Liturgia e Vida

‘… E pediram que Jesus lhe impusesse a mão’ (Mc 7,32)

Jesus poderia curar-nos ou abençoar-nos por meio de um simples pensamento ou ato de vontade. Sendo Deus, Ele não precisa sequer de um gesto ou palavra para vir em nosso auxílio. Porém, nos Evangelhos, muitas de Suas ações sobrenaturais Ele realizou com a cooperação de gestos físicos; e ensinou os Apóstolos a fazer o mesmo: “imporão as mãos aos enfermos e eles ficarão curados” (Mc 16,18).

Tanto é que “apresentavam a Jesus crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse por elas” (cf. Mt 19,13). E São João conta que, antes de ressuscitar Lázaro, Ele usou de solenidade: “levantou os olhos ao Pai” e orou “Pai, rendo-Te graças porque me ouviste…” (Jo 11,41). Nessa ocasião, Jesus ensinou o porquê de Seus gestos e orações antes dos milagres e bênçãos: “Falo assim por causa do povo ao redor, para que creiam…” (cf. Jo 11,42).

Verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Ele bem sabe que nós - seres humanos compostos de corpo e alma - temos a necessidade de coisas palpáveis que manifestem realidades espirituais. Por essa razão, Ele instituiu os sete sacramentos da Igreja como sinais sensíveis que significam e realizam a ação e a presença do Senhor. A água manifesta e realiza o derramamento da graça santificante no Batismo; a imposição das mãos e o óleo portam consigo a ação eficaz do Espírito Santo na Crisma; o Pão e o Vinho consagrados são a presença do próprio Jesus na Eucaristia; e assim por diante…

As palavras e gestos do Senhor possuem tamanha força que, mesmo suplicando “que não contassem nada a ninguém” (Mc 7,36), os Seus discípulos transmitiam tudo, inclusive com riqueza de detalhes. Afinal, diriam: “Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos” (At 4,20).

No Evangelho deste domingo, antes de curar um surdo-mudo, Jesus fez verdadeiro “ritual”: “Afastou-se com o homem, para fora da multidão; colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!” (cf. Mc 7,33ss). Até hoje, no rito do Batismo, são usadas essas palavras do Senhor, que soaram aos Apóstolos como que “sacramentais”: “Abre-te!”.

Por isso, na liturgia, o cuidado com cada sinal pode ser um grande auxílio para penetrarmos o mistério ali presente. Os gestos: ficar em pé, ajoelhar-se, unir as palmas das mãos… A limpeza e beleza de altares, toalhas, metais, paramentos… As orações comuns e o silêncio… Tudo nos leva a aprofundar-nos na realidade sobrenatural ali presente.

Também na oração pessoal, os gestos externos não são a coisa mais importante, mas facilitam o encontro profundo com Deus. A postura ereta; os olhos fixos no Sacrário ou em uma imagem; a respiração; a roupa adequada; o modo de caminhar no lugar sacro; as pernas descruzadas… Tudo ajuda a colocar-nos com reverência e confiança de filhos na presença de Deus, que nos vê, que nos ouve, e a Quem adoramos profundamente.

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