Como celebrar a Semana Santa sem sair de casa?

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11 de abril de 2020

A Semana Santa, que mobiliza os católicos em todo o mundo, este ano será celebrada de forma diferente, devido à pandemia do novo coronavírus. Mesmo sem a presença do povo, o significado e o sentido da semana mais importante para os cristãos será o mesmo.

Os fiéis são convidados, em família e em suas casas, a celebrar este momento com muita esperança e em comunhão com sua comunidade, por meio das mídias digitais.

“Será uma Páscoa ‘diferente’ no modo de celebrar, mas não diferente no seu significado: é sempre Jesus, que entrega sua vida na cruz, no seu infinito amor pela humanidade. A vida é mais forte que a morte. A Ressurreição de Cristo nos dá a certeza de que a última palavra não é dos males e da morte, que agora nos atingem, mas de Deus, Senhor da vida, que nos ama com amor infinito”, escreveu o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, em seu artigo na seção “Encontro com o Pastor”, publicado esta semana no O SÃO PAULO.

JESUS NAS CASAS

Na Semana Santa celebra-se o mistério salvífico de Jesus, em que toda a realidade humana adquire sentido pleno. Assim, o período entre o Domingo de Ramos e o Domingo de Páscoa, especialmente o Tríduo Pascal, traz em si a densidade do amor divino revelado a toda a humanidade, ocasião a que todo católico é convidado a vivenciar e aprofundar, com recolhimento e devoção, mesmo neste momento em que não é recomendado que saia de casa.  

As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora na Igreja do Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ressaltam que: “A casa, enquanto espaço familiar, foi um dos lugares privilegiados para o encontro e o diálogo de Jesus e seus seguidores com diversas pessoas (Mc 1,29; 2,15; 3,20; 5,38; 7,24). Nas casas, Ele curava e perdoava os pecados (Mc 2,1-12), partilhava a mesa com publicanos e pecadores (Mc 2,15ss; 14,3), refletia sobre assuntos importantes, como o jejum (Mc 2,18-22), orientava sobre o comportamento na comunidade (Mc 9,33ss; 10,10) e a importância de se ouvir a Palavra de Deus (Mt 13,17.43).”

“Nossa Igreja não está longe do povo. Ela é esse mesmo povo, reunido em cada casa, onde há pessoas reunidas no nome da Trindade Santa. Onde se vive a fé, a esperança, a caridade e as demais virtudes humanas e cristãs, onde há pessoas reunidas “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, ali se encontra uma pequena comunidade da Igreja. Em decorrência das circunstâncias atuais, redescobrimos algo importante, que andava bastante esquecido: a Igreja nas casas, Igreja-família.”, recordou Dom Odilo.

OS RAMOS NAS CASAS

No Domingo de Ramos, que marca o início da Semana Santa, a Igreja celebra dois mistérios distintos e complementares: a entrada solene de Jesus em Jerusalém para celebrar sua última e definitiva Páscoa e, também, a sua Paixão e Morte.

Neste período, os fiéis são convidados a vivenciar a “Igreja Doméstica”. A Comissão Episcopal para a Liturgia da CNBB convoca os cristãos a celebrar a entrada de Jesus em Jerusalém, colocando no portão ou na porta de casa (em um lugar bem visível) alguns ramos no momento da celebração, marcando a casa com esse símbolo característico do povo de Deus na liturgia.

TRÍDUO PASCAL

A Igreja celebra os grandes mistérios da redenção humana, desde a missa vespertina da Ceia do Senhor, na Quinta-feira Santa, até as vésperas do Domingo da Ressurreição. Esses sagrados ritos celebrados nos três últimos dias da Semana Santa constituem o Tríduo Pascal, uma forma unificada da celebração pascal que torna presente a Paixão, Morte e Ressureição de Jesus.

COMUNHÃO COM O POVO

Na Quinta-feira Santa, a celebração da Última Ceia, Jesus interpreta o sentido de sua vida e de sua morte, instituindo o Santo Sacrifício como seu eterno memorial, vida e ápice da Igreja. Com o gesto humilde de lavar os pés dos seus 12 apóstolos, deixa o exemplo do serviço aos irmãos. Surgem aí dois importantes sacramentos, a Eucaristia e a Ordem, síntese de todos os dons que Deus dirige aos homens, sinal de amor como entrega e como serviço até o fim.

Em carta enviada a toda Arquidiocese de São Paulo, no dia 26 de março, Dom Odilo Scherer comunicou orientações para a vivência da Semana Santa e Páscoa nas paróquias da Arquidiocese.

Na Quinta-feira Santa, o Cardeal Scherer recomenda que o padre se una ao seu povo por meio da adoração e a oração diante da Eucaristia colocada no tabernáculo. “Que este momento de adoração também seja transmitido, com o convite para que o povo da paróquia a acompanhe em suas casas. Esse momento pode ser muito rico e expressar a ‘comunhão’ do povo da paróquia em torno de Jesus e com o padre, ‘vigiando com Ele’, como os apóstolos no Horto das Oliveiras”, escreveu.

A CRUZ QUE SALVA A HUMANIDADE

A Sexta-feira Santa relembra o dia em que Jesus, depois de ter sido preso, julgado e condenado, carrega a própria cruz até o monte Calvário e é crucificado e morto entre dois ladrões. Seu corpo foi, depois, retirado da cruz e colocado em um sepulcro cavado na rocha. Nesse dia, os cristãos são chamados à prática do jejum e da abstinência de carne, em sinal de penitência e respeito pela morte de Nosso Senhor.

Os fiéis também são convidados a participar da celebração da Paixão do Senhor pelas internet ou pela televisão. Nesse dia, o Papa Francisco celebrará na Basílica de São Pedro (vazia), às 13h (horário de Brasília). Recomenda-se que, durante a celebração, as famílias tenham em sua casa um crucifixo em destaque, para que todos da casa possam beijá-lo no momento oportuno.

LUZ QUE ILUMINA AS TREVAS

A celebração da Vigília Pascal é o centro da Semana Santa. Toda a Quaresma e os dias santos são um preparativo para o momento culminante: o da Ressurreição, expressão da esperança na ressurreição final e na segunda vinda do Senhor. É considerada “a mãe de todas as santas vigílias”, pois nela a Igreja mantém-se de vigia à espera da Ressurreição do Senhor.

Durante o Sábado Santo, os fiéis são convidados a realizar uma oração silenciosa, contemplando a descida de Jesus na mansão dos mortos. Ao acompanhar Vigília Pascal pelos meios de comunicação, as pessoas podem ter em sua mão uma vela, e acendê-la no momento da Renovação das Promessas do Batismo, para que seja renovada a fé a esperança em Cristo. A vela acessa representa a luz da vida que deu lugar às trevas da morte.

IGREJA É O POVO DE DEUS

O Domingo de Páscoa é considerado o ápice do ano litúrgico. É o grande dia em que se comemora o triunfo definitivo de Cristo sobre a morte, por meio de sua Ressurreição, que abriu definitivamente as portas do céu a toda a humanidade. Dia maior para ser celebrado em sua casa, com sua comunidade unida na fé pelas redes sociais, como prova de amor inequívoco de Cristo.

“Agora podemos compreender melhor o que é a Igreja: não é somente o templo, onde nos reunimos para rezar pessoalmente e para celebrar com os outros. Nem é somente apenas o bispo, o padre e um punhado de colaboradores próximos deles. A Igreja é formada por todos os que foram batizados, todos os discípulos de Jesus, que compartilham a mesma fé recebida dos apóstolos, estão em comunhão de fé, esperança e caridade, conforme o testemunho e os ensinamentos do próprio Jesus Cristo.”, ressaltou Dom Odilo.

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‘Somos convidados a viver a Paixão de Cristo em nossa própria vida’

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28 de março de 2018

A missa do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, no dia 25, abriu oficialmente a Semana Santa. A celebração recorda a entrada solene de Jesus em Jerusalém antes de sua Paixão, Morte e Ressureição. Na Catedral da Sé, a missa principal do dia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano. O rito de bênção dos ramos aconteceu na Praça da Sé, diante do Marco Zero da cidade. Em seguida, os fiéis seguiram em procissão para o interior da Catedral. Nessa missa foi proclamada a narrativa da Paixão segundo o evangelista São Marcos.

 

ASSOCIAR-SE À PAIXÃO

Na homilia, Dom Odilo destacou que a Igreja celebra a Semana Santa não apenas para recordar que a Paixão de Cristo não deve ser esquecida, mas também para que cada cristão se una ao drama da Paixão de Jesus e dê hoje sua resposta e tome sua atitude diante desses fatos para serem, assim, associados à sua Morte e Ressureição. “Para nós, católicos, a Semana Santa não é uma semana de férias, mas de intensa manifestação da nossa fé, da nossa religiosidade, de renovação da nossa vida cristã, participando com a comunidade”, acrescentou.

O Cardeal Scherer ressaltou que a Paixão de Cristo narrada nos evangelhos foi “algo muito duro”. 

“Jesus foi preso, julgado injustamente com argumentos que não tinham fundamento. Jesus foi condenado à morte por um governante corrupto, fraco, que sabia que Ele era inocente, mas se deixou pressionar por aqueles que queriam sua morte... Um ato de corrupção histórica que ficará lembrado até o fim dos tempos”, afirmou.

 

SUPERAR A VIOLÊNCIA

Ainda segundo o Arcebispo, a Paixão de Cristo teve tudo o que continua acontecendo hoje em dia com muitos irmãos: “acusação iníqua, injúria, desrespeito, injustiça, fatos de corrupção, tortura, condenação à morte, prisão e, finalmente, a morte humilhante na cruz”. 

“Porém, Jesus era inocente e, além disso, era o Filho de Deus feito homem. Por isso, a sua Paixão e os seus sofrimentos não foram em vão”, completou. 

 “A Paixão de Cristo nos pede que, também hoje, nós evitemos toda forma de traição, infidelidade a Deus, de toda forma de corrupção, de maledicência, de acusação injusta, de toda calúnia”, exortou Dom Odilo, afirmando, que assim como acontece nos dias atuais, também naquela época foram criadas “ fake news ” (notícias falsas) para pedirem a morte de Jesus. “Quantas fake news circulam hoje matando os irmãos moralmente, fazendo todo mal”, disse. 

O Arcebispo recordou que também hoje os cristãos são convidados a carregar a cruz junto com Jesus, como fez Simão Cirineu. “Todos nós somos convidados a permanecer firmes com Jesus, apesar das injúrias e desprezo. Somos convidados a viver a Paixão de Cristo em nossa própria vida e a nos renovarmos na sua Ressureição para vivermos com Ele a vida nova”. 

 

GESTO CONCRETO

Recordando o tema da Campanha da Fraternidade 2018, que este ano trata da superação da violência, o Cardeal afirmou que “a Paixão de Jesus nos ensina a não fazermos vítimas de violência a ninguém, de não sermos promotores da violência. Todos nós somos convidados a socorrer as vítimas da violência e a ajudar para que a nossa cultura e a nossa sociedade no seu conjunto superem isso que é uma verdadeira doença, a epidemia da violência que está no meio de nós”.
 

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