Espiritualidade

A quem queremos enganar?

No capítulo 27 do livro de Gênesis, encontramos a passagem da disputa pela primogenitura entre Esaú e Jacó. Segundo o relato, enquanto Esaú saiu para caçar, atendendo ao pedido de seu pai Isaac, Jacó e Rebeca, sua mãe, tramaram para roubar a bênção. Depois de preparar a carne de um cabrito, Rebeca revestiu o braço e o pescoço do filho com a pele do animal, e assim, quando foi servir Isaac, e ele tocou Jacó, não foi possível distinguir um filho do outro. A pele do cabrito serviu como um filtro e, embora ele ouvisse a voz de um filho, sua visão cansada foi confundida pelo tato de suas mãos. Mas o que essa passagem nos diz?

As redes sociais são um universo complexo e, atualmente, são também lugar em que acontecem boa parte dos relacionamentos entre pessoas. Por meio das redes sociais, as pessoas se encontram, criam e fortalecem amizades, mandam recados e recebem informações umas das outras. Tudo isso é parte de um grande avanço na capacidade de comunicação humana, e, sem dúvida, oferece benefícios e vantagens quando devidamente usadas. No entanto, não podemos desconsiderar o fato de que a maldade e o engano do pecado original chegaram a todas as atividades e iniciativas humanas e que só podem ser vencidos pela graça e pela conversão.

Junto com as redes sociais, vemos que também crescem o número e a função de acessórios, que funcionam como complemento e auxílio. No caso das imagens e fotografias, isso é bastante claro, quando se usam os chamados filtros. Na foto de uma paisagem, por exemplo, podemos alterar os efeitos de luz e sombra, o tom das cores, é possível também mudar o pano de fundo e criar outro ambiente. Com fotos de pessoas, existem outras inúmeras possibilidades, como dar forma ao corpo e criar uma nova aparência, mudar a cor dos olhos ou do cabelo e até mesmo acrescentar característica físicas desejadas. O que é falso e o que é verdadeiro nas redes sociais?

Assim como a pele de cabrito funcionou para enganar Isaac, os filtros funcionam para criar uma ideia diferente da realidade, fazendo com que uma pessoa tenha uma aparência diferente. O que a princípio parece uma grande brincadeira, pode tornar-se um perigoso risco de falsificação da realidade, para quem quer enganar-se e enganar os outros. Se alguém está infeliz ou insatisfeito com o próprio corpo, com suas características físicas e aparência, como pode encontrar satisfação olhando para alguma coisa que não existe? Como é possível estabelecer um relacionamento verdadeiro criando uma imagem falsa de si mesmo?

A libertação que nos foi oferecida em Cristo é a chave que transforma toda a realidade humana e deve mudar o nosso comportamento. Quando uma pessoa é nova criatura em Cristo, suas atitudes e a relação com os outros não pode ser construída com base em mentiras, por meio do uso de filtros. A aceitação de si mesmo é um ponto fundamental no caminho de conversão, porque não leva a uma fuga da realidade. O caráter de alguém não aparece na forma física do corpo nem na cor dos olhos, do cabelo ou da pele, mas uma imagem corrompida intencionalmente, uma realidade filtrada, pode revelar muita coisa. Somos livres em Cristo, então, sejamos também fiéis ao amor de Deus por nós e verdadeiros em nossos relacionamentos.

 

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