somente em alguns domingos, quando eu estava impedida de ir à paróquia. Agora essa participação tem sido frequente. A celebração da Páscoa na comunidade também foi excelente. Cada cerimônia foi muito significativa.

Nelson da Silva Teixeira – Sim, junto com os familiares e pelas redes de televisão católicas, em especial a TV Aparecida, tenho acompanhado as celebrações. Tenho um altar dedicado a Nossa Senhora da Salette, e, como Leigo Saletino e Missionário da Reconciliação, sempre lembro a Mensagem de Maria na Montanha de La Salette, quando ela falou: “Não tenham medo, vão e levem esta mensagem para todo o meu povo”.

Leonardo Venturini – Todos os dias eu rezo o Terço, mesmo antes da pandemia. Toco violão no coral da paróquia e estou sentindo muita falta de participar das celebrações. Não tenho o costume de acompanhar o Terço pelo rádio, rezo sozinho. Mas, agora, durante o isolamento, estamos rezando o terço em família e está sendo uma experiência muito bonita. Temos vários altares em casa. Temos rezado muito durante esses dias.

Walter Mascarenhas Neves – Diariamente, rezo o Terço e participo da celebração numa igreja perto da minha casa. Aqui, na chácara, tenho acompanhado pela tv somente aos domingos. Em casa, conversamos, aprendemos a conviver e compartilhamos muitos momentos. Às vezes, quando bate ansiedade, fico mais introspectivo, rezo, tento refletir e mudar atitudes. Agradeço sempre a Deus, pois tem sido muito pródigo comigo.

 Acompanha as missas, encontros, momentos de oração pela televisão, rádio ou pela internet?

Jorge Lima Lorente - Faço uso de todos os meios de comunicação social. Têm me ajudado bastante para eu me aproximar mais de Deus, por meio da oração. Eu pensava que rezava o suficiente, neste período, assim como outras milhares de pessoas, eu tenho me encontrado em oração, no mínimo o dobro do que eu rezava. Toda a tecnologia e os meios de comunicação estão sendo bastante utilizados. Vários grupos se formaram, então acontecem, além da troca de informações via Whatsapp, encontros programados para a oração do terço via hangouts ou Skype.

José Antonio Novaes – Sim, pois foi a opção que nos restou. O padre da minha paróquia tem celebrado por lives do Facebook e, às vezes, assisto a missa pela Rede Aparecida de Televisão.

Irmã Irene Perotto - Tenho muito contato virtual e por telefone com meus familiares, irmãs, sobrinhas. Durante o dia, nos falamos sempre. Eles me contam o cotidiano e eu dialogo com eles e tento confortá-los neste momento tão difícil. Estamos todos contando os dias para que acabe essa situação de isolamento. Participar das missas por meio da televisão tem sido uma experiência única, pois, embora à distância, é como se estivéssemos num contato quase pessoal com toda a Igreja.

Nelson da Silva Teixeira – Sim. Uso todos os meios tecnológicos para viver a minha fé. Os templos estão fechados, mas a Igreja está sempre aberta, pois a Igreja também somos nós. Tenho também participado de alguns grupos virtuais, como CNLB, Cáritas e Leigos Saletinos.

Leonardo Venturini - Todos os dias participamos da missa pela televisão durante este tempo, mas, está sendo difícil, pois não é a mesma coisa da missa presencial.

Walter Mascarenhas Neves - Não gosto muito de acompanhar os atos litúrgicos pela televisão, por isso, durante o isolamento, tenho feito isso só aos domingos.

Acredita que este tempo de isolamento pode ensinar, para a sociedade em geral, algo de bom?

Jorge Lima Lorente - Eu tenho certeza que este período de isolamento trará muitos frutos bons. Pessoas descrentes estão se aproximando da Igreja e participando dos momentos de oração. Um velho ditado diz que nos aproximamos de Deus pela dor ou por amor. Pena que tenha que ser pela dor. Mas, as pessoas estão sim rezando mais e deixando de lado o pronome pessoal eu e fazendo uso do nós. Notícia recente mostra que os meios de comunicação, de conteúdo religioso, teve um salto, um aumento de 300% no seu Ibope. O aprendizado já está acontecendo, a proximidade entre filhos e pais, marido e mulher.  Vamos continuar em oração para que, quando tudo passar, esta fantástica experiência não caia no esquecimento.

José Antonio Novaes – Com certeza. As mídias nos ajudavam a nos aproximar das pessoas distantes e, às vezes, acabavam nos distanciando de quem estava perto. Penso que, com este exercício de isolamento, vamos notar que precisamos ficar mais perto da família e de quem mora conosco. Espero que além de valorizar mais a saúde, alguém se atente para a importância da educação e dos professores.

Irmã Irene Perotto - Tenho certeza que o futuro será diferente. Acredito que a humanidade vai iniciar uma nova era. Essa experiência tem sido de diálogo, de valorização da família, de intensificar os relacionamentos e isso vai modificar o futuro, sobretudo as famílias. A família é o centro da humanidade. As epidemias marcaram profundamente e diretamente minha vida. Quando eu tinha cerca de 12 anos, aconteceu a epidemia de tifo no Brasil. Meu pai, que nunca teve nenhuma doença, pegou a febre e morreu em decorrência do tifo. Quando eu tinha 40 anos, fui eu quem peguei a gripe asiática. Tive febres de 40ºC e não havia remédio que abaixasse a febre. Estava em missão e tive que resistir, mas, quando voltei para a comunidade, continuei tendo febre. Tive então uma pneumonia muito forte e um dos pulmões prejudicados, com consequências que duram até hoje.

Nelson da Silva Teixeira – Este tempo vai nos trazer um novo modo de vida menos consumista e mais solidário. Veremos com se fosse com uma lupa as necessidades de nossos irmãos mais desfavorecidos. E, como afirmou o Papa Francisco na Encíclica Laudato si, a própria Igreja deverá se tornar menos intimista, para ser uma Igreja verdadeiramente em saída, indo ao encontro das pessoas nas periferias de nossa existência.

Leonardo Venturini - Acredito que depois que tudo isso passar muitas coisas vão mudar. Vamos valorizar muito mais nossa liberdade. A liberdade de sair, de receber amigos, de confraternizar com as pessoas. Deus, família e liberdade são as coisas mais importantes da vida.

Walter Mascarenhas Neves – Acredito que este isolamento me ajudará, sobretudo, a compreender melhor a situação dos idosos com os quais trabalho, pois a maioria deles passa muito tempo sozinho. Sinto que tudo o que acontece em nossa vida está em sintonia com os planos de Deus. Além disso, aprenderemos, sempre mais, a conviver, o que parece simples, mas não é.

 

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É hora de ajustar as contas do mês

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03 de abril de 2020

O Governo Federal promete iniciar na próxima semana o pagamento de uma renda básica emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais, autônomos e pessoas sem renda fixa. Aproximadamente 54 milhões de pessoas devem ser beneficiadas com os recursos que ajudarão a compensar a redução da renda familiar em tempos de isolamento social para evitar a proliferação do novo coronavírus.

Apesar de a medida que prevê o pagamento emergencial ter sido sancionada na quinta-feira, 2, ainda não há detalhes sobre como será a operacionalização dessa transferência de renda. Assim, não é improvável que para muitas dessas famílias as contas do mês cheguem antes do recurso emergencial e que com o dinheiro que dispõem não seja possível saldar os todos os compromissos, como as contas de água, energia elétrica, plano de telefone celular, a prestação do imóvel ou aluguel do mês.  

Para auxiliar no planejamento das conta domésticas mensais, o jornal O SÃO PAULO conversou com a economista Cristiane Mancini, que também é mestre em Economia pela PUC-SP. “A primeira medida a ser feita é reavaliar todas as contas da família”, e elencar “aquilo que é de fato necessário, os bens que podem ser substituídos ou os que podem ser dispensados no momento atual”.

Priorize o pagamento das contas de água e de energia elétrica

Neste mês e também em maio e junho, por determinação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), mesmo que um consumidor deixe de pagar a conta de energia elétrica, ele não terá o fornecimento interrompido. Isso não significa que as dívidas serão perdoadas: multas e juros sobre valores não pagos continuarão sendo aplicados.

A Aneel estuda conceder a famílias de baixa renda isenção no pagamento. A medida beneficiaria aproximadamente 10 milhões de famílias, mas ainda não está oficializada.

Em São Paulo, o Governo do Estado já concedeu isenção no pagamento da conta de água e de esgoto a 506 mil famílias de baixa renda. Anteriormente, elas pagavam a tarifa social, o valor mais baixo cobrado pela Sabesp.

Cristiane avalia que apesar dos recursos mais escassos, as famílias devem priorizar o pagamento das contas de água e de energia elétrica. “Mesmo que haja a possibilidade de pagar em outro momento, o cenário para muitos é ainda mais incerto, não conhecendo se haverá a mesma receita, se estará empregado, dentre outras variáveis que precisam ser consideradas. Além disso, uma vez que se deixa de liquidar essa conta neste mês, ela deverá ser paga a posteriori, somando-se à do novo mês. Essa família precisará ter muito controle financeiro para que saiba poupar este montante, não gastando-o para que o tenha no momento futuro”, alertou.

Pause o pagamento do imóvel apenas se não houver outra alternativa

Por causa da pandemia do novo coronavírus, a Caixa Econômica Federal, que financia a maior parte dos empreendimentos imobiliários do País, já anunciou que os clientes podem requerer uma pausa no pagamento das prestações por até três meses.

Quando a situação econômica for normalizada, essas prestações pausadas serão incorporadas ao saldo devedor. Na prática, apesar do alívio imediato nas contas, o custo final do imóvel será mais caro, pois a dívida demorará mais para ser paga com o banco.

Cristiane afirma que se a prestação do imóvel “couber no orçamento mensal”, ainda que com “apertos”, é melhor que já seja paga.

“Recomendo que essa família quite sim a sua parcela, honre seus compromissos neste momento. Muitas vezes, a família tem a ilusão de que dada a possibilidade de pagamento posterior, ela pode usufruir desse montante gastando-o em outras aquisições, independente quais sejam. Isso traz uma ilusão de aporte financeiro, mas a dívida ainda existe, somente criou-se a possibilidade de pagamento posterior que será incrementado por uma taxa de juros que não seria se assim não o fizesse”, orienta.

Negocie os valores e as condições do aluguel

Parte significativa do orçamento das famílias de baixa renda está comprometida com o pagamento do aluguel do imóvel onde vivem. Neste momento, a regra é negociar.

Em recente nota à imprensa, o sindicato da habitação do estado de São Paulo, Secovi-SP, indicou que “muitos inquilinos começam a solicitar flexibilidade dos proprietários para o pagamento dos aluguéis em decorrência da diminuição ou mesmo estagnação da atividade econômica do setor em que atuam”. A entidade afirma que tem recomendado a proprietários e locatários que negociem os contratos e que “uma das alternativas mais recorrentes é a postergação dos aluguéis em parte ou na sua totalidade, conforme a dificuldade momentânea do inquilino, e por um período curto. Ao final do mês subsequente, as partes devem rever a situação e definir possível prorrogação do prazo”.

Cristiane Mancini recomenda que o locatário negocie com o proprietário do imóvel, explicando a situação atual da família e suas necessidades. “Caso não haja acordo para a reavaliação do valor, sugiro procurar um novo local que ‘caiba no orçamento’ e não sacrifique a família”, afirma.

Na sexta-feira, 3, o Senado aprovou regras transitórias para a locação de imóveis, com vistas a preservar contratos e servir de base para futuras decisões judiciais. Um dos pontos do projeto de lei é que não se concederá liminar para desocupação de imóvel urbano nas ações de despejo ajuizadas até 30 de outubro de 2020. O projeto também original previa a permissão para o atraso no pagamento de aluguel por conta de demissão, redução de carga horária ou diminuição de remuneração do locatário, mas este artigo foi vetado pelo Senado. O texto agora segue para nova apreciação da Câmara dos Deputados.

Seja rigoroso com a lista de supermercado

Gastos com alimentação também são parte significativa dos custos mensais das famílias. Em época de orçamento mais enxuto, pesquisar preços e evitar a compra de itens desnecessários são uma boa medida de economia doméstica.

“Um conselho é fazer uma lista de bens de primeira necessidade, ou seja, aqueles que não há possibilidade de se manter em sua ausência. Aqueles que são supérfluos, como cremes, lácteos mais custosos, salgadinhos, bolachas, tortas e alguns congelados podem ser retirados da lista. É a possibilidade de uma economia saudável, sobrando para as outras contas que a família tem a pagar”, afirma Cristiane.

“Pesquisar também é sempre uma ótima recomendação. Não comprar o primeiro produto visto no mercado, observar os mesmos produtos, mas de marcas diferentes, não circular por muitas gôndolas para que não ‘caia na tentação’ de comprar produtos desnecessários”, complementa a economista.

Ajuste os planos de tevê por assinatura e do telefone celular

Outras contas que podem ser reduzidas em época de contenção de gastos são as dos planos de telefonia celular e dos pacotes de tevê por assinatura. Nestes casos, renegociar é novamente o verbo do momento.

“No caso de celulares, opte por solicitar a adesão a um plano controle, que permitirá acesso à internet, a um vasto número de mensagens e chamadas, o que é bastante suficiente. No caso da tv a cabo, o mesmo. Solicite um plano que caiba em sua realidade, como um plano com acesso a um número menor de canais. Sabemos que os consumidores não assistem a todos os canais. Opte por um pacote que de fato usufrua neste momento. Essas ações certamente auxiliaram a reduzir em 50% os gastos de telefonia e assinaturas. Além da opção por assinaturas digitais, com preços reduzidos. E se tratando de negociação, sim é possível. O indicado é ligar para a sua operadora e propor uma negociação. Neste momento, todas as empresas estão bastante abertas para negociação com o intuito de manter seus clientes”, orienta Cristiane.

Empréstimo bancário: só em último caso

Os cinco maiores bancos do País - Banco do Brasil, Bradesco, Caixa, Itaú Unibanco e Santander já se comprometeram a prorrogar por até 60 dias os vencimentos de dívidas de clientes pessoas físicas e micro e pequenas empresas para os contratos vigentes em dia e limitados aos valores que já foram usados pelo consumidor.

A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) orienta que os clientes entrem em contato com o banco em que têm conta para se informar sobre as condições oferecidas para prorrogar as dívidas.

Se renegociar dívidas já existentes pode ser uma boa alternativa, adquirir um empréstimo com o banco não é o mais aconselhável, de acordo com Cristiane Mancini.  “Se existe a real necessidade de adquirir empréstimos é uma opção, no entanto, ainda vemos taxas de juros extremamente elevadas. Recomendo empréstimos sempre em último caso”.

Não se iluda com o limite do cartão de crédito

A economista também alerta que não se deve pensar no limite do cartão de crédito como alternativa para conseguir pagar todas as contas mensais.

“O limite do cartão de crédito te oferece o falso dever cumprido, a ideia de que foi paga a conta, o que na verdade não ocorre, pois no mês seguinte ou no outro a família ou o indivíduo terá que pagar da mesma forma. E essa família ou esse indivíduo sabe com 100% de certeza se está garantido em seu emprego nesses meses à frente? Terá esse montante a pagar nesses próximos meses? Ou simplesmente está jogando para a frente algo que não conseguirá arcar mesmo no futuro?”, observa.

Cristiane aconselha que todas as contas da família sejam centralizadas em um único cartão de crédito, “optando por aquele que isenta o pagamento da anuidade. O mesmo vale para contas correntes”.

Um dia a dívida precisará ser paga, portanto, planeje-se!

Por fim, um alerta fundamental: a dívida que não for paga neste momento um dia precisará ser saldada. Assim, é indispensável já se programar para isso.

“Há maneiras de se programar. Por exemplo: calcular os juros que virá embutido nessa conta no futuro. Assim, se o valor da conta é X e o 5%, o indivíduo precisará ter em mente que além dos X, precisará ter mais 5% quando for sanar a dívida. Em qualquer renegociação ou postergação de pagamento é necessário conhecer todas as cláusulas, opções que serão dadas, para que no futuro se tenha a clareza do montante a ser pago”, conclui a economista Cristiane Mancini.

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