Comportamento

Isolamento social e primeira infância: como lidar com essa equação?

Nessa etapa da vida, há um grande potencial de aprendizagem: toda a arquitetura cerebral está se ampliando e o afeto é essencial – quanto mais bem formados os vínculos, quanto maior o envolvimento com as necessidades afetivas e biológicas (sono, alimentação, higiene, entre outras), mais saudável será o desenvolvimento integral da criança.

Com a repentina mudança de rotina que tomou conta da vida das famílias, muitos pais podem passar a perceber comportamentos diferentes em seus filhos pequenos, ou até mesmo ficar preocupados em como lidar com as mudanças, tanto em suas rotinas de trabalho quanto nas dos familiares. Vamos enumerar alguns pontos importantes a serem considerados:

1. Proteção – evitar que tenham contato com noticiários e informações excessivas sobre a pandemia. Segundo a psicanalista Cláudia Mascarenhas Fernandes (diretora do Instituto Viva Infância de Salvador, na Bahia), o diálogo que se deve estabelecer com eles deve ter como objetivos: ouvi-los, tentar compreender suas aflições e oferecer respostas simples, compatíveis com a capacidade de compreensão, procurando sempre deixá-los seguros; e informá-los de que os adultos (médicos, pais e professores) estão cuidando desse assunto, que não precisam se preocupar. Para ela, é fundamental que os adultos zelem por separar assuntos de adulto dos assuntos de criança. Proteger pressupõe que sejam tratadas de acordo com a etapa de desenvolvimento em que estão. Os pais, na medida do possível, precisam buscar informações idôneas, otimistas e manter-se serenos, pois as crianças pequenas são verdadeiras “esponjas” no ambiente familiar e captam as inseguranças e demais sentimentos com facilidade.

2. Compreensão – Cláudia aponta para o aparecimento de comportamentos diferentes dos habituais – aumento da ansiedade e agitação física, de medos diferentes ou recorrentes, por exemplo dificuldade da criança de ir sozinha a um cômodo da casa; alguns comportamentos regressivos, como retorno à chupeta, mamadeira, dormir com os pais; aumento da irritabilidade ou da sensibilidade, ou seja, chorar mais facilmente; e comportar-se de modo a provocar a impaciência do adulto. Segundo ela, tais comportamentos podem ter a função de informar ao adulto que algo não está bem. É importante considerar que as crianças estão passando por uma situação de aumento brusco nas frustrações, normalmente são extremamente ativas e estimuladas e, agora, estão limitadas ao espaço do lar, o que também pode ser um motor para a irritabilidade. O mais adequado é buscar compreender as fantasias daquelas que já conseguem externá-las e acolher, transmitindo segurança àquelas que nem sequer sabem identificar o turbilhão de emoções diferentes. Tais comportamentos devem nos alertar para o fato de que estão precisando de maior segurança e proteção. Sendo assim, uma boa saída é a parceria carinho e firmeza.

3. Flexibilização do espaço da casa – para que haja lugar para brincar! A criança pequena elabora brincando, essa é a sua linguagem por excelência!

4. Planejamento – relacionar, com serenidade, as prioridades para a família, para a educação dos filhos e para o trabalho. O papel da família nessa etapa é nutrir física e afetivamente a criança e prepará-la para a vida, formando-a nos valores, na ética e nas virtudes. Se procurarmos garantir isso, elas voltarão à rotina escolar fortalecidas e prontas para aprender o que “ficou faltando”. Vamos “aproveitar” esse convívio para conhecer melhor cada um dos filhos, suas habilidades, potencialidades e dificuldades, e para propor desafios próprios da vida em família, sem aumentar o estresse com atividades muito diferentes. Menos é mais! Segurança afetiva neste momento é fundamental.

5. Envolvimento com a rotina da casa – atribuir à criança pequenos encargos. Tarefas simples e compatíveis com suas habilidades, como jogar a própria fralda no lixo, ajudar a arrumar a mesa, apagar as luzes da casa... Crianças adoram desafios, e estes são um meio de aprender valores, adquirir virtudes e se sentirem parte integrante da família.

6. Não idealizar o convívio familiar, nem exigir demais das crianças nem de nós mesmos – todos estamos fora de nossas rotinas e preocupados com as circunstâncias em que estamos mergulhados.

A família é a primeira e a principal educadora da criança; confiemos em nosso potencial e capacidade para exercer tal missão, e vamos sair melhores e mais fortalecidos dessa experiência.

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