NACIONAL

CF 2020

Igreja atua na proteção da vida da mulher e do nascituro

Por Fernando Geronazzo
06 de março de 2020

São muitas as iniciativas católicas de promoção e defesa da vida

Um dos assuntos da Campanha da Fraternidade (CF) 2020, cujo tema é “Fraternidade e Vida: Dom e Compromisso”, diz respeito à defesa da vida humana desde a sua concepção. 
O texto-base da CF aborda o assunto no ponto 33, quando ressalta o aborto como um risco à vida das crianças desde o ventre materno. “Vemos claramente o desprezo pelo nascituro e pela sua dignidade em tantas tentativas de legislar a favor do aborto... Da mesma forma, o desprezo pela vida se manifesta, também, por meio de projetos que querem regularizar a eutanásia e o suicídio assistido, garantindo o que chamam direito de antecipação da morte”, diz o texto. No ponto 34, cita o Papa Francisco, na Exortação Apostólica Gaudete et exsultate, quando ressalta que a defesa do nascituro deve ser “clara, firme e apaixonada”.
São muitas as iniciativas católicas de promoção e defesa da vida, posicionando-se no debate público sobre o tema do aborto e na luta contra os projetos de lei que visam a legalizar a prática no País. Também são muitos os grupos ligados à Igreja que atuam na conscientização e acolhida de mulheres que passam por uma gestação em crise e pensam em realizar um aborto. 

AUXÍLIO
Essas entidades oferecem atendimento, ajuda psicológica, material e espiritual a gestantes e seus familiares. Uma dessas organizações é a Associação Filhos da Luz, entidade sem fins lucrativos, ligada à Diocese de Santo Amaro, que atua desde 2014 na acolhida, escuta e apoio a mulheres que passam por crises gestacionais. “Para nós, as duas vidas interessam: a da mamãe e a da criança, dentro e fora de seus ventres”, explicou ao O SÃO PAULO Ana Paula Zanini, 33, voluntária da associação.  
O primeiro contato com as mulheres é feito geralmente pela internet ou por telefone. Em seguida, é agendado um atendimento presencial. Também voluntário da entidade, Wanderley Klinger destacou que a maioria das mulheres que procura a associação chega tomada de muito desespero. “Isso é causado por várias razões: porque elas acham que a família não vai aceitar a gestação, porque serão expulsas de casa, porque não têm dinheiro para sustentar a gravidez e, posteriormente, a criança, ou por medo de serem demitidas, além de muitas outras causas”, explicou. 

ATENDIMENTOS
No atendimento, sempre sigiloso, as gestantes têm a oportunidade de tomar consciência dos muitos caminhos que existem para superar a crise. “Nós também esclarecemos sobre todos os riscos que um aborto pode trazer para a saúde física e psicológica. Muitas delas desconhecem tais informações”, disse Ana Paula. 
Desde 2014, a Associação Filhos da Luz já realizou mais de 200 atendimentos de mulheres entre 14 e 44 anos, casadas e solteiras; 95% dessas atendidas estavam em situação gestacional em crise ou vulnerável; 82% dos filhos nasceram; 91% das que pensaram em abortar se sentiram pressionadas a abortar por parceiros, pais ou circunstâncias muito difíceis; 80% por motivos econômicos. 
A abordagem leva em conta cada situação. “Em alguns casos, basta mostrarmos as estatísticas médicas e de estudos psiquiátricos que a ajudem a ter uma consciência ampla sobre a complexidade de sua decisão”, exemplificou Ana Paula. “Em outros casos, trata-se da falta de um apoio material e financeiro. Em outras situações, ajudamos a tomar consciência de que ela carrega outra vida dentro de si”, completou, acrescentando que o simples fato de a mulher ver o próprio bebê por meio de uma ultrassonografia já é suficiente para despertar nela a consciência da vida que carrega em seu ventre. 

ACOLHIDA
A voluntária destacou, ainda, que, nestes anos de atendimento na entidade, houve um único caso de uma mulher que manifestou o desejo de dar à luz o bebê e entregá-lo para adoção. “No entanto, ela mudou de ideia durante a gestação”, ressalvou. 
Existem entidades, contudo, que auxiliam no procedimento legal para a adoção, caso a gestante tome essa decisão. 
Outras entidades possuem casas de acolhida para as mulheres permanecerem durante a gestação e por um 
período após o parto, sobretudo quando há algum tipo de ameaça a elas. Nesses casos, não é revelada a localização dessas instituições. 

DISCRIÇÃO
Outro serviço eclesial que desenvolve um trabalho semelhante é o Centro de Ajuda à Mulher (CAM) com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Criado no México em 1989, o CAM atua em várias dioceses brasileiras, inclusive na Arquidiocese de São Paulo. Seu trabalho acontece de forma discreta, sem a divulgação de canais abertos de contato, mas por meio do encaminhamento de agentes da pastoral e sacerdotes que são procurados por gestantes em crise. 
Ana Paula afirmou que, muitas vezes, os grupos católicos que atuam nessa frente de atendimento a mulheres com gestação em crise são acusados de fazer uma espécie de “lavagem cerebral” ou de “coação” nas mulheres para não abortarem. Por isso, sofrem perseguição e até ataques caluniosos de grupos pró-aborto. “Nossa abordagem prioriza a superação da crise que a faz desejar o aborto”, afirmou, reforçando que toda gestante tem o direito de ter consciência da vida que está gerando, dos riscos causados pelo aborto e das muitas outras possibilidades que existem além da interrupção da gravidez. 

TESTEMUNHO 
Elaine tinha 30 anos quando procurou a Associação Filhos da Luz, em 2018. Mãe de três filhos, ela se viu desesperada diante de uma gestação inesperada. “Essa gravidez me trouxe noites sem dormir e muito desespero. Eu achava que abortar seria a melhor coisa a fazer”, relatou. Ela escondeu a gravidez, pois temia a reação do esposo, que era violento. 
No quarto mês de gravidez, Elaine procurou ajuda e chegou ao atendimento da associação. “Pude desabafar o que sentia. Fui muito bem recebida. Ajudaram-me a perceber que não estava sozinha. Ainda no caminho para casa, eu telefonei ao meu esposo e assumi a gravidez. Tudo tinha um novo sentido”, relatou a mulher, que teve seu filho em junho de 2019. 
 

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