Editorial

Como expulsar os demônios do terrorismo?

Quando os discípulos perguntaram porque não conseguiram expulsar um demônio de um menino, Jesus respondeu que certos demônios só podiam ser expulsos com jejum e oração (cf. Mc 9,17-29). Diante do terrorismo internacional, vale a pena retomar essa passagem do Evangelho em nosso coração.

Os recentes ataques no Sri Lanka chocaram a opinião pública pelo número de vítimas fatais, 253, pelo País, que tem uma das mais prósperas sociedades da região, aparentemente menos afetada pelos conflitos religiosos regionais e pelo perfil dos perpetradores, pertencentes a famílias de empresários e da classe média local.

De fato, até aqui, em 2019, já aconteceram sete ataques terroristas com mais de 50 mortos (ocorridos no Afeganistão, na Nigéria, no Máli, em Burkina Faso, na Nova Zelândia e no Sri Lanka). Só no mês de abril, foram 97 ataques ao redor do mundo, ainda que a maioria com poucas ou nenhuma vítima. Em pelo menos um desses atentados, na Nova Zelândia, o perpetrador era um supremacista branco e as vítimas eram muçulmanas.

No ano passado, contudo, algumas lideranças mundiais haviam comemorado as vitórias militares que praticamente aniquilaram o Estado Islâmico, tanto do Iraque quanto da Síria, sede territorial do grupo, como fim à atual ameaça terrorista.

Pelo contrário, as ações terroristas tendem a se alastrar pelo mundo, com ações coordenadas por pequenos focos militantes. Nessas condições, um caminhão desgovernado, um homem-bomba ou um atirador num local público são suficientes para criar grandes tragédias – difíceis de serem previstas ou evitadas.

Antes do Estado Islâmico e do Boko Haram, menos conhecido entre nós por agir principalmente na África, vieram a Al-Qaeda e o Talibã. São todas organizações terroristas nascidas dos fracassos de projetos coloniais e de ações militares capitaneadas por grandes potências militares.

Já nos tempos de São João Paulo II, a Igreja alertava sobre o perigo de ações militares no Oriente. Ele foi enfático em suas condenações à guerra num discurso feito a Ronald Reagan, num hoje longínquo 7 de junho de 1982, ou no Ângelus de 16 de março de 2003, durante a Guerra do Iraque.

Não se trata de um pacifismo ingênuo. A força pode ser necessária para proteger-nos da violência. Será impotente, contudo, para construir a paz. E, sem a construção da paz, a violência impedida num lugar acaba se deslocando para outro, muda de forma e se multiplica. Os que confiam na força acabam se tornando perpetradores de violências semelhantes às que queriam impedir.

Muito se falava, em certos contextos, da “ocidentalização” cultural dos países islâmicos como caminho para a paz. Pensava-se no valor da democracia e das liberdades individuais. Não se percebia, porém, que nossa sociedade – permeada pelo individualismo, carregada de injustiças – talvez não seja um modelo tão ideal assim.

Esses demônios não podem ser expulsos com a força, pois se associam a ela e ao poder. Devem ser exorcizados com muito jejum e oração, isto é, com a conversão dos corações, com a construção de uma sociedade cada vez mais capaz de educar as novas gerações para a paz.

Diante da gravidade da situação, é necessário recordar, com contrição e esperança, as palavras de São João Paulo II no Ângelus citado: “A paz autêntica e duradoura [...] é dom de Deus para quantos se Lhe submetem e aceitam com humildade e gratidão a luz do seu Amor”.

 

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