Espiritualidade

Como o sol nasce da aurora

Como o sol nasce da aurora, de Maria nascerá Aquele que a terra seca em jardim converterá.” Esse trecho é parte do refrão de um canto muito conhecido e entoado em nossas comunidades neste tempo do Advento. De Maria nascerá aquele que vai transformar a secura da vida em jardim florido, pois “do tronco da vida, mesmo ferida, nasce uma flor rindo da dor”. No entanto, a secura da vida, a vida ferida acontece com o primeiro não, mostrado pelo livro do Gênesis, quando o homem preferiu olhar para si mesmo e se esconder do seu Criador. 
No princípio, o homem rompeu a comunhão com o Criador, mostrando que o pecado o fez medroso, tendo que Dele se esconder: “Fiquei com medo porque estava nu”. Depois passa a acusar quem lhe está próximo, dizendo que Eva lhe dera do fruto proibido. Acusada por Adão, Eva diz que fora induzida pela serpente. Ninguém assume que errou e lança sobre o outro a responsabilidade da falha cometida. Nesse cenário, Deus não deixa o ser humano perdido na sua maldade e o procura imediatamente: “Onde está?”. É o que faz um pai ou uma mãe quando perde um filho. Mesmo assim, homem e mulher perderam o Paraíso e tiveram que lutar constantemente para que, no fim, conseguissem esmagar a cabeça da serpente. Tudo isso com a participação de Maria, a nova Eva, a mãe dos viventes.
Depois de um “não” que deixou marcas negativas na vida do povo, agora é um “sim” que vai mudar para melhor e para sempre a história da humanidade. Isso acontece porque Deus envia o Anjo Gabriel à cidade de Nazaré, na Galileia, onde está Maria, prometida em casamento a um homem chamado José. Poderia ser no belo templo de Jerusalém, no palácio de cedro do rei Davi, mas Deus rejeita tudo isso e quer fazer morada em uma cidade pequena, no ventre de uma mulher simples, desconhecida. Maria, instalada em sua casa, é surpreendida pelo chamado de Deus e prontamente se põe à disposição, dando o seu sim. 
Em nossas comunidades, temos o singelo costume de acender as velas da coroa do Advento. Nesta semana, a luz acesa é o sim de Maria. Nela, Deus encontrou um lugar para acender a sua luz (Jesus). É luz também o grande líder Nelson Mandela, cujo sexto ano de sua morte é celebrado nesta semana. Tornou-se luz para todos os que lutam por liberdade, democracia, igualdade e superação do racismo e preconceito. Não esquecemos de Dom Paulo Evaristo Arns, no terceiro ano de sua Páscoa, o qual deixa um testemunho forte e que muito nos ilumina. Um homem que ensinou como se manter fiel em tempos difíceis, tempo de tortura e morte, sob forte pressão do regime militar. Soube usar do seu ofício de bispo para enfrentar as forças que produziam morte, abrindo as portas da Igreja para o povo, especialmente aos mais pobres, para que pudessem se organizar e resistir.
Em um contexto, especialmente latino-americano, de instabilidade política, tensões sociais, direitos violados, riscos à democracia e liberdade já conquistadas, o testemunho de Mandela fortalece o povo a resistir e a lutar de forma pacífica.
Diante de uma realidade em que moradores de rua estão sendo envenenados e alvejados a tiros, que crianças e jovens morrem vítimas da violência e “balas perdidas”, que mulheres são assassinadas ou agredidas (feminicídio), Dom Paulo é reserva moral e devia envergonhar muitos que falam de Deus, mas que não têm compromisso em defender a vida. 
É nesse cenário que se multiplicam iniciativas edificantes, em que pessoas ligadas às igrejas, movimentos sociais, organizações não governamentais, programas de governos, empresas, escolas e tantos outros, se colocam em defesa da vida, da liberdade, da democracia e de tantos outros valores necessários de serem respeitados e promovidos. É nesse cenário que Maria se torna fonte de inspiração, pois crendo que tudo poderia ser diferente e melhor, mesmo sem ter claro o que o futuro lhe reservava, disse sim à proposta de Deus para ser a mãe do Salvador.
Neste tempo em que estamos acendendo pequenas luzes para celebrar a presença da luz plena que é Jesus, lembramo-
-nos daqueles que, inspirados no sonho de Deus e nos anseios mais nobres da humanidade, se tornaram clarões que nunca mais se apagarão. Eles incendiaram o mundo: Maria trazendo o Libertador, o Príncipe da Paz; Mandela e Dom Paulo lutando pela liberdade, democracia, defesa da vida, sem guardar rancor e desejo de vingança. Assim compreendemos que o Natal só vai acontecer onde Deus encontrar um lugar para acender a sua luz. Neste Advento, cada um de nós é convidado a dar um lugar para que Deus acenda a sua luz e faça a sua morada. Então podemos continuar cantando: “Ó Belém, abre teus braços ao Pastor que a ti virá! Emanuel, Deus conosco, vem ao nosso mundo, vem!”

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