Liturgia e Vida

‘Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede’ (Jo 4,15)!

3º DOMINGO DA QUARESMA – 15 DE MARÇO DE 2020

Os salmos contêm súplicas, louvores, agradecimentos, lamentos, atos de confiança, de amor e várias formas de oração… Captam sentimentos da alma humana e nos ensinam a direcioná-los ao Pai. Inspirados pelo Senhor, são preces exemplares. Santo Agostinho os considerava como oração do próprio Cristo. Quando a Igreja os reza, tornam-se a prece do “Cristo Total”, Cabeça e Corpo.  
Pois bem, o Salmo 42 diz: “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando verei a face de Deus?”. O Senhor nos criou com o desejo profundo Dele; da união, da semelhança e da visão de Deus. Ao longo da vida, ou fazemos essa sede crescer ou a diminuímos. Para que cresça, é preciso buscar o Senhor, conhecê-lo, trabalhar para Ele, obedecê-lo e orar; o que significa exercitar o desejo. 
Quanto mais santa é uma pessoa, mais sede tem do Senhor. Acorrentado, pouco antes do martírio, Santo Inácio de Antioquia escreveu: “Meu amor está crucificado, a matéria não me inflama, porque uma água viva e murmurante dentro de mim me diz ‘vem para o Pai’”. Não se tratava de desprezar a vida e os demais; ele estava tão unido a Cristo – a sede havia crescido de tal modo! – que podia dizer com São Paulo: “Considero tudo como perda! Perdi tudo e considero como esterco, para ganhar a Cristo!” (Fl 3,8).  
Ao contrário, quanto mais alguém se afasta do caminho justo, menos se dá conta dessa sede, que permanece no mais fundo da alma. Há quem busque saciá-la por meio de bens materiais, superstições ou condutas pecaminosas. Assim, cedo ou tarde, sufocarão esse desejo infinito e, se não se convertem logo, cairão na triste condição da “autossuficiência”. Então, seu único temor será perder a saúde, a prosperidade, a boa fama, uma pessoa querida… Mas não se ressentirão por abandonar o Criador.   
No Evangelho, Jesus humildemente pede água a uma mulher samaritana. Ela O estranha, pois os judeus não se davam com os samaritanos. O Senhor então diz: “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva” (Jo 4,10). A água viva é a graça do Espírito Santo, esse “rio de água viva” (Jo 7,38) que brota na alma a partir do Batismo e nos une realmente a Deus. 
A água significa também a oração. Santa Teresa comparava orar a cavar um poço profundo. No início, é necessário muito esforço. Sentimos que trabalhamos em vão, como se o Senhor estivesse longe. Porém, quando menos esperamos, somos inundados por uma água fresca e vivificante: “Derramarei sobre a casa de Davi o Espírito de graça e de oração, e eles olharão para Aquele a quem traspassaram” (Zc 12,10). 
Mas, sobretudo, a água viva significa também a visão de Deus no céu. Como consequência da presença da graça, Deus dará aos seus filhos fiéis a visão beatífica. Só ela nos saciará, pois para ela fomos criados. Com a Samaritana, supliquemos: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede” (Jo 4,15)! 

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