Comportamento

Família: caminho de esperança contra a violência

A morte de Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro, deixa mais uma vez o País estarrecido com o crescimento da violência, de modo particular naquela que ainda é denominada a “cidade maravilhosa”. Uma pessoa que representava milhares de seus eleitores e outra que estava apenas trabalhando para sustentar sua família se somaram ao número de mortes no Brasil, que ultrapassa o de países em guerra declarada. 

Marielle e Anderson se somam a esse contingente enorme de vítimas, que faz chorar pais, irmãos, amigos e parentes todos os dias em lares brasileiros pela perda violenta de alguém próximo. Naturalmente, pela representatividade política de Marielle, e como ativista de movimentos sociais, a sua morte promove diante desse cenário uma pausa para uma reflexão maior. Independentemente do que motivou o assassinato da vereadora, o crime pode nos levar a refletir mais profundamente sobre as causas da violência em nosso País e sobre possíveis soluções para o problema.

Não poderemos aqui tentar expor de modo simplista uma solução para um problema de complexidade enorme, que alcança desde as esferas das desigualdades sociais, políticas de educação e saúde, assim como medidas efetivas de segurança pública. Todos estes são temas que encerram dificuldades que se arrastam por séculos nesta nação. Esse problema tão crônico, e já endêmico em muitas cidades brasileiras, leva a concluir que a solução não se fará em um final de semana, infelizmente. Contudo, sem desmerecer as medidas de programas em dimensão nacional que devem ser realizados de modo responsável, com justiça e honestidade, é necessário que se volte a atenção para um universo ao alcance dos olhos de cada um, e que poderá, ao menos, colaborar para uma solução mais sólida, ainda que demorada. Falamos do universo familiar. 

O tema da Campanha da Fraternidade deste ano aborda a superação da violência, tendo como lema “Em Cristo somos todos irmãos” (Mt 23,8). Não se pode ler essas palavras como uma poesia, mas sim como uma proposta a ser perseguida nos seus objetivos mais sinceros. A frase “somos todos irmãos”, mais do que uma citação evangélica para homilia das missas aos domingos, contém palavras que encerram um caminho, que exige, em primeira instância, não ser visto como utopia.  Sermos irmãos significa estarmos todos numa ampla família, mas que não pode substituir a vida individualizada de cada família. Marielle e Anderson podem ser considerados filhos do Brasil, irmãos de todos os brasileiros, é verdade; mas certamente eram filhos, irmãos e pais numa família constituída, a exemplo de tantos outros milhões de lares.

Assistimos a manifestações, entre revolta e solidariedade, em muitas cidades do Brasil, com repercussões em âmbito internacional. O povo, com justa indignação, saiu às ruas para protestar. Certamente, as manifestações populares se prolongarão pelo tempo e são necessárias. No entanto, é fundamental que este grito de dor nas ruas seja levado para o interior de cada família, na preocupação da educação de cada filho que nasce neste País. É exatamente da educação dos filhos, de cada um, que crescerão homens e mulheres honrados que se dirigem às mais diferentes atividades honestas de uma sociedade que saiba conviver harmoniosamente na sua diversidade. São desses filhos que surgirão trabalhadores, empreendedores, chefes de família, policiais e políticos... Somente mediante uma educação familiar adequada, formaremos pessoas com sentido de cidadania. 

Não resta dúvida que, para tanto, medidas governamentais que possam favorecer a dignidade da convivência social são fundamentais. Mas não nos enganemos: o fruto bom só nasce da boa árvore, e esta procede da semente bem cuidada. E a semente está na família. Nada é fácil. O esforço é grande. O sacrifício parece não ter limites. Porém, “quando se tem um porquê se encontrará um como”, dizia o filósofo Friedrich Nietzsche. Temos um porquê: evitar mais casos como o cruel assassinato de vítimas como Marielle Franco e de Anderson Pedro. E o como? Está na luta por conseguirmos paz em cada um dos lares. Não considere as medidas que favoreçam uma boa educação familiar como utopia, mas como um caminho de esperança. 

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