Comportamento

Não se constrói uma nação sem educação

A constatação de que os “alunos repetem de ano mais de uma vez na maioria dos municípios do País” ( O Estado de S. Paulo p. A17 de 1/4/2018) acusa um aspecto alarmante quanto ao comportamento de uma nação. A esse fato soma-se a realidade dos brasileiros considerados “analfabetos funcionais”, ou seja, pessoas que sabem ler mas não conseguem compreender o que leram. Esses resultados, mais do que representarem aspectos da escolaridade, indicam a condição de desenvolvimento sociocultural do País e, consequentemente, do progresso de um povo. 

Comparando os estudantes de escolas públicas e privadas, as diferenças são marcantes. Enquanto nas escolas públicas a “aprovação automática” (reformulada mais recentemente) fez com que alunos prosseguissem sem que maior atenção fosse dada às suas dificuldades, nas escolas particulares, alunos com dificuldades de diferentes naturezas são assistidos para que possam dar sequência no acompanhamento escolar. É evidente que isso significa custo às famílias. O que já identifica uma desigualdade socioeconômica significativa. Parece que, muitas vezes, as escolas públicas acabam funcionando como uma “creche de crianças crescidas”, onde, mediante a necessidade dos pais trabalharem fora, pelo menos se sentem seguros em saber que os filhos estão na escola. Aprender seria um lucro, o que se torna lamentável, pois deveriam existir condições adequadas para se cumprir o dever da escola em ensinar e do aluno em aprender.

A leitura dos gráficos revela que nas escolas privadas alunos atrasados têm um crescimento mínimo ao longo dos anos escolares. Nas públicas, em 0,6% dos municípios as escolas no 1º ano fundamental tem um em cada quatro alunos atrasados, enquanto que no primeiro ano do curso médio este índice (um em cada quatro) cresce para 73,5% dos municípios! Evidentemente, isto leva ao desânimo de muitos alunos, que, já crescidos, deixam os estudos em busca de emprego precoce, quer para a própria sobrevivência, quer para colaborar no orçamento familiar. O dinheiro na mão de crianças e adolescentes facilita o envolvimento para comportamentos inadequados. Perde-se o caminho da escola, que pode ser em definitivo, dificultando uma melhora da condição social posteriormente, com todas as consequências dessa atitude precipitada. Quando verificada a colocação do Brasil em termos de escolaridade no mundo, nada temos para nos orgulhar. Em 2015, entre 76 países avaliados, ocupávamos o 60º lugar! 

Pitágoras, no século VI a.C., já afirma va: “educar as crianças para não punir os homens”. De fato, constatamos uma nação que, enquanto caem os seus índices de escolaridade, torna-se cada vez mais violenta, a ponto de não conseguir suprir, em tempo, o número de presídios necessários. Da mesma forma, constatamos que o preço de manter um preso pode variar de três a dez vezes o custo para cuidar de um aluno na escola! Uma nação que gasta per capita mais para manter a população carcerária do que com os estudantes e com as necessidades de saúde da população, não pode estar no caminho certo. Não se pode deixar de mencionar que boa parte dos presídios mantém presos “desocupados”, promovendo a ocupação para os vícios. 

Pode parecer utópico a muitos, mas ensinar os presidiários e fazê-los participantes da sociedade com trabalho digno é o caminho adequado. Imaginar uma sociedade em que o preso trabalhe numa gráfica ou oficina para que o seu filho estude numa escola pública; que plante para a merenda escolar das crianças ou faça o pão que vai à mesa de todos, não é uma utopia, mas uma proposta concreta e dignificante. Aproveitar a reclusão para atividades educacionais e culturais é uma maneira de olharmos o encarcerado como uma pessoa com dignidade. Vale a pena refletir nas palavras aconselhadas pelo Apóstolo São Paulo aos de Tessalônica:

“Aliás, quando estávamos convosco, nós vos dizíamos formalmente: quem não quiser trabalhar, não tem o direito de comer. (...) A esses indivíduos ordenamos e exortamos que se dediquem tranquilamente ao trabalho para merecerem ganhar o que comer. Vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem. Se alguém não obedecer ao que ordenamos por esta carta, notai-o e, para que ele se envergonhe, deixai de ter familiaridade com ele. Porém, não deveis considerá-lo como inimigo, mas repreendê-lo como irmão” (2 Ts 3, 10-15).

 

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