Liturgia e Vida

‘Por Suas feridas nós fomos curados’ (1Pd 2,24)

A Ressurreição do Senhor é uma festa tão grande que a Igreja a comemora durante uma semana, a chamada Oitava da Páscoa. Esses dias constituem uma única solenidade; as missas têm o hino “Glória” e se pode cantar a Sequência Pascal. O Domingo da Ressurreição se irradia ao longo de toda a semana e, depois, ao longo de todos os domingos do ano, nos quais comemoraremos a Ressurreição.

O Domingo na Oitava é também chamado Domingo da Misericórdia, pois no Evangelho contemplamos o momento em que o Senhor concedeu aos Apóstolos o poder de perdoar aos homens os pecados. Ao aparecer- -lhes, depois de ter ressuscitado dos mortos, Jesus não os repreende. Não lhes lançou em face a incredulidade, o abandono e a fraqueza verificados na Sexta-feira da Paixão.

A primeira coisa que diz é simplesmente: “A paz esteja convosco” (Jo 20,19). Em seguida, mostra-lhes as chagas das mãos e do lado aberto. Com esse gesto, o Senhor queria dizer aos Apóstolos “sou Eu, o Crucificado, não duvidem!”. Além disso, porém, desejava mostrar-lhes que as chagas que nos trouxeram a salvação no Calvário continuam abertas para nós. Já não lhe causavam dor, mas estão ali, visíveis e gloriosas.

Era como se Jesus lhes dissesse: “Estou vivo para sempre, mas, no meu Corpo ressuscitado, a redenção continuará”. Por isso, em seguida, Ele soprou sobre os Apóstolos e lhes disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos” (Jo 20,22- 23). Desse modo, Cristo instituiu o sacramento da Confissão. Conferiu aos Apóstolos e a seus sucessores o poder de, em Seu Nome, perdoar os pecados dos homens. A humanidade não ficou órfã: poderá, até o fim dos tempos, receber abundantemente o perdão de suas transgressões por meio da Igreja.

O Senhor quis deixar evidente a relação entre as Suas chagas e o perdão dos pecados. São Pedro, depois, compreenderia esse mistério à luz da profecia de Isaías: “Ele levou os nossos pecados em seu próprio Corpo, por suas feridas nós fomos curados” (1Pd 2,24). É isso que acontece cada vez em que nos confessamos: o Senhor nos toca e, com suas chagas, nos lava e purifica. Com suas feridas físicas – que permanecem visíveis em Seu Corpo glorioso –, Ele sana as feridas de nossa alma.

Uma antiga oração atribuída a Santo Inácio contém a seguinte invocação ao Redentor: “Dentro de vossas chagas, escondei-me. Não permitais que me separe de Vós”. Quando nos confessamos, escondemo-nos nas chagas de Cristo Ressuscitado. Essa é a garantia que temos de jamais nos separar d’Ele, permanecendo até a morte em Sua graça santificante.

Agradeçamos ao Senhor o sacramento da Confissão! Não é um sacramento de tristeza… É sacramento de vida, de cura, de Ressurreição. Pelo pecado grave, morremos para a graça; pela Confissão, ressuscitamos com Ele! Aproximemo-nos desse tesouro com frequência, devoção e reverência, como quem toca e beija as feridas do Senhor.

 

LEIA TAMBÉM: ‘O que é ser dizimista?’

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.