Espiritualidade

Evangelho: O limpador de para-brisa

Era começo da noite e chovia. Na estrada molhada, o carro avançava com cuidado, jogando por todos os lados a água das poças. No seu interior, o motorista e um amigo conversavam animadamente sobre as coisas da vida, ainda que atentos às coisas da estrada.

Em determinado momento, o acompanhante comentou algo sobre a grande dificuldade que as pessoas hoje têm para identificar os valores que realmente importam, em meio a tantas mensagens tendenciosas que lhes são trazidas pelo mundo.

Esse comentário propiciou um outro, do motorista. Sem tirar seus olhos da estrada à sua frente, ele apontou para o para-brisa molhado e disse: “Tente imaginar que não tivéssemos o limpador de para-brisa, ou que ele não estivesse funcionando. Como poderíamos andar em frente? A chuva no vidro nos impediria de ver a estrada: e os faróis dos outros carros, refletindo nas gotas, iriam nos ofuscar de tal maneira que seria impossível continuar viajando. Sem enxergar ao nosso redor, estaríamos sujeitos a cair num precipício”

Fez uma pequena pausa e retomou seu raciocínio: “De certa forma, é isso o que nos acontece na vida atual. A violenta chuva de falsidades, o ofuscamento das luzes da tecnologia e os relâmpagos das afirmações passageiras podem nos impedir de perceber o caminho e nos levar ao desastre. Pois me parece que, também neste caso, necessita-se do limpador depara-brisa. Cada um de nós precisa mantê-lo ligado. Chova quanto chover, ele permanecerá na sua ação regular, indo e vindo, sempre limpando o nosso campo de visão. Esse incansável limpador dos para-brisas de nossas vidas é a verdade permanente, aquela que não cede ao ímpeto de tempestades que vêm e vão. É a palavra de Deus, que continuamente esclarece nosso caminho” (Bozzetti). E sua mão apontou para um nicho no painel do carro, onde estava uma Bíblia.

Jesus é o Verbo, a Palavra de Deus. Interessante observar que Jesus pessoalmente não escreveu nenhum livro; no entanto, toda a sua vida é um livro aberto. Ele é Deus que fala com palavras humanas. Por isso, na leitura da Bíblia, mais especificamente nos Evangelhos, encontramos a Palavra viva de Deus para nós.

Vejamos o conselho de um sacerdote santo: “Quando amamos uma pessoa, desejamos conhecer até os menores detalhes da sua existência, do seu caráter, para assim nos identificarmos a ela. É por isso que temos que meditar na história de Cristo, desde o seu nascimento num presépio até à sua morte e sua ressurreição. Nos meus primeiros anos de atividade pastoral, costumava oferecer exemplares do Evangelho ou livros em que se narrasse a vida de Jesus. Porque é preciso que a conheçamos bem, que a tenhamos toda inteira na cabeça e no coração, de modo que, em qualquer momento, sem necessidade de livro algum, fechando os olhos, possamos contemplá-la como num filme; de forma que, nas mais diversas situações da nossa existência, acudam à nossa memória as palavras e os atos do Senhor

Assim nos sentiremos integrados à sua vida. Porque não se trata apenas de pensar em Jesus, de imaginar as cenas que lemos. Temos que intervir plenamente nelas, ser protagonistas. Seguir Cristo tão de perto quanto Santa Maria, sua Mãe; quanto os primeiros Doze, as santas mulheres e aquelas multidões que se comprimiam ao seu redor. Se agirmos assim, se não criarmos obstáculos, as palavras de Cristo penetrarão até o fundo da alma e transformar-nos-ão. “Porque a Palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante que a espada de dois gumes, e introduz-se até as dobras da alma e do espírito, até as articulações e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4,12)” (São Josemaría Escrivá).

Essa é uma experiência maravilhosa, a que somos convidados neste mês da Bíblia: encontrar nas palavras da Sagrada Escritura as respostas de Deus para as nossas necessidades ou a manifestação da Sua vontade em relação à nossa vida.

Devemos fazer uma leitura meditada da Palavra de Deus. Para isso, não basta uma leitura esporádica: para um conhecimento profundo, coerente, sistemático, é recomendável ler em ordem, seguindo os passos de Jesus, tal como são narrados pelos evangelistas. Quem já fez a experiência de reservar uns minutos todos os dias para ler uma passagem do Evangelho percebe que vai conhecendo cada vez melhor Jesus, seus sentimentos, sua sabedora e suas virtudes.

 

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