Comportamento

O lugar dos filhos na família

Educar os filhos é parte integrante da função dos pais. Segundo Leonardo Polo, educador espanhol, “a procriação culmina com a educação: os pais geram, criam e educam” os filhos. Um modo interessante de pensarmos mais profundamente no importante papel educativo dos pais na vida dos filhos é entender que os filhos são fruto do amor dos pais. Nos filhos há uma contribuição constituinte mútua, ou seja, neles se reconhecem aspectos e características de ambos os pais. Sendo assim, é fundamental para o processo de criar e educar os filhos a participação de ambos. Uma participação diferente, visto que são pessoas genética, orgânica e emocionalmente diferentes – é próprio da mãe gerar em seu ventre, alimentar com seu seio, tranquilizar o pequeno com seu toque –, uma vez que o vínculo com ela se dá desde o momento da concepção. O pai entra nessa relação posteriormente e de outro modo: cuidando de ambos, definindo limites, dando segurança, oferecendo-se como porto seguro. 

É fundamental que educar os filhos seja um projeto comum de ambos, pai e mãe. Há de haver uma parceria nesse ato educativo, e tal parceria, de modo ideal, deveria nascer do amor mútuo entre o casal. Os filhos são frutos desse amor e devem fortalecê-lo e jamais dividi-lo. Os filhos, quantos forem, serão frutos de um amor que cresce e transborda; de um amor que lhes dá alegria e segurança, que permite que vivam em um equilíbrio afetivo, sabendo o lugar que ocupam. 

Hoje, é muito comum haver enorme confusão nas relações entre pais, filhos e esposos na família. Os filhos, cada vez mais, ocupam o lugar central, tanto na rotina da casa quanto nas relações afetivas com os pais. Via de regra, ouve-se que “marido e mulher nem sequer são parentes”; “pelo meu filho, faço tudo”; “em primeiro lugar meus filhos”... E vai se tornando natural, parte do senso comum, tomar os filhos em primeiro lugar se formos hierarquizar o amor. Sim, embora sejam manifestações de amor absolutamente diferentes – amor conjugal e o amor aos filhos –, para que possamos agir de modo adequado em nossa vida cotidiana, é preciso ter alguma clareza a respeito do lugar que cada um ocupa. Será que já paramos para pensar nisso? Está claro na família quais são as prioridades nesse sentido?

Para podermos oferecer um ambiente saudável ao crescimento afetivo e educativo de nossos filhos, precisamos não nos deixar mover somente pelas emoções e sentimentos, mas, sim, pela razão. A razão tem possibilidade de adequar os sentimentos, de promover ações mais eficazes do que aquelas que tomamos ao sabor das emoções. 

Qualquer mãe, assim que dá à luz uma criança, passa por uma experiência tão intensa do ponto de vista das emoções e sentimentos que tem a sensação de que nunca amou ou amará mais alguém do que esse pequeno que acabou de chegar ao mundo. Isso é absolutamente natural. O que não é natural nem saudável é que permaneça nesse “lugar afetivo” por muito tempo. O melhor para toda a família é que os pais se empenhem em se amar mais e melhor, que os filhos percebam o quanto se gostam, que percebam que um é prioridade na vida do outro e que eles (filhos) são cuidados e educados por esse amor mútuo. A alegria e segurança que essa realidade transmite aos filhos não podemos imaginar. 

Certamente, os filhos são muito amados e devem se sentir assim.  Cada um deles tem um lugar e um amor especial no coração dos pais, e isso é maravilhoso. O que sustenta e mantém firme essa estrutura familiar, porém, é o amor entre os pais. Este que deve ser cultivado com todo empenho, pois, se estiver fortalecido, criará a possibilidade de que os filhos sejam criados e educados com excelência no seio da família.

Simone Ribeiro Cabral Fuzaro é fonoaudióloga e educadora. Mantém o blog educandonacao.com.br

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