Fé e Cidadania

Abertura do Arquivo Secreto do Vaticano

Neste mês de março de 2020, mais precisamente a partir de 2 de março, foram abertos a todas as pessoas os arquivos do Vaticano, por decreto, sob forma de “Motu Proprio”, de 22 de outubro de 2019, do Papa Francisco, que muda o nome do acervo para Arquivo Apostólico do Vaticano, deixando sua designação tradicional de Arquivo Secreto do Vaticano.

 De todos os arquivos conhecidos, para muitos é o mais antigo e o mais abrangente do mundo. Estima-se que o Arquivo do Vaticano contenha 84km de prateleiras, que abrigam 35 mil volumes de documentos, em grande parte manuscritos. 
Segundo o Vaticano, o documento mais antigo remonta ao final do século VIII. Localizado na Cidade do Vaticano, contém os registros históricos dos eventos de todos os Papas. 

Os Arquivos Secretos foram criados em 1612, pelo Papa Paulo V. Surgiram a partir do núcleo documental da Câmara Apostólica e da própria Biblioteca Apostólica. Começaram a chamar-se Secreto (Archivum Secretum Vaticanum), em meados do século XVII. Entre os séculos XVII e XIX muitas obras eruditas puderam ser publicadas com a ajuda de cópias documentais que os historiadores obtiveram dos guardiões e prefeitos do Arquivo Secreto do Vaticano. Sob a jurisdição direta do Papa, o Arquivo primeiro foi intitulado Archivum Novum, depois Archivum Apostolicum  e, mais tarde, Archivum Secretum. 

Conforme escreveu o Papa Francisco nesse “Motu Proprio”, seria preciso atualizar o Arquivo em um aspecto. “Este aspecto diz respeito à sua própria denominação: Arquivo Secreto do Vaticano (...) com as mudanças semânticas progressivas (...) o termo Secretum, atribuído ao Arquivo do Vaticano, começou a ser mal interpretado (...) esta expressão assumiu o sentido prejudicial de esconder, de não revelar e de reservar a poucos...” O Papa decidiu que, “a partir de agora, o atual Arquivo Secreto do Vaticano, sem nada alterar da sua identidade, estrutura e missão, passe a denominar-se Arquivo Apostólico do Vaticano”.

Lembramos que a abertura do Arquivo foi feita por etapas:

• Em 1883, o Papa Leão XIII abriu os arquivos anteriores a 1815, para estudiosos não clericais;
• Documentos foram posteriormente liberados, desde 1º de junho de 1846 até 1924, ou seja, até o final do pontificado de Gregório XVI; 
• Em 1966, foram liberados os documentos do pontificado de Pio IX (1846-1878); 
• Em 1978, passaram a ser disponíveis os documentos do pontificado de Leão XIII (1878-1903);
• Em 1985, foram abertos os arquivos do pontificado de Pio X (1903-1914) e de Bento XV (1914-1922);
• Em 20 de fevereiro de 2002, o Papa João Paulo II decretou a disponibilidade de alguns dos documentos, a partir de 2003, sobre as relações do Vaticano com a Alemanha nazista durante o pontificado do Papa Pio XI (1922-1939). O Vaticano justificou essa sua ação para pôr fim à injusta e irrefletida especulação sobre o pontificado de Pio XI;  
• Para celebrar os 400 anos do Arquivo, o Vaticano tornou disponíveis 100 itens de documentos do passado de alguns Papas históricos;
• Em junho de 2006, o Papa Bento XVI autorizou a abertura de todos os arquivos do Vaticano, durante o pontificado de Pio XI.
• O Papa Francisco estendeu a liberação dos Arquivos Secretos do Vaticano ao final do pontificado de Pio XII, de 1939 a 1958. Pio XII foi injustamente acusado de simpático a Hitler e ao nazismo. Depois da Guerra, em 1963, a peça teatral “O Vigário”, escrita por dois comunistas, fez nascer a lenda sobre Pio XII, apresentando-o como hostil à causa dos judeus. Foi uma difamação e uma mentira, chamando-o de Papa Negro e Papa de Hitler.

Na realidade, o Papa Pio XII foi sempre simpático aos judeus desde sua primeira Encíclica Summi pontificatus, de 1939. Com a invasão de Roma pelas tropas de Hitler em 1943 e a ameaça de assassinar o Papa, ele escreveu às basílicas, igrejas, seminários, conventos e mosteiros para albergar e esconder judeus. Cerca de 7 mil judeus de Roma foram salvos pela Igreja Católica.

Não satisfeito com a abertura que decretou dos documentos do pontificado de Pio XII, logo a seguir o Papa Francisco decidiu a abertura total de todos os documentos do Arquivo Apostólico do Vaticano.

Doravante todos nós, pesquisadores interessados, teremos acesso aos documentos que a Igreja Católica conserva desde épocas remotas e praticamente de todos os continentes, contribuindo para uma melhor e mais abrangente História, não apenas da Igreja Católica, mas de todo o universo.

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