Fé e Cidadania

Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós!

A canonização de Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, Santa Dulce dos Pobres, no dia 13 de outubro, em Roma, tem importância fundamental para a Igreja Católica no Brasil e no mundo. Traz à tona a memória do pobre de Assis, do qual o Papa Francisco escolheu o nome para o seu pontificado. Como no caso da canonização de Dom Oscar Romero, trata-se de mais um gesto do Pontífice na direção dos mais indefesos, excluídos e marginalizados. “Gestos que valem uma encíclica”, como diria um jornalista italiano, referindo-se a outras atitudes do Santo Padre.
A trajetória de Irmã Dulce começa nos mangues de Salvador (BA), de casebre em casebre, visitando as pessoas e famílias mais vulnerabilizadas e em maior risco de vida. Para todos, reserva um olhar, um sorriso e um gesto que procura resgatar em cada um a dignidade humana ultrajada pela condição de pobreza e abandono. Distribui carinho, ternura e compaixão onde prevalecem tanta penúria e tanta violência. Não é sem razão que Dulce rima com doce: de fato, ela personifica a doçura da Boa-Nova de Jesus Cristo em meio ao sofrimento humano.
Mas sua obra não fica por aí! Para além de uma visita e de uma palavra amiga, para além de uma presença assídua e marcante junto à periferia urbana e para além da assistência aos mais necessitados, Irmã Dulce cimenta os alicerces e a estrutura de uma obra bem mais ampla e duradoura. Deixa o legado daquilo que hoje poderíamos chamar de “política pública” de saúde e educação ao alcance da população de baixa renda. Uma obra de portas abertas a quem dispõe de recursos exíguos.
Não seria exagero afirmar que o Papa Francisco e Santa Dulce, ao lado da inspiração de São Francisco, remetem à sensibilidade e à solidariedade da Igreja para com a chamada “questão social”. Esta última, desde a Encíclica Rerum Novarum, publicada em 1891 pelo Papa Leão XIII, passando pelos documentos do Concílio Vaticano II, figura como o terreno fértil e privilegiado da Doutrina Social da Igreja, cujo desafio e fio condutor é a defesa e o resgate da dignidade da pessoa humana.
O testemunho de Irmã Dulce, entretanto, traz também uma ligação inédita com as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (2019-2023), aprovadas em maio de 2019. De acordo com o documento, “o mundo urbano atual, cuja mentalidade está presente na cidade e no campo, embora marcado por contradições e desafios, é o lugar da presença de Deus, espaço aberto para a vivência do Evangelho” (nº 10). Ou seja, os bispos em Assembleia Geral buscam respostas pastorais para a cultura ou “mentalidade” do mundo urbano. 
Não é exatamente isso o que tem em mira os incansáveis esforços de Santa Dulce, nos pontos mais longínquos e esquecidos do conglomerado urbano de Salvador? Sua dedicação se revela tanto nas soluções imediatas e urgentes a quem padece da miséria e da fome quanto nas soluções de caráter estrutural, em que uma visão mais ampla e abrangente se volta para a justiça e o direito, bem como para a redução das desigualdades sociais e para o cuidado com as gerações futuras. Uma resposta a ser levada em conta na evangelização!

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