Comportamento

Brincadeiras perigosas: sobre a falta de cuidado com a vida

Estamos tomando contato com brincadeiras extremamente perigosas que vêm ocorrendo entre jovens e adolescentes no retorno às aulas. Além de acontecerem, são filmadas e divulgadas pelas redes sociais, entusiasmando outros a “brincarem” do mesmo modo. 
Aqueles que tiveram a oportunidade de assistir aos vídeos que vêm sendo veiculados na internet devem ter se surpreendido com a dimensão da irresponsabilidade e falta de senso de perigo que mostram. São cenas absurdas, que nos provocam reflexão. 
Sabemos que a adolescência é uma fase de descobertas, mudanças e questionamentos. É um momento da vida que traz muitos desafios, uma vez que nela está sendo forjada a capacidade de viver como adulto, e esse é um processo intenso e complexo. É comum, num primeiro momento da adolescência, haver uma necessidade grande de viver em grupo, de compartilhar com os iguais os costumes, o modo de falar, de vestir etc. Também sabemos que muitos acabam “seguindo o fluxo” do grupo para se sentir incluídos e aceitos – movimento importante para o processo de construção da identidade e autoestima. A partir dos 15 anos, já começam a se diferenciar em grupos menores, a formar suas próprias opiniões e ideias, seu modo de vestir e de falar... Começam a descobrir sua intimidade e não têm tanta necessidade de andar em “bandos”. Estão caminhando no processo de responder à pergunta mais importante dessa etapa: “Quem sou eu?”.
Como pais e educadores, no entanto, precisamos saber também que esse processo de construção da identidade, do qual fazem parte o autoconceito e a autoestima, não começa na adolescência e sim na infância, sendo a adolescência um período de revisão e atualização do que se formou na fase infantil. Diante disso me pergunto: quais valores e critérios estamos oferecendo às nossas pequenas crianças para que possam viver a etapa da adolescência sem cometerem atrocidades e sem provocarem situações das quais podem se arrepender pelo resto de suas vidas?
Para além de refletir sobre quais valores e critérios temos ensinado aos nossos filhos, talvez precisemos pensar em como temos ensinado tais valores: será que temos segurança de que estamos formando gente de bem, ou confusos com tantas informações e teorias, com o ritmo frenético do trabalho, e acabamos nos “deixando levar”? Com certeza, na adolescência, nossos filhos passarão por uma fase mais instável, mais suscetível ao grupo, mais desafiadora. Alguns podem, inclusive, posicionar-se de modo oposto ao que aprenderam em casa, com a família. São formas de descobrirem a si mesmos e de estabelecerem uma distância necessária dos pais, para a formação da identidade pessoal. Quando, porém, estão bem formados no que diz respeito ao valor e sentido da vida, quando mostramos com constância e dedicação que a verdadeira alegria e autoestima vêm da capacidade de fazer o bem aos outros e não da egolatria e do elogio “vazio”, ou mesmo de serem o centro das atenções, dificilmente agirão de modo tão inconsequente como aquele a que estamos assistindo. 
Preocupo-me porque nossa sede de oferecer tudo aos filhos, de protegê-los, de evitar que sofram, de ansiar que tenham uma autoestima elevada, está nos conduzindo a enganos talvez irreparáveis. Que enorme tristeza e culpa devem sentir as adolescentes que brincaram com Emanuela, que veio a óbito em novembro passado, em decorrência de tal brincadeira! Preocupo-me porque toda uma geração se tornou vítima de nosso “amor-protetor”, de nossa insegurança, de nossa culpa... Precisamos rever e retomar o caminho.
Sempre é tempo! Pais: interfiram, conversem, ouçam, ofereçam o suporte que, mesmo quando adolescentes, os filhos precisam (embora neguem). Precisamos mudar essa realidade!

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