Espiritualidade

O pacote de biscoito

Certo dia, uma moça estava à espera de seu voo na sala de embarque do aeroporto. Como deveria aguardar por algumas horas, resolveu comprar um livro e um pacote de biscoitos. Achou, depois, uma poltrona num lugar sossegado na sala de espera do aeroporto e ocupou seu tempo em escrever em seu notebook, responder mensagens pelo celular, acessar alguns vídeos, postar fotos e ler algumas páginas do livro. Dessa maneira, esteve o tempo todo remexendo a sua bolsa: notebook, celular, livro, pacote de biscoitos etc.

Ao se aproximar a hora do embarque, ao seu lado sentou-se um homem, de boa aparência, que lhe pareceu ser um estrangeiro. Quando sentiu fome, ela pegou o primeiro biscoito e, com grande surpresa, reparou que o homem a seu lado fez o mesmo.

Ela se sentiu primeiro perplexa e, depois, indignada, mas não disse nada, embora a cena se repetisse toda vez em que ela pegava o seu biscoito. 

Pensou, indignada: “Mas que cara de pau! Só por ser estrangeiro, pensa que pode fazer o que quiser! Se não fosse estrangeiro, eu lhe daria uma lição de moral para que nunca mais esquecesse!”

Acalmou-se, deixou passar o tempo e, por fim, quando restava apenas um biscoito, ela pensou: “o que será que esse abusado vai fazer agora?” 

Então, o homem dividiu o biscoito ao meio, deixando a outra metade para ela. Aquilo a deixou mais irada e bufando de raiva até não poder mais. Nesse momento, ouviu o chamado para o embarque no seu voo. Fechou, então, seu livro, guardou suas coisas e se dirigiu à entrada do portão de embarque. 

Minutos depois, quando já ocupava sua poltrona no avião, abriu novamente a bolsa e levou um susto tal que, por pouco, quase desmaiou. 

Para a sua surpresa, encontrou ainda intacto o seu pacote de biscoitos. Sentiu-se muito envergonhada, percebendo que cometera dois grandes erros: censurar e condenar outra pessoa por um erro que, na realidade, era ela que estava cometendo; e, por outro lado, não saber ter a generosidade que aquela pessoa que ela condenava tivera com ela. O pior é que não havia mais tempo para pedir-lhe desculpas.

Quantas vezes em nossa vida nos acontece o mesmo: nós estamos comendo os biscoitos dos outros e não temos a consciência de que quem está errado somos nós? 

Estamos próximos da Paixão e devemos tomar consciência de que Jesus carregou os nossos pecados com a sua Cruz, no caminho do Calvário. 

Precisamente neste período da Quaresma, a Igreja nos convida à conversão do coração, ao arrependimento sincero dos nossos erros e pecados. Para isso, sempre nos ajuda fazer um exame completo das nossas atitudes que nos permita enxergar não os erros e defeitos dos outros, mas os nossos.

Reconhecer que, muitas vezes, nós somos injustos nos comentários, nos juízos sobre o comportamento dos outros. Verificar as situações em que magoamos as outras pessoas com as nossas palavras, as nossas atitudes, a nossa falta de atenção. Também deveríamos ponderar se estamos nos esforçando para conviver bem com todas as pessoas da nossa casa, do nosso ambiente de trabalho: superar as diferenças de mentalidade, de ritmo de vida etc. 

Sabemos que um bom roteiro para fazer o exame de consciência é seguir a lista dos Mandamentos da Lei de Deus, como nos recordou a Liturgia do Terceiro Domingo da Quaresma. 

Nas próximas semanas, em preparação para a Páscoa, haverá nas paróquias verdadeiros mutirões de confissões: pode ser um bom momento para fazer um exame de consciência bem completo e abrir o coração com sinceridade, para recuperar a paz e a alegria, depois de uma confissão contrita.
 

Dom Carlos Lema Garcia
Bispo Auxiliar e Vicario Episcopal
para a Educação e a Universidade

 

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