Liturgia e Vida

O ‘milagre’ da generosidade

As Escrituras revelam um especial amor de Deus pelas viúvas. O Senhor é “quem ampara a viúva e o órfão” (Sl 146,9), é “Pai dos órfãos e protetor das viúvas” (Sl 68,6). Ele ordenou: “Não fareis mal a nenhuma viúva ou órfão. Se os afligirdes e gritarem a Mim, Eu escutarei o seu grito!” (Ex 22,22s). E São Tiago diz que “culto puro e sem mancha diante de Deus Pai é cuidar dos órfãos e das viúvas em suas aflições” (Tg 1,27).

Neste domingo, Jesus alerta - “Cuidado com eles!” - sobre certos “doutores da Lei” que deveriam saber disso. No entanto, embora fossem reconhecidos por todos e aparentassem religiosidade, “devoravam a casa das viúvas”. Isto é, cobiçavam os bens daquelas as quais deveriam assistir. A sua familiaridade com as Escrituras era inútil: sabendo qual a vontade de Deus, praticavam justamente o oposto! Por isso, o Senhor disse com dureza: “estes receberão uma pior condenação” (Mc 12,38-40).

Em seguida, São Marcos descreve a situação inversa. Uma “pobre viúva”, possuindo apenas “duas moedinhas”, lança tudo no cofre do Templo. Ofertante e oferta passaram despercebidas: a viúva era apenas uma na multidão; e a oferta ínfima perto das “grandes quantias” depositadas. Porém, Jesus prestou muita atenção a ambas. Quem merecia ser assistida, assistiu os outros. Talvez seu conhecimento sobre a Lei de Moisés fosse reduzido, contudo praticava com simplicidade “a plenitude da Lei” (Rm 13,10): o amor a Deus e ao próximo.

Por isso, o Senhor disse com admiração: “ela deu mais do que todos os outros” (Mc 12,41-44). E também por isso, 2 mil anos depois, recordamo-nos desse pequeno “milagre”, em que o “pouco” virou “muito”. Afinal, ela compreendeu que o amor começa quando se vai para além da estrita “justiça”. Merecendo ser auxiliada, faria bem em exigi-lo. Porém, praticou algo maior – heroico –, ao pensar que talvez outros precisassem mais daquelas moedinhas.

A mulher – tremenda! – quis doar tudo. Assemelhou-se a Cristo, que na Cruz se despojaria de tudo: das vestes, da honra, da vida e até de Sua Mãe - confiada a São João. E como ela, há muitas pessoas que, por amor, diariamente se esquecem de si mesmas pelos outros. Descobrir esse heroísmo escondido pode ser um bom antídoto ao pessimismo, quando o mal que há no mundo parecer excessivo. Perceber esse bem discreto é perceber a ação silenciosa de Cristo na vida do próximo.

Deus não olha tanto para o tamanho de nossas obras, mas para o amor e a generosidade que empenhamos ao praticá-las. Em vez de compararmos nossa vida espiritual, trabalhos, esmolas e boas obras aos dos outros, deveríamos nos perguntar: estou fazendo tudo o que posso por Deus e pelos demais? Sei ir para além da “estrita obrigação”? Sou generoso?

Seremos mais alegres e livres quando descobrirmos esse caminho das coisas pequenas feitas com grande amor. Assim, com a simplicidade de filhos pequenos, daremos a Deus o pouco que somos e possuímos e não poderemos sequer nos vangloriar de coisa alguma!

 

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