Editorial

Falta de solidariedade e degradação ambiental

Nesta edição, O SÃO PAULO apresenta um dos problemas ambientais mais sérios e menos comentados da cidade: a ocupação clandestina das florestas, protegidas por lei, que cercam nossos mananciais hídricos.
É um problema antigo, que afeta áreas tombadas próximas a áreas urbanas em todo o Brasil. A fiscalização e a ação policial são insuficientes para coibir a ocupação dessas áreas logo em seu início. Depois que as pessoas já se instalaram, a desocupação gera um novo problema social – que agrava ainda mais a questão de falta de moradia digna para a população de baixa renda.
No passado, boa parte dessas ocupações era orquestrada por movimentos sociais, ou acontecia espontaneamente, realizada por pessoas sem teto que viam na mata sem cercas ou ocupação uma possibilidade de habitação, sem se darem conta dos problemas envolvidos. Atualmente, porém, essas ocupações se devem cada vez mais à atuação de grupos criminosos.
É um problema que parece crescer cada vez mais, senão em extensão, pelo menos em gravidade das situações.
No passado, o problema foi muitas vezes entendido como uma questão de choque de direitos: a população como um todo tem direito a possuir água de qualidade e preservar seus mananciais, mas os pobres também têm direito a possuir uma habitação e, portanto, a se estabelecerem nas terras “públicas” sem ocupação. O impasse entre esses dois direitos, que se torna um conflito doloroso na hora das desocupações, norteou boa parte do debate social sobre o tema.
Toda vez que nos deparamos com um aparente conflito de direitos, o que temos, na verdade, é falta de um olhar realista ao bem comum e de solidariedade. O realismo nos mostra que o bem comum só pode ser construído se estamos atentos aos problemas de todos e de cada um, superando tanto um universalismo genérico quanto um individualismo autocentrado. A solidariedade nos dá a criatividade necessária para minimizar os sacrifícios dos mais fragilizados sem negar os direitos dos demais.
A falta, ou insuficiência, do diálogo solidário sobre a ocupação clandestina das áreas de manancial tem levado a seu agravamento na atualidade.
A fiscalização e a ação policial são necessárias para enfrentar o problema, contudo, num país em que não se consegue garantir a segurança dos cidadãos na periferia das grandes cidades, esperar que ele se resolva apenas com esse tipo de atuação do Estado é uma ilusão que só piora a situação e se presta a jogos eleitoreiros.
A solução passa também por campanhas de educação e esclarecimento, que alertem as populações pobres para o perigo da compra desses lotes irregulares, e programas sociais de moradia sérios e eficientes para esses segmentos sociais.
Nessa perspectiva, nossas comunidades cristãs têm muito a contribuir. Sua capilaridade se estende por onde o Poder Público não consegue chegar de forma adequada, suas experiências solidárias são uma fonte de inspiração para as políticas públicas e apoio concreto àqueles que se encontram em situação mais vulnerável na sociedade.

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