Editorial

A responsabilidade da família na iniciação cristã

Processos rituais são realidades presentes em todas as culturas e organizações sociais humanas, desde as mais antigas até os dias de hoje. Os ritos carregam valores importantes para um grupo, e a iniciação garante o processo de transmissão de uma geração a outra, mantendo vivo aquilo é que fundamental e importante. Tanto os ritos quanto a participação dos membros do grupo podem sofrer variações, mas a finalidade da iniciação é sempre a de transmitir, conservar e aceitar um membro à comunidade. No contexto religioso, os ritos de iniciação são muito importantes e variados, o que manifesta que o homem moderno não perdeu o contato com o sagrado.

Um exemplo não religioso de rito de iniciação é o que acontece com as crianças quando os pais, ou pelo menos um deles, é torcedor de determinado time de futebol. Não é raro encontrar fotos de recém-nascidos com uma camisa de time. Pensando nisso, as lojas de produtos para crianças têm uma infinidade de itens personalizados e com as marcas dos times do coração do pai ou da mãe. Aos poucos, a criança vai sendo iniciada e, com o tempo, vai assumindo o time do coração. No conjunto, estamos diante de um rito que inicia, transmite e conserva um novo torcedor.

No Cristianismo, desde o início, percebeu-se a necessidade de uma introdução na fé. As comunidades mais primitivas elaboraram esse processo e o adaptaram à sua realidade, criando o que foi chamado de processo catecumenal. Esse processo variava quanto à sua duração, que, às vezes, poderia ser até de vários anos, mas mantinha o objetivo de introduzir a pessoa, o catecúmeno, no contexto e na vivência da fé cristã. Foi Agostinho de Hipona, no século V, quem sistematizou esse processo em sua obra intitulada “A instrução dos catecúmenos”. Agostinho dizia que o processo da iniciação deveria seguir a explicação do Símbolo da Fé, de modo adequado a quem escuta a catequese. 

Ao longo da história da Igreja, o processo catecumenal sofreu diversas modificações, seja no tempo da sua duração, seja no momento da sua aplicação. Mas a Igreja nunca abandonou a certeza de que é uma necessidade. Com o tempo e no contexto de uma fé cristã mais espalhada, as crianças começaram a ser admitidas ao Batismo e não apenas os adultos. A razão dessa mudança estava na família, isto é, a garantia da iniciação e da transmissão da fé estava vinculada à família cristã. Mas diversos fatores sociais e culturais acabaram por interferir nesse processo, e, assim, verificou-se nele ao longo dos anos uma fragilidade.

Na atualidade, a ação pastoral e as atividades de evangelização vêm sendo inspiradas na necessidade de um novo processo de iniciação cristã. Um processo que chegue não apenas aos que não foram batizados, mas também àqueles que receberam o sacramento do Batismo e que não foram devidamente iniciados nos mistérios da fé cristã. O processo de iniciação cristã continua a ser muito importante para a Igreja, por isso a atenção renovada para com ele. Mas também é fato que a família desempenha um papel fundamental e insubstituível na iniciação, na transmissão e na conservação da fé cristã. Portanto, quanto mais cedo a família assumir essa sua responsabilidade, tanto mais esse processo dará bons frutos.  

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