Comportamento

Aos mestres com carinho

Chegamos ao mês de outubro, dedicado às missões na Igreja. Um mês de comemorações famosas na Igreja: de Santa Teresa do Menino Jesus, no dia 1º;  dos Anjos, no dia 2; de São Francisco, 4; de Nossa Senhora Aparecida, 12; de São Lucas, 18; e de São Judas Tadeu, 28. Sem contar as datas no calendário geral. Ainda no dia 12, comemora-se o Dia das Crianças e do Descobrimento da América. No dia 18,  os médicos são lembrados. Mas gostaria de chamar a atenção para o dia 15, pelo grande esquecimento que tem sido dado ao seu protagonista: o professor.

Pesquisas realizadas entre adolescentes e vestibulandos do País revelam que a profissão de professor está numa das últimas opções de escolha entre eles. E isso não é de hoje. Esses resultados revelam a desvalorização daquela que deveria ser considerada uma das atividades mais importantes para a sociedade. Afinal, graças ao professor é que se formam quaisquer outras profissões. Eles estão na base da pirâmide da educação. Quanto mais na base, ou seja, quanto mais criança forem os seus alunos, os professores deveriam ser mais bem considerados. Da boa escolaridade nessa etapa da vida é que teremos colunas fortes para a sociedade de amanhã. 

Seguir a carreira de professor não se limita ao conhecimento técnico adquirido. É preciso mais do que isso. Exige vocação. Uma vocação constituída no esforço permanente de várias virtudes. Paciência com justiça, para compreender o tempo de cada um. Ciência com responsabilidade, para ensinar o que é certo na hora e de modo adequados. Perseverança e fortaleza para não desistir diante das dificuldades e incompreensões. Coragem, para se apresentar na sala de aula e enfrentar condições de pais e alunos. Dedicação, para não esquecer os detalhes. Alegria e empatia, para cativar a confiança. Amor, para que todos se percebam pessoas acolhidas. Um bom empreendedor perguntaria: “Mas quanto custa alguém assim?!”. Não há preço. No entanto, todo professor é uma pessoa, um ser humano com suas necessidades de vida digna e com respeito. Deve-se proporcionar um salário que não só dignifique a pessoa, como possa atrair aqueles que se desanimam do ideal ao observar os caminhantes por esta estrada.

O progresso de uma nação se mede por meio de vários itens: mortalidade infantil, expectativa de vida, PIB per capita, inflação, produção industrial, índice de criminalidade... Mas a importância que se dá ao professor, particularmente aos de Ensino Fundamental, deveria estar entre os cinco itens mais importantes para avaliar esse desenvolvimento. Quando aí não estiver, todos os demais correm risco grave de desabamento. 

E para onde estão sendo atraídas as nossas crianças? Para serem empreendedores infantis com o objetivo último, e único, de ganharem dinheiro. Enquanto estivermos numa sociedade em que os youtubers infantis, artistas de comportamento inadequado (por assim dizer), esportistas com salários estrondosos para serem expulsos por conduta indisciplinada, e “jovens de programas” sendo considerados ídolos, não avançaremos em progresso sustentável e muito menos passaremos a valorizar a atividade imprescindível do professor. Permanece o círculo vicioso. Descaminhos como opções, menos professores no futuro. Falta de professores, maior número de desencaminhados. Sucedem-se as tragédias, consequentes da falta de escola fundamental em todos os níveis, do crescimento de homicídios, além da falência das relações humanas em muitas áreas como Saúde, Direito, Comércio e muitas outras. Mas, para muitos, nada disso tem relação com a falta de bons professores. 

Ao ver meus netos que engatinham na vida, olho adiante para quem lhes dará a mão na escola. Não pode o professor assumir a educação familiar, intransferível responsabilidade dos pais, como está acontecendo há bastante tempo. Mas sempre caberá ao professor a responsabilidade de significativa parte do tempo no processo de educação, do conhecimento e do comportamento de crianças e adolescentes. Sonho com a valorização e com a dignidade destes profissionais na sociedade, para não ouvir o que, certa vez, uma funcionária em casa gritou dirigindo-se à minha filha, quando criança, quanto ao seu desejo de ser professora: “Não faça isto menina! Quer morrer de fome?!”. Parabéns aos mestres, e a minha pessoal gratidão a todos com quem pude aprender na vida, desde a saudosa dona Rute, no Pré-Primário, ao professor Raymundo Soares de Azevedo Neto, no Doutorado na universidade. 

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