Opinião

Parrhesia: ser sincero, autêntico e agir com liberdade e fraternidade

Os primeiros cristãos usavam o termo grego parrhesia para descrever a importância da sinceridade nos relacionamentos humanos, a arte de aprender a falar de forma franca, de coração aberto, e de saber quando é necessário, útil e verdadeiro dizer alguma coisa. 

No Novo Testamento, o termo parrhesia aparece 30 vezes, sobretudo quando se refere ao modo como Jesus falava (cf. Mc 8,32; Jo 11,14; 16,25.29). A importância da parrhesia é afirmada por Jesus, por exemplo, quando diz “que o vosso falar seja ‘sim, sim’; ‘não, não’, o restante vem do maligno” (Mt 5,37). Nos Atos dos Apóstolos, a franqueza no anunciar o Evangelho é fruto da “coragem” doada pela graça do Espírito Santo aos apóstolos, que, poucos dias antes, fugiram de medo de Cristo e do seu destino de crucificado (cf. At 4,31). Paulo usa a palavra franqueza muitas vezes em suas cartas, seja para exortar e animar, seja para corrigir as comunidades cristãs. Aos Coríntios, diz: “Quero falar com muita franqueza” (2Cor 7,4), e afirma que entre eles deve prosperar um amor verdadeiro e não fingido ou hipócrita. Diz: “Nós vos exortamos, irmãos, a corrigir os indisciplinados, confortar os desencorajados, sustentar os frágeis e ser pacientes com todos” (1Ts 5,14).

As Escrituras, porém, advertem-nos que é pela boca que se cometem grandes males aos outros e a nós mesmos. Quem não escutou que a língua é um órgão terrível e que pode facilmente ser mortífero para o coração do outro e para a vida de uma outra pessoa? Por isso, não pode haver parrhesia sem uma afeição verdadeira e sem paciência, como explica Paulo. Nunca se deve falar quando irritado (espere alguns dias!), cansado, com pressa, ou sem refletir primeiro sobre quem é o outro, o que está vivendo naquele momento, e se ele tem condições de compreender o que se diz ou não (isso vale sobretudo para os jovens, as crianças e os idosos). Assim, parrhesia não é franqueza e sinceridade, se não vem acompanhada de paciência, de calma que espera o momento e o local certo para falar; e sem que se viva a experiência de afeição (que deve estar presente no instante em que se fala) ao outro. Por isso, parrhesia para os primeiros cristãos incluía também a franqueza de não falar, de agir calado, de suportar no silêncio injúrias e calúnias, como fez Jesus. Pois é uma forma de franqueza o permanecer calado quando o outro nos insulta. A mensagem é clara e autêntica: “Sinceramente, não entro nesse jogo”.

Para os primeiros cristãos, a franqueza no professar a sua fé era uma outra forma de viver a parrhesia. O mártir era um “parrhesiasta” por excelência, pois confessava a sua fé com franqueza.

Parrhesia, portanto, é ser sincero, autêntico, agir de igual para igual, com liberdade e fraternalmente, exatamente como o Papa Francisco está pedindo aos cristãos. É um modo de viver a missão da Igreja, de cuidar de si e do outro, de preservar a própria identidade e de respeitar e honrar a alteridade do outro. É a disponibilidade à franqueza e sinceridade em cada situação. É ser corajoso diante da verdade. Há um aspecto que define bem essa “verdade”. O Papa Francisco lembra-nos de que a “verdade” é uma relação de amor, de afeição a Deus e ao outro, e não um conjunto de máximas desencarnadas. Ela não é relativa, mas absolutamente amorosa. Não é cúmplice, mas franca e positiva. Ela se apoia completamente na oração e na súplica por nós e por todos, porque nenhum de nós é dono da verdade; uma vez que somos todos incompletos (e cada um vê um aspecto diferente). A verdade (sendo francos!) não é uma doutrina, mas uma pessoa, Jesus Cristo. A verdade é viver a relação com Ele no cotidiano. Ele é a fonte da parrhesia.

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