VATICANO

Sínodo para a Amazônia

Papa: coragem e prudência devem orientar os trabalhos do Sínodo

Por Fernando Geronazzo
08 de outubro de 2019

Reunidos com o Papa Francisco, os participantes da assembleia sinodal iniciaram os trabalhos e reflexões sobre novos caminhos para a Igreja na Pan-Amazônia

O primeiro dia de trabalhos da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônica, nesta segunda-feira, 7, contou com a presença do Papa Francisco, que em sua saudação inicial, destacou que o Espírito Santo é o protagonista do Sínodo.

O Pontífice pediu coragem para falar com liberdade e prudência para não se criar a impressão de que exista um “Sínodo dentro, que segue um caminho da Igreja Mãe, de cuidado dos processos”, e um “Sínodo fora”, que, por uma informação dada com rapidez e imprudência, “move os jornalistas a equívocos”.  

O Santo Padre também ressaltou que é preciso rezar muito, além de refletir, dialogar, escutar com humildade e discernimento.

INTERESSE DE TODA A IGREJA

Ao abrir a 1ª Congregação Geral da Assembleia, o Secretário-Geral do Sínodo dos Bispos, Cardeal Lorenzo Baldisseri, ressaltou a orientação desse caminho sinodal convocado pelo Papa é “identificar novos caminhos para a evangelização daquela parte do Povo de Deus, especialmente os indígenas, muitas vezes esquecidos e sem a perspectiva de um futuro sereno, também por causa da crise da floresta Amazônica, pulmão de suma importância para o nosso planeta”.

Nesse sentido, o Dom Lorenzo afirmou que, mesmo se referindo a uma área geográfica específica, este Sínodo interessa à Igreja universal. “Por este motivo, a participação foi ampliada a Bispos provenientes de outras Igrejas particulares e organismos eclesiais regionais e continentais. Em outras palavras, é toda a Igreja universal que quer dirigir o olhar à Igreja na Amazônia e assumir no coração os seus desafios, as suas preocupações e os seus problemas, porque no fundo todos nós devemos nos sentir parte desta aldeia global na qual vive e palpita a única Igreja de Jesus Cristo”, disse. 

NOVOS CAMINHOS PARA EVANGELIZAÇÃO

O Relator-Geral do Sínodo, Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e Presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam), fez um pronunciamento no qual destacou que o tema da assembleia ressoa grandes linhas pastorais características do Papa Francisco.

Ressaltando o conceito de “Igreja em saída” propagado pelo Santo Padre, Dom Cláudio afirmou que a Igreja não pode “ficar sentada em casa, cuidando de si mesma, cercada de muros de proteção”, muito menos, olhando para trás com certa nostalgia de tempos passados”. “Ela precisa abrir as portas, derrubar muros que a cercam e construir pontes, sair e pôr-se a caminho na história, nos tempos atuais de mudança de época, caminhando sempre próxima de todos, principalmente de quem vive nas periferias da humanidade”, sublinhou.

DESAFIOS MISSIONÁRIOS

Dom Cláudio recordou, ainda, que, na história da evangelização da Amazônia, a Igreja sempre contou com missionários, de ordens e congregações religiosas e padres diocesanos. “Ao lado dos missionários, houve também sempre numerosas lideranças leigas e indígenas que deram testemunho heroico”, reiterou.

“Por outro lado, a história da Igreja na Pan-amazônia mostra que sempre houve grande carência de recursos materiais e de missionários para um desenvolvimento pleno das comunidades, destacando-se a ausência quase total da Eucaristia e de outros sacramentos essenciais para a vivência cristã cotidiana”, acrescentou o Relator-Geral, ressaltando a carência de sacerdotes a serviço das comunidades locais. 

MINISTÉRIOS

Nesse sentido, Dom Cláudio lembrou que, durante a fase preparatória de escuta às comunidades locais, missionários e comunidades indígenas pediram que, “reafirmando o grande valor do carisma do celibato na Igreja, contudo, diante da gritante necessidade da imensa maioria das comunidades católicas na Amazônia, ali se abra caminho para ordenação presbiteral de homens casados, que residam nas comunidades”.

Ao mesmo tempo, ouviu-se nas consultas contidas no Instrumento de Trabalho do Sínodo, que, diante do grande número de mulheres que hoje dirigem comunidades na Amazônia, busque-se caminhos para o reconhecimento desse serviço e se procure consolidá-lo com “um ministério adequado” para essas mulheres, sem, no entanto, afirmar que se trate de um ministério ordenado.

ALTERNATIVAS

A respeito do tema dos ministérios, o Prefeito do Dicastério da Comunicação e presidente da Comissão para Informação deste Sínodo, Paolo Ruffini, explicou, durante a Conferência de imprensa desta segunda-feira, que essa “não é a única possibilidade”, ou seja, que não significa que essa seja a resposta a ser dada para o desafio da carência sacramental. No entanto, ele afirmou que seria errôneo da parte dos padres sinodais não considerar nas reflexões da assembleia um pedido proveniente da comunidade católica da Amazônia.

De igual modo, a Sala de Imprensa da Santa Sé esclareceu que o tema da falta de sacramentos nas comunidades amazônicas foi tratado durante a Assembleia, reconhecendo que se trata de uma nessesidade legítima, mas que não pode ser condicionada ao fato de repensar substancialmente a natureza do sacerdócio e sua relação com o celibato, previsto para a Igreja de rito latino. “Em vez disso, sugeriu-se uma pastoral vocacional entre os jovens indígenas, a fim de favorecer a evangelização até mesmo das regiões mais remotas da Amazônia, de modo que não sejam criados ‘católicos de primeira classe’ que possam se aproximar facilmente da Eucaristia, e ‘católicos de segunda classe’, destinados a permanecer sem o Pão da vida, por até dois anos consecutivos”, informou o comunicado.  

INSTRUMENTUM LABORIS

Sobre o Instrumento de Trabalho, o Cardeal Baldisseri lembrou que esse se constituirá “o ponto de referência e a base necessária da reflexão e do debate sinodal e não um texto para fazer emendas”.

Isso também foi ressaltado pelo próprio Papa Francisco, que o definiu como um texto “mártir, destinado a ser destruído”, pois é o ponto de partida para os trabalhos da Assembleia. 

PARTICIPANTES

O Sínodo conta com a participação de 185 padres sinodais, seis delegados fraternos, 12 enviados especiais, 25 especialistas, 55 auditores (homens e mulheres), entre os quais especialistas e agentes pastorais provenientes de todo o território pan-amazônico. “Entre eles, destaca-se a presença de 16 representantes de diversas etnias indígenas e povos originários que trazem a voz, o testemunho vivo das tradições, da cultura e da fé das suas populações”, frisou o Secretário-Geral. 

METODOLOGIA

A assembleia sinodal se realizará por meio das congregações gerais, dos círculos menores – que terão início em 10 de outubro, dos pronunciamentos dos participantes, da troca de opiniões “no espírito da comunhão fraterna”, até a elaboração do projeto do documento final que será apresentado à assembleia em 21 de outubro. No dia 26 será feita a votação do documento e a conclusão dos trabalhos. Esse Documento Final será entregue ao Papa que, posteriormente, poderá redigir uma exortação pós-sinodal, com suas decisões feitas a partir da escuta daquilo que foi refletido no Sínodo.

(Com informações de Vatican News - Fotos: Vatican Media)

 

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