Espiritualidade

A Casa de Betânia

Nas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil  (CNBB),  encontramos a bela imagem da casa para nos mostrar como deve ser uma comunidade eclesial missionária. Por diversas vezes, Jesus fez das casas um lugar privilegiado para o encontro, onde curava e perdoava pecados, partilhava a mesa com publicanos e pecadores, refletia sobre assuntos importantes, orientava o comportamento da comunidade e sobre a importância de se ouvir a Palavra de Deus. Diz que a Igreja,  a partir do modelo de uma casa, tem quatro pilares: Palavra, pão, caridade e missão. Lembra ainda que casa é espaço de encontro, lugar de ternura e de oração, lugar da família, onde se coloca uma ovelha ferida no colo.  
João, o discípulo amado, traz o relato belíssimo de um acontecimento que se deu em uma casa na cidade de Betânia. Uma grave enfermidade atingiu um irmão querido: é Lazaro, o amigo de Jesus. As irmãs Marta e Maria informam a Jesus que seu amigo está doente. No entanto, quando Ele chega a Betânia, seu amigo já está morto. Numerosos judeus estavam ali, solidários, para oferecer consolo às irmãs. Jesus chega para despertar o amigo Lázaro e depara-se com a reação de Marta. Ela sai ao seu encontro e eles estabelecem um diálogo sobre a morte, vida e ressurreição, finalizando com uma profunda profissão de fé: “Eu acredito que tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo que devia vir ao mundo”. Jesus também se encontra com Maria, expressão da comunidade sofrida e sem esperança. Chegando diante do túmulo, vendo o choro e desespero de muita gente, Jesus também chora, mas não deixa o amigo ser arrebatado pela morte. Pede que tirem a pedra. Marta reage dizendo que há um mau cheiro, pois está morto há quatro dias. A pedra é retirada e Jesus grita: “Lázaro, vem para fora”. Por fim, a comunidade é convidada a arrancar as amarras e a venda de Lázaro para que ele possa andar.
Em tempos de pandemia, a orientação é permanecer em casa e fazer desse lugar espaço de convívio harmonioso voltado para o essencial. Na casa de Betânia, um drama para os irmãos convivas: um deles adoeceu. Nesta hora, fizeram a diferença o equilíbrio dos mais próximos e o olhar confiante para o querido amigo Jesus. O Papa Francisco diz: “Penso nas famílias, fechadas em casa, as crianças que não vão à escola, os pais que talvez não possam sair; alguns estarão em quarentena. Que o Senhor os ajude a descobrir novos modos, novas expressões de amor, de convivência nesta nova situação. É uma ocasião bela para reencontrar os verdadeiros afetos com uma criatividade em família”.
A presença de Jesus transformou a aldeia de Betânia. Toda a comunidade foi envolvida e ajudou um irmão a sair do túmulo retirando a pedra, desamarrando pés e mãos e removendo o sudário que o impedia de viver. A comunidade participou da ressurreição de um amigo muito amado. Nestes dias de quarentena, todos precisam se envolver, dar a sua contribuição para salvar um irmão, e, destoando de tudo o que parece “normal”, desta vez a recomendação é para ficar longe das pessoas a fim de não contaminá-las. Muito interessante o comentário do Rabino Ruben Sternschein: “Afastar-nos uns dos outros, que até então era uma forma de indiferença, se torna uma forma de cuidar e amar”. 
Em meio a tanto alvoroço, a presença de Jesus foi fundamental para que tudo mudasse para melhor. A sua Palavra e a obediência ao que Ele disse transformou morte em vida, choro em festa. Nestes dias difíceis, multiplicam-se os sinais de solidariedade, mas dentre eles nos lembramos dos profissionais da saúde que doam seu tempo e se expõem ao risco de contágio. Como em Betânia, ouçamos e façamos o que nos ensinam esses profissionais, pois assim nos diz as Escrituras: “Honra o médico, porque ele é necessário; foi o Altíssimo quem o criou” (Eclo 38,1); “Peca na presença daquele que o criou quem não se submete ao tratamento médico” (Eclo 38,15); “Os doentes precisam de médico” (Mt 9,12). 

Por fim um poema que nos enche de esperança: 

“Faz escuro, mas eu canto,
porque o amanhã vai chegar.
Vem ver comigo, companheiro, 
a cor do mundo vai mudar. 
Vale a pena não dormir para esperar
a cor do mundo mudar.
Já é madrugada, vem o sol, quero alegria
que é para esquecer o que eu sofria.
Quem sofre fica acordado
defendendo o coração.
Vamos juntos, multidão, trabalhar pela alegria,
amanhã é um novo dia” 

(Thiago de Mello).

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