NACIONAL

Igreja Doméstica

Como celebrar a Semana Santa sem sair de casa?

Por Flavio Rogério Lopes
11 de abril de 2020

Isolamento social para conter o avanço do novo coronavírus não impede que cristãos vivenciem a ‘Semana Maior’ em seus lares

Alessandra Leite (Arquivo pessoal)

A Semana Santa, que mobiliza os católicos em todo o mundo, este ano será celebrada de forma diferente, devido à pandemia do novo coronavírus. Mesmo sem a presença do povo, o significado e o sentido da semana mais importante para os cristãos será o mesmo.

Os fiéis são convidados, em família e em suas casas, a celebrar este momento com muita esperança e em comunhão com sua comunidade, por meio das mídias digitais.

“Será uma Páscoa ‘diferente’ no modo de celebrar, mas não diferente no seu significado: é sempre Jesus, que entrega sua vida na cruz, no seu infinito amor pela humanidade. A vida é mais forte que a morte. A Ressurreição de Cristo nos dá a certeza de que a última palavra não é dos males e da morte, que agora nos atingem, mas de Deus, Senhor da vida, que nos ama com amor infinito”, escreveu o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, em seu artigo na seção “Encontro com o Pastor”, publicado esta semana no O SÃO PAULO.

JESUS NAS CASAS

Na Semana Santa celebra-se o mistério salvífico de Jesus, em que toda a realidade humana adquire sentido pleno. Assim, o período entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa, especialmente o Tríduo Pascal, traz em si a densidade do amor divino revelado a toda a humanidade, ocasião a que todo católico é convidado a vivenciar e aprofundar, com recolhimento e devoção, mesmo neste momento em que não é recomendado que saia de casa.  

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora na Igreja do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ressaltam que: “A casa, enquanto espaço familiar, foi um dos lugares privilegiados para o encontro e o diálogo de Jesus e seus seguidores com diversas pessoas (Mc 1,29; 2,15; 3,20; 5,38; 7,24). Nas casas, Ele curava e perdoava os pecados (Mc 2,1-12), partilhava a mesa com publicanos e pecadores (Mc 2,15ss; 14,3), refletia sobre assuntos importantes, como o jejum (Mc 2,18-22), orientava sobre o comportamento na comunidade (Mc 9,33ss; 10,10) e a importância de se ouvir a Palavra de Deus (Mt 13,17.43).”

“Nossa Igreja não está longe do povo. Ela é esse mesmo povo, reunido em cada casa, onde há pessoas reunidas no nome da Trindade Santa. Onde se vive a fé, a esperança, a caridade e as demais virtudes humanas e cristãs, onde há pessoas reunidas “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, ali se encontra uma pequena comunidade da Igreja. Em decorrência das circunstâncias atuais, redescobrimos algo importante, que andava bastante esquecido: a Igreja nas casas, Igreja-família.”, recordou Dom Odilo.

OS RAMOS NAS CASAS

No Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa, a Igreja celebra dois mistérios distintos e complementares: a entrada solene de Jesus em Jerusalém para celebrar sua última e definitiva Páscoa e, também, a sua Paixão e Morte.

Neste período, os fiéis são convidados a vivenciar a “Igreja Doméstica”. A Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB convoca os cristãos a celebrar a entrada de Jesus em Jerusalém, colocando no portão ou na porta de casa (em um lugar bem visível) alguns ramos no momento da celebração, marcando a casa com esse símbolo característico do povo de Deus na liturgia.

TRÍDUO PASCAL

A Igreja celebra os grandes mistérios da redenção humana, desde a missa vespertina da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, até as vésperas do Domingo da Ressurreição. Esses sagrados ritos celebrados nos três últimos dias da Semana Santa constituem o Tríduo Pascal, uma forma unificada da celebração pascal que torna presente a Paixão, Morte e Ressureição de Jesus.

COMUNHÃO COM O POVO

Na Quinta-feira Santa, a celebração da Última Ceia, Jesus interpreta o sentido de sua vida e de sua morte, instituindo o Santo Sacrifício como seu eterno memorial, vida e ápice da Igreja. Com o gesto humilde de lavar os pés dos seus 12 apóstolos, deixa o exemplo do serviço aos irmãos. Surgem aí dois importantes sacramentos, a Eucaristia e a Ordem, síntese de todos os dons que Deus dirige aos homens, sinal de amor como entrega e como serviço até o fim.

Em carta enviada a toda Arquidiocese de São Paulo, no dia 26 de março, Dom Odilo Scherer comunicou orientações para a vivência da Semana Santa e Páscoa nas paróquias da Arquidiocese.

Na Quinta-feira Santa, o Cardeal Scherer recomenda que o padre se una ao seu povo por meio da adoração e a oração diante da Eucaristia colocada no tabernáculo. “Que este momento de adoração também seja transmitido, com o convite para que o povo da paróquia a acompanhe em suas casas. Esse momento pode ser muito rico e expressar a ‘comunhão’ do povo da paróquia em torno de Jesus e com o padre, ‘vigiando com Ele’, como os apóstolos no Horto das Oliveiras”, escreveu.

A CRUZ QUE SALVA A HUMANIDADE

A Sexta-feira Santa relembra o dia em que Jesus, depois de ter sido preso, julgado e condenado, carrega a própria cruz até o monte Calvário e é crucificado e morto entre dois ladrões. Seu corpo foi, depois, retirado da cruz e colocado em um sepulcro cavado na rocha. Nesse dia, os cristãos são chamados à prática do jejum e da abstinência de carne, em sinal de penitência e respeito pela morte de Nosso Senhor.

Os fiéis também são convidados a participar da celebração da Paixão do Senhor pelas internet ou pela televisão. Nesse dia, o Papa Francisco celebrará na Basílica de São Pedro (vazia), às 13h (horário de Brasília). Recomenda-se que, durante a celebração, as famílias tenham em sua casa um crucifixo em destaque, para que todos da casa possam beijá-lo no momento oportuno.

LUZ QUE ILUMINA AS TREVAS

A celebração da Vigília Pascal é o centro da Semana Santa. Toda a Quaresma e os dias santos são um preparativo para o momento culminante: o da Ressurreição, expressão da esperança na ressurreição final e na segunda vinda do Senhor. É considerada “a mãe de todas as santas vigílias”, pois nela a Igreja mantém-se de vigia à espera da Ressurreição do Senhor.

Durante o Sábado Santo, os fiéis são convidados a realizar uma oração silenciosa, contemplando a descida de Jesus na mansão dos mortos. Ao acompanhar Vigília Pascal pelos meios de comunicação, as pessoas podem ter em sua mão uma vela, e acendê-la no momento da Renovação das Promessas do Batismo, para que seja renovada a fé a esperança em Cristo. A vela acessa representa a luz da vida que deu lugar às trevas da morte.

IGREJA É O POVO DE DEUS

O Domingo de Páscoa é considerado o ápice do ano litúrgico. É o grande dia em que se comemora o triunfo definitivo de Cristo sobre a morte, por meio de sua Ressurreição, que abriu definitivamente as portas do céu a toda a humanidade. Dia maior para ser celebrado em sua casa, com sua comunidade unida na fé pelas redes sociais, como prova de amor inequívoco de Cristo.

“Agora podemos compreender melhor o que é a Igreja: não é somente o templo, onde nos reunimos para rezar pessoalmente e para celebrar com os outros. Nem é somente apenas o bispo, o padre e um punhado de colaboradores próximos deles. A Igreja é formada por todos os que foram batizados, todos os discípulos de Jesus, que compartilham a mesma fé recebida dos apóstolos, estão em comunhão de fé, esperança e caridade, conforme o testemunho e os ensinamentos do próprio Jesus Cristo.”, ressaltou Dom Odilo.

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.