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África

Bispo alerta para onda de violência fora de controle em Moçambique

Por Redação, com ACN
08 de novembro de 2019

Dom Luís Fernando Lisboa, Bispo de Pemba, destacou clima de medo e incerteza causado pela série de ataques contra a população no norte do país africano

O Bispo da Diocese de Pemba, em Moçambique, Dom Luís Fernando Lisboa, definiu como fora de controle a situação do norte do país africano, onde têm ocorrido inúmeros ataques violentos de autoria ainda desconhecida.

Em entrevista à Rádio Vaticano, o prelado brasileiro, que pastoreia a Igreja em Pemba desde 2013, afirmou que, ainda que existam iniciativas das forças de segurança de Moçambique no local em resposta a uma série de ataques contra a população, a situação está descontrolada.

Dom Luís Fernando acrescentou que “alguns teimam” em dizer que a situação está sob controle, mas “não é verdade”. Ele destacou, ainda, que o sentimento de medo da população é evidente. Os campos agrícolas estão ficando abandonados e, como consequência disso, já se fala em fome nessa região de Moçambique.

“Tenho visitado as comunidades e sinto que algo muito triste vai acontecer. Haverá fome em Cabo Delgado porque nas regiões onde estão acontecendo os ataques as pessoas não estão mais trabalhando nos campos por medo”, diz Dom Fernando.

ATAQUES

O Bispo relatou que uma sucessão de ataques teve início há cerca de dois anos, sendo que  não se sabe quem são os responsáveis pela onda de violência.

Para Dom Luís Fernando, “a verdade é que o inimigo não tem rosto”. Apesar das iniciativas e da presença na região de pessoas das forças de segurança, “os ataques continuam de uma forma violenta. Queimam casas, as pessoas ficam sem moradia. Matam pessoas inocentes, pessoas que trabalham na agricultura. Ultimamente estão atacando veículos do transporte público, uma tristeza muito grande”, disse ainda.

POSSÍVEIS AUTORES

Há uma crescente convicção de que a região norte de Moçambique está na mira de grupos extremistas “jihadistas”. Em setembro, o grupo Estado Islâmico (EI) tinha reivindicado pela primeira vez um ataque a uma “vila cristã”.

Em uma mensagem publicada na internet no dia 26 de setembro, os extremistas se referem ao ataque ao “posto do exército moçambicano” ocorrido dias antes em Mbau. Um jornal local, a Carta de Moçambique, descreveu um “cenário de terror” e de “desespero total”, com Mbau transformada, depois do ataque, em uma aldeia fantasma.

Antes de Mbau foram registrados ataques também em Quitejaro e Cobre. No comunicado publicado na internet, Quiterajo foi classificada pelo EI como “vila cristã”. Disseram que “os soldados do califado” deixaram muitos mortos nessa ação militar. Anteriormente, em quatro de junho, o EI tinha reivindicado outro ataque no norte do país.

MEDO E INCERTEZA

Desde outubro de 2017 a região de Cabo Delgado tem sido palco de diversos ataques extremamente violentos. Calcula-se que já tenham morrido cerca 300 pessoas nesses ataques. Eles visam especialmente regiões relativamente isoladas, havendo o registro de aldeias praticamente destruídas.

Em agosto, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo, fez uma visita missionária a Pemba, para acompanhar o trabalho dos missionários brasileiros mantidos pelo Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Nessa ocasião, Dom Odilo relatou que chegou a passar por povoados que haviam sofrido ataques recentemente. “Vimos os barracos queimados e os rastros de destruição”, chamou a atenção o Cardeal, destacando o clima de incerteza e medo da população, em um país onde sempre houve uma convivência pacífica e harmoniosa entre cristãos e muçulmanos. Por essa razão, existe a suspeita de que se trate de uma ação de extremistas islâmicos possivelmente vindos da Tanzânia. Outra desconfiança é de que os ataques sejam motivados por grupos interessados nas terras da região, onde recentemente foram encontradas riquezas minerais. Contudo, ainda não foram encontrados rastros dos autores. 

HISTÓRICO DE CONFLITOS

O povo moçambicano vive esse novo drama pouco tempo após o processo de reconciliação do país, que viveu uma guerra civil por décadas.

Ex-colônia de Portugal, Moçambique obteve a independência em 1975, após quase dez anos de conflito. Contudo, explodiu uma guerra civil entre as forças governamentais (Frelimo), e o movimento rebelde da oposição (Renamo). Nos 16 anos de combates morreram um milhão de pessoas, algumas de fome e milhares por ferimentos ou mutilações causadas por explosões de minas. Cerca de milhões de cidadãos foram obrigados a fugir de suas casas.

A guerra civil terminou oficialmente em 4 de outubro de 1992, em Roma, com a assinatura do Acordo Geral de Paz, pelo então presidente da república Joaquim Chissano e Afonso Dhlakama, então presidente da Renamo.

Em agosto deste ano, foi assinado um novo acordo no Parque Nacional da Gorongosa para pôr fim à violência que não tinha diminuído apesar do acordo anterior. Tal acordo foi firmado às vésperas visita do Papa Francisco ao país, realizada em setembro, na qual ele fez um forte apelo à esperança, paz e reconciliação.

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