Católicos dão testemunho de solidariedade em meio à pandemia

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06 de mai de 2020

Na quarentena, as igrejas estão fechadas, missas públicas suspensas, mas a fé e a solidariedade dos católicos continuam ativas. Da mesma maneira que os fiéis continuam cultivando sua vida espiritual em casa, com o auxílio das plataformas digitais, também não faltam iniciativas de solidariedade para ajudar aqueles que sofrem com mais intensidade os impactos da pandemia.

Adaptando-se às medidas de distanciamento social, os inúmeros serviços caritativos das paróquias e comunidades da Arquidiocese de São Paulo continuam atuantes, além de outras iniciativas que surgiram em decorrência da crise do novo coronavírus.

Um desses exemplos é o da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, localizada no bairro do Tatuapé, zona Leste. Todos os domingos e segundas-feiras, são distribuídas cerca de 900 marmitas, com o objetivo de amenizar a dor e o sofrimento dos mais pobres, sobretudo das pessoas em situação de rua.

Também são distribuídas cestas básicas para as famílias mais carentes da região. Segundo o Pároco, Padre José Mário Ribeiro, todos são convidados, como Igreja, a olhar para os mais necessitados, especialmente nestes momentos de maior dificuldade.

“A Paróquia decidiu realizar essa ação e com isso estamos levando um pouco além da comida: também levamos um pouco de esperança e fé para as pessoas. A iniciativa não surgiu agora, a comunidade já vem realizando um trabalho e um acompanhamento social, lembrando dos mais necessitados. Com essa pandemia, no entanto, tornou-se mais acentuado”, disse ao O SÃO PAULO.

COMUNIDADE CONSCIENTE

Muitos paroquianos e comerciantes locais contribuem com a doação de alimentos, tanto para a elaboração das marmitas quanto para as cestas básicas, que são distribuídas para as famílias do bairro e para outras paróquias mais necessitadas. Isso sem falar na equipe que realiza toda a preparação da comida e a distribuição dos alimentos.

“A consciência das pessoas é muito interessante e bonita. É muito gratificante a gente perceber uma comunidade paroquial consciente, que não tem medido esforços em preparar, buscar, integrar, e ter a sensibilidade de poder ajudar e levar, junto com o alimento, uma palavra de conforto e esperança, também por intermédio dos meios de comunicação”, completou o Padre.

Todos os que desejarem podem realizar a doação de alimentos, legumes, pro- dutos de limpeza, de higiene pessoal e embalagens descartáveis para marmitex. A Paróquia fica na Praça Sílvio Romero, s/no, no bairro do Tatuapé, e a entrega pode ser feita de segunda-feira a sábado, das 8h às 17h, e, aos domingos, das 8h às 14h. Também é possível entrar em con- tato para retirada de doações, por meio do número (11) 2093-1920.

CAFÉ DA MANHÃ

Em outro ponto da cidade, na zona Norte, a Paróquia Sant’Ana tem sido uma referência para as pessoas em situação de rua e famílias carentes. Quem sai da es- tação Santana do Metrô já avista a longa fila que se forma todas as manhãs na es- quina da Rua Doutor Gabriel Piza com a Avenida Cruzeiro do Sul: são centenas de pessoas que aguardam para tomar o café da manhã oferecido pela comunidade há mais de 20 anos.

Segundo o Pároco, Padre José Roberto Abreu de Mattos, a Pastoral do Café da Manhã costumava atender diariamente uma média de 500 pessoas. Desde que começou a pandemia, a demanda aumentou e o serviço tem atendido cerca de 800 pessoas.

O modo de distribuição do café da manhã também sofreu adaptações para respeitar as medidas de distanciamento social recomendadas pelas autoridades sanitárias.

Agora, os copos com café são colocados em uma mesa, assim como os pães, embalados individualmente para que cada um pegue o seu alimento sem ter contato físico com outras pessoas. Os voluntários também reforçaram os cuidados com a higiene e estão usando máscaras e luvas.

Para atender a essa demanda, a comunidade conta com a ajuda dos fiéis e de alguns benfeitores.

Além do café da manhã, a Paróquia Sant’Ana está distribuindo cestas básicas para as famílias mais necessitadas. Nas duas últimas semanas de abril, foram distribuídas cerca de mil cestas básicas, graças à solidariedade dos paroquianos e das pessoas que têm atendido aos pedi- dos que o Pároco tem feito por meio das redes sociais da Paróquia.

“Nós precisamos continuar essa campanha, pois a nossa igreja está numa região central e, por isso, a demanda é muito grande”, acrescentou o Sacerdote.

Para aqueles que queiram doar ali- mentos para o café da manhã ou para as cestas básicas, basta entrar em contato com a Paróquia Sant’Ana pelo site paroquiasantana.org.br, pelo telefone (11) 2979-5558 ou se dirigir diretamente à igreja, na Avenida Voluntários da Pá- tria, 2.060, Santana.

VICENTINOS

A Paróquia Imaculado Coração de Maria, no Jardim Princesa, na periferia da zona Norte, é composta por dez comunidades que vivem em meio a uma realidade marcada pela pobreza. Lá, o trabalho da Sociedade São Vicente de Paulo (Vicentinos) sempre foi essencial, e se torna ainda mais neste momento.

São atendidas cerca de cem famílias cadastradas. No entanto, para o Pároco, Padre José Carlos Rodrigues, nos últimos dois meses tem sido um desafio atender essas famílias, uma vez que a maior parte das doações eram levadas pelas pessoas que iam às missas. “Graças às mídias sociais, no entanto, temos conseguido arrecadar alimentos para continuar a distribuição”, completou.

Outro desafio é que aumentou o número de pessoas procurando a Paróquia em busca de alimento e, no momento, há uma fila de espera de famílias.

Informações para colaborar com a Paróquia Imaculado Coração de Maria podem ser obtidas pelo telefone (11) 3981-3107.

EM CASA

Os Vicentinos da Paróquia São José do Belém, no Belenzinho, zona Leste, também se adaptaram para continuar o atendimento às famílias do bairro. A maioria da população vive em moradias coletivas e cortiços, em condições precárias, e, devido à quarentena, muitos ficaram sem trabalho e não conseguiram o auxílio emergencial do Governo Federal.

Por isso, além de pedir ajuda pelas redes sociais, o Pároco, Padre Marcelo Maróstica, escreveu uma carta aos paroquia- nos pedindo a solidariedade deles, que já costumavam colaborar com a doação de alimentos nas missas e agora estão em isolamento social.

A carta foi distribuída nas casas e edifícios do bairro. Em alguns condomínios, os próprios moradores se encarregaram de fazer a arrecadação ou orientaram os moradores a deixar sua ajuda na portaria, para que alguém da comunidade passe para apanhá-las.

As doações para a Paróquia podem ser entregues às quartas e quintas-feiras, das 14h às 17h, no Largo São José do Belém, 37.

APELO DO ARCEBISPO

Nas missas diárias que tem celebrado em sua residência, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, reitera seu apelo para que os católicos procurem suas paróquias, estejam unidos espiritualmente às suas comunidades e busquem ajudá-las em suas necessidades materiais e no socorro aos mais pobres.

“A Igreja não parou na quarentena, ela continua a sua missão de evangelização e serviço da caridade em suas mais variadas obras”, afirmou em uma das celebrações.

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Uma receita de empatia

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01 de mai de 2020

O fluxo acrescido de moradores de rua em busca de refeição no restaurante “Duas Terezas”, localizado no número 514, da Alameda Lorena, no Jardim Paulista, zona Oeste da capital, com o início da quarentena na cidade de São Paulo, há pouco mais de um mês, chamou a atenção da proprietária e chef de cozinha Mariana Pelozio.

A primeira atitude tomada por ela foi estabelecer que todos os que fossem ao seu restaurante pedir por comida recebessem alimentação. Contudo, ela sentia o desejo de contribuir de outras maneiras.

Paroquiana do Santuário São Judas Tadeu, na Região Episcopal Ipiranga, juntamente com o marido, Diego Ciarrocchi, Mariana tem tido contato com a população de rua desde que conheceu o Arsenal da Esperança.

Em 2014, ao participar do curso de expressão viva, da Oficina Viva Produção, da cantora Ziza Fernandes, ela fez parte do elenco do musical “Caminhos da Esperança”, que contou a história da entidade.

A chef de cozinha soube, por seu esposo, que a sede do Arsenal da Esperança, no bairro da Mooca, desde o dia 23 de março se tornou o local onde mil moradores de rua permanecem em quarentena ininterruptamente, como forma de protegê-los dos riscos de contágio pelo novo coronavírus.

“O Arsenal da Esperança está fazendo algo inimaginável, um milagre. Se nós pensarmos em um café da manhã, falamos de mil pães e mil copos de café com leite, mas isso cresce e, em uma conta rápida, por refeição, são gastos 280kg de arroz, fora o jantar”, comentou em entrevista ao O SÃO PAULO.

INGREDIENTES

Mariana sabia que não conseguiria fazer uma doação suficientemente capaz de atender as necessidades atuais: “Eu tinha que fazer com que outras pessoas também ajudassem  [o Arsenal da Esperança]. Precisava de um mutirão, mas como fazer um na quarentena? Foi quando eu pensei em juntar as pessoas na internet”, contou.

Inspirada nas lives de outros profissionais da Gastronomia e áreas diversas, ela decidiu utilizar sua influência nas redes sociais e ministrar uma aula de culinária on-line, em que os futuros alunos pagam o quanto podem pelo ingresso e todo valor angariado será destinado ao centro de acolhida.

A oficina gastronômica “Cozinha e Solidariedade” acontecerá no sábado, 2, às 20h, e não ficará disponível posteriormente: “A ideia é cozinhar com o que as pessoas têm em casa, para que possam fazer comigo”, explicou a chef, completando que o propósito da aula, além, das doações, é ensinar como utilizar os alimentos em sua totalidade.

Ela adiantou, ainda, que o prato principal da live terá panqueca de berinjela e arroz temperado com o talo do legume para que nada seja desperdiçado.

Os interessados devem acessar o site do restaurante “Duas Terezas” e preencher um formulário. Os organizadores farão o contato com a confirmação da inscrição e informando os ingredientes que serão usados no preparo das receitas. O pagamento deve ser feito pelo aplicativo Ame Digital (disponível para Androide e IOS). Com o aplicativo instalado, basta escanear o QR code e pagar no débito ou crédito o valor desejado.

QUEM DIVIDE MUTIPLICA

“Eu sei que nenhum valor será suficiente para bancar o Arsenal, são mil pessoas, precisa de muito dinheiro. O que eu espero conseguir é que mais pessoas se sensibilizem, saibam que o Arsenal existe, que tem mil pessoas que estariam nas ruas, sendo contaminadas e contaminando, mil pessoas que não teriam o que comer e que estão sendo alimentados e têm um teto para dormir”, manifestou Mariana.

Com a aula, ela deseja que mais pessoas se perguntem: ‘eu estou em casa de quarentena e quem não tem casa, onde dorme essa noite?’ E que com este questionamento transformem o pensamento de suas prioridades: “Se cada um faz um pouco, nós conseguiríamos mudar tudo. Esse é o pouco que eu posso fazer”.

A cantora Ziza Fernandes, diretora-geral da Oficina Viva Produções, apoiadora do projeto e que apresentou o Arsenal da Esperança a chef de cozinha, afirmou: “como um corpo docente, nunca teremos noção sobre o impacto do que nós fazemos se amplifica dentro das pessoas. É um privilégio ver como a Mariana multiplica em amor, em atos concretos, em compromisso com a humanidade em um momento tão delicado, em que precisamos cada vez mais entender que nossa missão é sermos pontes uns para os outros”.

O ARSENAL DA ESPERANÇA

Transformar a casa de acolhida em um espaço de quarentena, significou um grande desafio institucional, de acordo com Padre Simone Bernardi, atual administrador do Arsenal. Atualmente, são oferecidas 3 mil refeições diárias. Acrescenta-se a isso o crescimento com os gastos de água, luz e outros insumos.

“O Arsenal tentou responder desta forma a população de rua que é muito grande. A nossa parte foi tentar preservar uma parcela de mil pessoas e até agora parece que esse esforço serviu, pois não tivemos casos graves de adoecidos. Eu considero isso um pequeno milagre, pois são pessoas com a saúde muitas vezes precária e uma história de vida difícil, com dependências. O fato de termos oferecido essa quarentena protegeu essas pessoas até agora e espero que continue assim”, celebrou Padre Simone.

O responsável define que a inciativa da chef de cozinha beneficiará a entidade de duas formas: a primeira, concretamente, por meio dos valores que irão custear parte das despesas. A segunda, com a inspiração de novos gestos de fraternidade: “Isso mostra que a solidariedade é possível em qualquer circunstância, isto é um grande sinal!”

Segundo o sacerdote, a população de rua sempre esteve, de certa forma, isolada socialmente e, por isso é louvável a atitude da chef de cozinha, “que poderia estar pensando apenas nos problemas que vem enfrentando, pois é evidente de que quem tem uma atividade está sofrendo também, mas está pensando nos outros mais desfavorecidos. Por meio da comida que ela ensina, está fazendo com que pessoas que não teriam comida também possam se alimentar. Em tempos tão difíceis, isso um sinal de bondade muito grande”, concluiu.

Acompanhe o trabalho do Arsenal da Esperança

 

 

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Imigrantes bolivianos sofrem impacto da pandemia em São Paulo

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24 de abril de 2020

Maior comunidade de imigrantes de São Paulo, os bolivianos são um dos grupos que mais têm sofrido o impacto da pandemia de COVID-19.

Segundo dados da Polícia Federal e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), de 2019, mais de 75 mil bolivianos vivem na capital paulista. As condições precárias de moradia, as dificuldades de acesso à informação e à saúde, além da perda de renda devido às medidas de isolamento social tornam essa população uma das mais vulneráveis neste momento.

Como os bolivianos que, em sua maioria, vivem na capital, Jenny Liuca Choque, 25, e sua família trabalham em oficinas de costura que abastecem o mercado da moda. Devido à quarentena, a produção está paralisada e, com isso, falta renda para arcar com as despesas de subsistência.

“Para muitos de nós, a única entra- da econômica é pelo nosso trabalho na costura. Grande parte da comunidade boliviana tem trabalho informal e perdemos as nossas receitas com as quais pagamos nossas despesas básicas, como alimentação, água, eletricidade, gás e outras contas. E o pior de tudo, os aluguéis das casas são muito altos.”

AUXÍLIO EMERGENCIAL

Muitos desses imigrantes se enquadram no grupo dos que têm direito ao auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal. No entanto, se a população em geral já está tendo dificuldade para receber essa ajuda, alguns bolivianos, além dos obstáculos com o idioma, não estão com a documentação necessária regularizada. Os que conseguem se inscrever no sistema recebem como resposta que o pedido de auxílio está sendo analisado.

Nesse sentido, entidades e organizações que realizam trabalhos voltados para os migrantes têm ajudado essa população a realizar o pedido do auxílio emergencial. Uma delas é a Missão Paz, entidade ligada à Paróquia Nossa Senhora da Paz, no centro da capital, que coloca à disposição um grupo de assistentes sociais que ajuda no cadastramento.

“Essas mesmas assistentes sociais também mapearam as famílias mais necessitadas e distribuíram cestas básicas, produtos de limpeza, higiene pessoal, leite em pó e fraldas”, explicou ao O SÃO PAULO o Padre Paolo Parise, Coordenador da Missão Paz.

ATENDIMENTO A DISTÂNCIA

Para evitar aglomerações e o deslocamento da população, desde o início da pandemia, a entidade disponibilizou alguns canais para os imigrantes e refugiados que precisam entrar em contato, redirecionando as demandas aos vários profissionais, por meio do telefone (11) 3340-6950, e-mail: protecao@missaonspaz.org e Facebook.

Há, ainda, uma psicóloga, uma advogada e uma equipe de saúde que atendem a distância, de suas casas, ajudando a solucionar problemas e tirar dúvidas.

SAÚDE

Além das dificuldades econômicas, a comunidade boliviana sofre com os riscos da própria COVID-19. Nem todas as famílias conseguem seguir por completo as recomendações preventivas de distanciamento social para evitar o contágio.

Muitas famílias moram em pequenos cômodos ou moradias coletivas que funcionam também como oficina de costura, em muitos casos com apenas um banheiro para o uso comum, sendo inevitáveis a aglomeração e o isolamento das pessoas do grupo de risco, o que dificulta os cuidados necessários com a higiene do ambiente.

Outra dificuldade é o acesso à assistência médica, pois a grande maioria depende do sistema público de saúde, que já está à beira da saturação do atendimento. Jenny relatou que muitos de seus compatriotas não sabem exatamente quando devem procurar o atendimento médico e temem se serão atendidos caso desenvolvam a forma grave da doença.

O médico Erwin Cordova Chavez é presidente do grupo Voluntários por Amor, que ajuda a comunidade boliviana com atendimentos médicos, sobretudo os que têm dificuldade em relação ao idioma.

Chavez informou à reportagem que acesso ao serviço de saúde para os imigrantes já era difícil antes da pandemia pelo fato de maioria dos bolivianos não falarem português. “Como a maioria deles se relaciona somente entre si, acabam não aprendendo a língua”, explicou.

O grupo Voluntários por Amor, em parceria com algumas instituições e como Consulado Boliviano em São Paulo, tem arrecadado cestas básicas que são distribuídas em diferentes bairros da capital.

INSEGURANÇA

“Já tenho notícia de pelo menos cinco pessoas da nossa comunidade que foram infectadas. Também sabemos de uma morte em Guarulhos (SP). Sabemos, porém, que há muito mais pessoas doentes, sem contar aquelas que não apresentam os sintomas”, destacou a jovem.

De acordo com a Associação de Residentes Bolivianos (ADRB), há, até o momento, cinco mortes de pessoas da comunidade pela COVID-19, além de algumas pessoas internadas em estado grave.

Inclusive, já há a confirmação de um dos médicos do grupo Voluntários por Amor internado com o novo coronavírus.

Maria Erasma Beserra, 62, está no Brasil há nove anos. Além de fazer par- te do grupo de risco pela idade, tem a saúde debilitada e já enfrentava dificuldades para ter acesso ao tratamento médico. Com a pandemia, ela não está em condições de trabalhar e conta com a ajuda das pessoas para poder se sus- tentar.

“Faltam comida e dinheiro para pagar as contas. É desesperador. Estamos em casa, em quarentena e em oração, na esperança de que tudo isso passe”, relatou Maria Erasma, que mora em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, com suas duas filhas e uma neta de 2 anos.

Mesmo diante da dificuldade econômica, a idosa reconhece que o isolamento social é fundamental para evitar o agravamento da pandemia. “É importante que as pessoas tomem cuidado e sigam as orientações dos médicos”, afirmou.

SOLIDARIEDADE

A Missão Paz está recebendo doações em alimentos, produtos de limpeza e higiene, como também doações em dinheiro por meio de depósitos, segundo indicação no site missaonspaz.org, na seção “Como ajudar a Missão Paz durante a pandemia de COVID-19”.

“Mais uma vez, a Missão Paz experimenta a grande solidariedade de homens e mulheres de diferentes crenças religiosas, mas unidos na solidariedade com os que mais precisam. Graças às do- ações, no último fim de semana, 18 e 19 de abril, foram distribuí- das 162 cestas básicas”, diz o Padre Paolo.

OUTRAS AJUDAS

Além da Missão paz e dos Voluntários por Amor, há outras organizações que auxiliam a comunidade boliviana:

Associação de Residentes Bolivianos (ADRB)

Recebe doações de alimentos e de dinheiro para comprar cestas básicas para as famílias que ficaram sem renda.

Telefones: (11) 99357-4934; (11) 99945-3372; (11) 98278-8736

Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (Cemir)

Recebe doações para comprar cestas básicas e medicamentos para mulheres e famílias que passam necessidade, indicadas por líderes comunitárias.

E-mail: cemir.mulherimigrante@gmail.com 

Telefone: (11) 95845-2979

Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (Cami)

Recebe dinheiro e doações de alimentos. Também informa sobre oficinas de imigrantes que confec- cionam máscaras e aventais para a proteção contra a COVID-19. Telefone: (11) 96729-4238.

 

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‘Nós estamos aqui por vocês, lutem por nós’

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22 de abril de 2020

Irmã Rosane Ghedin, Diretora Presidente da Rede de Saúde e Cultura Santa Marcelina, falou ao O SÃO PAULO sobre a Campanha “ComVida-20 Santa Marcelina – ‘Nós estamos aqui por vocês, lutem por nós’”, que busca arrecadar R$ 20 milhões para ampliar o número de leitos destinados à assistência prestada aos pacientes identificados como suspeitos ou portadores da COVID-19.

São diferentes ações focadas na prospecção de doadores e parcerias para apoiar a instituição na abertura dos novos leitos e estruturação de um hospital campanha para os cuidados recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde diante das vítimas da atual pandemia.

No Hospital faltam subsídios para ofertar atendimento. Assim, os recursos captados servirão para ampliar os leitos de UTI, bem como continuar o atendimento aos pacientes em tratamento. A Irmã Rosane Ghedin fala mais sobre o assunto nesta entrevista

O SÃO PAULO - Como o Hospital tem se preparado para a COVID-19?

Irmã Rosane Ghedin - O Hospital está reorganizando os leitos de UTI e retaguarda das enfermarias. A Instituição busca aumentar 50 leitos de unidades de terapia intensiva e 80 leitos de enfermarias por meio da campanha “Com Vida 20” e parcerias para viabilizar a implantação e custeio.

E em relação ao fluxo de pacientes com a COVID-19?

Diante da fácil transmissão da COVID-19, destinamos um prédio totalmente isolado para a triagem geral e acolhimento dos casos respiratórios, com toda a estrutura exclusiva para o combate do vírus. Foram reorganizadas as filas cirúrgicas priorizando os procedimentos oncológicos, porém com diminuição das cirurgias eletivas para destinar os leitos para o atendimento do novo coronavírus. Bem como a reformulação das escalas médicas e de enfermagem para o atendimento seguro dos pacientes e colaboradores.

O Hospital Santa Marcelina está custeando testes de COVID-19 para os pacientes. Quais são os critérios? Qualquer pessoa pode ter acesso a este serviço?

Os testes são realizados em pacientes internados, seguindo os protocolos institucionais e diretrizes do Ministério da Saúde. Os mesmos são realizados em laboratórios de apoio e custeados pela Instituição e com tempo de resposta de aproximadamente três dias. Com relação ao acesso, o Hospital Santa Marcelina de Itaquera é o maior hospital da região leste de São Paulo e referência em alta complexidade.

Qual o diferencial do Hospital por se tratar de uma instituição com inspiração católica?

O diferencial do Santa Marcelina é a união da técnica com a fé. Buscamos colocar em um plano transcendente todos os colaboradores, prestadores de serviço, pacientes e acompanhantes e pedir para que Deus cuide e guarde cada um que ali está em tratamento ou trabalho. Colocamos tudo em um plano de fé e nas mãos de Deus. Não há diferencial técnico, o Hospital segue com a mesma terapêutica das demais unidades de saúde.

No local, há missas diárias para os médicos e profissionais da saúde. Poderia falar mais sobre esta iniciativa?

O Hospital sempre promoveu e proporcionou todos os dias assistência espiritual aos pacientes, acompanhantes e colaboradores. Neste momento de pandemia, mais do que nunca, vimos a necessidade de continuar proporcionando isso, pois percebemos que as pessoas buscam mais a fé e a aproximação com Deus. No entanto, reformulamos a maneira de realizar as missas durante esse período atípico. As celebrações passaram a ser realizadas com transmissão pelos meios de comunicação interna do hospital para evitar a aglomerações.

‘QUE O MEDO SEJA SUBSTITUÍDO PELA FORÇA DE DEUS’

Irmã Luceni das Mercês, da Congregação de Santa Marcelina, afirma que como religiosa está enfrentando a pandemia “com serenidade, fé e esperança”.

“Peço a Deus sua sabedoria para orientar todos. Estou em constante oração pelos pacientes infectados, para que sintam a presença e a força de Deus, neste momento em que estão privados de estar com o que é precioso, a família”, disse a Irmã. 

 Ela está junto aos profissionais do Hospital, orientando-os para o correto dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e os demais cuidados necessários para evitar a contaminação.

“Rezo junto a eles para que o medo seja substituído pela força de Deus, para continuarmos cuidando das pessoas que precisam de nós”, continuou a Religiosa. “Que possamos aprender – diante de tudo isso – a importância da família e das pessoas para nossas vidas”, afirmou Irmã Luceni.

MAIOR HOSPITAL DA ZONA LESTE DE SÃO PAULO

O Santa Marcelina, maior serviço de saúde da zona Leste de São Paulo, é um dos quatro hospitais de grande porte da cidade. Filantrópico, mantém 85% de seu atendimento dedicado ao SUS.

Possui mais de 700 leitos para atendimento ao Sistema Único de Saúde (SUS), particular e convênios, sendo 111 voltados à terapia intensiva. Atualmente, tem um quadro funcional com mais de 4,5 mil profissionais, com aproximadamente 900 médicos. Diariamente passam pelo complexo, entre funcionários, pacientes e prestadores de serviços, cerca de 10 mil pessoas.

Realiza prestação de Assistência médico hospitalar em regime de emergência e internação nas áreas de Clínica Médica, Clínica Pediátrica, Clinica Cirúrgica (Ortopedia, Buco Maxilo-Facial, Plástica, Oftalmologia Transplante de Órgãos e de Medula Óssea dentre outros) Clínica Ginecológica e Obstétrica, Unidade de Terapia Intensiva (Adulto, Infantil, Neonatal e Semi Intensiva).

A instituição, desenvolve ainda Programas de Ensino que contempla diversas modalidades de aprendizagem e aprimoramento técnico em Saúde: Internato Médico, Residência Médica e Especialização e ainda conta com um Serviço de Emergência preparado para receber casos graves e referenciados.

Atualmente, o Hospital Santa Marcelina é classificado como um serviço de Referência Quartenária, apto a realizar atendimentos de alta complexidade em diversas áreas da medicina.

Como ajudar:

Pessoa Física

- Doação em dinheiro (qualquer quantia)

- Trabalho Voluntário

- Doação de Sangue

Pessoa Jurídica

- Doação em dinheiro (qualquer quantia)

- Doação de Materiais (gerais) e insumos hospitalares

- Força de Trabalho

- Alimentos

Dados Bancários:

Banco do Brasil
Agência: 1911-9

Conta Corrente: 8560-x
CNPJ.: 60742.616/001-60

Banco Itaú
Agência: 1732|Conta Corrente: 13350-7
CNPJ: 60.742.616/0001-60

Banco Santander

Agência: 3809

Conta Corrente: 13000370-2

CNPJ: 60742.616/001-60

Central de Atendimento: 11 5555-7050

SERVIÇO

Hospital Santa Marcelina Itaquera

Local: Rua Santa Marcelina, 177, Itaquera

Informações: www.santamarcelina.org ou (11) 2070-6000

 

 

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A Igreja está a serviço dos pobres

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20 de abril de 2020

Uma idosa de 90 anos caminhava ao lado de inúmeras pessoas que seguiam pela extensa fila formada no Largo São Francisco, no centro de São Paulo. A cada novo passo, a mulher de idade se via mais próxima de um recurso distante de sua realidade havia quase sete dias. Quando chegou, ela recebeu das mãos de um frade franciscano o que buscava e, olhando em seus olhos, disse: “Eu quero louvar e agradecer a Deus, pois faz quase uma semana que não me alimento com comida”.

O agradecimento da idosa foi lembrado pelo Frei José Francisco dos Santos, da Ordem dos Frades Menores e diretor presidente do Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras), em entrevista ao O SÃO PAULO.

A organização administrada pela ordem franciscana, que há mais de 20 anos tem seu trabalho voltado à população em situação de rua, por meio do “Chá do Padre”, viu na escassez de recursos em tempos de COVID-19 a necessidade de ampliar seu atendimento aos mais vulneráveis.

EM PRAÇA PÚBLICA

No fim de março, para evitarem aglomeração na sede da entidade, localizada na Rua Riachuelo, no centro, os religiosos propuseram a montagem de uma tenda no Largo São Francisco, para a distribuição de refeições diárias.

Na linha de frente, atuam dez frades e sete religiosas das congregações das Irmãs Franciscanas da Terceira Ordem Seráfica, Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus e Irmãs Catequistas Franciscanas, além de inúmeros voluntários.

Imaginava-se, a princípio, uma média de 700 atendimentos por dia, contudo, somente no Domingo de Páscoa, 12, compareceram mais de 4,2 mil pessoas à tenda de atendimento.

Uma explicação provável para o rápido crescimento, na opinião do Frei José Francisco, é que a vulnerabilidade social já não atinge somente a população de rua: “Nós temos um grande número de pessoas vindas dos prédios ocupados, de trabalhadores informais. São os famintos da cidade, os primeiros atingidos pela crise da pandemia”.

Diante da inevitável aglomeração causada pelo fluxo de pessoas que frequentam a tenda, os frades, as religiosas e os voluntários tiveram que se adaptar ao uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs) e intensificar os cuidados com a higiene.

“Neste momento, fazemos a experiência de uma Igreja em saída, que não está reclusa, embora saibamos do risco. Assim como os governantes estão montando hospitais para atender à saúde do povo, nós, como uma pequena porção da Igreja, estamos também nos colocando em praça pública como instrumentos da solidariedade. Nas mãos de Deus não fazemos a nossa vontade, mas a Dele, nessa relação de cuidado com os que mais precisam”, manifestou o Frade.

SOLIDARIEDADE PLURAL

Outro desafio citado por ele foi o de manter a sustentabilidade institucional diante da nova demanda, o que tem sido possível graças ao apoio de muitas pessoas que enviam mantimentos e refeições prontas para distribuição. Das 3,5 mil refeições oferecidas diariamente, 3 mil chegam por meio de grupos que atuavam na região antes da pandemia.

Além da tenda, o serviço de solidariedade continua a acontecer na sede do “Chá do Padre” e em mais um espaço erguido em parceria com as secretarias municipais de Direitos Humanos e de Assistência Social, na Baixada do Glicério. Para as famílias carentes que não vivem em situação de rua, está sendo feito um cadastro para a distribuição de cestas básicas. Até o momento, já foram entregues 3,5 mil kits com mantimentos.

‘QUE EU LEVE A ESPERANÇA’

A ordem franciscana tem como princípio a atenção para com os mais pobres: “São Francisco vai dizer que estar entre os mais necessitados é fazer com que eles nos evangelizem e nos desafiem a um despojamento pessoal, fazendo-nos perceber que todos estamos sujeitos à fragilidade”, ressaltou o Frade.

Frei José refletiu, ainda, que o fato de o espaço ter se transformado em uma rede de solidariedade é motivo de grande emoção e revela a ação do Espírito Santo, que age em prol dos que precisam, por meio dos que se colocam a serviço da paz, da necessidade emergencial e da vontade de Deus. Ele fez memória, ainda, do que disse o Papa Francisco na Exortação Evangelii gaudium, sobre a necessidade de se edificar uma igreja aberta e a serviço dos pobres, atuando, assim, como “um hospital de campanha para, dessa forma, ajudar, defender e cuidar, mas que não veio para se estabelecer, pois o que deve ser estabelecido é o Reino de Deus, o Evangelho e Jesus”.

O Frade manifestou, também, seu agradecimento às muitas comunidades e pessoas que se solidarizam com o serviço à população de rua, com doações ou orações, sobretudo os padres e bispos que têm demonstrado especial atenção ao atendimento oferecido neste momento.

ESCLARECIMENTO

O Frei José Francisco dos Santos desmentiu as informações de que frades que atuam na linha de frente do serviço à população em situação de rua teriam contraído o novo coronavírus. Ele assegurou que nenhum dos religiosos ou voluntários envolvidos apresentou qualquer sintoma da doença até então, mas explicou que dois frades que residem no Convento São Francisco tiveram diagnóstico confirmado. Outro também desenvolveu os sintomas, mas não foi submetido ao teste e continua em isolamento social.

Leia a nota de esclarecimento do Serviço Franciscano de Solidariedade.

 

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Serviços de entrega por aplicativo facilitam doações a quem mais precisa

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18 de abril de 2020

Com a recomendação de isolamento social, como forma para evitar a disseminação do novo coronavírus, muitas pessoas deixaram o ambiente de trabalho das empresas para atuar no regime home-office. Em casa, também como maneira de economizar, muitos passaram a cozinhar as próprias refeições e deixaram de lado os pedidos de comida via aplicativos.

Os Apps, porém, seguem ativos, seja para atender quem ainda opta por pedir a comida na porta de casa, seja para aqueles que resolvem se solidarizar com os que mais precisam nesta época de recursos escassos, em especial para os mais pobres.

Os três aplicativos mais utilizados para os serviços de entrega – Uber Eats, Rappi e iFood – já disponibilizam ambientes que facilitam essa atitude solidária.

Uber Eats

No dia 14 deste mês, o Uber Eats criou a loja virtual “A comunidade nos move”, que dá ao usuário a opção de doar cestas básicas e kits de higiene.

Ao acessar o aplicativo do Uber Eats, há um banner da iniciativa “A comunidade nos move”. No ambiente é possível selecionar uma das cinco cestas básicas, com valores que variam de R$ 41 a R$ 137, ou as duas opções de kits de higiene, de R$ 7,00 ou R$ 11,90.

As cestas e kits são entregues em centros de distribuição coordenados pela Central Única das Favelas (Cufa), que fará a distribuição para as famílias em áreas de vulnerabilidade social, onde a instituição já atua com iniciativas de educação, lazer, esportes, cultura e cidadania.

Rappi

Na Rappi, as doações são viabilizadas por meio do botão “Doe Agora”. Estão sendo arrecadadas cestas básicas digitais para pessoas que vivem em comunidades carentes, A iniciativa é feita em parceria com a ONG Gerando Falcões. 

“Até o dia 14 de abril, quando a ação completou 15 dias, foram arrecadados R$ 472,818.72, o que representa mais de 8 mil ‘cesta básicas digitais’”, informou ao O SÃO PAULO a assessoria de imprensa da Rappi.

As doações individuais registradas variaram de R$ 5,00 a R$ 10 mil. “Estamos extremamente contentes com o resultado da ação e queremos alcançar ainda mais doações para essas famílias. Em um momento tão crítico como o que estamos vivendo, é incrível ver a mobilização dos nossos usuários para ajudar”, explica Sergio Saraiva, presidente da Rappi no Brasil.

iFood

O iFood não informou à reportagem se até o momento criou uma ação específica de doação em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

No aplicativo, porém, há uma área de doação permanente destinada a combater a fome no Brasil. Os valores doados são convertidos em cestas básicas que são entregues às famílias carentes pela ONG Ação da Cidadania.

Para acessar o serviço no aplicativo, o usuário deve ir até o perfil e clicar no item doações, optando por doar valores entre R$ 7, R$ 15 ou R$ 30, com opção de pagamento por cartão de crédito, vale refeição ou Google Pay.  

A empresa assegura que já foram arrecadados mais de 1 milhão de reais, beneficiando  mais de 130 mil pessoas em situação de vulnerabilidade no Brasil.

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Seminário na Alemanha abre as portas para as pessoas em situação de rua

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13 de abril de 2020

Silvio Vallecoccia, 44, está se preparando, para, junto a esposa e dois amigos, ler e compartilhar o Evangelho em uma chamada de vídeo on-line. Depois da partilha bíblica, os amigos jantaram juntos. Era domingo, 5 e, embora cada casal estivesse em sua própria casa, eles assim partilharam a vida em comunidade.

Silvio mora com a esposa em Colônia, na Alemanha, e ambos trabalham para a Arquidiocese. Há alguns dias, a cidade alemã, que foi sede da Jornada Mundial da Juventude em 2005, ganhou as páginas dos jornais em todo mundo quando o Cardeal Rainer Maria Woelki decidiu abrir o seminário para dar auxílio às pessoas em situação de rua.

Silvio é italiano e mora na Alemanha há 15 anos. Ele atua no Centro de Eventos Maxhaus, na cidade de Dusseldorf, um antigo mosteiro que tornou-se um local para realização de concertos, cursos e exercícios espirituais.

Em entrevista ao O SÃO PAULO, Silvio falou sobre a acolhida das pessoas em situação de rua no Seminário e como a Arquidiocese de Colônia, bem como a cidade, que tem uma população estimada em 1 milhão de habitantes, tem enfrentado a pandemia do novo coronavírus.

A rotina na cidade de Colônia mudou muito devido à Covid-19?

Silvio Vallecoccia – Sim. Desde 15 de março, foram tomadas as primeiras disposições para fechar atividades culturais e lugares de encontro entre as pessoas. Em seguida, foram proibidas reuniões, partidas de futebol, cinemas e museus etc. As únicas coisas que restam abertas hoje são os supermercados, as farmácias e tudo o que possa ser útil para bens de primeira necessidade. Não se pode sair em mais de duas pessoas ou, no máximo, membros da mesma família. Grupos de amigos, colegas ou familiares distantes não podem se reunir ou sair juntos.

As pessoas tem aderido bem a essas recomendações?

Sim. Estamos vivendo dias muito difíceis, pois aqui inicia a primavera e as temperaturas começaram a subir, quando, normalmente, as pessoas saem mais e aproveitam os parques e praças. As pessoas, porém, estão cumprindo as determinações do governo. Respeita-se a distância entre as pessoas e os supermercados e negócios abertos estão muito organizados.

Como a Igreja em Colônia se organizou em relação às missas, celebrações e outras atividades eclesiais?

As celebrações litúrgicas não estão sendo mais presenciais. As comunidades estão transmitindo pela internet as missas, momentos de oração e encontros formativos. Há, também, muitas iniciativas entre as pessoas para continuar se encontrando virtualmente. Além disso, todas noites, às 21h, abrem-se as janelas e se aplaude as pessoas que estão nos hospitais ou nas ruas trabalhando. É um momento de encontro, troca entre as pessoas.

E qual a realidade das pessoas em situação de rua em Colônia?

Temos aqui cerca de 7 mil pessoas em situação de rua e, devido à restrição de circulação, as pessoas estão sem possibilidade de ganho. Isso porque elas recolhiam plásticos e latinhas nas ruas, por exemplo, e os trocavam no supermercado por comida e abrigo. Obviamente não havendo pessoas nas ruas, não há mais este tipo de ganho. Com o fechamento dos restaurantes e outros locais, há poucos banheiros públicos disponíveis.

Como a Igreja e as pessoas em geral viram a atitude do Cardeal de abrir o seminário para as pessoas em situação de rua? E como está acontecendo esta acolhida?

A decisão do Cardeal de abrir o seminário foi muito bem vista por todos, sobretudo pelos meios de comunicação, que divulgaram muito a notícia. As pessoas acolhidas não irão dormir no seminário, pois, neste caso, estão sendo acolhidas e ajudadas por instituições como a Cáritas ou outras entidades não religiosas. O seminário é aberto por duas horas ao dia. Das 13h às 14h fica aberto para as mulheres e das 14h às 15h para os homens. As pessoas tem a possibilidade de usar os banheiros, tomar banho e recebem um prato de comida. A previsão é de que se acolha de 100 a 150 pessoas por dia. No sábado, 4, 80 pessoas foram acolhidas. Li recentemente, em um jornal local, o testemunho de José (não me recordo o sobrenome). Ele falou que não pode trabalhar em casa, pois não tem casa e que no Seminário, além de receber um prato quente de comida, pode fazer sua higiene diária, pois não tem lugares com água corrente para tomar banho ou mesmo lavar as mãos. Ele reconheceu que o serviço oferecido pelo seminário está fazendo muita diferença em sua vida.

Você participa dessa iniciativa? Poderia falar sobre sua experiência.

Sim. Minha esposa e eu nos disponibilizamos para trabalhar como voluntários, sobretudo durante a semana da Páscoa. A maior parte dos voluntários são jovens estudantes e os próprios seminaristas e estudantes de Teologia. O Cardeal acompanha tudo de perto e coordena todo o trabalho. Importante ressaltar que todas as medidas de higiene estão sendo tomadas, como uso de máscaras e luvas. Acredito que crer em Deus é algo que se vive no interno da comunidade, na liturgia, no anúncio e nas obras concretas. A ação de abrir o Seminário é muito bonita, pois mostra uma Igreja atenta a todos. Recentemente, uma freira franciscana, que colabora na acolhida das pessoas no Seminário, falou que tem vivido uma experiência diferente de comunidade junto às pessoas em situação de rua.

 

ASSISTA UM VÍDEO SOBRE A INICIATIVA

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Faça o bem sem sair de casa

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08 de abril de 2020

As autoridades de saúde afirmam que a melhor maneira de evitar a disseminação do novo coronavírus é por meio do isolamento social. Porém, sabe-se que este afastamento e a própria crise na saúde já provocam impactos econômicos e sociais que afetam sobretudo a população mais carente. Então, fica a pergunta: Como praticar a caridade estando longe uns dos outros?

O Papa Francisco, em videomensagem publicada na sexta-feira, 3, afirma que, “mesmo isolados, o pensamento e o espírito podem ir longe com a criatividade do amor. Isto é necessário hoje: a criatividade do amor”.

Neste sentido, um dos recursos que vêm ganhando espaço é o de crowdfunding, método de financiamento coletivo disponível em plataformas on-line, pelo qual empresas e pessoas têm ajudado a quem mais precisa.

AOS MAIS ATINGIDOS

A Obra Kolping do Brasil é uma associação voltada à superação da pobreza por meio do desenvolvimento de crianças e adolescentes, formação de jovens e adultos, promoção integral da família, desenvolvimento comunitário e combate à fome e à seca.

Fundada pelo Beato Adolfo Kolping, em 1849, atua no Brasil desde 1923, e está presente em 120 cidades de 17 estados, com 176 unidades locais denominadas de Comunidade Kolping, e 12 unidades de coordenação estadual chamadas de Obras Kolping Estaduais.

“Os programas e projetos visam colaborar para combater a pobreza em todas as esferas, não somente a material, mas também a espiritual”, disse, ao O SÃO PAULO, João Ederson de Oliveira e Silva, diretor executivo da organização no Brasil.

A crise causada pela COVID-19 levou muitos trabalhadores informais a perder sua única renda. Diante disso, a associação realiza grande parte de seus projetos na periferia. Por isso, a Kolping lançou uma campanha de arrecadação on-line na plataforma Kickante.

“Grande parte dos nossos projetos estão localizados dentro da periferia. Dentro das comunidades mais pobres, conseguimos perceber na prática o efeito de tudo o que ocorre na economia do País e dessa crise provocada pelo COVID-19. Muitos trabalhadores que dependem do mercado informal perderam sua receita de uma forma para outra”, ressaltou.

Visando auxiliar essas famílias, a Koping lançou uma campanha de arrecadação online na plataforma Kikante.

“Muitos estão olhando para os efeitos do novo coronavírus na saúde das pessoas, e isso é muito importante. Existem, porém, os efeitos colaterais que essa pandemia está causando na economia da população mais pobre. A nossa campanha surgiu para dar uma resposta a isso. O fundo será destinado para os locais que estão com a situação mais precária”, enfatizou.

As doações para a campanha contra o Covid-19, podem ser feitas pela plataforma de doação online, ou por transferência, deposito bancário, boleto ou cartão de crédito disponíveis no site da Obra Kolping.

 

DESDE A INFÂNCIA

Crida em 2014, a Fundação Amor Horizontal trabalha com a promoção da infância por meio da assistência a projetos voltados às crianças e adolescentes.

Diante da pandemia, a fundação percebeu que muitos dos projetos seriam fechados e que outros, considerados essenciais, teriam sua demanda acrescida.

Juliana Ayrosa, diretora institucional, lembrou que muitas crianças e adolescentes dependem das refeições distribuídas nesses espaços, e que, com eles fechados, não teriam como se alimentar. Já os serviços de abrigo e casas de acolhida de saúde necessitam intensificar os cuidados com a higiene para diminuir os riscos de contaminação.

No início de março, a fundação lançou em seu site uma campanha específica para a COVID-19. Já nos primeiros dias, com as instituições ainda abertas, foram distribuídas 400 cestas básicas e 21 kits de higiene, e ainda se prevê a entrega de mais 3 mil cestas básicas e 3 mil kits de higiene.

“Se nós não criarmos uma rede, além das mortes que teremos impreterivelmente, teremos outros efeitos colaterais, e é isso que não queremos. A criança é pouco atingida pela doença, mas se ela não tiver o que comer, morrerá de desnutrição. Nós precisamos agir coletivamente, pois o problema é grande para todo mundo”, salientou Juliana.

A meta estipulada atualmente é de R$ 500 mil, e a diretora institucional disse estar confiante em atingi-la, pois percebe que muitas pessoas têm se preocupado em ser solidárias neste momento.

 

CARIDADE CRIATIVA

O Projeto Vida Corrida atua desde 1999, no bairro do Capão Redondo, na região sudoeste de São Paulo, promovendo inclusão social para mulheres e crianças por meio do atletismo. Paula Narvaez, corredora e coordenadora de marketing esportivo, decidiu que seria por meio dele que ajudaria os moradores locais a enfrentar o momento de pandemia.

Paula diz que grande parte das mulheres que residem no local atua como diaristas, mas, com o isolamento social, não estão recebendo o valor das diárias: “Em meio a tanta notícia ruim, eu decidi que precisava fazer algo para ajudar essas pessoas. Lançamos a campanha no dia 21 de março, com a meta de R$ 5 mil e, em dez minutos, atingimos R$ 3 mil. Aumentamos a meta e, em uma semana, arrecadamos mais de R$ 60 mil”, contou.

A campanha hospedada na plataforma Vakinha já entregou 500 cestas básicas, sendo 350 para atendidos pelo Projeto Vida Corrida. Além dos alimentos, foram doados 15 mil copos de água, pois a comunidade sofre com a escassez de recursos hídricos adequados.

“Tem pessoas que moram a beira do córrego, corredores e vielas com 80 famílias. O saneamento no local é a realidade das favelas brasileiras, por isso, entregamos um lote grande de água sanitária e um pouco de álcool em gel. Sabemos que o isolamento social na comunidade é diferente”, lamentou.

Paula afirmou que é possível ser solidário de diferentes formas, recordando que, há alguns dias, um amigo não tinha valor em dinheiro para fazer sua contribuição, mas ajudou doando alguns tênis de corrida, que foram vendidos e revertidos à campanha.

 O fato lhe deu a ideia de criar a página “Bazar do Corre” no Instagram, e que já arrecadou cerca de R$ 5 mil: “Nós vamos ter que usar o nosso coração para ajudar a população mais do que nunca. Sinto que a maioria das pessoas estão incomodadas e que querem contribuir de alguma forma. Precisamos ter esperança e exercitar tudo aquilo que antes não exercitávamos”, estimulou Paula.

PLATAFORMAS DE DOAÇÃO ON-LINE PARA

OS AFETADOS DO COVID-19

Doare

Abacashi 

Catarse 

Kickante 

Benfeitoria

Vakinha 

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Está tudo bem com você?

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Está tudo bem com você?

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03 de abril de 2020

A proliferação do novo coronavírus pelo Brasil tem despertado em muitas pessoas os sentimentos de medo e insegurança sobre o próprio futuro e o da humanidade. Tão forte como estes sentimentos, quem sabe até maior que eles, está a solidariedade, que tem levado as pessoas e instituições a diferentes ações de atenção com o próximo.

O jornal O SÃO PAULO foi à procura de quem tem feito o bem neste período de incertezas e apresenta cinco destas histórias.

O VIZINHO DO BEM

Um homem em isolamento social percebeu a falta de mantimentos em sua casa. Por pertencer ao grupo de risco para a COVID-19 e não ter familiares próximos para auxiliá-lo, ele se cadastrou no site Vizinho do Bem e solicitou a ajuda de um voluntário. A 150 metros de onde mora, uma moça aceitou colaborar, seguiu para o mercado mais próximo e deixou as compras que tinha feito no condomínio onde o homem que pediu ajuda reside.

Esta experiência foi lembrada por Alexandre Landim, diretor de operações da startup Noknox, plataforma de gerenciamento de condomínios residenciais, que em 18 de março, com o objetivo de contribuir para a minimização dos impactos do novo coronavírus, lançou o site Vizinho do Bem, que consiste no cadastramento de voluntários disponíveis para realizar ações cotidianas, sobretudo, em prol de pessoas que pertencem ao grupo de risco da COVID-19.

“Nós nos inspiramos no movimento de voluntários que colocam cartas em elevadores ou nas portas de seus vizinhos oferecendo as mais diversas formas de ajuda (passear com o cachorro, fazer compras, buscar documentos). A partir daí, imaginamos que muitas pessoas não estariam circulando nos elevadores e que algumas mesmo morando perto dos condomínios, não teriam acesso à oferta de ajuda”, contou Landim.

Neste site, quem quer ser voluntário ou quem precisa de ajuda realiza um cadastro em um sistema que se encarrega de gerar uma rede de aproximação em que, posteriormente, as partes são colocadas em contato para acertar os detalhes do pedido.

Ao longo de quase duas semanas, a página já teve 100 mil acessos e 4.800 voluntários cadastrados, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal. Mais de 150 solicitações já foram atendidas com a ajuda do sistema.

Para ser voluntário ou para receber ajuda não é feita qualquer exigência. Os pedidos vão desde passear com o cachorro, fazer compras ou a instalação de programas de computador para trabalhos remotos.

A rede de solidariedade tende a se intensificar, pois um grupo de desenvolvedores de Brasília (DF) se ofereceu para criar um aplicativo do Vizinho do Bem.

Landin enalteceu a promoção da caridade de quem contribuiu para a criação da plataforma de forma ágil e dos inúmeros voluntários que se preocupam em amparar pessoas desconhecidas: “Vendo os pedidos de ajuda cadastrados, percebo que muitos buscam nosso site por não terem a quem recorrer, até mesmo em situações simples, como, por exemplo, para comprar frutas em um mercado que interrompeu o trabalho de entregas”, concluiu. (JS)

1 TONELADA DE ALIMENTOS AOS QUE MAIS PRECISAM

Os relatos diários sobre a dificuldade das pessoas em situação de rua para conseguir alimentação não passou indiferente ao Grupo Comolatti, que atua no mercado de reposição independente de autopeças, concessionárias de veículos pesados e tem negócios nos segmentos imobiliário e de gastronomia.

A partir de agora, o Grupo Comolatti passa a doar alimentos para a Casa Restaura-me, mantida pela Aliança de Misericórdia no bairro do Brás. Por mês será enviada 1 tonelada de alimentos ao local onde normalmente são atendidas, por dia, de 400 a 450 pessoas em situação de rua. Lá elas encontram um local para tomar banho, lavar a própria roupa, recebem kits de higiene, tomam café da manhã e almoçam, além de receber suporte para que deixem as ruas e busquem um recomeço para suas vidas.

Com a pandemia do novo coronavírus, o número de atendidos por dia já é superior a 600 pessoas. “Para a Aliança de Misericórdia, receber essa ajuda continuamente é de uma importância enorme. Estamos sendo procurados por um número muito grande de pessoas e aquilo que geralmente adquirimos por mês, por meio de uma parceria que temos com a Prefeitura, não está sendo suficiente. Não é só o alimento a mais que temos que comprar, mas também itens de limpeza e de higiene. Também tivemos que mudar a forma de distribuir a comida, que agora tem que ser em ‘quentinha para evitar a disseminação do novo coronavírus, ou seja, o custo da operação neste momento aumenta muito”, disse Bia Hauptmann, diretora de desenvolvimento institucional da Aliança de Misericórdia.

Sergio Comolatti, presidente do Grupo Comolatti, garante que a doação dos alimentos “terá duração até quando houver a necessidade das pessoas”. A iniciativa reforça a política de responsabilidade social do Grupo, que recorrentemente realiza ações que beneficiam entidades sem fins lucrativos e famílias de baixa renda.

“Esse vírus trouxe uma mudança muito grande na vida de todos, e há essa parada de atividades, que consideramos bastante prudente, mas que trará grandes dificuldades para a economia e irá repercutir na vida das pessoas. As necessidades dos que mais precisam vai aumentar neste período, por isso achamos que seria interessante ajudarmos”, completou Sergio Comolatti.  (DG)

 

SERÁ QUE É ‘CORONA’? A ENFERMEIRA RESPONDE

Há algumas semanas, a enfermeira Cibele Lima teve uma crise de enxaqueca e foi a uma unidade de Assistência Médica Ambulatorial (AMA) buscar medicação para aliviar os sintomas. Ao chegar, ela se assustou com o que viu. “Deparei-me com pessoas em pânico, visivelmente com falta de ar devido à ansiedade, já que não tinham os demais sintomas do novo coronavírus, como tosse ou febre. Pessoas chorando, achando que estavam com a COVID-19. Naquele momento, eu vi o quanto nosso sistema iria sobrecarregar devido ao medo e à falta de orientação devida, com pessoas tirando a vaga daquelas que realmente iriam necessitar”, recordou.

Cibele, então, resolveu seguir o que muitos outros profissionais de saúde têm feito: escreveu um post em suas redes sociais, colocando-se à disposição para orientar, gratuitamente, as pessoas que estão na dúvida sobre os sintomas da COVID-19. A ideia é evitar a ida desnecessária à rede de saúde daqueles que não estão com a doença. 

“Muitos desconhecidos me procuraram! Uma em especial me chamou atenção, pois estava com um recém-nascido, sem sintomas, porém com medo da COVID-19 devido alguns a poucos espirros. Resolvi com simples orientação de Enfermagem sobre a lavagem das narinas”, recordou, lembrando que nesta época de tempo seco, queda de imunidade e ansiedade, muitos pensam estar com o novo coronavírus por causa de uma tosse, mas não apresentam os outros sintomas, como falta de ar e febre. “Ou seja, provavelmente buscariam atendimento apenas por receio”.

Para Cibele, a pandemia do novo coronavírus tem ensinado a todos os valores da solidariedade e da fé. “Eu me emocionei ao ver o Papa como um grande exemplo disso, pedindo às pessoas que mantenham o isolamento social e a prática da oração. E como faz a diferença! Hoje vejo pessoas se oferecendo para ir ao mercado para os idosos. As pessoas estão mais em família, sentindo saudade daqueles que agora não podem ter contato. Na área da saúde mesmo, todos os dias faço meu Terço. E isso tem motivado muito a continuar essa luta!”, conta. (DG)

 

CONTRA A ANGÚSTIA, O DIÁLOGO

Há 19 dias, a professora universitária Katia Rubio, da Escola da Educação Física e Esporte da USP, está em isolamento social em sua casa, seguindo as recomendações das autoridades de saúde a todas as pessoas para evitar a disseminação do novo coronavírus.

Em meio às rotinas de zelo da casa, aos cuidados especiais com a saúde da sogra e aos trabalhos acadêmicos, Katia, que também é jornalista e psicóloga, encontra tempo diariamente para conversar com aqueles que estão angustiados diante da pandemia.

“Tenho acompanhado com preocupação essa necessidade de as pessoas se manifestarem nesse momento de dificuldade. Isso me fez disponibilizar minha escuta para quem está vivendo essa angústia. O que eu faço é proporcionar um tempo dedicado simplesmente a escutar. Trata-sede uma escuta mais emocional, em que ouço coisas como ‘estou me sentindo assim e não sei o que fazer, nem como fazer”, comenta Katia. Ela diz que uma das principais angústias é dos profissionais autônomos que estão com medo de perder sua única fonte de renda.

A professora diz perceber que passadas algumas semanas dos primeiros casos de COVID-19 no Brasil, as pessoas têm tido maior percepção das condições que esse momento impõe, como o isolamento social e a necessidade de ajustar a rotina, por mais difícil que seja: “Algumas pessoas estão em ambiente insalubre, vivem em casas pequenas com muita gente, não têm espaço para trabalhar em home-office com tranquilidade, enfim, é um treino difícil, pois não fomos preparados para viver este momento”.

Katia diz que tem visto o aumento da disponibilidade das pessoas em ajudar as outras e revela uma motivação especial para se colocar nesta postura de escuta solidária: “Já tive notícias de suicídio e isso me abala muito, pois o suicídio é o pedido de socorro que não foi ouvido. Assim, com o que tenho feito, espero colaborar para que isso não se agrave”. (DG)

 

UM CUIDA DO OUTRO

Casa mal arejada, com poucos cômodos e muitas pessoas morando é uma realidade comum nas periferias do Brasil. As condições dessas residências destoam do que é recomendado pelas autoridades sanitárias e preocupam pelo fato de que um surto generalizado em bairros pobres pode representar o risco de muitas vítimas.

Na tentativa de inibir a disseminação da COVID-19 na região do Campo Limpo, que, infelizmente já contabiliza casos confirmados da doença, foi desenvolvido no bairro de Paraisópolis uma rede de voluntariado para o cuidado mútuo entre os moradores.

O líder comunitário Gilson Rodrigues explicou à reportagem que o projeto faz parte do comitê das favelas e que tem como ponto alto o monitoramento das famílias por meio de grupos de WhatsApp, garantindo o bem-estar e promovendo apoio em caso de necessidade de atendimento médico estre os próprios moradores: “Estamos conscientes de que a crise é grande e que nós precisamos nos ajudar e criar uma rede de solidariedade, pois o governo tem deixado a população à própria sorte”, apontou.

Ao todo, 420 voluntários atuam como “presidente da rua” e outros 420 como “vice-presidente da rua”. Divididos em duplas, ambos são responsáveis pelo acompanhamento de 50 residências cada, que, somados, atingem toda a população de Paraisópolis.

Os voluntários têm a função de garantir que aqueles que podem permaneçam em casa, disponibilizando às famílias, dentro das limitações, mantimentos e insumos necessários. Se alguém de um família apresentar sintomas suspeitos, a dupla deve acionar uma ambulância para que a pessoa seja encaminhada a uma unidade de saúde.

Outra preocupação dos voluntários é o de combater as fake news. De acordo com o líder comunitário, a falta de uma comunicação especifica para a população periférica gera um sentimento de incredulidade para os riscos de contágio entre pessoas em situação de pobreza e vulnerabilidade, a ponto de, segundo Gilson Rodrigues, “a população achar que essa é uma doença para rico. Isso dificulta muito a conscientização na nossa comunidade e em todas as comunidades do Brasil”, fato que faz desta ação voluntária ainda mais necessária neste período de pandemia. (JS)

 

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Arsenal da Esperança pede doações para manter acolhidos

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01 de abril de 2020

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