Liturgia e Vida

‘Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos’

A prática de boas obras dá-nos satisfação. Sentimo-nos bem e fortalecidos quando gastamos o nosso tempo, energia ou dinheiro para servir alguém, ajudar os pobres, enfermos, órfãos… Ser generoso faz-nos esquecer de nós mesmos; e esta é uma receita certa de felicidade.

Porém, a perseverança nos bons propósitos - mesmo se feitos por amor a Deus e ao próximo - é ameaçada por um erro comum: dar muita importância a nós mesmos. Às vezes, começamos boas iniciativas para com o próximo, na religião ou na família, mas não perseveramos em longo prazo. Quando surgem dificuldades, atritos, cansaço ou injustiças, desistimos.

Justamente para que nos esquecêssemos de nós mesmos, o Senhor deu como mandamento: “Ama o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Afinal, temos de reconhecer que, aos olhos de Deus, os outros possuem a mesma dignidade e valor que nós! Foram criados por Ele; estavam no Coração de Cristo enquanto Ele Se entregava na Cruz; também podem dizer como nós “Ele me amou e por mim se entregou” (Gl 2,20). Essa consciência nos permite perseverar quando nos sentimos incompreendidos ou pouco amados pelas pessoas às quais queremos fazer o bem.

Além disso, um cristão vê Cristo no seu próximo, conseguindo, assim, colocá-lo “antes” de si mesmo! Por esta razão, o Apóstolo nos dá um conselho: “com humildade, cada qual considere os outros superiores a si mesmo” (Fl 2,3). Essa é a atitude que permite superar as adversidades, relevar os defeitos alheios e vencer a tentação do tédio, do cansaço e da rotina na relação com os demais.

Mais preocupado com os outros do que consigo, um jovem pode escolher o celibato, deixando de lado uma carreira profissional promissora; um casal pode manter firme a resolução de ter uma família numerosa; uma religiosa pode conservar a alegria, mesmo em meio ao excesso de trabalho e a perseguições; um filho pode cuidar, até o fim, de seus pais idosos, ainda que se sinta sozinho e sem forças. Esse olhar que vê Cristo no outro e, assim, dá-lhe o “primeiro lugar” foi o que levou Madre Teresa a se gastar entre moribundos e miseráveis; e São Damião de Veuster a morrer entre os leprosos de Molokai.

Em certos momentos, não sentiremos “satisfação” por fazer o bem. Talvez, a fé não parecerá um motivo suficiente para seguir adiante e a caridade poderá esmorecer. Nessas horas, a única saída será apegar-nos com força às palavras de Jesus: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos” (Mc 9,35).

Esse é o verdadeiro brilho da vida: amar, trabalhando por Deus e pelos demais. Esse é o nosso único sucesso; é o nosso maior talento, que faz tudo valer a pena. E, paradoxalmente, somente pensando nos outros, cuidaremos de nós mesmo; ocuparemos o “primeiro lugar” no dia do Juízo. Quem sabe, aprenderemos ainda a rezar como São Josemaría: “Jesus, que eu seja o último em tudo... e o primeiro no Amor”!

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