Opinião

Quando a morte não é uma vitória

Cenas de violência ou de morte estão presentes nos noticiários cotidianamente e isso parece ter se tornado rotina que não causa mais espanto ou surpresa. A rotina leva a uma acomodação, que, por sua vez, vai tomando forma de indiferença e aceitação da violência. Algumas vezes, um fato mais chamativo se destaca, provocando um conflito de sentimentos, e toma proporções maiores nos noticiários. Nessas ocasiões, as opiniões ficam divididas em lados opostos, em que alguns falam de vida e outros de morte. Quem tem razão?

A vida em sociedade exige a manutenção da paz e da ordem pública e a constituição de forças de segurança em diversos níveis. Essas forças são legítimas e devem promover o bem comum, garantindo os direitos individuais. Quando existe uma ameaça à ordem pública, as forças de segurança podem e devem atuar a fim de resgatá-la. Nessas circunstâncias, compreende-se a necessidade e o uso da força, como última possibilidade, quando todas as outras foram esgotadas. Mas, nesse caso, existe vitória?

As cenas que envolveram o sequestro de um ônibus no Rio de Janeiro, na semana passada, colocam-no exatamente neste contexto de violência e restauração da ordem pública, com uso de força letal. De uma parte, é preciso pensar nas pessoas que foram mantidas presas, com risco de morte. Elas estavam diretamente sob o impacto da violência e sujeitas ao medo. Para elas, não se tratava de uma teoria sobre certo e errado, mas de uma situação real de vida ou morte. Qual seria a minha reação nesse contexto?

Uma situação tão grave exige olhar os fatos de outros dois ângulos. De um lado, está aquele que provocou os fatos. Usando de sua vontade, ele foi violento, sequestrando e mantendo prisioneiras aquelas pessoas. Seus atos não podem ser tolerados, eles têm uma gravidade e exigem uma resposta. Do outro lado, estão as forças de segurança, que precisam restabelecer a ordem, e que para isso devem considerar todas as possibilidades éticas e morais em jogo. A vida de toda pessoa tem a mesma dignidade?

As respostas a essas perguntas podem levar a uma calorosa discussão e defesa de posições justificadas de todos os lados envolvidos. Porém, como cristãos, não podemos ficar na superfície de uma análise sentimental ou ideológica dos acontecimentos. A vida humana, em qualquer caso, deve ser protegida, porque é um dom de Deus e mereceu o sacrifício de Cristo na Cruz. Acreditamos na ressurreição, isso é verdade, mas a morte nos causa dor, principalmente uma morte violenta, que não deve ser comemorada ou aplaudida nunca. No contexto da semana passada, o gesto mais cristão e solidário foi dado por um pai consolando uma mãe, ambos vítimas da violência.

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