Editorial

Brumadinho: a indignação com o presente e o cuidado com o futuro

A tragédia ocasionada pelo rompimento da barragem em Brumadinho espalhou consternação, luto e indignação pelo País. Não é para menos... O número de mortos e desaparecidos é muito alto, e o acidente acontece apenas três anos depois de outro muito similar, em Mariana, na bacia do Rio Doce, numa barragem operada pelo mesmo grupo empresarial e localizada no mesmo estado brasileiro. Difícil não pensar em descaso e omissão!

Nos momentos de luto intenso, para os que não estão diretamente envolvidos em ações concretas de apoio às vítimas, é difícil prestar outra solidariedade que não a da oração. Mas, nós que fizemos o encontro com Cristo, sabemos o quanto essa forma de solidariedade pode ser fundamental. Portanto, rezemos – no silêncio de nossos corações e publicamente em nossas comunidades – por todos os que sofrem com essa tragédia e pelas almas dos que já estão a caminho do Pai.

Mas o que fazer para que esses desastres não voltem a acontecer?

Sob o impacto dos acontecimentos, autoridades governamentais e empresários responsáveis pela barragem prometem tomar providências para mitigar os danos do acidente e evitar que outros similares aconteçam. Para a opinião pública, essas intenções não deixam de suscitar uma irônica amargura: se tudo isso pode ser feito agora, por que não foi feito antes, para evitar que a tragédia acontecesse?

Desastres ambientais dificilmente são devidos a um único acontecimento ou a um único erro. Quase sempre são o resultado de uma longa cadeia de eventos, em que fenômenos naturais se combinam com desconhecimento, imprudência, omissão e negligência humanas. Mas, para aplacar a indignação popular, rapidamente se elegem alguns “bodes expiatórios” destinados a arcar com quase toda a responsabilidade. Geralmente, esses “bodes expiatórios” têm real responsabilidade e devam arcar com ela. O problema ocorre quando a culpabilização dessas pessoas fecha nossos olhos para os demais responsáveis, que, por desconhecimento, indolência ou ganância, permitiram que a tragédia acontecesse e que tomaram atitudes que devem ser mudadas para evitar que outras catástrofes semelhantes aconteçam.

É o demônio que provoca a raiva impetuosa e momentânea. Deus nos chama para o amor fiel, que se materializa em cuidado ao longo do tempo. Vimos muitos discursos indignados e promessas bem-intencionadas depois da catástrofe ambiental de Mariana. As práticas que se seguiram, contudo, não foram suficientes para superar os problemas – e até seguiram em sentido oposto, com propostas de abrandamento da legislação ambiental, investimentos insuficientes em segurança e manutenção, conivência com os erros passados e presentes.

Agora, o desafio é não esquecer as lições e a dor de Brumadinho, como – na prática – muitos parecem ter esquecido de Mariana. Evidentemente, os primeiros a lembrar e a aprender com os acontecimentos devem ser os responsáveis diretos ou indiretos pelas atividades de mineração. Mas, quando estão em pauta propostas de flexibilização e atenuação da lei ambiental, lembrar dessas lições se torna um imperativo moral para todos nós.

 

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