Editorial

Dois grandes santos

No Consistório Público realizado em 1º de julho, o Papa Francisco anunciou a data oficial da canonização de cinco beatos, dentre os quais a Beata Irmã Dulce, conhecida como “O Anjo Bom da Bahia”, e o Beato Cardeal John Henry Newman, uma das figuras proeminentes do Renascimento Cultural Católico Inglês. Também serão canonizadas as beatas Giuseppina Vannini, da Itália; Maria Mankidiyan, da Índia; e Margherita Bays, da Suíça. As canonizações serão realizadas em 13 de outubro, um domingo, data do aniversário de 102 anos da última aparição de Nossa Senhora em Fátima, Portugal.

Beata Irmã Dulce, natural de Salvador (BA), será a primeira mulher canonizada que nasceu no Brasil. Conhecida por suas obras de caridade, demonstrou desde criança preocupação pelos mais pobres, a ponto de transformar a casa da família em um centro de atendimento que ficou conhecido como “A Portaria de São Francisco”. Mais tarde, Irmã Dulce também fundou o Albergue Santo Antônio, construído no convento em que morava. Anos depois, o albergue deu lugar ao Hospital Santo Antônio, ainda em atividade. Em 1988, a Beata foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz. 

O Beato Cardeal John Henry Newman, por outro lado, nasceu, cresceu e foi ordenado padre no seio da Igreja Anglicana. Tornou-se conhecido por seu papel como líder e um dos principais polemistas do Movimento de Oxford, que surgiu da necessidade de defender as tradições da Igreja Anglicana e argumentava a favor de um retorno do anglicanismo às suas raízes católicas. Os membros do Movimento de Oxford defendiam a teoria dos ramos, que dizia que a Igreja Anglicana era um “braço” da Igreja Católica, e seu desejo de restaurar aspectos da liturgia e do simbolismo tradicionais do Catolicismo na Igreja da Inglaterra rendeu-lhes o nome de anglo-católicos.

Em 1845, Newman abandonou oficialmente a Igreja da Inglaterra e seu posto na Universidade de Oxford. Converteu-se ao Catolicismo e foi ordenado sacerdote ainda no mesmo ano: Newman, graças a seu estudo sobre a história e os escritos dos Padres da Igreja, reconheceu o erro da teoria dos ramos e, enfim, abraçou a Igreja. Sua conversão ao Catolicismo foi um ponto relevante na história da Inglaterra: foi um precursor do que se tornaria uma verdadeira onda de conversões entre leigos e sacerdotes que não apenas reconheciam, como Newman, a importância da vida intelectual, mas também a necessidade de se evangelizar a cultura inglesa, fazendo-a retornar às suas raízes católicas. Deste verdadeiro tsunâmi que foi a Renovação Cultural Católica Inglesa surgiram nomes como J. R. R. Tolkien, Gerard Hopkins, G.K. Chesterton, entre outros. 

A vida do Cardeal Newman foi marcada pelo amor à verdade e à educação. Na missa de sua beatificação, Bento XVI disse: “Não há objetivo melhor para os professores de religião do que viverem de acordo com o famoso apelo do Beato John Henry por um laicato inteligente e instruído: ‘Desejo um laicato (…) que conheça sua religião, aprofunde-se nela, conheça seu lugar, saiba no que acredita e no que não, que entenda seu credo bem o suficiente para explicá-lo e conheça sua história bem o suficiente para defendê-la’.”
No próximo dia 13 de outubro, a Igreja, com alegria, reconhecerá cinco novos grandes santos — e, inspirada por seus exemplos e certa de sua fiel intercessão, retomará com força renovada a luta cristã pelo amor genuíno ao próximo, à verdade, e a Deus.

LEIA TAMBEM: Papa: sinal visível de unidade na Igreja

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.