Comportamento

Quando o castigo é demais!

Em tempos de velocidade virtual, a paciência virou sucata. Os mais velhos que a cultivaram como virtude fundamental já a estão esquecendo, e, para os mais garotos, ela nunca existiu. Tudo é muito rápido no “mundo touch”. Segundos têm a duração de horas. A repercussão disso no comportamento tem sido impressionante. Na família se observa que o “tomou-levou” vai progredindo não só entre aqueles com temperamentos mais violentos ou impulsivos, mas também ganha espaço entre aqueles que eram campeões da paciência, do time dos que pensam e depois agem. Situações que exemplificam claramente essa relação estão na comunicação dos pais com os filhos, de modo particular na “zona de risco” da adolescência, conhecida como um dos períodos mais difíceis na relação genitores e descendentes. O tema é longo e complexo, porém é bom que fique claro que não se apontam culpados e muito menos concordamos com o título de “aborrescentes”. Difícil aos filhos, que passam por transformações hormonais (independentemente de suas vontades, simples fisiologia) que atuam no corpo físico, com repercussões psicológicas e comportamentais. Difícil para os pais, que, com frequência, estão na fase de muito trabalho profissional e pouco tempo disponível em casa. 
O encontro entre esses personagens em família pode tornar-se raro. Por vezes, é provocado por alguma circunstância surpreendente, que surge na tela do radar como uma ameaça à integridade física do filho, ou moral, ou mesmo psicológica, e que vai merecer uma maior atenção por parte dos pais. O fato pode ocorrer por iniciativa própria ou, também, por influências externas. Exemplos típicos que todos conhecemos são as chegadas noturnas dos filhos, completamente embriagados; o telefonema que explica o porquê de todos da festinha terem ido parar na delegacia; a tatuagem que não se queria e apareceu nas costas (escondidinha), o piercing inflamado na asinha do nariz... Não esqueçamos também que podem aparecer as consequências de “ter ficado”...
Com a velocidade virtual e tolerância zero, se esses fatos ocorrem e contrariam os princípios vivenciados pela família, suas normas morais, e, pior, se provocam repercussões além dos limites do território familiar, soa um alerta com cartão vermelho (sem direito a VAR). E, assim, os filhos se sentem expulsos de casa, senão fisicamente, ao menos afetivamente. Aí entra a hora de recorrer à antiga e sempre magnânima virtude da paciência, muito entrelaçada às outras virtudes chamadas cardeais, como a prudência, a fortaleza, a justiça e a temperança. 
Fortaleza, para não sair castigando, mesmo antes de ouvir todo o acontecimento. Temperança, para controlar a impulsividade do momento em que tomou ciência e não esbravejar no jantar, numa festa, ou mesmo numa reunião com outros amigos do filho. Justiça, para não emitir uma sentença condenatória sem uma avaliação serena de tudo o que envolve o fato, principalmente a voz do filho, ainda que recorrente. A prudência, mãe de todas as virtudes, saberá esperar, perguntar, ouvir (sem interromper), refletir, perdoar (o que não significa justificar tudo), acolher (com os erros) e tirar o melhor proveito do acontecimento, ainda que com consequências realmente graves pela atitude vinculada à responsabilidade do filho. 
Em situações adversas, com consequências que podem chegar a lesar o próprio corpo ou o de terceiros, que podem ofender a pessoas muito queridas do entorno familiar, que podem ter faltado ao respeito com a autoridade do professor, do idoso, dos pais; ou em ocorrências que impliquem crimes com drogas, ou mesmo a fatalidade por acidentes totalmente inescrupulosos de “rachas” na madrugada, ou de uma gestação inesperada, merecem, mais do que nunca, uma profunda reflexão sobre a educação dos filhos. O castigo sem data de validade, por período que pode se perder no tempo; ou atitudes de violência, abomináveis, em nada ajudarão a recuperar um ser humano que errou. É em casa que precisamos iniciar a recuperação de uma pessoa. A correção, necessária, deve estar vinculada a uma motivação por melhorar e não de simplesmente carregar a pena. Quando motivos de desequilíbrio emocional exigirem a atenção profissional médica, esta deve ser procurada, sem, em hipótese alguma, deixar de lado a participação dos pais e demais familiares, ainda que em determinados momentos, pela necessidade de isolamento, esta colaboração tenha de se limitar à oração. O que será muito importante! Paciência com serenidade e esperança, em vez do castigo demasiado!

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