Comportamento

Família: Um milagre cotidiano

Certa vez, um filho perguntou ao pai: “O que é o casamento?”; “O casamento é um milagre que acontece diariamente”, respondeu o pai. Quando eu soube dessa história, pareceu-me um tanto exagerado, mas passei a refletir. De fato, um homem e uma mulher manterem uma união por toda a vida, 10, 20, 40, 60 anos! Com plena intimidade, parece uma proposta impossível. Comecei a lembrar quantas amizades permanecem por tanto tempo? E veja, amizades não são condições de intimidade conjugal. Não é raro que algumas rusgas separem bons amigos por algum tempo. Não se mora junto, não se dorme junto, não se pensa, não se vive junto todo o tempo numa grande amizade. Vamos continuar a refletir...

Desse casamento, nascem filhos. Há o nascimento, com enorme alegria de um novo ser, mas não se pode negar que junto vem uma carga de trabalho também muito significativa, tanto no esforço físico como intelectual da educação, assim como do desgaste de si próprio para o crescimento do outro. Conflitos da adolescência.  Suporte para os filhos que casam. Retaguarda para os netos que se sucedem... Haja trabalho! Dedicação pessoal, esquecimento próprio, generosidade, humildade... Com muita alegria, mas trabalhoso. E o casal se mantém unido! Trinta, 40, 70 
anos...! Será que não haveria outra alternativa?

De fato, vivemos tempos em que muitos jovens estão experimentando a opção de não casar. “Ficam” três ou cinco anos com alguém. Não deu certo.  Encontram mais alguém por três ou quatro anos. Não foi dessa vez, mas ficou um filho no caminho (a terapia resolverá o assunto?). Chega-se perto dos 40, e quem sabe agora encontro alguém para casar? Como se casar fosse encontrar uma esposa(o) da mesma maneira que compro uma camisa ou escolho viajar para algum lugar. Outra opção, já mais antiga, é interromper as promessas do casamento pela separação. Dar uma nova oportunidade de ser feliz. Não vou ficar esperando por milagres todos os dias! Os resultados destas opções estamos acompanhando no noticiário diário: crescimento da depressão e ansiedade, suicídio em adolescentes, filhos órfãos de pais vivos, a violência crescente, a esperança desacreditada, o egoísmo em alta, o sexo como promiscuidade, a droga correndo solta em todas as classes sociais, os consultórios de terapia sem agenda... A lista segue pelos horrores. Lembro de uma psicóloga: “O que falta hoje às crianças e jovens é família e religião”.

De fato, o casamento na sua constituição matrimonial, ou seja, como um sacramento, se faz e se perpetua como um milagre cotidiano. O que se espera dos noivos que 
se decidem casar não é o caminho fácil da felicidade, mas a esperança de serem felizes se permanecerem fiéis às promessas feitas no altar; um diante do outro e os dois diante de Deus. Uma esperança virtuosa, ou seja, alicerçada na fé de que a felicidade chegará com certeza, se mantivermos o amor. E para se manter no amor, não há outro caminho além de estar permanentemente unidos a Deus. Isso não é poesia de príncipe e princesa, mas a história daqueles que como homem e mulher se dispõem a vivenciar um milagre todos os dias. Um milagre em que os cônjuges devem ser “seus santos”, ou seja, intercessores do outro, porque a graça do milagre procede sempre de Deus.

Ao comemoramos a Semana da Família, você que dizia nunca ter assistido ou recebido um milagre, anime-se! Ele acontece todos os dias na sua casa, em meio às alegrias e dificuldades, com diálogo ou discussões, com fartura ou carência, com saúde ou com doença, com o pecado e com o perdão; sempre que vocês estiverem dispostos a recomeçar as promessas que fizeram diante de Deus com as bênçãos de Maria e José. Aquele pai estava certo na sua resposta ao filho. E eu acrescentaria: Não só o casamento, mas a família é um milagre cotidiano.

Dr. Valdir Reginato é médico de Família, professor da Escola Paulista de Medicina e terapeuta familiar. E-mail: vreginato@uol.com.br

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