Encontro com o Pastor

Alguém entre vós está doente?

Os doentes receberam sempre as maiores atenções de Jesus. As páginas dos Evangelhos relatam frequentes encontros Dele com pessoas acometidas de vários tipos de enfermidade, às quais nunca deixou de dar sua carinhosa atenção. Ao enviar os discípulos em missão, recomendou-lhes que anunciassem a todos o Reino de Deus e cuidassem (“curassem”) dos doentes (cf. Lc 10,9). A cura dos enfermos é sinal de que o Reino de Deus está próximo.
E os apóstolos não deixaram de cumprir a ordem de Jesus, como lemos nos escritos apostólicos. A Carta de São Tiago retrata a Igreja do final do primeiro século cristão, quando vários serviços hoje reconhecidos como “Sacramentos da Igreja” já estavam bastante delineados. Dentre eles, a oração pelos doentes e a unção deles com óleo santo. “Alguém entre vós está enfermo? Mande chamar os anciãos da Igreja, para que orem sobre ele, ungindo-o em nome do Senhor” (Tg 5,14).
São João Paulo II instituiu na Igreja o Dia Mundial dos Enfermos, comemorado todos os anos no dia 11 de fevereiro, festa de Nossa Senhora de Lourdes. A escolha dessa data para o Dia Mundial dos Enfermos tem seus motivos: o Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França, é testemunha de um imenso fluxo dos doentes, que chega à gruta das aparições e da “fonte miraculosa” para pedir a cura de seus males. E muitíssimas curas miraculosas são relatadas.
Neste ano, a comemoração acontece pela 28ª vez, e o Papa, como faz todos os anos, enviou à Igreja uma bela mensagem para a ocasião. A mensagem parte das palavras de Jesus – “vinde a mim, todos vós que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos” (Mt 11,28). Essas palavras exprimem a compaixão de Jesus pela multidão que o seguia, cansada e faminta, “como ovelhas sem pastor”. No meio da multidão, havia muitos doentes e pessoas oprimidas por vários males físicos e mentais. Eram a imagem da humanidade sofredora, em busca da cura e do alívio para seus males. Jesus chama todos a si e promete alívio, tomando sobre si mesmo os fardos de cada um (cf. Mt 11,28-30).
O Filho de Deus e Salvador veio ao mundo para aliviar-nos de todos os males que, de muitas formas, nos oprimem. Ele é o “bom samaritano”, que se inclina sobre a humanidade frágil e ferida e se compadece de nossas misérias. E promete “salvação”, que vem a ser a cura completa de todos os males que nos afligem A salvação será completa somente quando formos também redimidos da morte, para participar da sua ressurreição e da vida eterna. Enquanto estamos nesta vida, acolhemos constantemente os sinais da salvação, que, de muitas formas, alimentam nosso desejo e esperança de salvação plena.
Jesus pede que os discípulos participem da sua solicitude salvadora pela humanidade ferida e doente e nos manda praticar as obras de misericórdia, dentre as quais o cuidado dos enfermos. O Papa Francisco mostra as várias dimensões desse cuidado humano e também divino. Lembra-nos da recomendação de Jesus: “Estive enfermo e vós cuidastes de mim”. Cuidar dos doentes com amor equivale a fazê-lo por Jesus, sabendo disso ou não. E merecerá a recompensa eterna (cf. Mt 25, 
34-36). Descuidar dos doentes e ficar na indiferença diante de seus sofrimentos, equivale a desprezar Jesus que sofre “na carne sofredora do irmão”, como lembra o Papa. E essa indiferença terá como consequência a condenação eterna (cf. Mt 25, 41-43).
Vejo com alegria que a Pastoral da Saúde e dos Enfermos cresce e se desenvolve bem em nossa Arquidiocese. E não poderia ser diferente. Temos uma legião de profissionais da saúde, voluntários e ministros dos enfermos que assiste, com delicada atenção, os doentes em suas casas, nos hospitais e casas de cura. Numerosos sacerdotes e diáconos dedicam o melhor de sua atenção pastoral aos doentes e aos que sofrem. Mesmo assim, ainda temos muito a fazer, pois os sofrimentos e fragilidades que acometem a saúde do corpo, da mente e da alma das pessoas não tendem a diminuir. Somos feitos assim e, por mais que encontremos solução científica para a cura de muitos males, restarão ainda muitos outros, que surgirão a cada dia, como o coronavírus.
Restará, sobretudo, o mal maior do homem, que é a experiência da precariedade e fragilidade de sua existência neste mundo, sentindo-se necessitado de salvação. A Igreja tem o anúncio dessa “cura definitiva” e a testemunha por meio das muitas formas de cuidado amoroso de todo tipo de enfermos. Cuidar bem dos doentes é sinal de que somos de Cristo. O contrário disso também é válido, infelizmente.

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 13/02/2020

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