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NA LINHA DE FRENTE

Médicos estão em risco com a falta de EPIs no SUS

Por Daniel Gomes
15 de abril de 2020

Sindicato dos Médicos de São Paulo estima que 1,5 mil profissionais já foram afastados na cidade de São Paulo por conta do novo coronavírus

Reprodução da internet

A Associação Médica Brasileira (AMB) divulgou nesta quarta-feira, 15, que recebeu mais de 3 mil denúncias de médicos sobre a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados para se precaver no ambiente de trabalho do novo coronavírus. A principal reclamação, 87% dos casos, é sobre a falta de máscaras N95.

Na lista de EPIs obrigatórios para o enfrentamento de epidemias estão máscaras, diferentes tipos de luvas, avental, gorro, óculos e protetor facial, conforme recomendam o Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS).  Também são considerados insumos essenciais o sabão, sabonete líquido, álcool em gel 70%, papel toalha e lenços descartáveis, pois permitem a adequada desinfecção e higienização dos profissionais médicos e dos ambientes.

De acordo com o Diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo, José Erivalder Guimarães de Oliveira, a falta de EPIs tem sido a principal reclamação dos profissionais nas últimas semanas. “De um total de 160 denúncias que recebemos até 14 de abril, quase 60% são sobre a falta de equipamentos de proteção individual. São vários hospitais, tanto da Prefeitura quanto do Estado. São denúncias sobre falta de máscaras, luvas, aventais e viseiras”, detalhou ao O SÃO PAULO.

ITENS EM FALTA

Oliveira disse que a Prefeitura e o Governo do Estado têm prometido a aquisição de equipamentos nas últimas semanas. “Se não chegarem imediatamente, há a perspectiva de que comece a faltar itens dentro de uma semana em alguns hospitais”, apontou.

Em 30 de março, o Ministério da Saúde informou que distribuiu para o Estado de São Paulo mais de 23 mil frascos de álcool etílico, 12,4 mil óculos de proteção, 3,1 mil máscaras cirúrgicas, além de aventais, toucas e sapatilhas hospitalares.

Também no fim do mês passado, a Prefeitura de São Paulo disse ter comprado 5 milhões de máscaras cirúrgicas e 1 milhão de máscaras N-95.

No último dia 8, a gestão de Bruno Covas anunciou a contratação de costureiras e artesãos para a produção de máscaras e outros dispositivos médicos prioritários diante do aumento do número de casos do novo coronavírus. A expectativa é que sejam produzidas mais de 1 milhão de máscaras para profissionais da saúde e da assistência social, além de 500 mil protetores faciais e 500 mil aventais.

No Estado de São Paulo, máscaras estão sendo produzidas em unidades prisionais, bem como em Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs), por iniciativa voluntária de professores e estudantes.

O Ministério da Saúde tem encontrado dificuldade para importar EPIs de outros países, como a China, dado o aumento da demanda pelos produtos, em especial pelos Estados Unidos, que são os recordistas mundiais no número de casos de COVID-19.

PROFISSIONAIS EXPOSTOS

O Diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo alerta que com a falta de EPIs, os profissionais de saúde estão mais expostos ao contágio com o novo coronavírus: “Já há um grande número de profissionais de saúde afastados com suspeita de COVID-19. Só de profissionais que atuam na rede municipal, mais de 1.500 já foram afastados. A Prefeitura não nos dá esses números oficiais, mas estamos colhendo informações nos hospitais. O que já se tem de oficial é a morte de 11 profissionais, entre médicos e enfermeiros aqui na cidade de São Paulo”.

“Nenhum um médico do SUS tem o equipamento de proteção ideal”, assegura um médico que atua em um dos maiores hospitais da rede estadual de saúde. “É mais um heroísmo dos médicos do que qualquer outra coisa. Tem muito médico que está levando equipamento de proteção da própria casa para o trabalho. Óculos e viseira, por exemplo, isso não tem em todo lugar”, desabafa. “Nos hospitais particulares de grande porte, o equipamento de proteção inclui um capuz, um avental, uma bota, um visor e uma máscara N95. Aqui na rede pública onde eu trabalho não vi isso ainda”, continuou.

CANAIS DE DENÚNCIA

Desde o final do mês passado, médicos que atuam em unidades de saúde (postos, UPAs, prontos-socorros e hospitais, entre outros) que oferecem assistência a casos confirmados e suspeitos de COVID-19 podem informar falhas na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores (públicos e privados) aos Conselhos de Medicina de todo o País.

Para tal, o Conselho Federal de Medicina (CFM) criou uma plataforma online na qual o profissional poderá comunicar a situação que encontrou em seu local de trabalho.

“Estamos diante de uma das maiores ameaças já vivenciadas pelos sistemas de saúde do mundo, com risco real de sequelas e mortes na população. Nesse processo, as equipes médicas são essenciais. Devemos cuidar para que possam ter condições e a proteção para fazer o seu trabalho”, afirmou o 1º secretário do CFM, Hideraldo Cabeça, em entrevista ao site do Conselho.

O Sindicato dos Médicos de São Paulo também disponibiliza um canal para a denúncia em seu site www.simesp.org.br.

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