Liturgia e Vida

‘A responsabilidade é vossa!’ (Mt 27,24)

DOMINGO DE RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR 5 DE ABRIL DE 2020

No Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, celebramos a entrada de Nosso Senhor em Jerusalém para morrer na Cruz. Com a Sexta-feira Santa, temos uma das ocasiões em que a Igreja lê a narrativa completa da Paixão. Jesus é recebido festivamente sobre um burrinho, como verdadeiro Rei de Israel. Pouco depois, no entanto, este será o mesmo motivo de condenação inscrito no Madeiro: “Este é Jesus, o rei dos judeus” (Mt 27,37). 

São Mateus descreve particularidades do encontro de Jesus com Pilatos, o governador da Judeia, que tinha poder para condenar ou livrar o Senhor. A Providência Divina deu a um homem o encargo de julgar sobre a terra Aquele que julgará o mundo inteiro… Porém, ele decidiu errado e contra a própria consciência. Pilatos não quis assumir o ônus implicado pelo poder que Deus lhe conferira. No momento de pôr em jogo a reputação pessoal, preferiu “passar” o poder ao povo. Não o fez por ser um “democrata”, mas por ser fraco. Não compreendera que todo “poder” comporta muito mais exigências morais do que benesses. No momento de assumi-las, disse cinicamente: “Estou inocente deste sangue. A responsabilidade é vossa” (Mt 27,24).

“Mas que mal Ele fez?” (Mt 27,23)… Pilatos havia tentado a todo custo libertar Jesus, pois sua esposa lhe avisara: “Não te envolvas com esse justo, pois muito sofri hoje em sonho por causa Dele” (Mt 27,19). Intuíra que estava diante de um homem de Deus. Ao ver o silêncio de Cristo diante de tantas acusações infundadas, “o governador ficou muito impressionado” (Mt 27,14). Porém, falhou. O amor por si mesmo era maior do que o amor pela verdade. Condenando Aquele que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14,6), fez a cínica pergunta: “Mas, o que é a verdade?” (Jo 18,38), e lavou as mãos…  

Ademais, Pilatos sabia que haviam entregue Jesus “por inveja” (Mt 27,18). Não se tratava apenas de discordâncias “teológicas” ou “morais”… Estas eram uma fachada para a inveja que, no fundo, fariseus, sacerdotes e escribas tinham de Nosso Senhor. Esse sentimento mesquinho pode se manifestar camuflado de muitos modos: antipatias, maledicências, ironias, críticas aguçadas… É um vício sutil e perigoso. A inveja cegou os olhos de muitos para os milagres e ensinamentos de Cristo; levou-os a retribuir com ódio e homicídio o bem que Jesus sempre praticou.

Depois da última tentativa infrutuosa de libertar Jesus, a multidão enfim respondeu a Pilatos: “Que o Sangue Dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos” (Mt 27,25). Eis a escolha da “maioria”: o homicídio, o deicídio. Trocou-se Deus por um bandido! Quanto mal uma escolha superficial pode comportar! Mas, por bondade de Deus, esse Sangue se tornaria instrumento de salvação, não de castigo. O próprio Senhor diria na Cruz: “Pai, perdoa-lhes, não sabem o que fazem” (Lc 23,34). 

Em meio às covardias e injustiças dos homens, Deus realiza – apesar de nós – a sua obra de Salvação. Acreditemos em Cristo! Ele é a única salvação, Ele é a única esperança!

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