VATICANO

Paixão de Cristo

No Vaticano, celebração da Sexta-feira Santa associa a Cruz de Cristo à atual pandemia

Por Filipe Domingues (Especial para O SÃO PAULO)
10 de abril de 2020

Papa Francisco acompanhou a homilia feita pelo pregador da Casa Pontifícia, o padre capuchinho Raniero Cantalamessa

O Papa Francisco presidiu a celebração da Paixão de Cristo na tarde desta sexta-feira, 10, na Basílica de São Pedro. Mas, como é tradição desta celebração, a homilia foi feita pelo pregador da Casa Pontifícia, atualmente o padre capuchinho Raniero Cantalamessa. 

Em sua meditação, ele associou elementos da Paixão e Morte de Cristo à atual pandemia da Covid-19, causada pelo novo coronavírus. E falou sobre a companhia de Deus num momento de sofrimento para a humanidade.

“A pandemia do coronavírus nos despertou bruscamente do perigo maior que os indivíduos e a humanidade sempre correram, aquele da ilusão de onipotência”, refletiu Cantalamessa. “Bastou o menor e mais informe elemento da natureza, um vírus, para nos recordar que somos mortais, e que o poderio militar e a tecnologia não bastam para nos salvar”, acrescentou.

CRUZ EM TEMPOS DE PANDEMIA

Conforme o pregador, a morte de Jesus Cristo na cruz remete à situação dramática que a humanidade está vivendo. “Também aqui, mais do que para as causas, devemos olhar para os efeitos. Não apenas os negativos, dos quais ouvimos todo dia as tristes manchetes, mas também os positivos, que somente uma observação mais atenta nos ajudar a colher”, disse Cantalamessa.

“Assim Deus, às vezes, faz conosco: confunde os nossos projetos e a nossa tranquilidade, para nos salvar do abismo que não vemos”, comentou, ressalvando que não é Deus quem manda o mal para o mundo.

Em vez disso, “Deus participa da nossa dor para superá-la”. Citando Santo Agostinho, afirmou também que “Deus, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar do mal o bem”.

Da mesma forma, na morte de Cristo, Deus não a causou, mas “permitiu que a liberdade humana fizesse o seu percurso, contudo, fazendo-a servir ao seu plano, não ao dos homens”. Por isso, “a Palavra de Deus nos diz qual é a primeira coisa que devemos fazer em momentos como estes: gritar a Deus.” 

SOLIDARIEDADE COMO RESPOSTA

A unidade entre os povos pode ser um dos resultados positivos dessa pandemia, ainda que ela seja indesejada, afirmou o Padre Cantalamessa.

“O outro fruto positivo da presente crise de saúde é o sentimento de solidariedade. Quando foi, desde que há memória, que os homens de todas as nações se sentiram tão unidos, tão iguais, tão pouco contenciosos, como neste momento de dor?”, disse.

Ele pediu que seja mantido esse espírito de união coletiva quando a pandemia passar. “Nós esquecemos os muros que seriam construídos. O vírus não conhece fronteiras. Em um segundo, abateu todas as barreiras e as distinções: de raça, de religião, de censo, de poder. Não devemos voltar atrás quando este momento tiver passado.”

TRÍDUO RESERVADO

A cerimônia da Paixão é a segunda do Tríduo Pascal, e começa em silêncio, em continuidade com a liturgia da Quinta-feira Santa (Ceia do Senhor). O Papa Francisco entrou em procissão e fez a tradicional prostração, sob os degraus do presbitério. O relato da Paixão lido neste ano vem do Evangelho segundo São João.

No momento da adoração da Cruz, somente o Papa beijou crucifixo, e não todos os presentes, como de praxe. Segundo o Vaticano, a ideia é prevenir a disseminação da Covid-19.

Por causa das limitações causadas pela crise sanitária, as cerimônias vêm sendo realizadas no “altar da cátedra”, que fica no fundo da Basílica, somente com alguns moradores do Vaticano e poucos auxiliares. Mas o Tríduo do Papa vem sendo transmitido pelos meios de comunicação para o mundo inteiro.

 

ACESSE A ÍNTEGRA DA HOMILIA DO FREI RANIERO CANTALAMESSA

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