Comportamento

Os jovens estão fugindo do casamento?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de casamentos caiu por dois anos consecutivos, enquanto o de divórcios aumentou. A idade dos que se comprometem cresce progressivamente, e os noivos de 20 e poucos anos estão sendo substituídos pelos de mais de 30. O número de filhos diminui e é cada vez mais comum os casais evitarem filhos como um propósito da relação. O número de apartamentos para moradia de solteiros (studios) cresce pela cidade. A ideia de manter relacionamentos longos, sem o comprometimento  para se casar, faz com que os jovens fiquem cada vez mais acomodados. Seria esta uma nova proposta de felicidade? O modelo “papai, mamãe e filhos” estaria superado? Essa fórmula vigente desde o berço da humanidade se tornou anacrônica? O sonho de fidelidade até que a morte os separe ficou longo demais? Será porque a longevidade alcança, hoje, a casa de mais de 90 anos? Até não muitos anos atrás (ainda presentes na minha infância), contos, novelas e filmes eram finalizados pelo famoso “casaram-se e foram felizes para sempre”. Hoje não querem se casar. E, se casam, separam-se. Será que estão mais felizes? 

Esse “novo modelo”, que vem cativando cada vez mais jovens, já apresenta alguns resultados que merecem atenção. Aqueles que, bastante tempo atrás, fizeram essa opção percebem que a estrada se torna monótona e sem sentido. Tudo vai bem. Não há problemas financeiros. Não há problemas de saúde. Aparentemente, gozam de uma independência confortável. O rodízio de companheiras(os) sem vínculos duradouros promove alguma satisfação temporária... Mas, pouco a pouco, cresce o vazio existencial. Para o que estou vivendo? Por quem estou vivendo? 

De maneira mais precoce para quem tomou essa estrada, seja pelo impulso de amigos, seja pela necessidade de priorizar a carreira profissional, essa questão se levanta de modo incômodo e resulta em mudança de rota para muitos. A aqueles que esqueceram que a adolescência é uma etapa da vida e não um estilo para permanecer para a eternidade, essa percepção poderá ser mais demorada e alcançar os 50 anos ou transformarmos na frustração de quem passou a vida sem tê-la vivido com algum sentido. Nas mulheres, de modo particular, a impossibilidade de vivenciar a maternidade pelos anos passados é frequentemente um alarme que soa após os 35 ou 40 anos (com certo desespero). E algumas ficam contando com os recursos de fecundação artificial, ou mesmo da chamada “produção independente”. 

As consequências mais preocupantes, no entanto, não se encerram na “felicidade frustrada” dos que buscaram essa nova alternativa de relacionamentos. O fato mais grave está na “infelicidade” daqueles que ficaram nas derrapadas desses relacionamentos como filhos órfãos de pais vivos. Se havia 60 anos, estudantes no ensino fundamental com pais separados eram exceção, hoje superam mais de 50% nas salas de aula. O comportamento dessas crianças, evidentemente associado a outros fatores, também agressivos, está cada vez mais estampado nas manchetes do noticiário e provoca lágrimas. Advindos de uma educação maltratada, tornam-se crianças vulneráveis a toda sorte de vícios, a sentimentos de menos valia e insegurança, a reações violentas em que a própria vida é colocada em risco. 

Penso que, em pouco tempo, já podemos observar que, destas primeiras crianças, algumas já crescidas no tempo o suficiente para um compromisso conjugal, a proposta de uma constituição familiar apresenta-se deturpada, a ponto de ser rejeitada. Prova disso é que a frequência de separações de filhos de pais separados supera significativamente o número de separações de filhos cujos pais não são separados. Evidentemente, isso funciona em efeito cascata como uma reação nuclear na sociedade. Como toda explosão, terá o seu ápice e término, pois esses casais terão cada vez menos filhos, ao contrário do grupo de casais permanentes. O estrago, porém, até lá, será grande. 

É necessário ter a coragem de abraçar, com plena liberdade de amor, a proposta do Matrimônio com todas as suas consequências, inclusive a de ser feliz! Esta não é uma alternativa, mas é o único caminho dos vocacionados à união conjugal, pela qual a humanidade poderá permanecer segura nos seus passos, fortalecida nos seus princípios e encontrar o sentido de sua existência. Certamente, não falamos de um conto de príncipe e princesa, mas parece que as histórias infantis, lidas pelos pais aos seus filhos, foram escritas para lembrar a verdade esquecida pelos adultos.  

Dr. Valdir Reginato é médico de família. 
E-mail: vreginato@uol.com.br

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