Bispos da Amazônia brasileira alertam para a grave situação da pandemia na região

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04 de mai de 2020

Os bispos que atuam no território brasileiro da Amazônia emitiram uma nota sobre a situação dos povos da região neste período de pandemia da COVID-19.

A nota foi assinada pelo Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo e presidente da Comissão Episcopal para a Amazônia, da conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e pelos 66 bispos e arcebispos e administradores diocesanos das circunscrições eclesiásticas que compõem o território amazônico no País. 

PREOCUPAÇÃO

Os prelados manifestaram sua “imensa preocupação” com o avanço descontrolado do novo coronavírus no Brasil, especialmente na Amazônia, e exigem maior atenção dos governos federal e estaduais “à essa enfermidade que cada vez mais se alastra nesta região”.

“Os povos da Amazônia reclamam das autoridades uma atenção especial para que sua vida não seja ainda mais violentada. O índice de letalidade é um dos maiores do país e a sociedade já assiste ao colapso dos sistemas de saúde nas principais cidades, como Manaus e Belém”, ressaltam os bispos.

A nota salienta, ainda, que as estatísticas veiculadas pelos meios de comunicação não correspondem à realidade e alertam que a testagem para a doença é insuficiente para saber a real expansão do vírus. “Muita gente com evidentes sintomas da doença morre em casa sem assistência médica e acesso a um hospital”, destaca o texto.

ATENÇÃO DOS PODERES PÚBLICOS

“Diante deste cenário de pandemia incumbe aos poderes públicos a implementação de estratégias responsáveis de cuidado para com os setores populacionais mais vulneráveis. Os povos indígenas, quilombolas, e outras comunidades tradicionais correm grandes riscos que se estendem também à floresta, dado o papel importante dessas comunidades em sua conservação”, enfatizam os bispos.

O episcopado chamou a atenção para o fato de a região amazônica possuir a menor proporção de hospitais do País, além de extensas áreas do território não dispor de unidades de terapia intensiva (UTI) e apenas poucos municípios atendem os requisitos mínimos recomendados pelas Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação a número de leitos de UTIs por habitante.

A nota também ressalta as condições de vida precárias das populações urbanas, sobretudo das periferias, onde faltam “saneamento básico, moradia digna, alimentação e emprego”.

MOBILIZAÇÃO DA SOCIEDADE

Os bispos da Amazônia brasileira convocam a Igreja e a toda a sociedade para exigir medidas urgentes dos poderes executivo e legislativo nas esferas federal, estaduais e municipais em prol da população da região.

Por fim, o episcopado amazônico pede a intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, “Rainha da Amazônia”, para que o acompanhe e socorra.

LEIA A ÍNTEGRA DA NOTA

 

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Contemplar e amar a Amazônia: o ‘sonho ecológico’ do Papa Francisco

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05 de março de 2020

Não basta somente “analisar” a Amazônia. É preciso também contemplá-la para poder amá-la. E, amando-a, é possível preservá-la. Essa é a essência do “sonho ecológico” do Papa Francisco, que ele apresenta no terceiro capítulo da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia (QA), fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos, realizada em outubro de 2019.

O Papa Francisco aplica à região amazônica uma noção já defendida na sua Encíclica Laudato si’, de 2015. Se Deus criou tudo o que existe, inclusive a estreita relação do ser humano com a natureza, cuidar da natureza é cuidar do ser humano. Abrir-se para uma “ecologia integral”, que protege tanto a vida humana quanto a Criação, é abrir-se para Deus.

“Libertar os demais de suas escravidões implica, certamente, cuidar do seu ambiente e defendê-lo, e, mais importante ainda, ajudar o coração do homem a se abrir com confiança àquele Deus que não só criou tudo o que existe, mas também nos deu a si mesmo em Jesus Cristo”, afirma o Papa Francisco. “O Senhor, que primeiro cuida de nós, ensina-nos a cuidar de nossos irmãos e do ambiente que a cada dia Ele nos presenteia” (QA 41).

Em Querida Amazônia, o Papa fala de quatro sonhos para a Amazônia: social, cultural, ecológico e eclesial. Nesta série com quatro análises, O SÃO PAULO apresenta chaves de leitura para essas categorias. Entenda, a seguir, alguns dos principais pontos do aspecto ecológico.

 

APRENDER A CONTEMPLAR
O Papa Francisco insiste que é necessário aprender com os povos nativos da Amazônia e incluí-los em qualquer projeto que se tenha para a região, também do ponto de vista ecológico. Afinal, a preservação da floresta e de suas riquezas só ocorre se acompanhada de uma autêntica admiração pelo que ela representa. 


“Aprendendo dos povos originários, podemos contemplar a Amazônia, e não só para analisá-la, para reconhecer esse mistério precioso que nos supera. Podemos amá-la, e não só utilizá-la, para que o amor desperte um interesse profundo e sincero”, afirma. “E mais, podemos nos sentir intimamente unidos a ela, e não só defendê-la, e, então, a Amazônia se tornará nossa como uma mãe. Porque o mundo não se contempla de fora, mas de dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres” (QA 55).


Admirar a beleza da Amazônia e reconhecer que ela é um projeto de Deus pode levar a uma “conversão interior” que sustentará a defesa daquele ambiente sagrado. “Essa conversão interior é o que poderá nos permitir chorar pela Amazônia e gritar com ela diante do Senhor” (QA 56).

 

DOR DOS POBRES E DA TERRA
Por isso, estão unidos os gritos de sofrimento dos pobres e da terra na Amazônia – gritos que o Papa Francisco compara àqueles do povo judeu, quando rezava a Deus e clamava pelo fim da escravidão no Egito: “É um grito de escravidão e abandono, que clama por liberdade” (QA 52).


Se a Amazônia grita por sua sobrevivência, já não é mais possível adiar decisões importantes, como se nada fosse acontecer, diz o Papa. Anualmente, milhares de espécies de plantas e animais desaparecem, algumas das quais nem sequer conhecidas e catalogadas; a água está cada vez mais contaminada; as periferias das cidades crescem de forma desordenada; a floresta é desmatada sem critérios; as reservas naturais e terras indígenas são exploradas ilegalmente...


E o que tem a Igreja a ver com isso? “Deus Pai, que criou cada ser do universo com infinito amor, nos chama a ser seus instrumentos para escutar o grito da Amazônia. Se acudirmos a esse clamor angustiado, poderá manifestar-se que as criaturas da Amazônia não foram esquecidas pelo Pai do céu” (QA 57). A Amazônia é, portanto, um “lugar teológico, um espaço onde Deus mesmo se mostra e convoca seus filhos” (QA 57).

 

NÃO À INTECCRNACIONALIZAÇÃO
Querida Amazônia convoca toda a humanidade a amar a região amazônica, mas atribui aos mais poderosos uma responsabilidade maior, justamente porque controlam o poder econômico e político. 

Suas decisões e práticas têm impactos decisivos na preservação do ambiente natural e das culturas locais. Por isso, Francisco afirma que é preciso resistir a “vícios autodestrutivos”, como a ideia de que nada precisa ser feito.

Faltam regras claras, um “sistema normativo que inclua limites invioláveis e assegure a proteção dos ecossistemas, antes que as novas formas de poder derivadas do paradigma tecnoeconômico acabem arrasando não só a política, mas também a liberdade e a justiça” (QA 52).

Com a ajuda da ciência, o Papa reconhece o papel que a Amazônia tem no equilíbrio planetário e no controle das temperaturas. Ele defende que a Amazônia é um bem de toda a humanidade e suas riquezas naturais e culturais pertencem a toda a família humana.

Isso não quer dizer, entretanto, que a Amazônia deva ser internacionalizada. Pelo contrário: Francisco atribui aos governos nacionais e locais da região amazônica o dever de conservá-la e garantir os direitos dos povos. “A solução não está, então, em uma internacionalização da Amazônia, mas a responsabilidade dos governos nacionais torna-se mais grave”, declara. Iniciativas internacionais e da sociedade civil ajudam a sensibilizar a população, “para que cada governo cumpra o dever próprio e não delegável de preservar o meio ambiente e os recursos naturais do seu país, sem se vender a espúrios interesses locais ou internacionais” (QA 50).

 

RESISTIR AO INDIVIDUALISMO
O Papa também convida a todos a adotar um novo estilo de vida, mais respeitoso em relação ao meio ambiente. É preciso, ainda, educar as populações, inclusive na Amazônia, a novos hábitos ecológicos: “A grande ecologia sempre inclui um aspecto educativo, que provoca o desenvolvimento de novos hábitos nas pessoas e nos grupos humanos” (QA 58).


É possível integrar o conhecimento tecnológico existente com as práticas milenares dos indígenas, diz o Papa. “Para cuidar da Amazônia, é bom articular os saberes ancestrais com os conhecimentos técnicos contemporâneos, mas sempre procurando um manejo sustentável do território que ao mesmo tempo preserve o estilo de vida e os sistemas de valores dos habitantes” (QA 51). 


Superando o consumismo e o individualismo, e promovendo um estilo de vida “mais sereno, mais respeitador, menos ansioso, mais fraterno”, será possível dar mais um passo rumo à “ecologia integral” (QA 58).

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O ‘sonho social’ do Papa Francisco para a Amazônia

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25 de fevereiro de 2020

Uma carta de amor à Amazônia. Assim definiu o Cardeal Michael Czerny a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Querida Amazônia, do Papa Francisco, publicada no dia 12. O documento é uma reflexão do Papa após o Sínodo para a Amazônia, a assembleia especial do Sínodo dos Bispos dedicada exclusivamente à região amazônica.
A enorme diversidade de povos tradicionais, a presença da Igreja há mais de 400 anos na região, o surgimento de grandes cidades, as migrações, as comunidades isoladas, as disputas por território e o esgotamento das riquezas naturais colocam a Amazônia no centro de um intenso debate internacional.
O que se faz da Amazônia hoje determinará que tipo de sociedade global seremos amanhã. Por isso, o Papa apresentou seus quatro “sonhos” para a Amazônia nessa “carta de amor”. O primeiro deles é social, o segundo é cultural, o terceiro é ecológico e o quarto, eclesial.
Em uma série de quatro análises, O SÃO PAULO apresenta chaves de leitura para essas categorias, começando pelo sonho social.

CRISE ECOLÓGICA É TAMBÉM SOCIAL
Com o auxílio da ciência, o Papa Francisco faz um diagnóstico importante: os problemas ecológicos e os problemas sociais têm a mesma raiz. Ele afirmava isso já em sua Encíclica Laudato Si’, de 2015.
Esse alerta para o mundo se repete com força em Querida Amazônia. A crítica a um modelo econômico que explora a natureza de maneira desenfreada, priorizando o lucro sobre a “casa comum”, o planeta Terra, é a mesma contra a perpetuação das desigualdades sociais.
O “clamor da terra” é, também, “o clamor dos pobres”, diz ele (QAm 8). Os povos nativos e os mais pobres são os mais afetados pela destruição da natureza, que acentua os desastres naturais, a perda de seus territórios, as migrações forçadas, a pobreza, o tráfico de pessoas, o crescimento das periferias de grandes cidades e a corrupção (QAm 10,21).
Por isso, o Papa Francisco sonha “com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos originários, dos últimos, em que sua voz seja escutada e sua dignidade seja promovida”. Da mesma forma, não basta defender a natureza e esquecer a vida humana. “Não nos serve um conservacionismo que se preocupa com o bioma, mas ignora os povos amazônicos”, escreve (QAm. 7, 8).

UM ESPAÇO A SER OCUPADO?
Por trás da promessa de desenvolvimento da Amazônia, que, na verdade, leva dor e sofrimento aos povos locais, está uma concepção errada de que a Amazônia é “um espaço vazio a ser ocupado”, afirma o Papa Francisco.
Em Querida Amazônia, ele observa que a Amazônia não é “uma riqueza bruta que deve se desenvolver” e tampouco “uma imensidade selvagem que deve ser domesticada”. Pelo contrário, é necessário respeitar a presença e as tradições dos povos nativos e as terras que a eles sempre pertenceram (QAm 12,13).

DIREITO DOS POVOS
O Papa Francisco dá voz aos povos indígenas ao repetir um apelo que é comum entre os que defendem seus interesses: qualquer iniciativa ou projeto que envolva a Amazônia deve, necessariamente, consultar os povos tradicionais, principais “interlocutores” da região (QAm 25).
“Aos empreendimentos, nacionais ou internacionais, que causam dano na Amazônia e não respeitam o direito dos povos originários ao território e à sua demarcação, à sua autodeterminação e ao consentimento prévio, há que dar-lhes os nomes que lhes correspondem: injustiça e crime”, denuncia Francisco (QAm 14).
A privatização da água potável, a exploração ilegal de madeira, a extração de petróleo, a construção de grandes estradas e usinas hidrelétricas, o garimpo, a expansão da fronteira do agronegócio, essas e outras atividades, quando realizadas fora da lei e com a conivência dos governos, “contaminam o ambiente e transformam indevidamente as relações econômicas, e se convertem em um instrumento que mata” (QAm 14).
Ele lembra que a sociedade ocidental pode aprender com os indígenas a ter “um forte sentido comunitário” (QAm 20), em suas relações humanas, ritos e celebrações.

DESIGUALDADE EXTREMA
Alguns dos donos do poder chegam a tirar a vida daqueles que se opõem à expansão de seus negócios ilegais, provocando também incêndios florestais intencionais e subornando políticos. As disparidades de poder na Amazônia entre os poderosos e os pobres criam “novas formas de escravidão”, diz o Papa.
Essas mazelas são acompanhadas de violações dos direitos humanos, do tráfico de pessoas, especialmente das mulheres, e do tráfico de drogas. “Não podemos permitir que a globalização se converta em um novo tipo de colonialismo”, denuncia (QAm 14).
“A disparidade de poder é enorme, os fracos não têm recursos para se defender. Enquanto o ganhador continua levando tudo para si, os povos pobres permanecem sempre pobres, e os ricos se fazem cada vez mais ricos”, afirma o Santo Padre (QAm 13).
Ele também reconhece que, muitas vezes, membros da própria Igreja estiveram metidos nos jogos de poder. No período colonial, foram cometidos erros históricos de injustiça e crueldade. O Papa admite que, por vezes, “o trigo se misturou com o joio” e foram cometidos “crimes contra os povos originários durante a chamada conquista da América” (QAm 19). Por esses erros ele, mais uma vez, pediu perdão. 

SÃ INDIGNAÇÃO
A primeira reação necessária a todos os problemas sociais da Amazônia, defende Francisco, é a indignação. “É necessário indignar-se […] Não é saudável que nos acostumemos com o mal”, diz o Pontífice. 
No entanto, “ao mesmo tempo que deixamos brotar uma sã indignação, recordamos que sempre é possível superar as diversas mentalidades de colonização para construir redes de solidariedade e desenvolvimento”, respeitando o meio ambiente e as diferentes culturas da Amazônia (QAm 17).
Francisco também recorda o valor dos missionários que se indignaram e chegaram à Amazônia, especialmente nas últimas décadas, deixando seus 
países e adotando um estilo de vida simples, levando o Evangelho aos que mais sofrem.
“No momento atual, a Igreja não pode estar menos comprometida, e é chamada a escutar o clamor dos povos amazônicos para poder exercer com transparência seu papel profético”, exorta o Papa (QAm 19).
Uma Igreja de rosto amazônico que acompanha os pobres é o sonho social do Papa Francisco para a Amazônia. Isso inclui ver a Amazônia livre da “discriminação e da dominação” entre seres humanos e, no lugar disso, “relações fraternas” e reconhecimento mútuo (QAm 22). Pois, se tudo está interligado, escutar o outro “é um dever de justiça” (QAm 26).

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Vaticano anuncia data da publicação da Exortação Apostólica ‘Querida Amazônia’

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11 de fevereiro de 2020

A Sala de imprensa da Santa Sé anunciou nesta sexta-feira, 7, que a apresentação da Exortação Apostólica Pós Sinodal “Querida Amazônia” será realizada na próxima quarta-feira, dia 12, no Vaticano.

A coletiva de imprensa de apresentação do documento acontecerá às 13h no horário local (9h, no horário de Brasília) e pode ser vista em tempo real em https://www.youtube.com/vaticannews.

Participarão da coletiva o Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário Geral do Sínodo dos Bispos; o Cardeal Michael Czerny, S.I, Subsecretário da Seção de Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que foi Secretário Especial do Sínodo dos Bispos para a Amazônia; o jesuíta Adelson Araújo dos Santos, professor de Espiritualidade da Pontifícia Universidade Gregoriana; a Irmã Augusta de Oliveira, Superiora Geral das Servas de Maria Reparadoras, o Professor Carlos Nobre, Prêmio Nobel da Paz de 2007, e, David Martínez de Aguirre, de Puerto Maldonado, este último por meio de uma videochamada.

VEJA O COMUNICADO

O documento é fruto da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos realizado em outubro de 2019, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.

O Sínodo teve a participação dos bispos e representantes dos nove países que constituem a chamada Pan-Amazônia – Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, Venezuela, incluindo a Guiana Francesa como território ultramar –, envolvendo sete conferências episcopais.

Ao término do Sínodo, que tem caráter consultivo, foi apresentado ao Pontífice um documento final, como fruto das reflexões e trabalhos sinodais.

Nesse texto, foram destacados diagnósticos sobre a realidade dos povos amazônicos e apresentadas sugestões para a ação evangelizadora da Igreja na Amazônia. Esses diagnósticos, como afirmou o Papa Francisco em seu discurso conclusivo dos trabalhos do Sínodo, são a parte mais consistente do caminho sinodal.

Como aconteceu com os documentos pontifícios anteriores de Francisco, este será apresentado pelos bispos locais nas dioceses, que promoverão eventos e estudos para conhecimento e aprofundamento de seu conteúdo.

(Com informações do Boletim da Sala de Imprensa do Vaticano)

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Igreja na Amazônia: conversão integral, pastoral, ecológica e sinodal

 

 

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Dioceses paulistas apoiam missões na África e na Amazônia

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29 de janeiro de 2020

O Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que compreende o Estado de São Paulo, informou que houve um aumento significativo no número de benfeitores que estão ajudando financeiramente no sustento dos missionários que atuam na Amazônia e na África.

Recentemente, a Arquidiocese de Botucatu enviou R$ 100 mil para o projeto missionário do Regional. A doação, motivada pelo Arcebispo de Botucatu, Dom Maurício Grotto de Camargo, referem-se à contribuição das 47 paróquias ao longo do ano de 2019.

“É uma alegria para nossa Igreja Particular ter a possibilidade de contribuir com esse projeto tão bonito, desenvolvido em Pemba, pelas dioceses do nosso Regional. Através da colaboração de cada uma de nossas paróquias, a Igreja de Botucatu se une não apenas na oração, mas também nesse gesto concreto, mostrando assim a força missionária e sua importância nos dias de hoje”, reiterou o Dom Maurício.

CONTRIBUIÇÕES

Esse montante foi encaminhado o Fundo Missionário, gerenciado pela Cáritas Brasileira Regional São Paulo, que tem por objetivo subsidiar os Projetos do Regional Sul 1 da CNBB na Amazônia e na África.

A Arquidiocese, por meio da Catedral de Botucatu, também mantém o projeto Amigos de Dombe, que auxilia a Missão em Dombe, Moçambique. O grupo é composto por dezenas de voluntários que mensalmente contribuem para a manutenção de uma escola gerida pela Fazenda da Esperança.  O auxílio dos Amigos de Dombe inicialmente era destinado para a alimentação diária para mais de 600 crianças. Desde março de 2019, o projeto auxilia também na reconstrução de moradia de alvenaria para as famílias que perderam suas casas após a destruição causada pelo ciclone Idai.

Há quatro anos, a Arquidiocese de Botucatu conta com a presença missionária do Padre Luiz Aparecido Iauch, na Diocese de São Gabriel da Cachoeira (AM), como parte do Projeto Igrejas-Irmãs entre os regionais Sul 1 e Norte 1 da CNBB. O missionário auxilia, desde fevereiro de 2016, nas diversas comunidades daquela região.

AGRADECIMENTO

Dom Pedro Luiz Stringhini, Bispo de Mogi das Cruzes e presidente do Regional Sul 1, agradeceu a colaboração das dioceses do estado e as muitas pessoas que têm depositado sua contribuição na conta bancária do Regional.

Há um ano, a Diocese de Jundiaí também fez uma doação ao Projeto no valor de R$ 94 mil para a compra de um carro para a missão em Metoro, Moçambique. Ao lado da ajuda financeira, acontece a conscientização missionária e a sensibilização em relação ao sofrimento dos irmãos africanos.

Dom Pedro Luiz também agradeceu a Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Missionária e Cooperação Intereclesial do Regional Sul 1, motivadora de todo esse trabalho, que constitui a Comissão Missionária Regional (Comire).  O Presidente do Sul 1 também manifestou gratidão às demais dioceses do estado que contribuem com um valor anual para a manutenção da missão. “Conclamamos outros irmãos e irmãs a abraçarem de alguma forma esse Projeto de Ação Missionária, com ardor, comunhão e corresponsabilidade. Deus abençoe cada gesto de generosidade!”, concluiu Dom Pedro.

MOÇAMBIQUE

Ao todo, o Regional Sul 1 mantém três missões na Diocese: Missão de Metoro – distante 80km de Pemba; Missão de Mazeze – distante 204Km; Missão de Nangade – distante 400km. Cada uma dessas missões atende dezenas de comunidades e aldeias, com grandes distâncias entre elas.

Em agosto, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, realizou uma visita missionária à Diocese de Pemba, no norte de Moçambique, para acompanhar os trabalhos dos missionários do Regional Sul 1 no país africano.

Na ocasião, Dom Odilo ressaltou que o trabalho dos missionários é imenso, e vai desde o atendimento religioso aos cuidados à saúde e à educação do povo. Em cada paróquia ou sede da missão, há também escolas e várias formas de promoção humana e assistência social. Ele explicou que além de enviar os missionários, as dioceses paulistas colaboram financeiramente para manter a missão.

“De fato, também são necessários os meios para a realização da missão, como veículos para os deslocamentos, a alimentação, a manutenção das casas, a saúde e, é claro, as múltiplas ajudas à população local”, destacou o Cardeal Scherer.

Para o Bispo de Pemba, o brasileiro Dom Luís Fernando Lisboa, o trabalho dos missionários brasileiros é fundamental. “O Regional Sul 1 tem feito uma grande diferença na nossa Diocese com esse apoio, com essa parceria que realizamos”, em entrevista ao O SÃO PAULO, publicada em 16 de outubro de 2019. 

COMO DOAR

Doações podem ser feitas através de depósito, DOC ou TED para a conta do projeto:

Banco: Banco do Brasil

Agência: 2800-2

Conta Corrente Nº 686868-1

Favorecido: CNBB Regional Sul 1 – CNPJ: 33.685.686/0009-08.

ASSISTA AO VÍDEO DA CAMPANHA: 

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Documento final do Sínodo é presentado aos padres sinodais

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25 de outubro de 2019

Durante a 15ª Congregação Geral do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, realizada na tarde desta sexta-feira, 25, no Vaticano, com a presença do Papa Francisco, foi apresentado o texto do documento final dos trabalhos sinodais.

O texto, apresentado pelo Relator-geral do Sínodo, Cardeal Cláudio Hummes, foi elaborado por uma comissão de redação e reúne os frutos dos pronunciamentos apresentados durante os trabalhos e as numerosas emendas elaboradas pelos círculos menores, a partir da primeira versão, apresentada na segunda-feira, 21.

A manhã do sábado, 26, será reservada a releitura individual do texto pelos padres sinodais. À tarde, durante a 16ª Congregação Geral, acontecerá a votação de cada parte do documento ao qual não cabem mais emendas.

Esse documento não tem um caráter deliberativo, pois o Sínodo dos Bispos é um organismo consultivo do Papa. O texto contém as conclusões das reflexões e trabalhos realizados pelos padres sinodais desde o dia 6.

Após aprovado pela Sìnodo, o documento final será entregue ao Papa Francisco, para que ele possa discernir e decidir quais encaminhamentos dará a Igreja, podendo, inclusive, escrever uma exortação pós-sinodal sobre o tema.

 

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Padres sinodais apresentam propostas para evangelização e defesa da vida na Amazônia

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18 de outubro de 2019

Os 12 grupos linguísticos de participantes dos Sínodo para a Amazônia concluíram seus relatórios dos trabalhos dos círculos menores com as propostas que servirão de base para o Documento Final da Assembleia Sinodal.

Ao longo da próxima semana, os padres sinodais trabalharão sobre o texto desse documento, que, ao final do Sínodo, será entregue ao Papa Francisco para que ele possa discernir e tomar decisões e eventuais deliberações para a Igreja na Amazônia.

O conteúdo desses relatórios foi publicado pela Sala de Imprensa da Santa Sé e, em síntese, destacam que o Sínodo “é um dom precioso do Espírito para a Amazônia e para toda a Igreja tanto no aspecto teológico pastoral, quanto pela inevitável tarefa do cuidado da Casa Comum”.

Também é um ponto comum das reflexões dos grupos que a assembleia sinodal “é um kairós, tempo de graça, ocasião propícia para a Igreja se reconciliar com a Amazônia”.

Leia, abaixo, uma síntese das propostas:

UM SÍNODO PARA TODA A IGREJA

Todos os textos lidos publicamente exprimem a esperança de que seja desenvolvido um novo caminho sinodal na Amazônia e que, da assembleia do Sínodo dos Bispos no Vaticano, seja criada uma fervorosa paixão missionária de uma verdadeira Igreja em saída. O desejo é de que o “viver bem” amazônico se encontre com a experiência das bem-aventuranças: de fato, à luz da Palavra de Deus, alcança a sua plena realização. As propostas concretas que nasceram são muitas e variadas e provêm de vários círculos que fazem questão de esclarecer: este não é um Sínodo regional, mas universal, o que acontece na Amazônia refere-se a todo o mundo.

A IGREJA NÃO DEVE SER UMA ONG

Os relatórios advertiram que a Igreja tem a tarefa de acompanhar a obra dos defensores dos direitos humanos muitas vezes criminalizados pelos poderes públicos. Porém, ao mesmo tempo, não deve agir como uma organização não governamental (ONG). Este risco, apontaram os bispos, acompanhado com o de se apresentar de forma exclusivamente ritualista, provoca muitas vezes o abandono de muitos fiéis que buscam respostas à sua sede de espiritualidade junto das seitas religiosas ou outras confissões cristãs. Portanto, dos círculos menores também chegou um pedido para que seja dada maior atenção ao diálogo ecumênico e inter-religioso.

MINISTÉRIOS LEIGOS

Para incentivar uma ação pastoral efetivamente presente na vida das comunidades, encorajou-se um maior incentivo e valorização da ação evangelizadora dos leigos. De quase todos os círculos menores chegou o pedido de aprofundar o significado do conceito de “Igreja ministerial”, ou seja, uma Igreja onde possa coexistir corresponsabilidade e compromisso dos leigos. O Círculo “Espanhol A” pede, por exemplo, que seja concedido de modo equilibrado ministérios a homens e mulheres leigos, abstendo-se, porém, do risco de clericalizá-los. Em nível geral, propõe-se uma cuidadosa reflexão sobre os ministérios do leitorato e acolitato também a mulheres, religiosas ou leigas, adequadamente formadas e preparadas.

Também foi enfatizado que a formação dos leigos deve ser integral, não apenas doutrinal, mas também kerigmática, fundada na doutrina social da Igreja e que leve à experiência e ao encontro com o Ressuscitado.

SACERDÓCIO E ‘VIRI PROBATI’

Sobre o tema da falta de sacerdotes na região amazônica as propostas dos grupos divergem. Ao evidenciar que o valor do celibato, dom a ser oferecido às comunidades indígenas, não está em discussão, o Círculo “Italiano A” alerta quanto ao risco de que este valor seja enfraquecido ou que a ordenação e homens casados, os chamados viri probati, possa desestimular o impulso missionário da Igreja Universal a serviço das comunidades mais distantes.

A maior parte dos relatórios, principalmente as de língua espanhola e portuguesa, argumentando a necessidade de uma Igreja “de presença” mais do que “de visita”, exprime-se favorável à concessão do presbiterado a homens casados, de boa reputação, preferivelmente indígenas escolhidos pelas comunidades de proveniência, mas em condições específicas.

Esses grupos salientaram que não deve ser esquecido o drama das muitas populações da Amazônia que atualmente recebem os sacramentos apenas uma ou duas vezes por ano. Por outro lado, também foi pedido às comunidades locais para reforçarem a consciência de que também a Palavra representa um alimento espiritual para os fiéis.

Como a discussão a respeito do sacerdócio não diz respeito apenas à Igreja na Amazônia, mas no mundo todo, sugeriu-se até a realização de um Sínodo universal específico sobre o tema dos viri probati.

CRISE VOCACIONAL E FORMAÇÃO SACERDOTAL

Considerando a dimensão do território pan-amazônico e a escassez de ministros, foi cogitada a criação de um fundo regional para a sustentabilidade da evangelização. Além disso, o Círculo “Italiano A” exprimiu “perplexidade” com relação à “falta de reflexão sobre as causas que levaram à proposta de superar de algum modo o celibato sacerdotal como foi expresso pelo Concílio Vaticano II e pelo magistério sucessivo”.

Ao mesmo tempo, espera-se uma formação permanente ao ministério com o objetivo de configurar o sacerdote a Cristo e se exorta o envio à Amazônia de missionários que atualmente exercem o ministério sacerdotal no norte do mundo. Diante da crise vocacional, os círculos menores relevam uma diminuição substancial da presença de religiosos na Amazônia e esperam uma renovação da vida religiosa que, sob impulso da Confederação latino-americana dos religiosos (CLAR), seja promovida com renovado fervor, de modo especial no que se refere à vida contemplativa.

Ao mesmo tempo propõe-se o fortalecimento da formação dos sacerdotes, que não deve ser apenas acadêmica, mas também realizada nos territórios amazônicos com experiências concretas de “Igreja em saída”, ao lado dos que sofrem. Foi solicitada também a constituição de seminários indígenas.

MULHER E DIACONATO

O tema da mulher está presente em mais de um relatório com o pedido de reconhecer, também em papéis de maior responsabilidade e liderança, o grande valor oferecido pela presença feminina no seu serviço específico à Igreja na Amazônia. Pede-se para garantir, por exemplo no âmbito de trabalho, o respeito dos direitos das mulheres e a superação de qualquer tipo de estereótipo. A maior parte dos Círculos Menores manifestou o pedido de que seja dada atenção ao estudo da possibilidade do diaconato para as mulheres, considerando que muitas funções deste ministério já são desempenhadas pelas mulheres na região.

Em 2016, o Papa Francisco criou uma comissão para o estudo das possibilidades teológicas e pastorais do diaconato feminino. Contudo, ainda não há uma conclusão sobre esse assunto. Em maio, durante sua viagem à Macedônia, o Pontifice explicou que não há certeza de que o diaconato exercido na Igreja primitiva fosse, de fato, “uma ordenação com a mesma forma e com a mesma finalidade que a ordenação masculina”.

DIÁLOGO INTERCULTURAL E INCULTURAÇÃO

Os círculos menores pedem que seja consolidada uma teologia e uma pastoral de “rosto indígena”, na qual diálogo intercultural e inculturação não são entendidos como opostos. A tarefa da Igreja não é a de decidir pelo povo amazônico ou assumir uma posição de conquista, mas acompanhar, caminhar junto numa perspectiva sinodal de diálogo e escuta.

Foi proposto o desenvolvimento de um “rito amazônico” no qual, conforme explicado em um dos relatórios, “devem ser valorizados os símbolos e gestos das culturas locais na liturgia da Igreja na Amazônia, conservando a unidade substancial do rito romano, visto que a Igreja não quer impor uma uniformidade rígida no que não afeta a fé”.

Ainda foi sugerida a promoção do conhecimento da Bíblia, favorecendo a tradução nas línguas locais. Nessa ótica, foi proposta a criação de um Conselho Eclesial da Igreja Pan-amazônica, uma estrutura eclesiástica ligada ao Celam, Repam e Conferências Episcopais dos países amazônicos.

AO LADO DOS POBRES E CONTRA A VIOLÊNCIA

Os padres sinodais enfatizaram a necessidade de a Igreja ouvir “o grito dos povos” e da natureza, estando ao lado dos mais pobres e combatendo toda forma de violência. Na Amazônia a violência assume várias faces: cárceres lotados; abusos e exploração sexuais; violação dos direitos das populações indígenas; assassinatos daqueles que defendem seus territórios; tráfico de drogas e narco-business; “extermínio” da população jovem; tráfico de seres humanos, feminicídios e na cultura de violência contra as mulheres; genocídio, biopirataria, etnocídio. Tais males, segundo os bispos, devem ser combatidos “porque matam a cultura e o espírito”. Também é muito clara a condenação da violação extrativista e o desmatamento. Foi destacada, ainda, a ligação entre abuso dos mais frágeis e da natureza. Entre as várias emergências colocadas em evidência, foi dado também espaço ao tema da crise climática.

DEFESA DA VIDA E DOS DIREITOS HUMANOS

Mais de um círculo menor solicitou a instituição de um Observatório Internacional dos Direitos Humanos, na convicção de que a defesa dos povos e da natureza deva ser prerrogativa de uma ação pastoral e eclesial. Além disso foi sugerido que as paróquias criem espaços seguros para as crianças, adolescentes e pessoas vulneráveis. Reiterou-se o direito à vida de todos desde a concepção até a morte natural.

MISSIONARIEDADE E MARTÍRIO

Foi sugerida, também, a criação de um Observatório sócio-pastoral pan-amazônico em coordenação com o Celam, as comissões de Justiça e Paz das dioceses, a CLAR e a Repam. Os grupos ressaltaram, ainda, a distinção entre Igreja “indigenista”, que considera os indígenas destinatários passivos da pastoral, e Igreja “indígena”, que os vê como protagonistas da própria experiência de fé, segundo o princípio “Salvar a Amazônia com a Amazônia”. É importante também valorizar o exemplo dado por muitos missionários que deram a vida na Amazônia por amor ao Evangelho. Um dos círculos propôs incentivar os processos de beatificação dos “mártires da Amazônia”.

MIGRAÇÃO, JUVENTUDE E CIDADE

Nos relatórios, não faltaram menções aos povos isolados voluntariamente e foi pedido para que eles sejam acompanhados pelo trabalho de equipes missionárias itinerantes. Foi dado espaço também ao tema da migração, sobretudo juvenil. Hoje, 80% da população da Amazônia se encontra nas cidades. Um fenômeno que muitas vezes causa consequências negativas como a perda da identidade cultural, a marginalização social, a desintegração ou instabilidade familiar. Torna-se cada vez mais urgente a evangelização dos centros urbanos e a pastoral deve se adequar às circunstâncias sem se esquecer das favelas, das periferias e das realidades rurais. É urgente também uma pastoral juvenil renovada. No âmbito pedagógico, pede-se à Igreja para promover, de forma decisiva, a educação intercultural bilíngue e incentivar uma aliança de redes de universidades especializadas na ciência da Amazônia e na instrução superior intercultural para as populações indígenas.

TUTELA DA CRIAÇÃO

A dimensão ecológica é central nos relatórios dos círculos menores, em que se reitera que a criação é uma obra-prima de Deus na qual tudo está interligado. Pede-se para não se esquecer de que “uma conversão ecológica verdadeira começa na família e passa por uma conversão pessoal, de encontro com Jesus”.

A partir dessa premissa, foram abordadas questões práticas como as temperaturas elevadas ou combate às emissões de CO2 (dióxido de carbono). Incentiva-se um estilo de vida mais sóbrio e a proteção de bens preciosos incomparáveis, como a água, direito humano fundamental que, se privatizado ou contaminado, corre o risco de prejudicar a vida de comunidades inteiras. Deve ser destacado o valor das plantas medicinais e incentivado o desenvolvimento de projetos sustentáveis, através de cursos que levem ao conhecimento de segredos e da sacralidade da natureza, segundo a visão amazônica. Alguns círculos propõem o desenvolvimento de projetos de reflorestamento nas escolas de formação em técnicas agrícolas.

PECADO ECOLÓGICO E ECONOMIA SOLIDÁRIA

Nessa ótica, acrescenta-se a proposta de inserir o tema da ecologia integral nas diretrizes das conferências episcopais e incluir na Teologia Moral o respeito pela Casa Comum e o conceito dos pecados ecológicos, por meio de uma revisão dos manuais e rituais do Sacramento da Penitência.

“A visão antropocêntrica utilitarista é obsoleta e o homem não pode mais submeter os recursos naturais a uma exploração ilimitada que coloca em perigo a humanidade”, destacou um dos relatórios. É necessário contemplar o imenso conjunto de formas de vida no planeta em relação umas com as outras, promovendo também um modelo de economia solidária e instituindo um ministério para o cuidado da Casa comum, conforme proposto pelo Círculo “Português B”.

COMUNICAÇÃO

Por fim, alguns relatórios deram espaço ao tema dos meios de comunicação. As redes católicas de comunicação devem ser incentivadas a colocar a Amazônia no centro de sua atenção a fim de difundir boas notícias e denunciar todo tipo de agressão contra a natureza e anunciar a verdade.

Foi proposto, ainda, o uso das redes sociais na Web Rádio, na Web TV e na comunicação rádio a fim de difundir as conclusões do Sínodo. Deseja-se que o “rio” do Sínodo, com a força do “rio amazônico”, transborde dos muitos dons e sugestões oferecidos nas reflexões dos padres sinodais, na Sala do Sínodo, e que dessa experiência de caminhar juntos, possa jorrar novos caminhos para a evangelização e a ecologia integral.

(Fotos: CNBB)

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Papa Francisco se encontra com grupo de indígenas

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17 de outubro de 2019

Na tarde desta quinta-feira, 17, o Papa Francisco se encontrou com cerca de 40 indígenas, entre os participantes do Sínodo dos Bispos para a Amazônia e de outras iniciativas que estão acontecendo em Roma nos últimos dias.

Também participaram do encontro o Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito de São Paulo, e Relator-geral do Sínodo, o Cardeal Lorenzo Baldisseri, Secretário-geral, e Dom Roque Paloschi, Arcebispo de Porto Velho (RO).

De acordo com com o comunicado do Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, o encontro foi aberto com um discurso lido por uma mulher e um homem representantes dos povos indígenas. Eles expressaram gratidão ao Santo Padre pela convocação do Sínodo e pediram ajuda para e pediram ajuda para implementar seu desejo de garantir uma vida pacífica e feliz aos seus povos, cuidando de suas terras, protegendo as águas, para que possam desfrutar seus próprios descendentes.

SEMENTE DO EVANGELHO

O Pontífice, por sua vez, dirigiu algumas palavras aos presentes, sublinhando que o Evangelho é como uma semente, que cai na terra que encontra, e cresce com as características dessa terra.

Ao referir-se à região amazônica, Francisco ressaltou os perigos de novas formas de colonizações. Por fim, recordando a origem do Cristianismo, nascido no mundo hebreu, evoluiu para mundo greco-latino e depois alcançou outras terras, o Papa Francisco reiterou que o Evangelho deve se inculturar, porque “o povo recebe o anúncio de Jesus com sua própria cultura”.

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Padre indígena: celibato é um dom que pode ser vivido em qualquer cultura

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17 de outubro de 2019

O único sacerdote indígena participante do Sínodo dos Bispos para a Amazônia, Padre Justino Sarmento Resende, salesiano e membro da tribo Tuyuka, em São Gabriel da Cachoeira (AM), destacou os desafios para a formação de um clero autóctone na região amazônica.

Especialista em espiritualidade indígena e pastoral inculturada, Padre Justino falou os jornalistas na entrevista coletiva desta quinta-feira, 17, na Sala de Imprensa da Santa Sé.

'ROSTO AMAZÔNICO' 

Ordenado há 25 anos, o Sacerdote explicou o que considera como uma Igreja com “rosto amazônico” e indígena, expressão usada pelo Papa Francisco durante o encontro com povos indígenas em Porto Maldonado, no Peru, em janeiro de 2018.

Ele recordou que a Igreja chegou à Amazônia por meio dos missionários, especialmente, europeus e que, hoje a evangelização pode ser feita pelos próprios povos que ali vivem, com suas próprias línguas e identidade cultural. “Quando falamos em uma Igreja com o rosto indígena, nós procuramos concretizar como nós, indígenas, batizados, cristãos e ministros, podemos fazer diferente aquilo que os nossos antigos missionários, com suas limitações linguísticas, sem conhecer bem nossas culturas, fizeram da melhor maneira possível”, disse.

CHAMADO

Padre Justino mencionou sua própria experiência vocacional para reforçar sua reflexão. “Minha vocação surgiu quando eu vi missionários cheios de boa vontade dando catequese aos meus avós, que não tinham passado pelo processo da escolarização e, por isso, não entendiam a língua portuguesa. Foi diante dessa cena, que eu, ainda adolescente, pensei em ser um sacerdote, para poder transmitir a mensagem de Jesus na minha própria língua”, contou.

No entanto o caminho vocacional do Padre indígena não foi fácil. Ele encontrou resistência de muitas pessoas, inclusive de sua tribo, que diziam que o sacerdócio não era algo para indígenas. “Aos poucos, a Igreja foi percebendo que nós, indígenas evangelizados, podíamos nos tornar evangelizadores. Já havia catequistas, mas não sacerdotes”, acrescentou.

FORMAÇÃO

Padre Justino passou pela formação básica para o sacerdócio, com o estudo da Filosofia e Teologia. Depois de ordenado, estudou Missiologia por dois anos e, em seguida, fez mestrado em educação, para trabalhar em oficinas e encontros sobre inculturação e evangelização para indígenas. “Sigo estudando para encontrar respostas para a pergunta: como nós podemos ajudar a construir novas maneiras de evangelizar na Amazônia?”, enfatizou o Sacerdote.

“Não podemos ver a Igreja como algo fora de nós, pois nós mesmos somos Igreja. A mensagem do Evangelho não paira no ar, mas se encarna nas pessoas e, quando chega nas culturas indígenas, faz parte do ser indígena”, afirmou Padre Justino.

CELIBATO

Quando questionado sobre a falta de padres na Amazônia e sobre as afirmações feitas durante o Sínodo de que os indígenas teriam dificuldade para viver o celibato apostólico, Padre Justino respondeu: “É um dom de Deus. Pessoas de qualquer cultura no mundo podem vivê-lo. Deve ser uma decisão livre, não imposta. É difícil para mim como para qualquer outro padre não indígena”.

ATIVIDADES DO SÍNODO

Nesta quinta-feira, continuaram as reuniões dos círculos menores do Sínodo para a Amazônia. Os grupos linguísticos estão elaborando os relatórios de suas discussões, que serão entregues para a comissão de redação do Documento Final do Sínodo, cujo projeto será trabalhado ao longo da próxima semana de Assembleia sinodal, no Vaticano.

 

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Sínodo continua a discutir caminhos para a evangelização na Amazônia

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16 de outubro de 2019

Na terça-feira, 15, terminou o segundo bloco de intervenções individuais do Sínodo dos Bispos para a Amazônia. Nessas sessões, chamadas de Congregações Gerais, presididas pelo Papa Francisco, cada participante inscrito apresenta, em até quatro minutos, suas reflexões a respeito dos principais temas do Sínodo a partir de suas experiências locais e do que é destacado no Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho), texto que serve de base para as discussões sinodais. 


Na quarta-feira, 16, e na quinta-feira, 17, acontece um novo momento com os círculos menores, nos quais grupos separados por idiomas aprofundam os temas apresentados. São quatro grupos de língua portuguesa, cinco grupos de língua espanhola, dois de italiano e um grupo de inglês e francês. Cada grupo possui um moderador e um relator.


O Cardeal Cláudio Hummes, Arcebispo Emérito da Arquidiocese de São Paulo e Relator-Geral do Sínodo, fez um balanço positivo dos trabalhos sinodais até o momento. Ele ressaltou a sinceridade, coragem e transparência dos participantes, como foi pedido pelo Papa Francisco na abertura da Assembleia.


“Nós não estamos aqui como em um parlamento, em que dois ou três partidos estão votando para ver quem ganha. O Papa sempre disse que devemos chegar a uma comunhão de ideias”, afirmou Dom Cláudio ao Vatican News.

ASSUNTOS
A maioria dos pronunciamentos feitos pelos participantes do Sínodo chamou a atenção para a questão ecológica e o impacto da degradação ambiental para a vida dos povos amazônicos e para o planeta. Alguns bispos também manifestaram a preocupação com a violência causada pelos constantes confrontos por terra e a ameaça aos povos indígenas.


A violação de direitos humanos, a criminalização dos movimentos populares e o fenômeno migratório foram outros assuntos destacados nas Congregações Gerais.

FORMAÇÃO
Quanto à formação dos responsáveis pela evangelização, salientaram-se os numerosos desafios da atualidade, entre os quais o secularismo, a indiferença religiosa e o crescimento de igrejas neopentecostais.


Foram apresentadas sugestões como: uma formação básica nas paróquias, com leitura e meditação da Palavra de Deus; uma formação intensiva em tempo integral, destinada a animadores das comunidades; e uma formação teológica sistemática para os candidatos aos ministérios ordenados e para os leigos.


Também foi evidenciada a urgência de transmitir a fé, motivar os jovens a construir o próprio projeto de vida, promover o cuidado da “Casa Comum”, aumentar a rejeição à chaga do tráfico de pessoas, combater o analfabetismo e o abandono escolar.

MINISTÉRIOS
Por diversas vezes, a questão da escassez de sacerdotes foi tema de intervenções dos bispos. Uma das propostas é o estudo da possibilidade de ordenar homens casados, de fé comprovada nas comunidades. No entanto, não há um consenso de que essa seja a única solução.


Outra sugestão é o fomento de um trabalho vocacional voltado para os indígenas. Alguns bispos confirmaram que essas vocações já existem. “Há dois anos, apresentaram-se 16 jovens Xavante, à comunidade indígena católica da minha diocese, que querem ser diáconos e sacerdotes missionários em sua própria terra”, relatou Dom Adriano Ciocca Vasino, Bispo Prelado de São Félix (MT), em entrevista coletiva no sábado, 12.


“Mas, francamente, eu não sei como fazer para formá-los adequadamente. Estou procurando novos caminhos, também com os líderes das comunidades”, admitiu o Bispo, chamando a atenção para o fato de os seminários ainda não estarem preparados para acolher vocações indígenas.


Os debates sinodais reforçaram a necessidade de uma Igreja presente na Amazônia, não somente por meio dos sacerdotes e bispos, mas também de colaboradores leigos, homens e mulheres. 

ARTICULAÇÃO DOS TEMAS
O Secretário da Comissão para a Comunicação do Sínodo, Padre Giacomo Costa, chamou a atenção para a conexão existente entre os temas. “É um verdadeiro exercício de articulação entre o local e o universal, mantendo o foco sobre a região amazônica e, ao mesmo tempo, perceber o quanto isso influencia toda a Igreja para que ela possa contribuir em uma região tão particular”, disse.


A próxima e última semana do Sínodo será dedicada à apresentação do projeto do Documento Final do Sínodo e a discussão em torno do texto para, enfim, ser votado pelos padres sinodais e entregue ao Papa como resultado do processo consultivo próprio do Sínodo. 
As decisões e eventuais deliberações são de responsabilidade inteira do Santo Padre, que poderá publicar uma exortação pós-sinodal.  

(Com informações de Vatican News)

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