Editorial

Amazônia tem direito ao Evangelho

O anúncio do Evangelho é indispensável na Amazônia. Os povos da Amazônia têm direito de ser protagonistas da Igreja e atores de transmissão da fé. Eles têm direito ao anúncio do Evangelho. Essa ideia fica clara na Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, do Papa Francisco, sobre a qual O SÃO PAULO vem publicando uma série de análises.
Em seu “sonho eclesial”, Francisco defende que “a Igreja está chamada a caminhar com os povos da Amazônia”. Isso quer dizer, por um lado, que a Igreja esteja presente junto aos que sofrem, que ouça e ressoe o grito dos oprimidos e denuncie toda injustiça. Mas, por outro lado, “não podemos nos conformar com uma mensagem social”, diz o Santo Padre.
“Se damos a vida por eles, pela justiça, pela dignidade que eles merecem, não podemos lhes ocultar que o fazemos porque reconhecemos Cristo neles e porque descobrimos a imensa dignidade que lhes atribui o Deus Pai que os ama infinitamente”, escreve.
A defesa da Igreja pelos direitos dos povos da Amazônia inclui o direito ao primeiro anúncio (o kerygma) e a um amadurecimento da vida cristã, em comunidade, em formação e, acima de tudo, em um encontro pessoal com o Senhor.
Já presente na Amazônia há, pelo menos, quatro séculos, a Igreja ainda precisa crescer. Isso se dá por meio de um esforço missionário “caracterizado por uma firme defesa dos direitos humanos, fazendo brilhar o rosto de Cristo que quis se identificar com ternura especial com os mais fracos e pobres”.
Trata-se de um diálogo profundo com os povos e culturas locais, para que o Evangelho possa se expressar de maneira típica daquela região, mas mantendo a profunda comunhão com a Igreja presente no resto do mundo.
A chamada “inculturação” nada mais é do que o desenvolvimento de uma “Igreja com rosto amazônico”, de expressões singulares, popular, de agentes pastorais engajados, mas também enraizada na fé e na tradição que há milhares de anos sustenta a Igreja de Cristo.
Para isso, diz o Papa Francisco, precisamos dos sacramentos. Não há que se menosprezar a falta de sacerdotes, para oferecer a Eucaristia e perdoar os pecados no sacramento da Reconciliação, além de conferir a Unção dos Enfermos. A comunidade cristã precisa se reunir em torno do altar para crescer e frutificar.
Há que se rezar mais pelas vocações sacerdotais e redobrar os esforços missionários. “Chama a atenção que, em alguns países da região amazônica há mais missionários para a Europa e para os Estados Unidos do que para auxiliar os próprios vicariatos da Amazônia”, alerta o Papa. É uma reflexão intraeclesial que desafia a todos nós.
Mas isso não basta. É necessário fomentar e expandir, dentro do que lhes é próprio, os ministérios e o apostolado dos leigos, de forma que eles assumam de maneira sempre mais efetiva a missão de evangelizar, ensinar, catequizar, inovar e desenvolver iniciativas apostólicas em meio ao mundo. Servem líderes leigos que possam ser “maduros e dotados de autoridade, que conheçam as línguas, as culturas, a experiência espiritual e o modo de viver em comunidade de cada lugar, ao mesmo tempo que deixam espaço à multiplicidade de dons que o Espírito Santo semeia em todos”.
A Igreja na Amazônia desafia. Ela questiona os poderes estabelecidos, mas também testemunha, com alegria e piedade, o amor que vem de Cristo, e celebra as diferenças em profundo espírito de unidade.

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