Comportamento

Filhos: uma atitude de generosidade

Para aqueles que nos acompanham nesta série – “Não está fácil casar-se” –, chegamos hoje à terceira e última condição para a validade do Matrimônio: abertura generosa à graça de Deus para gerar os filhos que Ele enviar, e educá-los na fé da Igreja Católica. Na primeira condição, refletimos sobre a livre e espontânea vontade de cada um dos noivos em responder “sim” à união matrimonial. Este “sim” ao amor exige uma atitude de fidelidade ao compromisso por toda a vida, até que a morte os separe, em quaisquer condições; e, para tanto, a participação de Deus é fundamental para a sua plenitude. Chega-se ao momento de abordar a consequência natural da felicidade, pelas respostas anteriores, que é uma atitude de generosidade, para que esta união no amor colabore com a obra criadora de Deus, mediante a geração dos filhos. 
A generosidade é “uma virtude daquele que se dispõe a sacrificar os próprios interesses em benefício de outrem”. Portanto, exige desprendimento, magnanimidade, desejo de compartilhar. A generosidade implica não só oferecer o que se tem, mas, muito mais, implica oferecer o que se é. A generosidade respeita os limites da responsabilidade consciente, mas não se acovarda diante dos desafios, quando amparada na fé e na oração perseverante. Assim, como nos afirmava Santa Teresa de Calcutá, não é paternidade ou a maternidade responsável não ter filhos somente devido às dificuldades materiais, pois a responsabilidade sobre a paternidade e maternidade implica a abertura para a ação da graça na geração dos filhos. Não podemos ter medo da chegada dos filhos!
“O gravíssimo dever de transmitir a vida humana, pelo qual os esposos são colaboradores livres e responsáveis de Deus Criador, foi sempre para eles fonte de grandes alegrias, se bem que, algumas vezes, acompanhadas de não poucas dificuldades e angústias” (Humanae vitae,1).  Recomendo, vivamente, aos noivos e casados que leiam esta belíssima, e profética, encíclica de São Paulo VI.
No parágrafo acima, assinalo duas palavras, que encontram grande resistência na sociedade moderna dos jovens que olham para o casamento: dever e dificuldades. A primeira vem acompanhada de “gravíssimo”, ou seja, algo imperativo à condição do ser humano que se lança ao Matrimônio. Não é opcional, nem sequer leviano, mas imprescindível. Sem esta condição, não se pode santificar a união conjugal. A segunda palavra – dificuldades – vem acompanhada de “não poucas e angústias”. A advertência é real e não esconde o sacrifício imposto pela generosidade, pois pode haver a angústia do questionamento da própria fé e o abalo da esperança. Em outras ocasiões, já mencionamos que o hedonismo contemporâneo não suporta dificuldades e muito menos angústias por comprometimentos (deveres). Contudo, sem estas condições, não existirão as “fontes de grandes alegrias”, que permanecerão no campo da superficialidade, dos prazeres efêmeros, do materialismo transitório, que, com frequência, colocam em risco as raízes do Matrimônio.
Os filhos, “transmissão da vida humana”, deverão ser educados na fé cristã por uma questão de coerência lógica dos cônjuges que optaram, livremente, por se casarem na Igreja Católica. Erro grave cometem aqueles que deixam a opção aos filhos, quando crescerem. A liberdade poderá escolher por caminhos diferentes no futuro, mas isto não exime a grave responsabilidade dos pais em oferecer, desde o nascimento, o amor a Cristo e a Igreja, mediante o Batismo, e, posteriormente, os demais sacramentos, conforme a idade e condições. Isto requer um compromisso de vida coerente dos pais em relação ao que oferecem aos filhos, em atitudes concretas de desprendimento e sacrifícios pessoais, muitas vezes ocultos, numa generosidade só alcançada aos olhos de Deus, mas cujas consequências se manifestam nas alegrias vividas e assistidas nos filhos. 
“O homem é chamado a uma plenitude de vida que se estende muito para além das dimensões da sua existência terrena, porque consiste na participação da própria vida de Deus” (Evangelium vitae, 2). Essas palavras de São João Paulo II, de amplo alcance existencial a todos os homens e mulheres, lançam um desafio, em particular, àqueles que desejam, de fato, entregarem-se ao sacramento do Matrimônio. O compromisso da participação na perpetuação da vida humana por gerações na própria vida de Deus requer fé e esperança renovadas, que sustentam a generosidade. Aqueles que, em meio a tantas provocações mundanas, ousarem responder ao chamado vocacional divino do Matrimônio e, como Josué, afirmarem que “quanto a mim e à minha casa, serviremos ao Senhor” (Js 24,15), permanecerão no caminho do amor para a eternidade.
 

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