Editorial

Vida Consagrada

No domingo, 2, junto com a Festa da Apresentação do Senhor, a Igreja celebrou também o Dia Mundial da Vida Consagrada: trata-se daqueles homens e mulheres que, por meio dos votos de castidade, pobreza e obediência, abraçam o estado de vida religioso.
Embora esta vocação sempre tenha sido amplamente incompreendida – até mesmo Nosso Senhor reconhecia essa condição, quando falava daqueles “que a si mesmos se fizeram eunucos por causa do Reino dos Céus”, apelando a que “quem puder entender, entenda” (Mt 19,12; cf. 1Cor 7,32-35) –, fato é que a nossa época é particularmente avessa à ideia de alguém abandonar tudo para seguir com radicalidade aqueles três conselhos evangélicos. 

Religiosos não decidiram consagrar as suas vidas e afeto a Deus por menosprezo ao Matrimônio ou ao mundo, mas o fizeram porque, tendo encontrado em Deus mesmo o amor total de suas vidas, sentiram-se chamados a concentrar todas as suas atenções no amor a Ele, à Igreja e ao próximo, como quem troca um bem temporal por algo melhor e espiritual – pois “todos os conselhos evangélicos, pelos quais somos convidados à perfeição, têm como propósito que a mente do homem seja desviada do afeto pelas coisas temporais, a fim de que, deste modo, sua mente seja atraída mais livremente a Deus, contemplando-O, amando-O e cumprindo com a sua vontade” (Santo Tomás de Aquino). A mesma verdade é reafirmada pelo Concílio Vaticano II: “O estado religioso, tornando os seus seguidores mais livres das preocupações terrenas, manifesta também mais claramente a todos os fiéis os bens celestes, já presentes neste mundo” (Lumen Gentium 44).

Outro equívoco seria pensar que os religiosos, quando se retiram do mundo para abraçar uma vocação contemplativa, desejem isolar-se em benefício apenas da própria salvação. Pelo contrário, o amor e os méritos de cada religioso contemplativo, por mais segregado e enclausurado que este pareça ser, são fontes de graça que sustentam os cristãos de vida ativa, desde os missionários até os leigos que vivem em suas ocupações no mundo – eis o mistério da comunhão dos santos, pelo qual as graças e os méritos alcançados por um cristão se comunicam a todos os membros do corpo místico de Cristo.

É que a lógica dos bens espirituais é inversa à dos temporais: se tenho R$ 100 na carteira e os dou a alguém, eu fico mais pobre; se, porém, emprego minhas orações intercedendo pelo irmão, ao invés de ficar espiritualmente mais pobre, fico mais rico.

Pensemos, por exemplo, na Ordem Cartuxa, conhecida por ser a mais austera e silenciosa do Catolicismo. Seus monges consideram-se mortos para o mundo, guardam perpetuamente um silêncio quase absoluto, e não têm contato com o exterior – mas, com suas orações, eles verdadeiramente sustentam a Igreja. Sua vida, então, torna-se um verdadeiro “sinal, que pode e deve atrair eficazmente todos os membros da Igreja a corresponderem animosamente às exigências da vocação cristã” (Lumen Gentium 44).

De modo geral, as congregações religiosas nascem por inspiração de um(a) fundador(a) no desejo de servir à Igreja e ao mundo, por meio de um carisma específico. Assim, além de servirem à Igreja com suas orações, constituem comunidades que evangelizam, desenvolvem missões e prestam serviços em diversos setores da sociedade e da Igreja. Pense nas inúmeras escolas católicas maristas, salesianas, jesuítas e beneditinas que atuam na educação formal dos jovens; nos hospitais camilianos e das Irmãs Marcelinas; nas inúmeras obras de misericórdia levadas adiante pelas Irmãs da Caridade, cujo carisma é “servir os mais pobres entre os pobres”, apenas para citar alguns exemplos. Juntos, os serviços prestados pelas diversas congregações religiosas compostas por homens e mulheres que decidiram viver para Deus, e por amor a Deus, a serviço do próximo, formam uma rede de evangelização e promoção integral do ser humano que torna a Igreja Católica a instituição que mais bem faz ao mundo. 

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