Fé e Cidadania

A Igreja e a Conferência de Puebla: 40 anos de história e fé

São Paulo VI afirmava que a tarefa do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965) não estava completamente terminada com a promulgação de seus documentos. Concluído o Concílio, voltaria tudo ao que era antes? Postulava o Sumo Pontífice que a doutrina católica não devia ser somente verdade a ser explorada pela razão à luz da fé, mas sim palavra geradora de vida. Assim como Deus revelou-Se amor (cf. 1Jo 4,7-8), devemos agir sempre na solidariedade, usando a misericórdia. No momento atual, devemos sentir com a Igreja. Para viver e amar o Concílio Ecumênico, cotidianamente, é necessário conhecer os documentos, as intenções e o seu espírito eclesial e, consequentemente, celebrar as conferências episcopais vividas na América Latina.

Em Medellín (Colômbia), em 1968, a Conferência assegurou sua mensagem em Deus, nos homens, nos valores e no futuro da América Latina. Os bispos reunidos procuravam motivar um desprendimento pessoal e tornaram possível uma aproximação ainda maior nos ambientes frequentados pelas comunidades no turbilhão de atrocidades. Não foram poucos leigos e membros do episcopado que emprestaram suas vozes para anunciar Jesus Cristo. O eco do Concílio Ecumênico Vaticano II, como presença de misericórdia frente às amarguras do tempo presente, fez com que cristãos proclamassem os valores do Reino, sobretudo aos mais desprotegidos da sociedade.

Passados dez anos da II Conferência Episcopal ocorrida em Medellín, em 1968, os bispos se encontraram em Puebla (México), em 1979, com o tema “Evangelização no presente e no futuro da América Latina”, para analisar o percurso feito e impulsionar metas para os próximos anos. Afirmam especialistas que Puebla não foi um tratado de Teologia nem um discurso sistemático e metódico sobre a compreensão da fé. Trata-se, sobretudo, de um documento pastoral, que pretende ser fonte de inspiração para a caminhada da Igreja na América. A estrutura se desenvolveu segundo o método teológico-pastoral: ver a realidade analiticamente, julgá-la com os critérios da fé e agir pastoralmente para transformá-la. Sob o pontificado de São João Paulo II, inspirado pela Virgem de Guadalupe e propondo uma Nova Evangelização, a Igreja presente na América deu seus passos. As estatísticas apresentadas na Conferência de Puebla mostravam os anos marcados por legitimação de morte e violentas agitações; países que viviam sob regimes ditatoriais; o empobrecimento das massas e o desencantamento entre os jovens; número crescente de católicos que migravam para os novos movimentos religiosos, e apareciam dados de uma crescente corrida ao ateísmo.

Lemos, nas Conclusões de Puebla, que a Conferência de 1979 inspirou a Igreja para um momento salutar de cristãos encorajados pela presença da semente do Verbo. Retomando a mesma profissão de fé, proclamamos: Deus está vivo no coração dos povos presentes na América Latina.

Vivendo os 40 anos de Puebla, a Igreja reafirma sua presença na América para assegurar o anúncio da plenitude da Revelação em Jesus Cristo. “Caríssimo, segura e digna de ser acolhida por todos é esta palavra: Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores. E eu sou o primeiro deles” (1Tm 1,15). A Boa-Nova por Ele apresentada é o verdadeiro diálogo entre a fidelidade e o carinho de Deus para com a humanidade. A mensagem revelada é imutável, enquanto que a linguagem humana se diferencia com o passar do tempo. O Bom Pastor é referencial de presença entre os homens. “Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas” (Jo 10,11). Seja um luzeiro os 40 anos da Conferência de Puebla para a permanente evangelização em terras americanas.

Padre José Ulisses Leva é Professor de História Eclesiástica na PUC-SP
 

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