NACIONAL

55ª Assembleia Geral da CNBB

‘A escola é da família e da comunidade’

Por Fernando Geronazzo
25 de abril de 2017

Dom João Justino de Medeiros Silva fala sobre o subsídio "Pensando o Brasil:Educação", que será apresentado aos bispos do Brasil

 

 

Foto: CNBB

Dom João Justino de Medeiros Silva, arcebispo coadjutor eleito de Montes Claros (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Cultura e a Educação da CNBB, falou, em entrevista ao O SÃO PAULO, sobre o 4º volume da série “Pensando o Brasil”, que trata do tema da educação. O texto será apresentado na 55ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil, que acontece, de 26 de abril a 5 de maio, em Aparecida (SP). Não se trata de um documento da CNBB, mas de um subsídio que tem como principal finalidade suscitar nas famílias, comunidades, escolas e universidades o diálogo sobre a realidade da educação no país.

O SÃO PAULO – Porque a CNBB decidiu elaborar um subsídio sobre o tema da Educação? Qual a perspectiva com a qual a Igreja se volta para esse tema?

Dom João Justino de Medeiros Silva – A CNBB trata, durante a Assembleia Geral, de temas específicos da realidade brasileira, com o objetivo de oferecer contribuições para a sociedade. Em 2014, refletimos sobre as “Eleições”. No ano seguinte, em 2015, tratamos da “Desigualdade Social no Brasil”. Já em 2016, nos debruçamos sobre o tema “Crises e Superações”. Todas essas reflexões estão disponíveis nas Edições CNBB na coleção “Pensando o Brasil”. No ano passado, decidimos que o tema da educação mereceria ser tratado com particular atenção. Para isso, começamos a trabalhar na produção do texto que foi partilhado com os bispos e, posteriormente, discutido e reformulado durante a Assembleia. Todos sabem da histórica atuação da Igreja no campo da educação, da qualificada contribuição oferecida à sociedade brasileira, por meio das escolas e universidades católicas. Essa experiência nos permite propor uma reflexão sobre a educação no Brasil.

O que mais preocupa a Igreja no Brasil no cenário da Educação brasileira?

São muitos os pontos que merecem nossa atenção. Talvez o mais urgente seja a fragilidade do sistema educacional brasileiro, que carece de um projeto consistente. Precisa tornar-se verdadeira política de Estado e não de governos. Temos assistido a uma sequência de mudanças e reformas que, embora produzam seus efeitos, ainda estão muito aquém do necessário para tornar o Brasil um país de referência na educação. O Brasil tem, ainda, altos índices de analfabetismo e de evasão escolar. Acrescentaria, também, o descaso com o magistério. Infelizmente, o país maltrata os professores e pouco investe na qualificação dos profissionais da educação. Oportuno é lembrar, por exemplo, que os professores dedicados à educação básica, na rede pública, recebem baixos salários. Nada pode ser pior para a educação que a desvalorização dos educadores. Outra situação preocupante: cada vez menos jovens escolhem os cursos de licenciatura ou de pedagogia.

Considerando os desafios do momento atual, qual o papel a que a família é chamada para melhorar a educação escolar em nosso país?

A família precisa compreender que a educação escolar é uma parceria com a sociedade que promove a educação dos filhos. Os pais são os primeiros responsáveis pela educação de seus filhos. Por isso, devem acompanhar a vida dos seus filhos na escola. Quanto maior for a interação entre família e escola, melhores serão os resultados. O estudante, sobretudo quando criança ou adolescente, é muito beneficiado ao perceber que seus pais e seus professores querem o seu bem. É urgente recuperar essa aliança ou pacto entre a família e a escola. Isso não vem pela força da lei, mas pela força do desejo e atuação dos pais, movidos a partir do propósito de promoverem o desenvolvimento de seus filhos.

Existe no subsídio uma análise dos problemas que as comunidades escolares (alunos, professores e gestores) estão enfrentando em seu cotidiano? Quais os problemas e as soluções indicadas pelo texto?

São sublinhados alguns princípios e também graves lacunas que não podem ser desconsiderados. Se o texto produzir diálogos, debates, estudos e despertar para maior cuidado com a educação, terá alcançado seu objetivo. Com certeza, muitos educadores terão como enriquecer a discussão a partir de suas práticas e estudos. Não se melhora a educação fora do caminho do diálogo, da troca de ideias, da partilha de experiências, do compromisso em participar da vida escolar ou universitária.

As pessoas, muitas vezes, querem ajudar a melhorar a educação escolar no Brasil, mas não sabem o que fazer. O texto trará pistas nesse sentido? Quais são, a seu ver, as principais?

Sim, algumas pistas são apontadas. E poderão despertar as famílias, os educadores e as comunidades para outras ações. Na quarta parte do texto apresentamos as pistas organizadas em quatro âmbitos: o compromisso de todos na sociedade; o compromisso de todos na gestão escolar e nas famílias; a avaliação do esforço educacional na realidade local; pistas para ação da comunidade católica. Importante observar que o documento se destina a toda sociedade brasileira. Ao apresentar algumas indicações para a ação da comunidade católica, tivemos a intenção de destacar a importância do agir das famílias e comunidades católicas como um incentivo a que atuem mais no acompanhamento da educação. Reconhecemos que nos últimos tempos houve um distanciamento das famílias e comunidades do ambiente escolar.

Qual a contribuição específica que as comunidades católicas podem dar para a solução desses problemas?

Apontaria três contribuições. Em primeiro lugar, pautar o tema da educação nos grupos, especialmente os grupos de famílias e comunidades. Sem reflexões e diálogos relacionados ao campo da educação, é difícil promover avanços. Também é muito importante a participação dos familiares nos diferentes colegiados - na escola onde estão os filhos, nos municípios e outras instâncias. Com certa frequência, chega-se muito tarde para participar de discussões e processos. Não raramente, as contribuições são oferecidas apenas quando interesses específicos estão em debate. Agir assim é insuficiente. É o acompanhamento que permite compreender processos, dificuldades, buscar soluções. Assim, torna-se urgente reconhecer a necessidade de atitudes cidadãs, principalmente dos cristãos, que são chamados a “ser sal da terra e luz do mundo”. Em terceiro lugar, indicaria aos pais e líderes das comunidades que fizessem tudo para reatar o pacto educativo. Isto significa reconhecer que a escola é da família e da comunidade. Nesse sentido, deve ser garantida a presença dos pais e da comunidade como corresponsáveis nos processos relacionados à educação. E a Pastoral da Educação tem muito a contribuir nesse sentido.

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