Muitos sabores e uma pitada de solidariedade

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13 de dezembro de 2019

É chegada a época das confraternizações em família, entre os amigos e nas empresas. Ao redor da mesa, são compartilhadas as lembranças do ano que se finda, as esperanças para 2020 e muitos sabores. Este momento agradável pode se tornar ainda melhor com a degustação de receitas de renomados chefs de cozinha e de outras que envolvem aquele “segredinho culinário” passado de geração em geração. 
O livro “Comer bem fazendo o Bem” – Volume 2, lançado pela editora Inova, apresenta 184 sugestões de receitas, entre entradas, pratos principais e sobremesas, todas com um ingrediente especial: a solidariedade.
Os recursos obtidos com a comercialização de cada exemplar (R$ 150) serão revertidos para o Projeto Borboleta, voltado às mães de crianças e adolescentes que estão em tratamento no Lar Escola São Francisco, da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), na zona Sul da capital paulista. 

NOVOS HORIZONTES

O Projeto Borboleta foi criado em 2006 por Lúcia Vidigal, mais conhecida por Lucinha. Após ter presidido a AACD, ela percebeu que as mães passavam horas aguardando pelos filhos que faziam aulas e atividades de fisioterapia no Lar Escola São Francisco. Diante disso, teve a ideia de ensinar-lhes artesanato. No decorrer dos anos, voluntários se juntaram a ela e hoje essas mães contam com um espaço de formação intelectual e humana, com atividades socioeducativas, de orientação e de entretenimento.
“Atualmente, oferecemos a essas mães serviços de psicólogas, aula de dança, ginástica, culinária, costura, artesanato, produção de bijuterias, além de uma parte cultural, levando-as a museus e exposições. Promovemos, também, um laboratório de leitura por meio da humanização, com pequenos textos, contos, que são debatidos por elas. Isso dá uma base para que abram a cabeça para outras questões além do cuidado com os filhos”, detalhou, ao O SÃO PAULO, Martha Xavier, presidente do Projeto Borboleta.
A iniciativa já beneficiou mais de 600 famílias e hoje contempla aproximadamente 60 mães. “As mulheres contam que a vida delas se divide em antes e depois do projeto, pois aprendem a se valorizar, a ver que são importantes”, enfatizou Martha.  

UMA SABOROSA CONTRIBUIÇÃO
Embora vinculado à AACD, o Projeto Borboleta é autossustentável. Por isso, a cada fim de ano, é realizado um bazar com os artesanatos produzidos pelas mães participantes. O de 2019 aconteceu em novembro, no Jockey Club de São Paulo, sendo visitado por mais de mil pessoas. Além da verba alcançada com a venda dos artesanatos das mães, parte da renda obtida por outros 70 bazareiros do evento também foi destinada ao projeto.
Do bazar vem a maior parte dos recursos para a manutenção do projeto, porém, a venda do livro “Comer bem fazendo o Bem” também é indispensável para que os trabalhos continuem. O primeiro volume da obra, lançado em 2016, teve quase todos os 3 mil exemplares vendidos, e se projeta o mesmo sucesso com a atual edição.
 “Neste segundo volume, temos receitas de quase 40 chefs conhecidos. Eles mandaram a receita, uma foto do prato e um histórico da carreira. Também há receitas de outras pessoas formadoras de opinião na sociedade. Ainda contamos um pouco da história do projeto, colocamos a fotografia das mães, ou seja, não é simplesmente um livro de receitas”, detalhou Martha. 
O menu de opções contempla de pratos refinados a outros elaborados com ingredientes encontrados na maioria dos lares, com porções que podem ser saboreadas individualmente, a dois ou em grupo. 
“Muitas são receitas de família, que trazem uma memória afetiva para as pessoas”, comentou Martha, que no livro ensina como fazer um rocambole de chocolate que ela aprendeu com a sogra. 

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Dia de Ação Caritas é sinal da solidariedade cristã na Praça da Sé

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22 de novembro de 2019

No domingo, 17, em frente à Catedral Metropolitana de São Paulo, foi celebrado o Dia Mundial dos Pobres, com a realização do segundo “Dia de Ação Caritas” da Região Episcopal Sé, sob a coordenação da Irmã Sônia Maria Martins e em consonância com as palavras do Papa Francisco para este ano: “A esperança dos pobres jamais se frustrará”.
Desde as 9h, centenas de pessoas em situação de rua passaram pelas amplas tendas de atendimento, sendo acolhidas por profissionais voluntários de diversas áreas, como médicos, dentistas, advogados, barbeiros, manicures e leigos em geral. 
Foram parceiros dessa iniciativa o Fórum das Pastorais Sociais da Arquidiocese de São Paulo, as comunidades Fraternidade O Caminho e Toca de Assis, as associações Missão Belém e Aliança de Misericórdia, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), que colaborou com um caminhão-pipa distribuindo água fresca e potável para todos, a Embelleze, a Faculdade de Odontologia da Universidade Santo Amaro (Unisa), além de mais de 70 voluntários.
Durante o evento, foi oferecido café da manhã, com leite, café, pão com queijo e presunto. No lanche das 10h, cachorro-
-quente, e, no almoço, arroz, feijão, batata frita, frango e linguiça, além da distribuição de marmitex.
Houve, ainda, serviços como atendimento odontológico, encaminhamentos médicos, escuta com psicóloga, advogados e condução para duas pessoas voltarem às suas famílias.
Para os serviços de higiene pessoal, todos receberam toalhas e roupas usadas em bom estado, kits de higiene pessoal, orientação sobre higienização bucal e corporal. Puderam tomar banho na Missão Belém e no Largo São Francisco. Nas tendas, receberam também serviços de manicure, corte de cabelo, barba, recebendo, ainda, um kit de higiene contendo pente, escova de dentes, sabonete, creme dental, aparelho de barbear descartável, toalha de banho e, para o kit feminino, acrescentou-se o pacote de absorventes. 
“O dia está sendo muito bom e alegre, porque estamos hoje sendo uma família a esses nossos irmãos e, com esse trabalho desenvolvido, estamos devolvendo uma parte da dignidade perdida por eles, com nosso amor, carinho e solidariedade”, afirmou a Irmã Sonia Maria Martins, da Caritas.
Após ter presidido a missa das 11h na Catedral da Sé, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo Metropolitano, juntamente com o Padre Luiz Eduardo Baronto, Cura da Catedral da Sé, visitou todas as tendas, conversando e abençoando a todos. Um pouco mais tarde, também por lá esteve Dom Eduardo Vieira dos Santos, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Sé. Todos foram recebidos com carinho, respeito e atenção por aqueles que participaram do evento. 

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Francisco: ‘Os pobres são preciosos aos olhos de Deus’

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01 de abril de 2020

Preciosos aos olhos de Deus, os pobres “não falam a língua do eu”. Na missa do Dia Mundial dos Pobres, no domingo, 17, o Papa Francisco afirmou que os pobres nos ensinam a ser “mendicantes diante de Deus”.
Da mesma forma que os pobres pedem a ajuda material oferecida pelos outros, todas as pessoas necessitam de outra ajuda, esta imaterial: o amor que vem de Deus – refletiu o Pontífice. Após a missa, ele almoçou com 1,5 mil pessoas carentes, no Vaticano.
“A presença dos pobres nos reporta ao clima do Evangelho, em que são bem-
-aventurados os pobres em espírito (Mt 5,3)”, disse o Santo Padre, na homilia. Portanto, a acolhida que alguém dá aos pobres é a mesma que espera ter de Deus.
“Que beleza se os pobres ocupassem no nosso coração o lugar que têm no coração de Deus!”, disse. “Servindo os pobres, aprendemos os gostos de Jesus, compreendemos quais são coisas que restam e quais são as coisas que passam.”

O AMOR PERMANECE
Refletindo sobre o Evangelho segundo São Lucas, no qual Jesus diz que não restará “pedra sobre pedra” no templo de Jerusalém (Lc 21,6), o Papa Francisco explicou que a mensagem de Cristo nos ajuda a colocar a atenção sobre as coisas que realmente importam na vida.
“Ele nos diz que quase tudo passará. Quase tudo, mas não tudo”, observou Francisco. “Passam as coisas penúltimas, que às vezes parecem definitivas, mas não são. São realidades grandiosas, como os nossos templos, e terrificantes, como os terremotos, sinais no céu e guerras sobre a terra. Para nós, parecem fatos na primeira página, mas o Senhor os coloca na segunda”, continuou.
O amor de Deus, porém, permanecerá para sempre, disse o Papa, “e o pobre que pede meu amor o traz consigo. Os pobres nos facilitam o acesso ao céu”.

PRESSA E PERSEVERANÇA

Uma das tentações que dificultam o processo de ver as coisas que realmente permanecem é a pressa. Jesus não difunde alarmismos ou medo, “pois isso paralisa o coração e a mente”.
Enquanto, muitas vezes, as pessoas querem saber de tudo e muito rapidamente, atentas às últimas novidades, Jesus fala das coisas que duram para sempre. “Atraídos pelo último clamor, não encontramos tempo para Deus e para o irmão que vive ao nosso lado”, alertou o Papa.
Nesta correria, os outros são deixados para trás, muitos dos quais são “descartados” na sociedade: os idosos, os nascituros, os deficientes e os pobres.
Jesus apresenta a perseverança como remédio: “Perseverança é ir adiante cada dia com os olhos fixos sobre aquilo que não passa: o Senhor e o próximo”, exortou Francisco. “É por isso que a perseverança é o dom de Deus com o qual se conservam todos os seus outros dons.”

SAIR DO PRÓPRIO ‘EU’
A tentação de que as pessoas se fecham em si mesmas, chamada pelo Papa da “tentação do eu”, as afasta do exemplo de Jesus.
“A Palavra de Deus nos incentiva a uma caridade não hipócrita, a dar a quem não pode nos restituir, a servir sem buscar recompensas e trocas”, acrescentou o Santo Padre.
E lançou o seguinte questionamento: “Eu ajudo alguém de quem não posso receber? Eu, cristão, tenho ao menos um amigo pobre?” Francisco recordou, assim, que o cristão, discípulo de Jesus, não é o discípulo do “eu”. Em vez disso, é o discípulo do “tu”.

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Um momento de esperança e de vivência da solidariedade

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14 de novembro de 2019

O Núcleo Lapa da Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) promoveu o “II Dia de Ação Caritas”, no domingo, 10, na Paróquia São Patrício, no Setor Pastoral Rio Pequeno, inspirado no Dia Mundial dos Pobres, criado pelo Papa Francisco em 2017, e que neste ano será celebrado no próximo dia 17, com o tema “A esperança dos pobres nunca se perderá” (Sl 9,19).
Aproximadamente 600 pessoas participaram das ações na Paróquia São Patrício, entre as quais atendimentos de serviços gratuitos à comunidade da Região Episcopal Lapa, como assessoria jurídica, cabeleireiro, beleza estética, medição de pressão arterial e glicose, cuidados com a saúde bucal, além de palestras, sala de leituras e show da banda musical Beatos.
O Coordenador do evento, Diácono Antonio Geraldo de Souza, lembrou que os trabalhos do Núcleo Lapa da CASP tiveram início em 2016, sistematizados por Dom Julio Endi Akamine, atual Arcebispo de Sorocaba (SP), na época bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e Vigário Episcopal na Região Lapa. O Diácono destacou, ainda, que esse dia de trabalho solidário para o atendimento à comunidade é um ato que integra agentes, colaboradores e parceiros no projeto de ações sociais na Região Lapa. 
Na parte final do evento, houve show com a dupla Alvaro & Daniel e Tony Allysson, antes da missa de encerramento, presidida por Dom José Benedito Cardoso, Bispo Auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa, e concelebrada pelo Padre Ernandes Alves da Silva Junior, Administrador Paroquial.

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Uma receita de solidariedade

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10 de novembro de 2019

Nas proximidades da Comunidade Cristo Ressuscitado, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, na Região Episcopal Brasilândia, há uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e uma Assistência Médica Ambulatorial (AMA). Não é raro que as pessoas, após a passagem pelo médico, tenham uma receita de medicamentos e não encontrem todos eles disponíveis gratuitamente. 
Diante dessa necessidade, paroquianos da referida  Paróquia criaram há quase quatro décadas uma farmácia comunitária, com sede na Comunidade Cristo Ressuscitado, no bairro Ladeira Rosa, para distribuir gratuitamente medicamentos àqueles que mais necessitam.
Weltina Lima, que atua na Pastoral da Saúde e nos trabalhos da farmácia, explicou que os medicamentos são doados por moradores e fiéis da igreja na maioria das vezes, mas também há laboratórios que colaboram, inclusive com remédios de valor elevado e, por vezes, não disponíveis na rede pública. 
A farmácia funciona diariamente das 14h às 17h. Profissionais de enfermagem voluntários analisam as receitas e garantem os cuidados necessários para a manutenção e distribuição dos medicamentos. A ação se estende a bairros próximos, fazendo com que o movimento ao longo de toda a semana seja intenso.
“Nós não imaginamos a farmácia fechada, pois a demanda é grande. É um trabalho muito bonito feito por toda a Paróquia. Quem procura são pessoas carentes que precisam. Estamos aqui para ajudar os pobres e fazer um trabalho de caridade”, concluiu Weltina. 
Doações de medicamentos podem ser feitas diretamente na farmácia comunitária: Rua Campo Alegre de Minas, 244, Ladeira Rosa. 

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O que diz a Doutrina Social da Igreja?

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01 de abril de 2020

Para entender a questão da superação da pobreza na perspectiva cristã, é preciso levar em conta alguns princípios do Compêndio da Doutrina Social da Igreja (DSI), que tem como base a dignidade do ser humano, imagem e semelhança de Deus.  

BEM COMUM

164. Entende-se: o conjunto de condições da vida social que permitem aos grupos e a cada um dos seus membros atingir mais plena e facilmente a própria perfeição.  
165. Uma sociedade que, em todos os níveis, quer intencionalmente estar a serviço do ser humano é a que se propõe como meta prioritária o bem comum, como bem de todos os homens e do homem todo. A pessoa não pode encontrar plena realização somente em si mesma, prescindindo do seu ser “com” e “pelos” outros. 
167. Soa ainda atual o ensinamento de Pio XI: “Deve procurar-se que a repartição dos bens criados, a qual não há quem não reconheça ser hoje causa de gravíssimos inconvenientes pelo contraste estridente que há entre os poucos ultrarricos e a multidão inumerável dos indigentes, seja reconduzida à conformidade com as normas do bem comum e da justiça social”.

DESTINAÇÃO UNIVERSAL DOS BENS

171. Este princípio se baseia no fato de que: “a origem primeira de tudo o que é bem é o próprio ato de Deus que criou a terra e o homem, e ao homem deu a terra para que a domine com o seu trabalho e goze dos seus frutos (cf. Gn 1,28-29).
175. A destinação universal dos bens comporta, portanto, um esforço comum que visa a obter para toda pessoa e para todos os povos as condições necessárias ao desenvolvimento integral, de modo que todos possam contribuir para a promoção de um mundo mais humano. 
182. O princípio da destinação universal dos bens requer que se cuide com particular solicitude dos pobres, daqueles que se acham em posição de marginalidade e, em todo caso, das pessoas cujas condições de vida lhes impedem um crescimento adequado. 
184. O amor da Igreja pelos pobres inspira-se no Evangelho das bem-aventuranças, na pobreza de Jesus e na sua atenção aos pobres. Tal amor se refere à pobreza material e também às numerosas formas de pobreza cultural e religiosa.

SUBSIDIARIEDADE

186. Com base neste princípio, todas as sociedades de ordem superior devem se pôr em atitude de ajuda (subsidium) – e, portanto, de apoio, promoção e incremento – em relação às menores. [...]
    À subsidiariedade entendida em sentido positivo, como ajuda econômica, institucional, legislativa oferecida às entidades sociais menores, corresponde uma série de implicações em negativo, que impõem ao Estado se abster de tudo o que, de fato, restringir o espaço vital das células menores e essenciais da sociedade. Não se deve suplantar a sua iniciativa, liberdade e responsabilidade.
187. O princípio de subsidiariedade protege as pessoas dos abusos das instâncias sociais superiores e solicita estas últimas a ajudar os indivíduos e os corpos intermediários a desempenhar as próprias funções. Este princípio impõe-se, porque cada pessoa, família e corpo intermediário tem algo de original para oferecer à comunidade.

SOLIDARIEDADE

192. A solidariedade confere particular relevo à intrínseca sociabilidade da pessoa humana, à igualdade de todos em dignidade e direitos, ao caminho comum dos homens e dos povos para uma unidade cada vez mais convicta.
194. A mensagem da Doutrina Social acerca da solidariedade põe de realce a existência de estreitos vínculos entre solidariedade e bem comum, solidariedade e destinação universal dos bens, solidariedade e igualdade entre os homens e os povos, solidariedade e paz no mundo.

POBREZA E RIQUEZA

328. Os bens, ainda que legitimamente possuídos, mantêm sempre uma destinação universal: é imoral toda a forma de acumulação indébita, porque em aberto contraste com a destinação universal consignada por Deus Criador a todos os bens.
329. As riquezas realizam a sua função de serviço ao homem quando destinadas a produzir benefícios para os outros e a sociedade: “Como poderíamos fazer o bem ao próximo – interroga-se Clemente de Alexandria – se todos não possuíssem nada?”. Na visão de São João Crisóstomo, as riquezas pertencem a alguns, para que estes possam adquirir mérito partilhando com os outros. Elas são um bem que vem de Deus: quem o possuir, deve usá-lo e fazê-lo circular, de sorte que também os necessitados possam fruir; o mal está no apego desmedido às riquezas, no desejo de açambarcá-las [reter tudo ou quase tudo para si].

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Para que esse dia seja feliz

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10 de outubro de 2019

As gargalhadas de uma complementam a resposta ofertada, no tom doce da voz da outra. Cleusa Pereira Pires, 65, e Deise Maria Araújo, 70, há oito anos, mobilizam a Rua Rocha, na altura do número 464, no bairro da Bela Vista, com uma festa dedicada às crianças carentes a cada dia 12 de outubro.

 O que lhes motiva é a oportunidade de ver os olhos brilhantes e sorrisos largos das 300 crianças beneficiadas pela ação realizada sem a contribuição de órgãos públicos, mas com a generosidade dos vizinhos e comerciantes locais.

No dia em que se celebra a infância, elas, com muita dedicação, distribuem algodão doce, pipoca e brinquedos.

UMA MISSÃO

As duas amigas contaram ao O SÃO PAULO que a ideia da festa não partiu delas, mas de uma vizinha, conhecida por ‘Lucinha’, já falecida. A conversa na porta do condomínio entre as três foi guiada pelo pedido de Lucinha para que assumissem - como elas mesmas classificam – essa missão.

Os preparativos para o evento têm início ainda no início do ano, quando começam a chegar as doações de roupas e sapatos, que são vendidos em um brechó, com intuito de angariar fundos para o aluguel dos brinquedos e demais compras necessárias.

Elas enfatizaram, que mesmo sendo realizado em um bairro de condição econômica favorável, a proposta da data é ofertar um dia de diversão e presentes para as crianças em situação de vulnerabilidade social, moradoras de periferias. Para isso, elas realizam nas creches desses locais, o cadastro que dá a oportunidade de participar do evento.

“Nós conseguimos trazer as crianças mais carentes, nós vamos em busca delas para dar um dia feliz. Só de vermos a sua alegria, quando veem os brinquedos, por poder comer e beber à vontade, já é uma bênção de Deus”, falou Cleusa.

COM APOIO DE NOSSA SENHORA

Na Praça da Rua Rocha, todo dia 12 de cada mês, é feito uma bênção em memória de Nossa Senhora Aparecida. Por isso, Cleusa e Deise acreditam na intercessão da Padroeira do Brasil para o sucesso desta celebração: “Nossa inspiração é Nossa Senhora Aparecida, tudo que nós pedimos, nós conseguimos. Cada um doa um pouco: os comerciantes, amigos e a comunidade se unem para fazer essa festa, tudo com muito carinho”, salientou Cleusa.

Já para Deise, a mãe de Jesus foi também fundamental para minimizar a dor pela morte de uma sobrinha de apenas 18 anos: “Eu vi o sofrimento da minha irmã e pedi a Nossa Senhora que ela a ajudasse a superar a perda da filha e parece que tudo foi se encaminhando. Minha outra sobrinha deu uma netinha para ela. Eu me apeguei muito nisso”.

A questão familiar de Deise, e a fé em Nossa Senhora se transformaram em um combustível a mais para a busca de fazer do dia das crianças um momento celebrativo para as aquelas que mais precisam.

A FORÇA DO SORRISO

As duas, porém, não negam que realizar uma festividade dessa magnitude é um desafio árduo e cansativo e, que por algumas vezes, elas pensaram em encerrar a tradição.

Cleusa rememorou que um desses dias, foi durante uma festa. Ao ver tantas pessoas para serem cuidadas e sentir que suas forças haviam se esgotado, ela pensou que aquele seria seu último ano, até que um gesto simples e sincero a fez mudar de ideia.

“Eu estava com vontade de chorar, olhei para cima e falei ‘Deus, eu não vou fazer mais essa festa’. Depois, reparei no brinquedo que estava bem na minha frente. Nele tinham dois gêmeos. Esses dois meninos olharam para mim com um sorriso, que parece que Deus falou comigo. Eu senti Deus no meu coração, esse momento eu não esqueço nunca”.

‘TODOS SOMOS FILHOS’

Durante uma catequese realizada em 18 de março de 2015, na Praça São Pedro, o Papa Francisco dedicou sua reflexão às crianças. O Pontífice reiterou que os pequenos são um dom para a humanidade e, que mesmo assim, são em muitas vezes, excluídas e vítimas de diferentes tipos de violência, incluindo a impossibilidade do nascer.

“Em primeiro lugar, as crianças nos recordam que todos, nos primeiros anos da vida, fomos totalmente dependentes dos cuidados e da benevolência dos outros. E o Filho de Deus não poupou esta etapa. É o mistério que contemplamos a cada ano, no Natal”, completou.

O Santo Padre disse, ainda, que as crianças ensinam outro importante valor: “Recordam-nos que somos sempre filhos: mesmo se a pessoa se torna adulta, ou idosa, mesmo se se torna pai, se ocupa um lugar de responsabilidade, abaixo de tudo isso permanece a identidade de filho. Todos somos filhos”.

O Papa Francisco concluiu dizendo que, certamente, as preocupações e problemas surgem já nos primeiros anos de vida, mas que é necessário a valorização da vida e do nascimento e, que o colorido de uma sociedade depende muito das crianças, pois sem elas, o mundo se torna triste e cinza.

 

 

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Governo fecha 21 hospitais administrados pela Igreja Católica

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24 de junho de 2019

Milhares de doentes em toda a Eritreia foram privados de cuidados médicos vitais depois do governo ter interditado três hospitais, dois centros de saúde e 16 clínicas, na última semana. As informações chegaram por meio de uma fonte da Igreja Católica local, que informou à Fundação Pontifícia ACN (Ajuda à Igreja que Sofre) sobre o ocorrido.

De acordo com a fonte, as pessoas correm risco de morte caso os serviços não sejam retomados rapidamente, sendo que muitos pacientes expulsos tiveram de percorrer até 25 quilômetros para acessar outra clínica.

O fechamento levou os quatro bispos da Eritreia a condenar a ação por meio de uma carta enviada ao ministro da Saúde da Eritreia, Amna Nurhusein. A carta enfatiza que o programa de confisco, que fechou todas as instalações do serviço de saúde da Igreja Católica, alguns deles com mais de 70 anos de atividade, é “profundamente injusta”.

A carta declara: “Privar a Igreja de cuidar dessas instituições é minar sua própria existência e expor seus trabalhadores à perseguição religiosa. Declaramos que não entregaremos nossas instituições e equipamentos de livre e espontânea vontade”, confirmando o que uma outra fonte local disse: “A equipe de algumas das clínicas se recusou a entregar as chaves para que os soldados invadissem as mesmas”.

O contato da ACN acrescentou: “Nossa mensagem ao governo é simples: deixe-nos em paz. É dever da Igreja cuidar dos doentes, dos pobres e moribundos. Ninguém, nem mesmo o governo, pode dizer à Igreja para não fazer o seu trabalho. Nossas instalações médicas estavam seguindo fielmente as diretrizes do ministério da saúde e, na maioria das vezes, os supervisores do ministério apreciavam muito o trabalho realizado”.

A fonte católica disse que o governo queria ser o único provedor de assistência médica, mas que a maioria das pessoas preferia institutos administrados pela Igreja, já que os serviços estatais geralmente têm equipamentos precários e falta de pessoal, e muitos procuram asilo no exterior. “Ao fornecer esses serviços, a Igreja não está competindo com o governo, mas está simplesmente complementando e auxiliando o que o governo faz”.

Não está claro se o regime pretende reabrir os institutos mais tarde. O contato da ACN disse que os centros de saúde católicos confiscados pelo governo há dois anos continuam fechados até hoje. Ele apelou à comunidade internacional, incluindo o governo do Reino Unido, para pedir ao governo do presidente Isaías Afewerki que procure o caminho da reconciliação.

Sobre a ACN (Ajuda à Igreja que Sofre)

A ACN (Ajuda à Igreja que Sofre) é uma instituição de caridade católica que auxilia a Igreja por meio de informações, orações e projetos de ajuda a pessoas ou grupos que sofrem perseguição e opressão religiosa e social ou que estejam em necessidade. Fundada no Natal de 1947, a ACN tornou-se uma Fundação Pontifícia da Igreja em 2011.

Todos os anos, a instituição atende mais de 5.000 pedidos de ajuda de bispos e superiores religiosos em cerca de 140 países, incluindo: formação de seminaristas, impressão de Bíblias e literatura religiosa, incluindo a Bíblia da Criança do ACN, com mais de 51 milhões de exemplares impressos em mais de 180 línguas; apoia padres e religiosos em missões e situações críticas; construção e restauração de igrejas e demais instalações eclesiais; programas religiosos de comunicação; e ajuda aos refugiados de conflitos e vítimas de desastres naturais.

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Coleta Nacional da Solidariedade: gesto fraterno de conversão quaresmal

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08 de abril de 2019

Anualmente, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) faz um convite a todos os católicos e pessoas de boa vontade para participar da Coleta Nacional da Solidariedade, realizada todos os anos durante o Domingo de Ramos, que, em 2019, ocorrerá em 14 de abril, como gesto concreto da Campanha da Fraternidade.

Este ano, a Campanha da Fraternidade tem como tema “Fraternidade e Políticas Públicas” e o lema – inspirado no livro do Profeta Isaías – “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27). A Coleta da Solidariedade é, portanto, parte integrante da CF 2019.

Bispos, padres, religiosos (as) e agentes de pastoral são os principais motivadores para a realização da Coleta da Solidariedade, em suas comunidades, paróquias e dioceses. Em todo o Brasil, a Campanha da Fraternidade se expressa concretamente pela generosidade, partilha e fraternidade de todos os brasileiros.

Por meio dessa motivação, a Igreja Católica espera que todos os seus fiéis assumam o compromisso com a solidariedade, fazendo assim com que a Igreja se reconheça servidora do Deus da vida.

 

CONVERSÃO QUARESMAL

O texto-base da Campanha da Fraternidade 2019 reflete sobre a ligação do gesto de fraternidade com um caráter de conversão quaresmal, à qual todos são chamados neste período, por meio da penitência, jejum e caridade.

Assim, segundo o documento, é possível que nasça, verdadeiramente, um tempo novo, em que esteja em evidência a valorização da vida humana.

 

EM TODO BRASIL

Do total de valores angariados no Domingo de Ramos, oferecidos com ou sem o envelope da coleta, 40% são enviados ao Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), administrado pela própria CNBB, que realiza a análise da viabilidade e acompanhamento do desenvolvimento dos projetos enviados.

O Conselho Gestor do FNS é responsável pela supervisão da utilização do valor doado e pela aprovação dos projetos. O grupo é formado pelo Secretário-Geral da CNBB, pelo Bispo Presidente da Comissão Episcopal Pastoral da Caridade, Justiça e Paz, pelo Ecônomo da CNBB, pelo Secretário-Executivo da Campanha da Fraternidade, por um representante dos Secretários Executivos Regionais da CNBB, pelo Diretor Executivo Nacional da Cáritas Brasileira, pelo Assistente Social da CNBB e pelo Coordenador de projetos do FNS.

As organizações que desejarem receber o apoio do Fundo Nacional da Solidariedade devem primeiro verificar se estão de acordo com os critérios descritos no edital para a CF 2019 e, posteriormente, realizar o cadastro no site: www.fns.cnbb.org.br. Após essa primeira etapa, ainda é necessário o envio da documentação ao endereço: SE/SUL Quadra 801 Conjunto B – CEP 70200-014 – Brasília (DF). Para dúvidas, o e-mail de referência é fns@cnbb.org.br

Os que desejarem colaborar com o Fundo Nacional de Solidariedade da CNBB ao longo de todo o ano, para ajudar projetos sociais, podem efetuar sua doação na conta bancária destinada para o FNS.

Os projetos selecionados serão aqueles que, preferencialmente, atendam às propostas da Campanha da Fraternidade de 2017, que teve como tema “Fraternidade: Biomas Brasileiros e Defesa da Vida” e lema “Cultivar e guardar a Criação”.

 

NAS DIOCESES

Os outros 60% do valor adquirido permanecem na própria diocese em que houve a coleta, a fim de contribuir com projetos locais de responsabilidade do respectivo Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS), que é gerido pelo Conselho Gestor Diocesano. Fazem parte do grupo membros da Caritas Diocesana - nos locais em que a instituição está inserida – um representante das Pastorais Sociais, a coordenação de pastoral diocesana, a equipe de animação das campanhas, o administrador diocesano e alguém de referência no tema da CF. O bispo diocesano, normalmente, é quem preside o Conselho e o constitui.

AÇÕES CONCRETAS

Em 2017, a Diocese de Caetité (BA) iniciou os trabalhos do Fundo Diocesano de Solidariedade, para colaborar com a ação social da Igreja Católica em seu território. Nos dois primeiros anos de instituição, 13 projetos já receberam a ajuda dos valores destinados, segundo informações da Cáritas Diocesana de Caetité.

 

ALGUNS PROJETOS APOIADOS EM 2017 E 2018 NA DIOCESE DE CAETITÉ:

- Fortalecimento do trabalho com as mulheres artesãs do Clube de Mães, da Paróquia Senhor Bom Jesus da Boa Vida, em Cordeiros (BA);

- Implantação de viveiros para a multiplicação de umbu (fruto pequeno e arredondado, de casca lisa ou com pequenos pelos, levemente azedo, usado na produção de polpas de fruta, sorvetes, geleias e doces), na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, em Botuporã (BA);

- Implantação de área verde no Bosque Nossa Senhora, da Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus e dos Homens, em Palmas de Monte Alto (BA);

- Movimento dos Atingidos pela Mineração – Comunidades atingidas por mineração de Caetité, Guanambi e Pindaí (BA);

- Capacitação de Karatecas, na Associação de Karatê Águias da Bahia, em Condeúba;

- Cursinho popular do Alto Sertão da Bahia, para o acesso ao ensino superior nas cidades de Guanambi e Caetité (BA);

- Projeto de educação financeira para o Clube de Mães da Paróquia de Cordeiros (BA);

- Compra de materiais para aulas de karatê realizadas na Paróquia Santa Rosa do Viterbo, em Guajeru (BA).

 

Para ajudar durante o ano todo com o Fundo Nacional de Solidariedade, faça seu depósito:

Banco Bradesco, Agência 0484-7 – Conta Corrente 4188-2 – CNBB. É necessário enviar o comprovante de depósito por e-mail: financeiro@cnbb.org.br ou por correspondência, no endereço: SE/Sul Quadra 801 Conjunto B – CEP: 70200-014 – Brasília (DF) e pelo telefone (61) 2103-8111 (financeiro).

 

LEIA TAMBÉM: Iniciativas de práticas quaresmais nas paróquias da Arquidiocese de São Paulo

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Vale de ganância e sangue! Vai continuar?

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01 de março de 2019

O país mais uma vez é abalado pela repetição de um crime/tragédia no estado de Minas Gerais. Há pouco mais de três anos, em Mariana, a Samarco, a Vale e a PHbP Biliton destruíram a bacia do Rio Doce. O crime causou danos gigantescos a todo um ecossistema e também aniquilou muitos sonhos, além de ceifar a vida de muitas pessoas. Será que vamos permitir que a Vale, movida pela ganância, e todas as outras mineradoras continuem manchando de lama, o território brasileiro?

Novamente a Vale mostra a forma irresponsável como trata o meio ambiente e as pessoas. Revela que seu compromisso é com o lucro. Assim explora indiscriminadamente os bens naturais, privatiza a riqueza e gera enormes sofrimentos para a população. Nesse sentido, ao abordar o cuidado com a casa comum, na Encíclica Laudato Si’, o Santo Padre, Francisco, evocando o canto de São Francisco de Assis, ressalta que a nossa casa comum, pode ser comparada, ora a uma irmã, com quem partilhamos a existência, ora uma boa mãe, que nos acolhe em seus braços. No documento, o Santo Padre alerta sobre a força ameaçadora da destruição em nosso planeta, conforme trecho, abaixo, transcrito na íntegra.

Esta irmã clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou. Crescemos a pensar que éramos seus proprietários e dominadores, autorizados a saqueá-la. A violência, que está no coração humano ferido pelo pecado, vislumbra- se nos sintomas de doença que notamos no solo, na água, no ar e nos seres vivos. Por isso, entre os pobres mais abandonados e maltratados, conta-se a nossa terra oprimida e devastada, que «geme e sofre as dores do parto» (Rm 8, 22). Esquecemo-nos de que nós mesmos somos terra (cf. Gn 2, 7). O nosso corpo é constituído pelos elementos do planeta; o seu ar permite-nos respirar, e a sua água vivifica-nos e restaura-nos (Carta Encíclica Laudato si’, do Santo Padre Francisco, sobre o cuidado da casa comum).

Face à gigantesca tragédia ambiental, que recaiu sobre Minas, de impactos profundos à casa comum, as palavras do nosso Papa se fazem tão oportunas e necessárias para refletirmos sobre nossa realidade. Se a casa é comum, por que permitimos que a natureza, dom de Deus, seja tratada de forma tão agressiva, sobretudo, pelas mãos de quem gera pobreza, marginalização e exploração dos nossos irmãos trabalhadores das minas?

O discurso veiculado pela mídia e pelos Governos, bancado pelas grandes empresas de mineração, diz que estes empreendimentos geram progresso, empregos, desenvolvimento e riqueza para a região. Sendo assim, perguntamos: que riqueza é essa? Que tipo de desenvolvimento esse modelo de mineração promove para a população? O que enxergamos são os lucros das empresas: riqueza para a Vale e seus associados, aumento progressivo dos crimes ambientais, alarmantes surtos de doenças infecciosas e psicológicas, muitas vidas soterradas e ainda, a impunidade dos responsáveis.

As tragédias/crimes em Mariana e Brumadinho mostram a falência do sistema vigente quanto ao processo de “regulação” do setor minerário. O licenciamento ambiental apenas promove a legalidade das empresas, autorizando formas de exploração que são verdadeiras catástrofes.

Todo o sistema deve ser repensado. A lei e a ação do Estado, de forma urgente, devem ser reestruturadas para garantir à população uma relação equilibrada com a natureza.

O Rio Paraopeba, agora morto, é responsável por 40% das águas do reservatório de Três Marias. Ele é um dos principais afluentes do Rio São Francisco, que há muito tempo vem sendo castigado pela poluição, além da superexploração de suas águas, que mesmo degradadas, continuam gerando vida ao povo ribeirinho. Como nos mostra a Cartilha Ecológica do Rio São Francisco da CNBB, a vocação do Velho Chico, para o consumo humano e dessedentação animal, vem sendo sistematicamente substituída pela obtenção do lucro, para atender os interesses do governo e das empresas. Agora o Rio São Francisco, rio da integração nacional, vê-se ameaçado pela lama tóxica e criminosa da Vale, que, ora escorre sobre seu leito, o rejeito da mineração, podendo tornar suas águas impróprias, não somente para o consumo humano e animal, mas causar enormes danos às populações que vivem da pesca e da agricultura de vazantes.

Desse modo, a indignação se faz ainda maior, tendo em vista que, após o crime em Mariana, cometido pelas mineradoras BHP/VALE/Samarco, nenhuma providência efetiva foi tomada para segurança dessas barragens. Ao contrário disso, as explorações foram facilitadas, os lucros garantidos e o mais inaceitável, o Estado além de conivente, é promotor deste modelo de exploração. Ao construir o padrão de barragens a montante, as empresas optam pelo modelo mais barato e menos seguro que existe, colocando vidas em risco, podendo a qualquer instante eliminar do mapa, cidades e ecossistemas inteiros.

O momento é de ação! De muita luta e de conclamação para um limiar de novos tempos, para que o direito do povo, dos animais e da natureza não seja completamente suplantado em detrimento da acumulação desenfreada do lucro. Exigimos que informações, acerca da qualidade das águas do Rio Paraopeba, sejam levantadas por uma entidade autônoma e divulgadas, assim como as soluções sejam apresentadas e executadas, a fim de que a contaminação não chegue ao nosso querido Velho Chico, que não suportará mais tanta agressão. Exigimos um projeto efetivo de revitalização da Bacia do Rio São Francisco, envolvendo comunidades, municípios e estados que são parte da “casa comum”.

Exigimos, ainda, que os atingidos pelos crimes de rompimento das barragens de rejeitos de mineração tenham a devida reparação e que os povos ribeirinhos também sejam considerados atingidos para fins de reparação, na proporção do dano que porventura vier a ocorrer. Que as empresas e o estado tomem todas as medidas necessárias para assegurar a o direito à VIDA.

Exigimos que os complexos minerários em Paracatu, em Riacho dos Machados e em qualquer outra cidade ameaçada sejam, minuciosamente, avaliados quanto ao risco e os atuais impactos que hoje causam. Os territórios das populações tradicionais devem ser livres de mineradoras. Que seja repensado um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil, que leve em conta a natureza e a vida do povo pobre. Um modelo que não dê privilégios a poucos e sofrimento a grande parte da população.

Como nos mostra a Laudato Si’, todas as formas de vida, todos os minerais e processos orgânicos e físicos estão conectados em múltiplas relações interdependentes. Nada na criação divina é supérfluo. Toda ocorrência aos olhos de Deus é dotada de um significado. A produção dos crimes ambientais, de rompimento de barragens serão continuadas se nos mantivermos passivos ou alheios à realidade. Não aceitamos respostas prontas. Não aceitamos que o crime seja tratado como acidente! Foi mais um crime! Não permitiremos a reprodução continuada do crime e dos danos! Exigimos também que a revitalização do Rio Paraopeba seja uma prioridade. Não admitimos que novas barragens se rompam! Que novas licenças ambientais sejam concedidas sem análises criteriosas e debatidas com a população, a qual deve definir sobre o futuro de suas regiões e localidades. Não admitimos, sobremaneira, que o lucro seja privatizado e os prejuízos socializados!

Pelos trabalhadores e trabalhadoras de Brumadinho e por todas as vítimas dessa brutal tragédia criminosa! Por suas famílias em sofrimento!

Por todos os animais e plantas que morreram ou que agonizam nessa perturbação ambiental!

Pelo direito ao funcionamento pleno do ecossistema dos nossos rios e mares!

Proclamamos pelo direito de viver como integrantes da mãe natureza, que nos irmana no nosso grande território coletivo, nossa Casa Comum!

Ao levante dos povos em defesa do Opará, rio mar, Velho Chico! Avante!!!

Januária (MG), 20 de fevereiro de 2019.

Assinam:

1. MPP – Movimento dos Pescadores e Pescadoras do Brasil

2.    CPP – Conselho Pastoral dos Pescadores

3.    CPT – Comissão Pastoral da Terra

4.    CIMI – Conselho Indigenista Missionário

5.    Cáritas Diocesana de Januária/MG

6.    Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais

7.    Cáritas Arquidiocesana de Montes Claros

8.    Pastoral Familiar de Januária

9.    CNLB – Conselho Nacional do Laicato Leste 2

10.    Pastorais Sociais da Arquidiocese de Montes Claros

11.    Franciscanas e Franciscanos

12.    Irmãs da Divina Providência

13.    Associação dos Produtores Rurais da Ilha da Marambaia Pirapora

14.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Croatá – Januária MG

15.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Cabaceira – Itacarambi MG

16.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira Família Ligia Batista – Pedras de M.da Cruz

17.    Comunidade Vazanteira Pesqueira da Venda

18.    Comunidades do Território Tradicional Geraizeiro do Vale das Cancelas

19.    Comunidade Vazanteira Barrinha

20.    Colônia de Pescadores de Ibiaí – MG

21.    Diocese de Januária

22.    Dom José Moreira – Bispo Diocesano

23.    Colônia de Pescadores Z-36 de Manga – MG

24.    Associação Quilombola, Pesqueira e Vazanteira de Caraíbas – Pedras de M. da Cruz MG

25.    Ponto de Cultura: Centro de Artesanato de Januária MG

26.    Sub regional da Conferência dos Religiosos do Brasil do Norte de Minas

27.    Povo Indígena Xacriabá

28.    EFAT – Escola Família Agrícola Tabocal de São Francisco

29.    Prefeitura Municipal de São Francisco

30.    Câmara de Vereadores de São Francisco

31.    Agência de Desenvolvimento Municipal de São Francisco

32.    Deputada Estadual Leninha Alves de Souza

33.    Deputado Federal Pe. João Carlos Siqueira

34.    CRDH Norte de Minas – Centro de Referência em Direitos Humanos Norte de Minas

35.    Articulação Semiárido Mineiro – ASA Minas

36.    Núcleo do Pequi e outros frutos do cerrado

37.    Articulação Rosalino Gomes de Povos e Comunidades Tradicionais

38.    Associação dos Vazanteiros do Município de Itacarambi

39.    Articulação Vazanteiros em Movimento

40.    Deputado Estadual de Minas Gerais Zé Reis

 

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